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Covela e Quinta da Boavista – Novos vinhos

Texto José Silva

A compra da Quinta da Boavista, em 2013, foi o segundo grande investimento de Marcelo Lima e Tony Smith no mundo dos vinhos em Portugal. Agora foi tempo de apresentar os seus primeiros vinhos do Douro.

Aconteceu no “Yeatman” e foi uma prova comentada pelos responsáveis da viticultura e da enologia da empresa: o Gonçalo Lopes, o Rui Cunha e o consultor francês Jean Claude Berrouet, com mais de 50 anos de experiência a produzir grandes vinhos no mundo, acompanhado pelo seu filho Jeff Berrouet. Esta junção entre portugueses e franceses revelou-se muito acertada, pois há como que uma complementaridade de opiniões e de experiências. A Quinta da Boavista tem uma história notável ligada ao vinho do Porto e foi local de refúgio do Barão de Forrester, que ali viveu algum tempo.

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Patamares Quinta da Boavista – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

Com patamares muito altos, as vinhas são muito velhas e de acesso muito difícil, sendo ainda trabalhadas com recurso a machos e mulas, como se faz há centenas de anos. Um “terroir” incrível, que dá a tipicidade que tanto apreciamos nos tintos durienses, associado ás castas mais tradicionais da região: touriga nacional, touriga franca, tinta roriz, sousão, tinto cão, tinta barroca e alicante bouschet, a colocar estes vinhos tintos num patamar muito elevado. Berrouet diz que o vinho é um produto mágico, delicado, que transmite a história duma região e que a sua missão é transmitir-nos prazer quando o bebemos. É o que pretendem com os vinhos que ali estão a ser produzidos, transmitir as sensações que nos levem a interpretar aquele região e em particular aquela quinta. Todos os anos vão engarrafar um vinho de uma casta só.

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Boavista Touriga Nacional 2013 – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Boavista Reserva 2013 – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

Nesta primeira colheita, foi o Boavista Touriga Nacional 2013, um vinho cheio de elegância, souplesse, com personalidade e uma grande expressão aromática. Ao mesmo tempo é sóbrio, com estrutura, muito fresco e com óptima acidez, vai ser interessante acompanhar a sua evolução. Foram engarrafadas 2.000 garrafas que vão custar em prateleira cerca de 22€.

O vinho de combate vai ser certamente o Boavista Reserva 2013, um Douro típico no copo, um lote cheio de elegância, intenso, bom volume, com tudo no sítio. Bela acidez, levemente seco, guloso, um vinho gastronómico ainda jovem mas que promete, e de que foram engarrafadas 5.000 garrafas que vão custar cerca de 40€. Depois foram feitos dois vinhos extraordinários, de duas vinhas muito velhas, quase filigranas, a Vinha do Oratório e a Vinha do Ujo.

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Quinta da Boavista Vinha do Oratório – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Boavista Vinha do Ujo 2013 – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

O Quinta da Boavista Vinha do Oratório 2013 é feito de uvas desta vinha que data dos anos 30 do século passado, plantada entre os 70 e os 160 metros de altitude com várias exposições solares. Apresenta muita complexidade, elegância, muita fruta madura, acidez concentrada e frescura, é intenso, ainda a evoluir, de que se engarrafaram menos de 1.000 garrafas, que vão custar cerca de 100€.

Finalmente outro vinho fantástico, o Quinta da Boavista Vinha do Ujo 2013, esta vinha plantada entre os 150 e os 200 metros, a proporcionar um vinho sedoso mas autoritário, sempre elegante e com alguma fruta no nariz. Belo volume de boca, óptima acidez, grande estrutura, sempre com muita elegância, fruta muito madura, longo e com imenso final. Um vinho de meditação, de que também só há cerca de 1.000 garrafas a menos de 100€ cada. Vinhos que nos transmitem o que é o terroir da Quinta da Boavista e que, como disse Jean Claude Berrouet, se resume a quatro palavras: os solos, o clima, as plantas e o homem.

 

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Amuse Bouche – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Espuma – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Para apreciar os vinhos foi servido um jantar no “Yeatman” que teve um amuse bouche composto por quatro petiscos, depois um conjunto de crustáceos e sua espuma com caril e rebentos de cacau.

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John Dory – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Carne Marinhoa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Seguiu-se o John Dory, um conjunto de sabores do mar, entre os quais percebes e polvo, com salicórnia. E finalmente a carne Marinhoa, grelhada, na companhia de creme de batata e especiarias.

Para sobremesa o creme de ruibarbo, com lima kafir, merengue de ruibarbo e gelado de queijo mascarpone. Um belo combate entre vinhos e pratos bem elaborados.

O dia seguinte…

No dia seguinte fomos convocados para o restaurante/marisqueira “Gaveto”, em Matosinhos. Apresentar as novas colheitas dos vinhos da Covela ao balcão duma marisqueira?! É verdade, foi mesmo assim.

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Rui Cunha – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Gonçalo Lopes and Vítor Mendes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Foi diferente e foi divertido. E dentro do balcão, quais empregados de luxo, estiveram o Gonçalo Lopes, o Vítor Mendes e o Rui Cunha, liderados pelo Tony Smith, nem mais. Porque os vinhos também devem ser servidos com humor. O primeiro foi o Covela Rosé 2015, feito só de Touriga Nacional, mantém o perfil aromático, a extraordinária acidez, a elegância e o requinte.

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Covela Rosé – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Covela Avesso – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Covela Arinto – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

É fresco e seco, um rosé gastronómico. O Avesso de 2015 é extraordinariamente fresco, aveludado no nariz, algo exótico. Na boca mantém-se a frescura a que se junta uma acidez vibrante, incrível, o que faz dele um vinho guloso. O Covela Arinto 2015 tem a frescura da casta bem evidente, é persistente, muito elegante, tem alguma mineralidade, intenso, saboroso, com bom volume, um vinho íntegro.

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Barnacles – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Zamburinhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

As zamburinhas, na chapa, estavam soberbas, cheias de ovas. Veio então o Covela Escolha de 2014, com Avesso e Chardonnay, com requinte e elegância no nariz, sedoso, exótico, complexo.

Grande frescura e muita acidez a dar-lhe equilíbrio, um vinho especial, que fez óptima companhia ao soberbo arroz de lavagante, que é uma tradição deste “Gaveto”. Queijo da serra e pão-de-ló de Ovar fecharam as hostilidades, na companhia dum tinto da Covela de 2007 muito especial, já uma raridade. Com o café, ou com mais queijo e pão-de-ló, vieram duas aguardentes bagaceiras da Covela muito saborosas. Uma, feita a partir só de castas brancas, é mais aromática, mais floral e tem 40% de álcool. A outra, preparada a partir de castas tintas, é mais poderosa, mais encorpada e tem 50% de teor alcoólico. Potentes!!

Ao balcão do “Gaveto”, a conversa continuava animada…

Restaurante Maria Pia, em Cascais

Texto José Silva

Mesmo sobre a marina de Cascais, encostado às muralhas da cidadela e com uma vista soberba para a baía, é um espaço amplo todo em vidro, parece que o mar entra por ali dentro.

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A entrada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A sala – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Decoração moderna, airosa, com alguns elementos antigos e meia dúzia de sofás à entrada, para aguardar por mesa ou mesmo petiscar qualquer coisa e beber um copo antes da refeição.

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A sala – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A sala – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mesas bem-postas, com simplicidade mas muita qualidade e serviço a cargo de gente jovem, simpática, atenciosa, muito profissional. Uma das características desta casa de bem comer é que abre ao meio-dia e serve ininterruptamente até à meia-noite, sejam petiscos seja uma refeição completa. Isto é suportado por uma cozinha muito bem equipada onde trabalha uma equipa de profissionais liderada pelo chefe Pedro Mendes, já com grande experiência a liderar equipas desta área, que dão resposta muito positiva áquilo que lhes é pedido. O chefe aposta numa ementa em que os produtos do mar dominam naturalmente a oferta, entre marisco e peixe fresco, utilizando mesmo algas que dão ligações cheias de frescura, a saber a mar. E trabalha mesmo alguns produtos sazonais, na sua época, como é o caso das túberas, de que se fez recentemente um jantar bem agradável.

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Montado Alentejano – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Arroz de túberas e lombinhos de porco alentejano com farinheira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Que começou pelo “montado alentejano”- cabeça de xara, bolota e túbera – a que se seguiu um arroz cremoso de túberas e lombinhos de porco alentejano com farinheira do mesmo.

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Laranja – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Couvert – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Terminou-se com cinco texturas de laranja, muito bem conseguidas. Mas vamos provar alguns pratos da ementa deste restaurante Maria Pia.

Começa-se pelo couvert, que apresenta pão de azeitonas e pão caseiro, e por vezes umas tostinhas fininhas estaladiças, para molhar na esmagada de coentros ou barrar com manteiga normal, manteiga de beterraba ou manteiga com tinta de choco. Belo começo!!

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Sopa de tomate – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Gaspacho – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Não faltam as sopas e os caldos: sopa de tomate cremosa, com ovo batido e croutons aromatizados, canja de amêijoas do Algarve deliciosa e um refrescante gaspacho batido, ligeiramente picante, em que o tomate dá um creme espesso que envolve os outros vegetais crus. Que bem que soube!

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Bocas de caranguejo do Atlântico com emulsão de limão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Ceviche de robalo – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Como entradas podem aparecer umas ostras trabalhadas, sempre a saber a mar, as bocas de caranguejo do Atlântico com emulsão de limão, deliciosas, ceviche de robalo bem temperado e tártaro de atum com sésamo e gengibre, e pataniscas de atum com molho de soja.

Ou uma travessa de amêijoas com limão e coentros, para comer à mão e molhar o pãozinho no molho, uma maravilha.

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Açorda negra de marisco – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Gambas picantes sobre linguini negro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Sempre do mar vem a açorda negra de marisco com choco frito, uma bela ligação, as gambas extra quentes picantes sobre linguini negro e os fritos de robalo com risoto de algas, todos deliciosos.

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Risoto de bacalhau – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Robalo à Bulhão Pato – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ainda o risoto de bacalhau cremoso, o xerém de berbigão do Algarve com lulas em tempura e um desconcertante arroz de coentros com robalo à Bulhão Pato, excelentes!

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Atum braseado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Fechou-se em êxtase com atum braseado, creme de beterraba e legumes salteados, o atum no ponto, textura fantástica, os legumes variados muito bem trabalhados.

Já na esplanada, não se resistiu a um preguinho com carne excelente, em pão de azeitona e maionese de alho, tenro e saboroso, mesmo muito bom…O crumble de maçã com gelado quase que já não coube. A carta de vinhos está ainda a evoluir, e prometem-se muitas novidades, a mais importante das quais será uma esplanada num miradouro por cima do restaurante, com muito marisco fresco e espumantes, vinhos brancos e alguns rosés, bem frescos, sempre a correr, com aquela paisagem por companhia.

Vai ser bonito, vai!!

Quinta de Foz de Arouce e Buçaco – Duas batalhas e dois vinhos

Texto João Barbosa

Há bastante tempo que tenho esta crónica prometida a mim mesmo. Por lhe faltar uma data que lhe dê emergência, foi ficando e chegou o momento em que se tornou urgente. O assunto respeita a dois vinhos icónicos, provenientes de locais «improvável» e «impossível».

Um fez-se com uva de um local absolutamente mágico, que não fica em lado nenhum. Foz de Arouce não tem o direito ao uso de qualquer denominação de origem controlada. Coisas parvas dos portugueses, que são capazes de aceitar a unificação de locais numa só região, apesar de nada os aparentarem e de nem ficarem contíguos…

Se fosse em França, referência incontornável no reconhecimento de qualidade e diferenciação, Foz de Arouce teria o estatuto das microrregiões da Borgonha. Seria provavelmente um «monopólio». Porém, o Rio Arouce situa-se em Portugal, tal como o Ceira, que o recebe.

Já o outro vinho remete para um local concreto, mas que não é sítio de vinho. O Bussaco (com dois «S») é lindo e tem um dos hotéis mais bonitos e históricos de Portugal. Contudo, as uvas que fazem os seus vinhos são provenientes da Bairrada e do Dão. Ora, isto faz com que um mais um seja igual a zero – sem direito ao uso de denominação de origem controlada.

Apesar de se fazer com uvas baga, provenientes da Bairrada, e touriga nacional, oriundas do Dão, os Buçaco (com «Ç» para que não conflitue com os ditames burocráticos) são vinhos a que se pode dizer que espelham o seu território, porque as vinhas têm sido as mesmas ao longo dos anos. É como se viessem duma só quinta, dividida por duas regiões demarcadas. Autenticidade e carisma não faltam.

Permitindo-me empurrar o conceito para fora do estabelecido, digo que Bussaco é um terroir de adega e garrafa. Vou assumir como verdadeira a localização geográfica do hotel. Tratam-se pois de dois lugares vínicos que estão numa dimensão de plasma – nem sólida nem líquida.

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Bussaco in wikimedia.org

Olhando para o mapa, Bussaco e Foz de Arouce não ficam longe, a apenas a 36 quilómetros. O caminho é bonito e a estrada exige atenção. O computador estabelece que a viagem entre os dois pontos dura 50 minutos. Contudo, demorei mais de uma hora quando visitei os dois lugares, em 2011.

Referi que os vinhos tintos do Buçaco são feitos com baga e touriga nacional. Pois, essa é a nova formação da vinha de Foz de Arouce. O enólogo e empresário vitivinícola João Portugal Ramos é genro dos Condes de Foz de Arouce e há poucos anos acrescentou a touriga nacional ao encepamento que era só de baga. O Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria mantém-se igual, enquanto o Quinta de Foz de Arouce é já resultado da junção das duas castas.

Já tenho aqui elogiado os vinhos de Foz de Arouce. O que hoje apresento é uma edição especial e comemorativa. Trata-se dum vinho de 2007 produzido para celebrar os 200 anos da Batalha de Foz de Arouce, em que se destacou um familiar do actual Conde.

A Batalha de Foz de Arouce não foi um momento de importância transcendente, no âmbito da Guerra Peninsular (III Invasão Francesa). Há mesmo quem a designe apenas por Combate de Foz de Arouce. Aconteceu a 15 de Março de 1811, quando o exército napoleónico se retirava, pressionado pelas forças anglo-portuguesas. À frente dos aliados estava Arthur Wellesley (futuro Duque de Wellington) e dos invasores encontrava-se Michel Ney.

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Arthur Wellesley by George Dawe

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Andrè Massèna by Edme-Adolphe Fontaine

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Monument à 3ª Invasão Francesa in panoramio.com

Bussaco deu também o nome a um confronto da Guerra Peninsular, com maior importância. Aconteceu em 27 de Setembro de 1810 e à frente do lado anglo-luso esteve Arthur Wellesley e do francês o próprio comandante da III Invasão Francesa, Andrè Massèna.

Os aliados saíram vencedores em ambos os confrontos. Quanto aos vinhos, quem tiver oportunidade de os ter que não hesite. Enfrente-os e deixe-se conquistar. Vão vencer e os enófilos vão merece-los.

Noto que estou a evocar um vinho concreto e de um ano concreto e outro que nem referi o ano. Acrescento «todos» os Foz de Arouce e «todos» os Buçaco. E porquê? Porque são vinhos que merecem ser todos conhecidos, que mantém (obviamente que não bebi todas as colheitas, mas conheci muitas) as características identitárias físicas e a diferenciação dos anos. Néctares capazes de evoluir com o tempo e de viver longamente. A generalização é consciente e voluntária.

Sou avesso à enumeração de descritores que, quanto a mim, resumem o vinho a «coisa», porque se torna redutor. Os «pequenos vinhos» não surpreendem nas definições e os «grandes vinhos» ultrapassam essa contagem de características.

O Quinta de Foz de Arouce – Batalha de Foz de Arouce 200 anos (2007) tem o que se reconhece nos irmãos Quinta de Foz de Arouce e Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria. É mais do que as uvas, é «aquele lugar». Felizmente não é igual, pois não valeria a pena ter outro nome, seria apenas a diferença de rótulo. Bebi-o e continuaria por mais tempo se a garrafa não tivesse apenas 0,75 litro. Tem muitos anos pela frente.

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Quinta de Foz de Arouce Batalha de Foz de Arouce 200 years

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Buçaco L2004 Reservado

O Buçaco L2004 Reservado tem a grandeza que se espera. Grande em todos os aspectos, vivo e elegante e com muitos anos por diante. A garrafa tinha o mesmo problema que a anterior: apenas 0,75 litro.

Já agora explico a referência «L2004 Reservado»: por se tratar de vinho de mesa, a categoria supostamente mais baixa da escala, o Buçaco não podia trazer a indicação do ano. Porém, a designação do lote podia ser a que o produtor entendesse. Assim, os lotes destes néctares têm a mesma numeração do ano da vindima a que correspondem. A burocracia não é uma ciência exacta, muitas vezes é apenas estúpida. A inteligência vence. Porque é vinho de mesa não pode ser «reserva». Mas mais uma vez o burocrata foi fintado, a designação «reservado» não está contemplada nas objecções.

E assim se contou um pouquinho da História de Portugal.

Quinta da Lapa – Na terra de Pina Manique, com bons vinhos

Texto José Silva

Tem quase 300 anos esta propriedade ribatejana e diz-se que por ali poderá ter passado Pina Manique. Foi comprada pelo empresário Canas da Costa e foi um amor à primeira vista para a sua filha Sílvia, arquitecta de profissão. Para além da recuperação impecável da casa senhorial, onde agora funciona um belíssimo turismo rural com 11 suites, Sílvia apaixonou-se completamente pelas vinhas.

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Casa Senhorial – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E assim nasceu um projecto vitivinícola de sucesso, com a contratação do enólogo Jaime Quendera e a sua enorme experiência. São vinhas que têm entre 15 e 25 anos, com algumas castas autóctones mas também de outra regiões e mesmo estrangeiras, que ali encontraram solos e clima a que se adaptaram muito bem: arinto, tamarez, trincadeira das pratas, tincadeira preta, touriga nacional, tinta roriz, merlot, syrah, cabernet sauvignon e alicante bouschet.

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As vinhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Graças aos solos predominantemente argilo-calcários, mas onde a influência das águas do rio Tejo, nas suas ancestrais cheias em que invadia as margens, é enorme, estes vinhos adquirem não só acidez mas até alguma mineralidade que os torna também apetecíveis. No turismo rural fazem-se também eventos, onde se bebem os vinhos da casa e onde são servidas refeições confeccionadas na enorme e bem equipada cozinha, ou então preparadas por um amigo da casa, o sr. Afolfo Henriques, o conhecido homem da aldeia da Maçussa.

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Uma das suites – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

As 11 suites são todas diferentes, algumas delas a recuperação de espaços já existentes e com muitas peças de mobiliário que foi também recuperado, de grande beleza. O edifício central, de forma quadrada, encerra um enorme terreiro, com árvores frondosas, de belo efeito. À volta da casa estão as vinhas e algum olival, a moldar a paisagem de toda a quinta. No conjunto de edifícios da quinta está a adega, pequena, simples mas bem equipada, incluindo a sala de barricas, fundamentais para estagiar alguns dos tintos que tanto apreciamos.

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A sala das barricas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Desta vez foi uma refeição que culminou a apresentação das novas colheitas da Quinta da Lapa. Em primeiro lugar o pão, da Maçussa, que o próprio Adolfo Henriques coze, estaladiço por fora, fofo por dentro, a rescender, saboroso, irresistível. Depois alguns petiscos: melão com presunto, apaladado e fresco, ovas de bacalhau com tomate seco, requintado, salmão fumado, aveludado e de paladar sofisticado e, claro, o queijo chèvre da Maçussa, nas versões ao natural e panado com rúcula e compota. Uma maravilha.

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Melão com presunto – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Salmão fumado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Chèvre Cheese – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O prato principal foi um delicioso cabrito assado no forno, com arroz de cogumelos e batatinha assada e, à parte, uma simples mas soberba salada de alface e cebola roxa.

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Cabrito assado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Salada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Terminou-se com um bolo de chocolate em boa companhia, uma gulodice pegada.

E provaram-se as novas colheitas da Lapa, a começar pelo espumante Quinta da Lapa Bruto Natural preparado só com Arinto, com muita frescura e elegância, acidez sempre bem presente, um belo espumante.

O Quinta da Lapa Branco Reserva 2014, feito com Arinto e Tamarez, é muito fresco no nariz, com algumas notas tropicais mas também cítricas e uma boca cheia de frescura e acidez equilibrada.

Há vários vinhos mono casta, a começar pelo Quinta da Lapa Touriga Nacional 2012, casta que se adaptou francamente bem ali, com muita intensidade aromática, floral e elegante. Na boca é persistente, intenso, com muito boa fruta, óptima acidez e final prolongado.

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Quinta da Lapa Bruto Natural – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Lapa Reserva branco 2014 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Lapa Touriga Nacional 2012 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Quinta da Lapa Merlot 2013 apresenta-se autoritário, fugoso, frutos pretos bem maduros e algumas notas de chocolate, com belo volume, taninos bem casados e acidez intensa, um conjunto muito equilibrado.

O Quinta da Lapa Syrah Reserva 2012 apresenta aromas de frutos pretos e algumas especiarias, complexo, intenso. Na boca tem grande volume, é poderoso mas ao mesmo tempo equilibrado, com taninos sedosos e um belo final.

Finalmente o Quinta da Lapa Cabernet Reserva 2012, com aromas complexos de frutos selvagens, plantas do monte, algumas notas vegetais e especiarias com muita elegância. Na boca aparecem frutos pretos muito maduros, uma óptima acidez, taninos bem domados, muito complexo e intenso.

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Quinta da Lapa Merlot 2013 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Lapa Syrah Reserva 2012 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Lapa Cabernet Reserva 2012 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Quinta da Lapa Reserva 2011, talvez o mais complexo de todos, tem aromas de fruta muito madura, especiarias, notas de fumo e chocolate. Na boca é bastante harmonioso, persistente, sedoso, com final longo, um vinho cheio de finesse. Vieram então os dois vinhos especiais desta casa ribatejana.

O Quinta da Lapa Nana Reserva 2011 é uma sentida homenagem da produtora à sua mãe. Apresenta-se com muita fruta, algumas notas de especiarias, muito fresco. Na boca é muito elegante, persistente, aveludado, com fragrâncias de frutos vermelhos e algum floral e final longo e seguro.

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Quinta da Lapa Reserva 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Lapa Nana Reserva 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Lapa Reserva 2013 Homenagem 500 anos Santa Teresa d’Ávila – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Finalmente o Quinta da Lapa Reserva 2013 Homenagem 500 anos Santa Teresa d’Ávila – um vinho de comemoração, cheio de fruta e especiarias no nariz, muito elegante, altivo. Intenso e equilibrado na boca, simples mas ao mesmo tempo autoritário, um vinho especial, de homenagem a Teresa de Ahumada, e cujo poema de fé se encontra eternizado numa lápide existente na Quinta da Lapa:

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Lápide – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

“Nada te perturbe, nada te espante,
tudo passa, Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem, nada lhe falta.
Só Deus basta.”

Do Ribatejo, com carinho…

Contactos
Agrovia, Sociedade Agro-Pecuária, SA
Quinta da Lapa
2065 – 360 Manique do Intendente
Tel: (+351) 263 486 214
Mobile: (+351) 917 584 256
Email: geral@quintadalapa-wines.com
Website: www.quintadalapa-wines.com

Ao sabor da história: Frasqueira Soares Franco

Texto João Pedro de Carvalho

Nas aventuras e desventuras de um enófilo há momentos que marcam de certa forma o nosso percurso, a origem é quase sempre um ou vários vinhos inesquecíveis. Não haverá nada mais empolgante que literalmente dar de caras com uma preciosidade e desbravar caminho até descobrir a sua história. Foi isso que aconteceu com dois exemplares raríssimos pertencentes à Frasqueira de António Porto Soares Franco, cujos vinhos fazem parte do espólio familiar da família Soares Franco localizado no quartel general da José Maria da Fonseca mais propriamente na Adega dos Teares Velhos. Recuamos ao tempo de António Porto Soares Franco, que era na altura sócio da Companhia de Aguardentes da Madeira, as ligações à ilha abriram muitas portas e oportunidades de negócio, é aqui que entra o nome Abudarham. Consultando o livro “Madeira: The islands and their wines by Richard Mayson”, ficamos a saber que José Abudarham tinha dupla nacionalidade, Inglês e Francês, e que chegou à Madeira na primeira metade do séc. XIX. Ali se estabeleceu no negócio do vinho, com acesso ao que de melhor se produzia na altura, mas também do empréstimo de dinheiro, que mais tarde iria dar origem à Companhia de Seguros Aliança Madeirense. O seu negócio do vinho era centrado em vinho engarrafado, vendido essencialmente para França e Alemanha, após a sua morte em 1869 a firma passou a chamar-se Viúva Abudarham & Filhos acabando por na passada do tempo ser vendida à Madeira Wine Association que é hoje a Madeira Wine Company. Sabendo a origem e o seu comerciante, restava apenas reparar nos detalhes que a pequena fita colada à garrafa tinha, a tinta permanente que já mal se vislumbrara no rótulo surgia ténue e a indicar 1795. Após alguma pesquisa e cruzamento de dados chega-se à conclusão que o vinho em causa é um Terrantez 1795 do qual há vários de garrafas que foram a leilão. A rolha saiu à força das lâminas, intacta e com a marca José Maria da Fonseca, sinal de que as rolhas são mudadas de x em x anos, o que foi confirmado pelo próprio produtor.

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Adega dos Teares Velhos – Foto Cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

A segunda garrafa conta uma história diferente e que nos remete para o Vinho do Porto, também ostenta o nome Frasqueira Soares Franco cujo rótulo apenas mostra R.M 187X. Dada a idade das duas garrafas o tempo encarregou-se de comer grande parte dos rótulos e com eles a sua preciosa informação, no Madeira salvou-se a data numa fita de papel e neste Vinho do Porto ainda lhe resta algo de contra rótulo. Confirma-se posteriormente que as iniciais remetem para Ramiro Magalhães, um antigo comerciante de Vinho do Porto que morava no Bombarral. Ramiro Magalhães foi homem importante na sua terra, grande negociante de vinhos que para o seu tempo teria sido dos primeiros a ter automóvel e motorista. No contra rótulo consegue-se vislumbrar que o número que falta ficando o ano completo deste Vintage de 1878, o último ano pré filoxera. Neste caso não haverá muito mais a dizer, a informação restante apenas nos remete para o ano em causa que foi considerado ano clássico de Vintage.

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Um dos vinhos provados – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Frasqueira Soares Franco – Abudarham – Terrantez 1795: É impressionante a capacidade que este vinho tem em perfumar toda uma sala. Mal cai no copo ficamos hipnotizados pelas tonalidades que brilham no copo, um vinho com 221 anos a mostrar a razão pela qual mesmo depois de todos os vinhos servidos ao jantar, chega o Madeira e é o rei da festa. Neste caso o vinho é arrebatador e inesquecível, antes de tudo um ligeiro pico de volátil para depois ir conquistando com um tom morno e aconchegante de caramelo, baunilha, toffee, que nos preparam para o embate seguinte, uma enorme frescura. É essa mesma frescura que nos domina e deixa de mãos presas ao copo, um uau sai de imediato, é tipo aquelas montanhas russas que quando acaba queremos repetir. Aqui é igual, um vai e vem de sensações, aromas presos no tempo vão saltando do copo, fica a sensação de ligeira untuosidade carregado de frescura, no fundo algo que recorda o cheiro de cinzas de charuto. No palato é outra luta, uma conquista que nos prende com caramelo e açúcar queimado, arredonda ligeiramente num ponto que quase se trinca para depois disparar numa espiral louca de acidez com ligeiro amargo no final de boca. Inesquecível.

Blend-All-About-Wine- At the flavour of history Frasqueira Soares Franco-Vinho Madeira

Frasqueira Soares Franco – Abudarham – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine- At the flavour of history Frasqueira Soares Franco-Vinho do Porto

Frasqueira Soares Franco – Ramiro Magalhães – Vintage 1878 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Frasqueira Soares Franco – Ramiro Magalhães – Vintage 1878: Um Vintage com 138 anos de vida, sim disse vida porque apesar de a tonalidade lembrar um tawny velho é notável a frescura e a definição aromática. Muito preciso e delicado, enorme elegância com aromas a fazer lembrar tabaco doce, especiarias finas, casca de laranja cristalizada, fruta em passa com tâmaras, conjunto acolhedor e ligeiramente untuoso. No palato entra guloso, untuoso e com bom volume de boca, ligeiro vinagrinho, é quase como um berlinde doce e fresco que se vai desfazendo no palato até que apenas resta um fino e prolongado final de boca. Majestoso.

Lusovini – Produção e Distribuição

Texto Bruno Mendes

Fundada em 2009, a Lusovini, com sede na Vila de Nelas, no Dão, onde estão localizados os seus escritórios, armazéns e adegas, tem desenvolvido o seu negócio através de uma política de internacionalização. A empresa já expandiu os seus horizontes até Angola, Moçambique e Brasil com os nomes Lusovini Angola, Mozamvini e Brasvini, respectivamente.

Além de produção própria em várias regiões vitivinícolas de marcas como Cativo (Vinho Verde DOC), Palavrar (Douro DOC), Torre de Coimbra (Bairrada DOC), entre outras, a Lusovini aposta também numa rede de parcerias com produtores e enólogos como Anselmo Mendes (Vinho Verde), Domingos Alves de Sousa (Douro), Luís Duarte (Alentejo), Álvaro de Castro, João Paulo Gouveia (Dão), entre outros, permitindo-lhe assim abranger um maior leque de regiões e público alvo.

Para ficar a conhecer melhor esta empresa produtora/distribuidora veja o vídeo abaixo:

Snob do vinho

Texto João Barbosa

Quem é chato é chato! Quem quer ser chato consegue ser chato. Provavelmente, ser-se chato é das poucas coisas em que não é necessário ter-se um estudo adequado, educação familiar ou genes. O talento em se ser chato não implica ter talento.

Já ser-se snob é diferente! Se o chato é um especialista, o snob é um chato com doutoramento. Um snob pode levar horas a perorar acerca dos matizes dos fígados dos pescados, da evolução da estética das jantes dos Maserati ou da importância do verde na cultura islâmica. Para um snob, as Variações de Goldberg por Glenn Gould são corriqueiras.

Acima de tudo… ou abaixo de tudo… um snob é um arrogante. Nenhum cavalheiro amesquinha ou se vangloria. Por isso, é alguém sem nobreza – sine nobilitate, expressão latina donde surgiu o vocábulo inglês.

Isto porque no vinho há chatos e snobes… os chatos são divertidos nas tabernas e os snobes insuportáveis nos salões. Sem escândalo mudamos de lugar na taberna ou fugimos, já a etiqueta impede tais movimentos em ambientes mais formais.

Parece simples, mas vou complicar. Penso que ninguém tem o direito de impor os seus gostos e conceitos. Porém, as diferenças entre as pessoas podem ser grandes e a ruptura torna-se inevitável. Nem outros têm de achar que a touriga franca é a melhor do mundo, como não sou obrigado a gostar de antão vaz.

Há uns dias provei vinhos com pessoas de diferentes nacionalidades e percebemos que, além das banalidades que estabelecem os padrões de qualidade, nada fazia convergir narizes e bocas. O problema não estava no reconhecimento da qualidade ou da sua falta, mas da divergência nos atributos que distanciam um vinho bem feito doutro bom ou de um excelente.

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A provar Rosé in fm.cnbc.com

Um rosado deve ser doce? Um rosado deve ser doce e sem acidez? Um rosado deve ter sobretudo acidez? Podem parecer questões tolas, mas o assunto colocou-se. Nem sou dono da razão nem os oponentes são tolos ou desconhecedores. Eram pessoas habituadas a provar e justificavam as afirmações.´

Temos, os portugueses, a mania de elogiar os nossos vinhos, porque acompanham bem a comida, porque têm acidez. Isso é uma vantagem? Dizemos que sim… e se quisermos ficar só na conversa e sem um amanhã para os mandar para a cama, vamos insistir na obrigatoriedade da acidez? Porém, um xarope é feliz na amenização dum diálogo?

Temos, os portugueses, a mania de elogiar muito o carácter frutado dos nossos vinhos… mas… é uma vantagem? Sinceramente, frequentemente a fruta cansa-me e se é para saber a fruta, então que bebo sumo – dá-me vontade de gritar.

O meu citado debate não se ficou pelos rosés. Esse episódio tornou-se apenas na melhor ilustração do que o berço, latitude, longitude e cultura (sentido étnico) se podem traduzir. Mas posso acrescentar com informação vinda doutra conversa.

Quando valorizamos ou penalizamos um vinho pela cor estamos a ser justos ou correctos? Vou contornar tintos e brancos… um rosado é melhor ou pior se for cor-de-rosa, salmão ou alaranjado? É importante a cor ou não? Ou o vinho dá prazer através dos sentidos do olfacto e do paladar e apenas gostamos de acrescentar aspectos que não estão ligados?

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Cores do Rosé in characterspub.com

Até ouvi dizer, mais do que uma vez, que o vinho é fantástico, porque agrada a todos os sentidos. Olfacto? Certo! Paladar? Certo! Tacto? Sim, na boca mostra rugosidade e macieza… Visão? Tem cor, vê-se se tem bom aspecto. Audição?… Ouve-se o saltar da rolha.

Juro! Ouvi essa proeza mais do que uma vez. Tenho a declarar que nem caibo em mim de feliz e contente quando oiço o som duma rolha a sair da garrafa… sou eu com a rolha e o cão de Pavlov com a sineta! Francamente! E a cor? Sinceramente, só me interessa enquanto servir para indicar a saúde do vinho. Debater tons de cor é tão útil como saber de cor as referências Pantone.

Ah! A cor dos pinot noir… de quais? Da Borgonha ou do Tejo? O vinho é para o nariz e para a boca! Penso que debater a cor do vinho – excluo a avaliação visual que permite saber da sanidade – é como discutir tons de pele.

Não tenho conhecimento nem pachorra para debater as diferenças ou variações das castas conforme a sua localização. Nem para certezas acerca da imutabilidade das características dos vinhos de cada região. O chato sabe tudo, incluindo aquilo que não sabe. O snob sabe e pensa que sabe tudo ou, pelo menos, mais do que os outros.

No final só me basta um resultado: prazer. Ou tive ou não. Felizmente, as conversas citadas não foram com chatos nem snobes. O que poderia ter sido um pesadelo foi aprendizagem. A verdade não muda, mas porque os pontos de vista variam o conhecimento é diverso.

Continuo sem gostar de rosados doces sem acidez. Porém, agora sei que se comparado com um refrigerante açucarado esse vinho pode ser fantástico.

PS: Snob era eu antigamente, agora sou apenas chato!

Arundel, pelas terras de Pavia com Joaquim Arnaud

Texto João Pedro de Carvalho

Joaquim Arnaud, é um nome que existe desde 1883 e que tem vindo por tradição, a passar de geração em geração. É descendente de uma família Alentejana, de Pavia, ligada à Terra, e aí documentada desde 1515. A referida família, desde sempre se dedicou, ao montado, olival, vinha, cultivo de cereais e criação de gado (porcos, vacas, ovelhas e cavalar). As suas herdades situam-se nos concelhos de Mora e Arraiolos, distrito de Évora. Em 2010, como forma de potenciar estes recursos, Joaquim Arnaud, decide criar a sua marca personalizada, à qual atribui o seu próprio nome. O seu objectivo de negócio, assenta em apresentar ao mercado produtos seleccionados e de pequenas tiragens, em que se conjuga o artesanal com o sofisticado. É desta maneira que se apresenta o produtor Joaquim Arnaud, os vinhos que cria na sua adega falam por si, numa prova onde apenas me centrei nos exemplares oriundos do Alentejo, mais propriamente de Pavia.

Os seus vinhos exprimem uma vontade e um ideal, são ao seu gosto o que o levou a afastar-se do crivo da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana. Desta maneira não se sente apertado nem julgado, cria de forma livre os seus vinhos oriundos do terroir de Pavia. A sua gama de vinhos tem vindo a ser ampliada, nota-se que por ali não há pressa de lançar novidades nem novas colheitas, os vinhos apenas são dados a conhecer quando Joaquim Arnaud entende que é o momento. Por isso mesmo durante a prova oscilamos entre a força da juventude e os exemplares com os taninos já educados. Dos cinco vinhos apresentados decidi separar em três grupos:

Arundel Young 2013 e Arundel Petit 2012 são o exemplo da juventude e da força da fruta, ambos com aquela dose de austeridade a conferir muito boa energia ao conjunto. Ambos partilham o mesmo lote composto por Aragonez, Syrah, Trincadeira e Alicante Bouschet sendo que depois apenas varia o estágio em barrica, sendo de 6 meses para o Young e de 9 meses para o Petit. Vinho de perfil carnudo, denso, Alentejo bem presente com bouquet de qualidade a apresentar notas ameixa, amoras, especiarias, compota, boa frescura e pureza de aromas num conjunto que conquista e arrebata facilmente ao primeiro contacto. Vinhos que pedem comida por perto, carnes grelhadas são no momento o par ideal.

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Os Vinhos – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Mais recentes são as edições resultantes da parceria com a Trienal do Alentejo, a primeira edição é o Arundel 36 2009 que resulta de um vinho que ficou literalmente esquecido na adega, muito pouca quantidade da qual apenas resultaram cerca de 500 garrafas e cujo estágio total foi de 36 meses. Conjunto sério que mostra um misto de fruta doce com notas de mirtilo vermelho com morango e amoras, tudo fresco, perfume floral ligeiro com especiaria de fundo. Grande harmonia de conjunto, com uma boa passagem de boca, aqui num perfil mais aberto e menos concentrado mas a vincar todo o palato com sabores de fruta e especiarias. Termina amplo com ligeira secura na faceta gastronómica que é apanágio desta casa.

A segunda edição dá por nome de Arundel T&T 2012 de lote com base nas castas dos dois vinhos anteriores, apenas o estágio passa para 12 meses de barrica. O T&T para os mais curiosos são as iniciais da Trienal e da Terranagro (empresa produtora dos vinhos de Joaquim Arnaud). Mais um exemplar que conjuga finesse, frescura com a fruta neste caso menos presente dando lugar a um lado mais floral e especiado. A fruta vermelha e ácida, em tons de framboesas e mirtilos, surgem em segundo plano ao lado de um ligeiro terroso/grafite. Boca cheia de sabor, ligeira secura no fundo, muito cacau, folha de tabaco e fruta.

O culminar é o Arundel Great 2008, 400 garrafas com direito a um estágio de 12 meses em barricas mais 24 meses em garrafas num lote 100% Alicante Bouschet. Um tinto arrebatador ao primeiro contacto tal a finesse e lascividade com que se mostra. Pura classe, muita harmonia num vinho adulto e pronto a dar prazer, muito perfumado com a fruta sumarenta e fresca, inserida num bouquet de enorme qualidade onde tudo se mostra bem definido, nada beliscado pelo tempo apenas a mostrar que tem sabido evoluir para o melhor dos lados. Tal como todos os vinhos do produtor mostra um carácter bem Alentejano, a pedir mesa por perto, brilhando muito alto com umas perdizes albardadas.

Quinta de la Rosa – no coração do Alto Douro

Texto Bruno Mendes

Perto do Pinhão, a cerca de 100kms do Porto, nas margens do rio Douro podemos encontrar a Quinta de la Rosa, propriedade da família Bergqvist desde 1906. Actualmente conta com 55 hectares de vinhas com as castas tintas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinta Cão e Souzão e as brancas Viosinho, Rabigato e Códega.

Em 2011 a Quinta de la Rosa sofreu uma remodelação completa, que estava a ser preparada há 7 anos, e que terminou em 2012. Esta remodelação inclui uma nova adega, instalações de armazenamento com temperatura controlada, melhoria nas instalações de descarga e escolha das uvas, entre outras.

Para uma visão mais detalhada sobre este produtor veja o vídeo abaixo e consulte o artigo previamente publicado here.

Vinho Português – Moda ou Justiça?

Texto João Barbosa

Não parece haver dia em que não surja uma notícia positiva para a gastronomia portuguesa, seja referente a comida ou a vinho – sobretudo à bebida. Perante tal, como me devo sentir como português? Não sei e a razão é porque desconheço se tal acontece por moda ou justiça.

Quem lê dirá:

– Como não sabe? Tem obrigação de saber. Se escreve sobre vinho, tem de saber, obrigatoriamente.

É verdade! Mas há sempre um erro de paralaxe, resultado dos afectos e da memória. A subjectividade que dita que a comida da mãe seja a melhor do mundo ou que a selecção portuguesa mereça, logo desde o primeiro jogo, ganhar o campeonato de futebol.

Não sou um fanático, mas tenho em Portugal as raízes. É claro que penso que o destaque que o país está a ter na gastronomia tem mais de justiça do que de moda. Há certamente erro de avaliação, embora espero que reduzido.

Estar na moda é bom! Ajuda ao ânimo, puxa auto-estima para cima, dá notoriedade. Contudo, é passageira. Se alguma coisa está sempre na moda é porque não se trata de moda, mas de qualidade em abundância.

A moda é conjuntural e a qualidade estrutural. Por isso, quem está bafejado pelo reconhecimento só tem de insistir na procura da qualidade e na diferenciação. Desse modo irá ganhar valor.

É por isso que não gosto da sentença de que algo tem uma boa relação entre o preço e a qualidade. Não vejo que tal seja elogioso, embora a generalidade das pessoas considere que significa boa oportunidade ou justiça.

Pagar um hectolitro com dez cêntimos é uma boa relação entre a qualidade e o preço? É! É porque, independentemente da qualidade, quem conseguir aproveitar vai ganhar dinheiro. Mas isso não significa que o vinho tenha qualidade… claro que não, mas o postulado não é esse, mas o de um suposto equilíbrio entre uma coisa e outra.

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Wine in tasteportugal-london.com

Quero que o vinho português ganhe a reputação do francês ou do italiano – só para citar dois casos. Produzir bem está ao alcance de quem se empenhe e barato de quem consegue trabalhadores aflitos.

Obviamente que caro não significa qualidade. Acresce que ninguém gosta de se sentir estúpido, pelo que pagar 50 euros por 0,75 litro de zurrapa será episódio único. A justiça está no ponto em que um produto é vendido a preço idêntico ao de outro com qualidade comparável.

Ter uma «boa relação entre a qualidade e o preço» pode ajudar no início e aliviar a pressão sobre a tesouraria. A médio prazo torna-se injusta. Se ainda não convenci o leitor, penso ter o argumento derradeiro:

Portugal factura mais com hortofrutícolas do que com vinho. Isto significa que o valor-acrescentado não é pago com justiça. Generalizando e partindo do princípio que o custo da terra é comparável e que os factores de produção estão equiparáveis, mais vale fazer couves do que vinho. Não há encargos com enologia nem com armazenamento mais longo e empate de capital é muito menor.

Voltando ao início, o vinho português tem sido reconhecido e de modo variado. De todas as notícias, valorizo aquelas que não versam o factor preço. Reporto-me às avaliações da crítica, com pontuação qualitativa apenas, ou a vitórias em concursos de prestígio.

Dir-se-á que os grandes vinhos, aqueles que custam quase o mesmo que um pequeno automóvel citadino, não vão a concurso, pelo que as vitórias são relativas. Claro, quem tem a perder não vai a jogo. Compete a quem chega mostrar merecimento. Os jovens cavaleiros desafiam os grandes senhores.

Diz-se que «quem canta, seus males espanta», mas a música tem sido madrasta para os portugueses. Em 48 edições do Eurofestival da Canção, em que Portugal falhou apenas quatro edições, nunca músicos portugueses conseguiram ir além do sexto lugar – Lúcia Moniz, em 1996, com «O meu coração não tem cor».

A culpa foi da ditadura, mas a jovem democracia não foi premiada. Porque Portugal compra poucos programas de televisão, mas outros pequenos países compram o mesmo e venceram. Porque a língua portuguesa é difícil, mas o Brasil é uma superpotência musical… quase qualquer coisa serve para justificar os desaires.

Enquanto a música portuguesa não ganha o Eurofestival da Canção e a literatura lusófona não alcança o mais do que justo segundo Prémio Nobel, o vinho vai dando alento, consolando mágoas.

Que venha o reconhecimento duradoiro. E estou quase certo que, quando os vitivinicultores portugueses conseguirem solidificar a reputação, a gastronomia de comer (já vão surgindo sinais) vai tornar-se «obrigatória», o que levará os críticos do livro vermelho – não o do Maoísmo, mas o dos pneus – a afixar estrelas em casas que as merecem há muitos anos.