Texto José Silva
Um conceito diferente, uma experiência gastronómica fantástica, o prazer de estar à mesa com tempo. O jovem proprietário do ODE tem um verdadeiro culto pelos vinhos portugueses, que ali são servidos com rigor, com bons copos e às temperaturas adequadas, e dos produtos tradicionais e de origem, com que são confeccionados os muitos petiscos e pratos desta casa de bem comer. Um oásis num deserto que demora a desaparecer.
Este ODE foi a recuperação inteligente e com bom gosto dum espaço antigo em plena zona histórica da cidade do Porto, bem perto do Cais dos Bacalhoeiros e da Ribeira.
Numa construção típica em granito, tem logo à entrada uma bonita mesa de xisto que alberga meia dúzia de pessoas, com o balcão da cozinha aberta mesmo em frente. A parede lateral tem um castiço escaparate com legumes e fruta frescos e, logo ao lado, os modernos armários de temperatura controlada onde repousam os vinhos em condições excelentes. Ao fundo, dois degraus acima, uma primeira sala, quase um privado, com o tradicional granito da cidade nas paredes e grossas traves de madeira nos tectos. Decoração magnífica, requintada, “cozy”, lindíssima. À direita, uma escada de madeira leva-nos ao primeiro piso, à sala principal, com meia dúzia de mesas e o mesmo estilo, mas com vista para o largo e uma nesga de rio. Serviço impecável, gente jovem bem dirigida pelo proprietário, a transmitir a paixão e o bom gosto.
Sentados à mesa de xisto da entrada, que partilhamos com dois dos muitos estrangeiros que enchiam por completo o restaurante, veio para a mesa pão regional de Bragança e dois pequenos recipientes com azeite, um de Trás-os-Montes e outro alentejano. Logo de seguida foi servida manteiga dos Açores, muito boa, salpicão de porco bízaro de Melgaço e um queijinho de Azeitão, qual deles o melhor!! Estava lançada a viagem por uma cozinha simples, com vários sabores e aromas, com excelentes produtos, bem temperada. A sopinha de legumes frescos foi reconfortante, soube muito bem. Uma deliciosa alheira de Vinhais grelhada, veio já cortada em pequenos bocados, cada um com um pedaço de manga em cima, paladares a contrastar, de belo efeito. Depois foi a vez dum escabeche de espadarte que estava no ponto, envolvido por cebola e pimento, vinagre na quantidade certa, bem bom. Não faltou o tradicional polvo à lagareiro em toda a sua pujança, tenro e muito apaladado, acompanhado de batata com pele e legumes cozidos e regado, mais uma vez, de óptimo azeite.
Por fim a carne, desta vez uns nacos de novilho grelhados, na companhia de molho de caril goês e arroz basmati com raspa de lima, num conjunto de contrastes delicioso.
Embora nos tentassem com um vulcão de chocolate com Ártico de tangerina ou um pudim da avó Dulce, já não aguentamos e ficamos por um prato de fruta bem conseguido. O proprietário é incansável no acompanhamento que vai dando aos clientes, transmitindo duma forma encantadora a sua paixão pelo que faz, mas também o rigor na apresentação do que vem à mesa, a atenção no servir dos vinhos, o controlo das suas temperaturas, o cuidado nas harmonizações que se aconselham.
Os vinhos estiveram muito bem representados, começando-se pelo Muros de Melgaço de 2013, um Alvarinho seguro, cheio de vida, fresco, muito aromático e com acidez equilibrada. O branco do Douro Graça Reserva 2009, é feito de uvas de vinhas antigas, cheio de mineralidade, complexo, fresco e com belíssima acidez, em grande forma.
Depois foi o Pardusco 2012, um tinto diferente, moderno, quase um palhete, muito fresco e suave no nariz, envolvente na boca, cheio de fruta e acidez muito equilibrada, requintado. O Quinta dos Frades Vinhas Velhas 2009 esteve em grande nível, cheio de elegância, redondo, aveludado mas seguro, ligeiramente especiado, com notas de fumo, grande vinho. Em contraste, mas em grande forma, esteve o Grou 2008, um alentejano que continua a evoluir muito bem em garrafa, com óptima estrutura, bom volume de boca, taninos sóbrios, frescura e acidez em belo equilíbrio, delicioso.
O colheita tardia Olho No Pé de 2011 está mesmo bom, doce mas com excelente acidez, notas de fruta madura, uma mescla deliciosa, bebeu-se várias vezes…
Terminamos à conversa com o proprietário com um Porto Tawny Ode, cheio de tradição, elegante, autoritário, que fechou uma longa mas excelente refeição, uma autêntica ode à culinária de qualidade.
Contactos
ODE Porto Wine House
Largo do Terreiro 7
4050-301 Porto
Telemóvel: 913 200 010
E-mail: info@odewinehouse.com
Facebook: odeportowinehouse
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