Texto João Barbosa
Por motivos de saúde, que não vou partilhar a razão, fiz análise face-a-face e psicanálise. A minha experiência não cabe na piada, certamente com muitos exemplos de verdade, de que o paciente fala e o analista adormece, boceja ou pensa que ainda tem de ir ao supermercado.
Garanto que não. A minha analista, que vou manter em recato, é a melhor do mundo! Não que eu tenha feito análise com todos os analistas do planeta, mas porque é verdade. E uma verdade é uma verdade. Uma verdade nunca se irá desmentir ainda que elementos da investigação possam indicar um outro caminho… é como as mães: «melhor do mundo»!
Quem fez análise, com um bom profissional, percebe o que estou a afirmar. Ajuda muito ter alguém que, não sendo família nem amigo nem colega de trabalho, nos ajuda, com conselhos não vinculativos, fazendo de espelho, colocando questões, obrigando-nos a pensar.
Dizer que as depressões, os esgotamentos ou os vícios não se curam, no todo ou em parte, com apoio de especialistas não sabe o que diz. Há quem diga que são males dos ricos, dos ociosos e preguiçosos, dos tolos, etc.
Não! Não! E não! Mas uma coisa é certa; a análise não se realiza em cinco sessões e depois recebe-se alta. É cara. O caro é sempre relativo. Se temos uma qualquer doença e se o tratamento custa muitos euros, esse dinheiro acaba por não contar. Todavia é uma soma considerável, cada um sabe da sua algibeira e cada psicólogo tem o seu preço por consulta.
Os psicólogos não fazem a vez da família nem dos amigos. Embora se criem relações emocionais e afectivas, o psicólogo é um profissional especializado.
Os amigos são como o vinho – em toda a crónica escrevo «vinho», porque é essa a bebida a que estou ligado na Blend, mas o correcto é afirmar «álcool». Dão apoio, mas não ajudam a curar. Com o vinho é quase a mesma coisa. Uma festa sem vinho promete ser uma chatice – claro que há os abusadores e aqueles que, devido a alcoolismo, têm de se abster.
O vinho dá alegria, solta-nos, desbloqueia conversas, faz rir. Que bom ter uma conversa a quatro: «eu, o amigo e dois copos». Penso que um pifo, de vez em quando, pode ser positivo. Desde que seja de vez em quando e a seguir não se tente conduzir o automóvel ou trabalhar com máquinas ou cirandar na sua proximidade.
Podemos ter amigos ou compinchas no local de trabalho, mas trabalho é trabalho e conhaque é conhaque. No serviço estamos a cumprir uma missão, que será remunerada no final do mês.
O que escrevi acima acerca do pifo «higiénico» é absolutamente questionável e condenável para muitos. Não é um dogma. O amigo que nos dá o ombro para chorar ou o abraço de alegria pode ser tão desastrado quanto o excesso de álcool, apesar da generosidade.
O vinho ajuda a esquecer? Tirará algum peso, mas não apaga a memória. O vinho faz uma festa? Certamente que, sozinho, não a faz. O vinho, para um enófilo como eu, é um amigo. Não é o cônjuge, com quem se partilha a cama, a mesa, as tarefas domésticas e as contas.
Dizem muitos médicos que beber um copo de vinho às refeições (ou só numa), faz bem. Dizem sempre tinto, pelo que suponho ser por essa substância válida esteja na película. Se assim é, talvez comer uvas seja mais saudável.
Uma outra situação, essa muito grave e porta larga para o alcoolismo, é matar a sede com vinho. O álcool, além de poder criar estados alterados de consciência, em excesso é nocivo, de curto a longo prazo, além de desidratar.
A água é o melhor líquido para matar a sede. Não há melhor. A água é a melhor bebida do mundo. O vinho pode ser um bom amigo ou uma má companhia. É amigo, não resolve. Para resolver há a água e o psicólogo.
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