Texto José Silva
Hélder Sousa é de Santo Tirso, mas veio estudar teatro para o Porto e formou-se como produtor de teatro, trabalhando nessa área durante algum tempo.
Até que, de repente, como também gostava de beber e comer, decidiu mudar de vida. Num acesso de ingenuidade resolveu avançar com um restaurante e tomou conta do Carteiro, que já existia.
E rebaptizou-o como o Antigo Carteiro. Foi até viver para o mesmo largo onde se situa o restaurante, que era um antigo posto dos correios. No largo conhece as pessoas e os vários locais, frequenta o café e as pessoas conhecem-no e respeitam o seu trabalho. O restaurante era de comida tradicional, familiar, e situa-se na rua Senhor da boa Morte, acima do Largo do Ouro, mesmo em frente ao rio Douro, com a aldeia da Afurada do outro lado, já em Gaia.
No rés-do-chão funciona a cozinha e no primeiro piso há uma interessante e apelativa esplanada, onde se mantém o letreiro que indica um posto de correios.
Lá dentro há duas salas, uma para a frente, com várias janelas e bordejada por espelho ao comprido, de belo efeito. A de trás mais pequena, mas ambas muito confortáveis, bem decoradas, em tons claros, muito airosas.
As mesas são bem-postas, muito completas e o serviço é familiar, personalizado, muito simpático, com o Hélder sempre presente, servindo, explicando como são preparados os pratos, que ingredientes levam, quais os produtos de que são feitos, nota-se bem a sua paixão, o bom gosto por este projecto de vida que abraçou com carinho, mas também com perseverança. O Hélder desenvolveu o seu próprio conceito e passou a oferecer um restaurante de toalha branca, com mais conforto e a servir a comida que ele gosta. Os vinhos fazem parte deste projecto, tentando servir vinhos diferentes e menos conhecidos, que façam boas harmonizações com a sua cozinha. Entende que a cozinha deve usar produtos muito bons, para que os resultados sejam os desejados. E tenta recuperar algumas coisas que caíram no esquecimento ou que são muito pouco usadas, como a língua afiambrada e os escabeches, de que é grande fã. Da sua ementa fazem também parte o bacalhau e o polvo, a língua de vaca e a perna de cordeiro, a bochecha de vitela, o joelho de porco e o arroz de enchidos, enfim, como ele próprio costuma dizer, uma comida dos pés à cabeça.
Recentemente juntou alguns amigos e dois produtores de vinho que, na tranquilidade duma tarde de domingo, embarcaram numa viagem saborosa e envolvente.
E começamos por umas tostas com tomate e umas outras com salmão curado, muito bem apresentadas e muito saborosas.
Seguiu-se uma deliciosa cavala marinada com tomate seco, um peixe que dá cozinhados fantásticos, esta cheia de requinte e muito bem temperada. O crocante do tomate seco fazia o complemento muito bem.
As petingas de escabeche tradicionais comiam-se na totalidade, cabeça e tudo!
A língua afiambrada com pimenta rosa e rúcula esteve também cheia de elegância, muito apaladada.
Seguiu-se um risotto feito com arroz carolino, cogumelos shitake frescos, cogumelos porcinos secos e espargos verdes, um belo conjunto.
A perdiz de escabeche é uma tradição, aqui servida fria com tostinhas, deliciosa.
Depois vieram as bochechas de vitela que foram marinadas durante várias horas, com puré de abóbora e grelos salteados, de grande nível.
Fechou-se uma refeição muito completa com a sobremesa, servida num simpático recipiente triplo, também constituída por três sabores diferentes: mousse de chocolate, crumble de maçã com vinho do Porto e um suculento doce de ovos com amêndoa queimada e pimenta rosa. Este repasto completo foi acompanhado por dois vinhos brancos muito diferentes mas excelentes:
o Solar dos Lobos já de 2014, jovem, irreverente, cheio de frescura, com uma óptima acidez, consistente, a ligar muito bem com os escabeches.
E um Casal de Santa Maria da colheita de 2010, com toque precioso de madeira, aromas complexos deliciosos, de espargos e algum tropical suave, bela estrutura e uma acidez cheia de elegância, a aguentar muito bem pratos como a língua afiambrada, o risotto de cogumelos e espargos e a bochecha de vitela.
Para a sobremesa a escolha recaiu sobre um tawny da casa Vieira de Sousa, muito elegante, aromas de frutos secos intensos, redondo e profundo, com óptima acidez, crocante, levemente tostado, a proporcionar um grande final, já a tarde ia longa…
Contactos
O Antigo Carteiro
Rua Senhor da Boa Morte, 55
4150-686 Porto
Mobile: (+351) 937 317 523
E-mail: oantigocarteiro@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/oantigocarteiro
Leave a Reply