Texto João Barbosa
Diz-se que o português é pessimista, fatalista… o fado e a saudade. Sabemos também que somos os melhores do mundo e que na festarola só não ganhámos aos espanhóis – escrevo isto sussurrando, não vá um «vecino» ouvir estas letras e começar a tirar proveito em risota.
Ouvi há uns tempos que somos um povo bipolar. Penso que há muita verdade nisso, pois oscilamos entre esse oito e oitenta. Porém, ao longo da história, o português tem demonstrado saber adaptar-se à realidade e ao mundo.
Como diz o povo: Tristezas não pagam dívidas! Nestes anos difíceis – que começaram ainda antes de 2011 e da Troika – o português mostra a sua fibra. A crise e a austeridade causaram e causam mossas, mas entre falências e desilusões, a verdade é que não quebrámos.
Coisas simples fazem maravilhas. Quando se está na mó de baixo, se atentarmos podemos encontrar ferramentas para consertar dificuldades. Coisas simples dão trabalho.
Há dias, foi publicado um livro de enorme utilidade para os empresários da restauração, da hotelaria e enófilos. De que vale haver conhecimento se não for transmitido? Ninguém nasce ensinado e temos a vida toda para aprender.
O Turismo de Portugal publicou o «Manual Técnico de Vinhos», com a finalidade de manual. É pena serem apenas 2.500 exemplares… espero que o sucesso seja grande, para que venham muitas edições e com muitos mais livros. E que sucedam novas obras, com mais ideias.
O custo? É caro? É barato? Não sei das algibeiras dos outros, mas penso que uma ferramenta de trabalho não tem propriamente um custo. São dez euros para a comunidade escolar – suponho que de hotelaria – e 15 euros para o público em geral.
Posso argumentar com o preço que se paga por um combinado económico… uma simples refeição – sopa, meia dose, bebida e café – custa metade disso num desinteressante snack bar, que vende vinho – a preço acima do valor do conhecimento. Bom, deixo em paz as algibeiras e não tenho ordenados para pagar.
Como disse, é simples – o simples dá trabalho. A obra foi feita a cinco mão, quatro (oito) ligadas a escolas de hotelaria e turismo: João Covêlo (Porto), Luciano Rosa (Algarve), Luís Lima (Estoril) e Paulo Pechorro (Coimbra). Juntaram-se as do enólogo Carlos Freire Correia.
O simples dá trabalho. Este tem ainda o mérito de ter vários níveis de leitura. Penso que auxilia quem começa, relembra alguns pontos apagados, faz pensar a quem anda mais traquejado. Como os livros do Tintim: dos 7 aos 77 anos.
Ninguém pensará que existe uma árvore das garrafas e que algumas cultivares dão sumo de limão e outras vinho. Porém, quantos conhecem o processo desde a génese ao desarrolhar ou os diferentes procedimentos?
Logo as primeiras informações do «Manual Técnico de Vinhos» arejam algumas certezas, contextualizando a situação portuguesa no mundo. Depois, nele cabe desde a videira à percepção dos aromas e sabores. Termina com um útil glossário.
É coisa pouca? Não é. É simples? Só de ler. Além de meritória iniciativa, é um trabalho bem feito, em que «as coisas não são assim porque são assim», mas antes «são assim, porque…». Defeitos? Terá. Li-o célere e só notei que faltou um acento agudo em Francónia – região da Alemanha integrada no Estado Federado da Baviera.
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