Texto João Pedro de Carvalho
A Herdade da Malhadinha Nova é o perfeito exemplo de um sonho que se tornou realidade. Um sonho que pertencia à família Soares: João, Paulo, Rita e Margarete Soares. A Herdade com os seus actuais 400 hectares foi comprada em 1998 e salva da total ruína em que se encontrava. Localizada em Albernoa (Beja), é hoje um exemplo de sucesso dentro e fora de portas. Ali tudo é feito com paixão e muito empenho. O bom gosto e a produção de produto de alta qualidade sempre fez parte da chancela deste projecto que viu em 2001 serem plantados os primeiros 20 hectares de vinha, hoje já são 35. A tudo isto tem-se juntado no passar do tempo, a plantação de olival com a respectiva produção de azeite tal como a criação de animais de raça autóctones com denominação de origem protegida (DOP) e com destaque para o Porco de Raça Alentejana mais conhecido como Porco Preto.
Se a nível da oferta vínica podemos contar com belíssimos vinhos, o projecto de enoturismo cedo se iria fazer notar pela excelência da oferta a todos os níveis, com as mais variadíssimas actividades a serem colocadas à disposição do visitante. Como imagem de marca foram “buscar” a simpática vaquinha Malhadinha desenhada pela filha Matilde. Um desenho entre outros tantos criados pela nova geração da família Soares e que vão acompanhando a cada colheita os vinhos e os novos projectos que vão nascendo à medida que a família aumenta, exemplo disso são vinhos como o Menino António, Pequeno João, Marias da Malhadinha ou em breve o Mateus Maria. Imbuídos neste clima familiar somos embalados sempre por um sorriso, que desde 2003 tem sabido acompanhar as gentes da Malhadinha.
O meu primeiro contacto com este produtor foi com um Monte da Peceguina rosé 2003, seria naquela altura e naquele momento um rosé diferente, causador de impacto e conquistador de palatos e consumidores. Aquela fruta gorda e gulosa embalada em ligeira frescura com ponta adocicada fazia as delícias de muitos, estava então lançada a marca para o sucesso e logo na colheita seguinte iriam surgir os topos de gama onde simpática vaquinha Malhadinha iria fazer a sua primeira aparição. Até aos dias de hoje, os vinhos têm vindo a afinar o seu perfil. A prova que realizei com algumas novidades mostram vinhos que souberam encontrar o caminho certo e são hoje exemplo de consistência colheita após colheita.
Decidi escolher apenas seis vinhos, escolhi aqueles cuja prova mais me cativou, cujos aromas e sabores mais me sorriram. Dois de entrada de gama, dois de gama média e dois de gama alta. A gama de entrada, com nome do Monte da Peceguina, aqui em prova na sua versão branco e rosé, ambos da colheita de 2014. O branco com aromas frescos e bem definidos, feito de Antão Vaz, Verdelho, Roupeiro e Arinto, coeso e com notas florais, muita fruta de caroço (pêssego e alperce) e citrinos bem maduros. Boca com boa presença e passagem fresca e saborosa, fruta presente num final com ligeira secura. O Monte da Peceguina Rosé 2014 mostra-se agora completamente diferente do que foi quando conheci a sua primeira edição, o único traço em comum é a fruta bem fresca e sumarenta, framboesas e morangos. De resto mostra tudo num plano de harmonia e finesse, boa passagem de boca sem quebras em final apimentado.
Um passo em frente e ficamos a conhecer a gama de monocastas que nos são colocados à disposição conforme o ano em questão. Por entre brancos e tintos escolhi um branco e um tinto que espelham bem um patamar qualitativo bem acima da gama anterior. São eles os Monocastas da Peceguina com a escolha a recair no Antão Vaz 2014. Um branco com boa exuberância carregado de fruta madura bastante fresca, diga-se que todos os vinhos se mostram bastante frescos com a fruta bem delineada, neste caso os tons mais tropicais conjugam-se com os aromas citrinos (tangerina). Enche o palato de sabor, bem encorpado e a pedir pratos de peixe no forno, com a fruta a marcar num final de travo ligeiramente mineral e seco.
Fiquei rendido aos encantos deste Aragonês da Peceguina 2013, um belíssimo exemplar da casta com aromas a frutos vermelhos (framboesa, groselhas) maduros, presentes de forma limpa e fresca, aliando elegância com robustez. O estágio de 12 meses em barrica que mal se faz notar, alimentou a sua complexidade com notas de chocolate de leite e alguma especiaria. No seu todo é um vinho com muita energia que dá já bastante prazer à mesa.
No que aos topos de gama diz respeito, o Malhadinha branco 2014 é um dos grandes exemplares de vinho branco do Alentejo e mostra-se ainda jovem, muito coeso, complexo e fresco, sente-se a envolvência da barrica com notas de citrinos e algum floral, sensação de cremosidade com bastante elegância. Boca com grande presença da fruta bem sumarenta, notas de ligeiro amanteigado que lhe dão sensação de untuosidade mas sempre com bastante firmeza e frescura, em final longo e persistente. A cereja no topo do bolo será o Menino António Alicante Bouschet 2012, um vinho que me encheu as medidas, um verdadeiro colosso ainda cheio de vida pela frente mas que mostra já sinais de elegância. De momento enche o copo com aromas de frutos silvestres com destaque para groselhas e amoras, alguma ameixa embrulhada por um toque ligeiro de chocolate preto e especiarias. A barrica onde passou 18 meses confere ligeira tosta, aquele fumado também se faz notar mas a frescura toma as rédeas do conjunto coeso e cheio de energia. Bastante estruturado na boca, fresco e muito firme com taninos a fazerem-se notar, fruta madura a escorrer de sabor a ser embalada pela madeira e por um conjunto com muita vida pela frente.
Contactos
Herdade da Malhadinha Nova
7800-601 Albernoa. Beja – Portugal
Tel: (+351) 284 965 210 / 211
E-mail: geral@malhadinhanova.pt
Website: www.malhadinhanova.pt
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