Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira
A chegada à Madeira pode ser bem vibrante. Situada a cerca de 500 quilómetros da costa de África, a ilha da Madeira está à mercê do Oceano Atlântico. O aeroporto do Funchal situa-se entre o vasto oceano e as montanhas que chegam a ter 1800 metros de altura. Numa ilha que conta apenas com 57 quilómetros de comprimento e 22 quilómetros de largura, de zero metros a quase dois quilómetros de altitude pode ser um bocado assustador. Podem imaginar então, que a paisagem é bastante dramática quando voamos para a Madeira. O que a torna ainda mais dramática é o facto de uma parte do aeroporto estar assente em… nada. Alguma vez estiveram debaixo de uma pista de aterragem? Claro que não, poucas pessoas estiveram. Em muitos sítios não é possível, mas na Madeira é. Então preparem-se, certifiquem-se que têm os cintos bem apertados e as bandejas arrumadas porque estamos prestes a aterrar na Madeira, em cheio.
O Funchal é uma cidade peculiar. Da primeira vez que cá vim pensei que o meu avião tivesse acidentalmente aterrado em Cuba. O toque exótico das bananeiras e o clima húmido deram-me uma súbita sede de mojitos, charutos e mambo. A cidade não é definitivamente aquilo que espera quando se aterra pela primeira vez. É surpreendentemente grande e tem uma elevada densidade populacional. Aliás, é provavelmente umas das cidades com mais densidade populacional em Portugal. Uma parte da ilha é protegida o que implica que o Funchal seja obrigado a crescer para o interior. O mercado imobiliário é escasso, principalmente muito devido ao recorrente crescimento da indústria do turismo. Se está a planear andar pela cidade recomendo apanhar um táxi. Não tente ser um herói e percorrer a cidade inteira a pé, a não ser que esteja a treinar para os Jogos Olímpicos. A própria cidade sobe até aos 800 metros de altura o que significa um treino e pêras.
Localizado na Rua 31 de Janeiro, bem no centro da cidade, em frente ao IVBAM encontramos o produtor HM Borges. Para mim é, à sua maneira, um belo sítio para ter uma adega. O canal entre os dois lados da rua está repleto de flores silvestres e arbustos. A casa foi fundada por Henrique Menezes Borges em 1877 e ainda pertence à família Borges.
Entrar no edifício é como viajar atrás no tempo. Murais com pinturas antigas, garrafas poeirentas, uma sala de degustação escura com o sensacional aroma do vinho Madeira no ar. Impressionante. Dá para sentir a história e tradição. Tanto, que até chega a ser um pouco estranho. Mas eu gosto disso. O vinho, que estabelece a ponte entre o antes e o agora, está verdadeiramente enraizado na cultura Madeirense e nas pessoas que lá vivem. Cria uma certa atmosfera na ilha que para mim é única.
Ao percorrer as antigas caves é impossível não pensar que o vinho Madeira não é apenas uma bebida mas sim um contínuo esforço para manter um estilo de vinho, a sua história e cultura, para que seja possível apreciar estes vinhos fantásticos por mais um milénio. A história da Madeira é líquida, o que faz dos produtores de vinho historiadores e portanto ter a responsabilidade de preservar o mundo do vinho Madeira. Claro que é mais fácil falar do que fazer, mas uma coisa que sei sobre o povo madeirense e especialmente no que respeita aos produtores de vinho, é que são realmente resilientes. Quer dizer, mesmo, mesmo, persistentes. A prova disso é o próprio vinho. Sem essa persistência, teimosia ou o que lhe queiram chamar este estilo de vinho já teria desaparecido há muito tempo. Não desapareceu e isso deve querer dizer alguma coisa.
Aqui estão as minhas escolhas da prova H.M. Borges:
H.M. Borges Sercial 1979
Nariz surpreendentemente vibrante com um distinto toque de maracujá. Após um bocado, um bom bocado, quando se passa do cheirar ao saborear, o Sercial revela o seu clássico perfil sério/austero. Diria mesmo que é um sumo de uva fermentado único, quando comparado com os muitos Serciais que provei durante a viagem. Jovial, equilibradamente frutado com um toque de noz e um final de pedir por mais. Muito bom.
H.M. Borges Terrantez 1877
Provar um Terrantez tão velho é realmente algo especial, muito especial. Este vinho é do ano de inauguração da H.M. Borges! Foi engarrafado nas velhas demijohns da família e já não está à venda. Consegue sentir-se o Atlântico neste vinho. Imaginem uma bola de frutos secos, figos e demais, com um pequeno toque de adega velha no perfil, tudo envolvido numa fina camada de sal do mar. Uma bola deliciosa, preenchida com uma combinação única de sabores, sabores esses que não deveriam funcionar bem juntos mas que o tempo moldou de maneira a que encaixem perfeitamente uns nos outros. Depois imaginem essa mesma bola ligada a um desses geradores que dizem “Perigo! Alta Voltagem”. É esse o poder da acidez deste vinho. Corre pela boca como 10000 Volts, quase cortando a língua a meio, após o qual darão por vocês, tal como o Dr. Frankenstein, a gritar “IT’S ALIVE! IT’S ALIVE!”! Fenomenal!
Contactos
H.M. Borges, Sucrs. Lda.
Rua 31 de Janeiro nrº 83
9050-011 Funchal – Madeira
Portugal
Tel: (+351) 291 223 247
Fax: (+351) 291 223 281
E-mail: info@hmborges.com
Site: www.hmborges.com
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