Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira
O vinho espumante tem um lugar particular na nossa sociedade. É tratado, falado e consumido de maneira bastante diferente de qualquer outra bebida. A campanha de marketing do champanhe ao longo dos séculos deixou um permanente estigma festivo que afecta a maneira de bebermos vinho espumante. É tudo sobre festejo. Felizmente hoje em dia parece haver uma tendência para uma abordagem mais casual às bolhas. Pessoas a abrirem garrafas a meio da semana sem nenhuma razão importante para festejar. Está a tornar-se cada vez mais num vinho do dia-a-dia em vez de uma indicação para enfatizar o facto de que “estamos a ter uma festa”.
Apesar da contínua evolução do mundo do vinho, o vinho espumante continua praticamente inalterado. Parece que ninguém se atreve a desfazer o casamento do vinho com as bolhas, e, talvez, criar algo diferente. Fazer isso é considerado quase um sacrilégio. Mas de vez em quando deparamo-nos com vinhos espumantes que nos fazem despertar deste estranho estado de dormência vínica.
Um desses vinhos foi o Aphros Vinhão Super-Reserva Bruto. Fui a uma prova de vinhos aqui em Helsínquia e deparei-me com uma garrafa dessas bolhas tintas. Algo que não acontece com muita frequência. Primeiro pensei “ah, Lambrusco”, mas para minha surpresa veio de Portugal, e, de todos os lugares, da Região dos Vinhos Verdes. Apesar da Região dos Vinhos Verdes ser bem conhecida pelos seus vinhos brancos frescos, também há alguns fantásticos tintos que lá são produzidos. Um dos clássicos é um tinto de cor carregada da casta Vinhão. Dá lugar a vinhos tão intensamente vermelhos que depois de um copo mais parecemos uma personagem saída do Twilight. Além disso, os vinhos são normalmente acídicos e muito tânicos o que os torna não muito indicados para os iniciantes. Para o ser ainda mais bizarro, é tradicionalmente apreciado em malgas e com produtos do mar como peixe grelhado ou lampreia, com a aparência sinistra. O resultado final, delicioso.
O vinho em si era opaco com tonalidades vermelhas e roxas. No nariz mostrou-se cheio de frutos vermelhos e especiarias. Uma explosão de aromas, tanto familiares como exóticos. A sensação na boa foi qualquer coisa. Nada o pode preparar para essa sensação se ainda não provou este tipo de vinhos antes. A “mousse” era rica e mais texturada do que o vinho espumante normal. Bastante intenso mas surpreendentemente fresco ao mesmo tempo. Muitos sabores temperados e terrosos com uns agradáveis taninos firmes no fim. O final teve um amargo toque refrescante similar ao de uma cerveja lupulada IPA (Indian Pale Ale). Um pouco herbáceo e vegetal mas não no sentido de não estar maduro.
Apesar de não ser exactamente um vinho mainstream, estou a vê-lo a ser a apreciado por muitas pessoas. Poderá requerer um certo estado de espírito ao bebê-lo e talvez uma boa comida para acompanhar, mas acho que muitas pessoas iriam apreciar a singularidade deste vinho. Na minha vida apenas provei um punhado de vinhos que se aproximam daquilo que este vinho tem para oferecer. Desfiante? Sim. Viável? Quem sabe. Saboroso? Sem dúvida nenhuma.
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