Texto João Barbosa
Era uma vez uma raposa, animal omnívoro, que passou sob uma videira onde estavam pendurados uns belos cachos. A Vulpes vulpes tinha fome e bem se jogou a elas, mas não as alcançou. Derrotada, mas orgulhosa, exclamou:
– Estão verdes!
Essa é a da estória de Esopo. Mas há mais raposas e mais uvas. Em Montargil há umas vinhas só para raposinha. A propriedade é a Herdade da Raposinha, mas trata-se de topónimo recente, visto ser uma homenagem à actual proprietária, Rosário Sousa Ataíde.
Este território de 150 hectares está na família de Rosário Ataíde desde o século XVIII, mas o cultivo da vinha é recente. Aliás, em Montargil só há dois produtores, de acordo com Nuno Ataíde, juiz no Tribunal da Relação do Porto, que deu vida ao sonho enófilo do sogro.
Pedro Sousa, médico em Coimbra, não chegou a provar os vinhos da Raposinha. Até 2004, o Monte da Raposinha era usada para fins lúdicos, embora com pomar, olival, sobreiral e pinhal. Nuno Ataíde mandou plantar dois hectares, depois mais cinco e sete em 2014.
A gestão da casa agrícola está a cargo de João Nuno Ataíde, um dos três filhos do casal. Na enologia manda Susana Esteban – já se sabe que com mão certa. A colheita de 2007 foi a primeira a ser posta à venda, em 2008.
Os dois primeiros hectares foram cultivados com touriga nacional, aragonês e trincadeira, em partes iguais, especifica João Nuno Ataíde. Actualmente em produção estão as castas touriga nacional (1,5 hectares), syrah (1 ha), aragonês (1ha), trincadeira (0,5 ha), arinto (1,25 ha), chardonnay (0,75 ha), antão vaz (0,6 ha) e sauvignon blanc (0,4 ha). As castas plantadas no ano passado foram alicante bouschet, touriga nacional e syrah. Cerca de 40% do vinho faz-se com uvas compradas.
Nuno Ataíde afirma que «começou quase com o pêlo do cão e depois de começar a fazer contas». O produtor diz ainda não querer fazer contas. O objectivo quantitativo é atingir os 100.000, a capacidade instalada da adega. Hoje exporta cerca de 60% da produção, sendo todo o vinho classificado como Regional Alentejano.
O Alentejo é todo quente, mas Montargil fica num Alentejo abundante em água, uma mais-valia para quem precisa de matar a sede às culturas. Até 2014, as vindimas começaram sempre em Agosto.
Ora os vinhos:
Num traço geral refiro que têm a mão segura de Susana Esteban. Volta e meia surge a questão se os vinhos de enóloga são femininos… se há vinhos femininos feitos por homens. O modo de estar será diferente, penso que as diferenças não estão no género, mas na personalidade.
Susana Esteban faz vinhos femininos? Não sei. Sei que faz certos, prazenteiros, elegantes e diferenciados. Esta enóloga não usa uma forma para fazer vinho. Faz os lotes com base nos moldes da natureza. Não falo em terroir – isso dá para teses de doutoramento e longas conversas nos serões de Inverno – mas em natureza.
O «chapa quatro» de Susana Esteban é não haver «chapa quatro». Mas há uma assinatura, recuso o termo «feminino», mas elegante. Teimo em acreditar que as obras tendem a reflectir a personalidade dos autores. Mal conheço a enóloga, mas a impressão que tenho é duma mulher que sabe o que quer e com tranquilidade de muita classe.
A elegância é transversal desde os Monte da Raposinha (tinto 2012 – touriga nacional, alicante bouschet, syrah e aragonês – e branco 2013 – arinto e antão vaz), ao Athayde Reserva Branco 2013 (chardonnay e sauvignon blanc), Athayde Grande Escolha Tinto 2011 (syrah, touriga nacional e alicante bouschet) até ao Furtiva Lágrima 2010 – nome da ária «Una furtiva lagrima», da ópera «O elixir do amor», de Gaetano Donizetti – um lote de alicante bouschet, syrah e touriga nacional.
Contactos
Estrada do Couço, S/N
7425 – 144 Montargil, Portalegre
Portugal
Tel: (+351) 919 860 902
Email: geral@montedaraposinha.com
Website: www.montedaraposinha.com
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