Texto José Silva
O Douro Superior é uma região ainda maioritariamente inóspita, montanhosa, com o rio Douro a proporcionar paisagens verdadeiramente arrebatadoras, duma beleza quase sufocante, de cortar a respiração.
Como dizia Miguel Torga, “…por vezes um excesso de natureza!”
Os solos são pobres, onde o xisto é predominante e um clima de extremos, com verões muito quentes, com as temperaturas a ultrapassarem muitas vezes os 45º celsius e muitos meses dum inverno muito frio, mas com muito pouca pluviosidade, a possibilidade de regar as vinhas veio trazer o complemento necessário para ali se fazerem vinhos de excepção.
Nos últimos anos a plantação de novas vinhas disparou completamente, com a vinha a conquistar terreno a uma paisagem onde as oliveiras e as amendoeiras eram predominantes. Aqui e ali ainda se continuam a ver os tradicionais pombais em forma de ferradura, tão característicos. E é daquela sub-região que têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses dos tempos modernos. Isto tudo não foi certamente alheio à organização, há quatro anos atrás, do primeiro Festival de Vinhos do Douro Superior, este ano na sua quarta edição.
E tem estado muito bem a Revista de Vinhos que, com a sua enorme experiência, soube interpretar aquilo que se pretende dum festival deste tipo, mas que tem lugar na longínqua Vila Nova de Foz Côa, e tem sabido ali chamar apreciadores de vinhos um pouco de todo o país, para além de gente de toda a região, que ali têm oportunidade de provar as novidades e os grandes clássicos, muitos deles já premiados um pouco por todo o mundo.
Tem sabido também organizar um programa aliciador para a comunicação social e para muitos profissionais do comércio de vinhos, a que se juntam muitos blogers da área, com visitas guiadas que incluem almoços e jantares em algumas das mais bonitas quintas da zona. Estes profissionais sentam-se à mesa para provar os vinhos a concurso, numa prova cega impecavelmente organizada, de onde vão saír os prémios para os vinhos que mais se destacam, na opinião dum painel independente e heterogéneo.
Depois é passear pela feira a provar vinhos e alguns produtos regionais – pão, queijos, enchidos, compotas, frutos secos, azeite, etc. – ou assistir a alguns colóquios bem interessantes conduzidos por alguns dos jornalistas da Revista de Vinhos.
Hoje, embora o caminho de ferro continue a ser uma boa opção, os acessos a Foz Côa são muito diferentes, melhores e mais rápidos, o que também facilita dar um salto até lá, para passar um dia interessante, regressando pela noitinha, ou mesmo passar dois ou três dias e aproveitar para conhecer melhor uma região com tantos atractivos, sobretudo a nível paisagístico, onde a ecologia é algo natural que está por todo o lado.
Neste caso há que ter alguma atenção aos alojamentos, onde não há grande oferta e que durante o festival estão por vezes completamente cheios.
Apreciar a gastronomia local é outro dos atractivos e que passa pelos peixes do rio fritos ou de escabeche, azeitonas, enchidos e queijos, de que o Terrincho tem destaque natural, e a carne de vaca, com alguma predominância da raça Mirandesa, sejam umas costeletas, um rodião ou a tradicional posta Mirandesa, preparadas de maneira simples: brasa de lenha, sal grosso, cozinhada no ponto. No prato junta-se o molho à base de azeite, alho, salsa e vinagre de vinho…e come-se de olhos fechados.
O grupo de jornalistas e blogers aproveita sempre para conviver e trocar experiências, num ambiente de franca camaradagem que é também proporcionado pela organização.
No regresso aos vários pontos de origem, já pensamos no ano que vem, para mais uma visita ao Douro Superior, as suas paisagens, a sua comida e os seus vinhos. E às pessoas que fazem tudo isso.
Até para o ano!
Leave a Reply