Londres, Meca do vinho Bolhas Tintas a Testar os Limites

Mais generosos do que os outros

Texto João Barbosa

Confesso que não entendo a diferenciação de vinhos em generosos e licorosos, quando são basicamente o mesmo. A diferença nem é subtil, pois os termos diferenciam a nobreza da plebe. Os generosos produzem-se em regiões demarcadas e os licorosos têm direito a Indicação de Proveniência Regulamentada ou apenas de mesa.

Nem é bem assim! Generosos são os Porto, Madeira, Setúbal e Carcavelos. Obviamente, há simples licorosos melhores que alguns generosos.

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Vinho da Península de Setúbal

Ignorando a questão semântica – e «generoso» é «todo» o vinho – importa notar a capacidade dos portugueses para fazerem estes néctares. O processo é «simples», por isso há múltiplas imitações – quase todas com dolo – mas não é como cozer ovos. O Vinho do Porto é a vítima óbvia. Uma sina que só lhe reforça a importância.

Há quem classifique os vinhos de colheita tardia – exemplos máximos são os Tokaji (Tokay, na antiga nomenclatura) e os Sauternes – como generoso. Penso que erradamente, pois os métodos são distintos. Não sou nem académico nem enólogo, pelo que nessa discussão abstenho-me e até reconheço que é uma niquice.

Cada boca, sua sentença! Nariz, idem. No mundo maravilhoso do vinho cabem castas e regiões, às vezes quase a mesma coisa. Do branco deslavado ao retinto, há néctares que preferimos.

De todos, fascinam-me os generosos (licorosos incluídos), são capazes de tudo. Do aperitivo à sobremesa, passando por entrada ou companhia de conversa. Neste rectângulo de continente e nos dois arquipélagos autónomos há uma multiplicidade de géneros.

As personalidades vêm das uvas, dos locais, das práticas do homem. Alguém escreveu, no século XIX, que há tantas variedades de Vinho do Porto como fitas num retroseiro. O próprio sítio na internet do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto não referencia todas as variantes… já quanto ao Madeira, penso que o seu estudo é como uma licenciatura.

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Vinho Madeira

Tenho um carinho especial pelo Vinho de Carcavelos, um monumento que a cidade de Lisboa – na sua dimensão metropolitana – tratou de corroer, deixando pouco para se fazer. A demarcação abrange partes do Concelho de Oeiras e do Concelho de Cascais. Haverá cinco quintas com vinhas aptas a fazer este vinho de perto do mar. Uma está a cargo de poderes públicos – Câmara Municipal de Oeiras e Ministério da Agricultura – e as outras vivem numa obscuridade muda.

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Vinho de Carcavelos

Disse-me o enólogo do município que, quando se avançou com a ideia de fabricar Carcavelos, não se conseguiu encontrar um fio condutor. Provadas muitas garrafas, cada produtor tinha o seu estilo.

Por um lado é bom, porque abre a janela à fantasia: «o que terá sido? Que bom seria se… Ah! Se eu pudesse…». Por outro deprime, porque é um espólio impossível de recuperar. Cinco ou seis quintas não desenham o retrato.

O Vinho de Carcavelos é uma espécie de lince ibérico ou de urso pardo. Só o poder político, através de acções de entidades públicas, pode intervir na sua preservação. O Ministério da Agricultura cede a terra e o Município de Oeiras faz o trabalho.

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Vinho do Porto

Não há um «melhor vinho do mundo»… mas em modos genéricos, temos dois dos maiores vinhos do mundo: Porto e Madeira. Lamentavelmente desconhecidos pela generalidade dos portugueses. Uma das muitas idiossincrasias…

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