Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira
A diversidade varietal é sem dúvida um dos pontos fortes de Portugal. É como uma grande arca de tesouros com infindáveis possibilidades. Embora algumas sejam quase impossíveis de pronunciar, são o que torna o cenário vínico português tão único.
E, mesmo com todas estas excelentes castas, também há possibilidades ilimitadas para plantação de castas internacionais. Eu sei que este é um assunto discutido por muitas pessoas do mundo do vinho; devemos plantar castas internacionais ou cingir-nos às nativas? As nativas parecem estar na moda neste momento, e também acho que isso é algo que todos os enólogos devem apreciar. “Quem é que precisa de outra Cabernet?”. Bem, eu preciso. Se for boa. Por certo que existem muitos factores que levam alguns enólogos a utilizar certas e determinadas castas, mas, feitas as contas, o que interessa é fazer bom vinho. Se não obtivermos sucesso com a primeira casta tentamos outra. Já sei, é mais fácil falar do que fazer.
Porém, não há volta a dar. O mundo em que vivemos é muito mais pequeno do que era dantes. A informação é difundida rápidamente, mas tudo o resto também. Ainda no outro dia encomendei um presunto ibérico inteiro, de Barcelona, e, num par de dias estava à porta de minha casa, aqui em Helsínquia. Quer dizer, dantes precisava de dois dias só para me ligar à internet, com aqueles modems antigos que faziam aquele barulho terrível de discagem. Lembram-se? Bem, aparentemente as castas também gostam de viajar, porque hoje em dia podemos encontrar coisas bem curiosas em sítios inesperados. Coisa que eu acho muito porreira.
É o caso deste vinho, Quinta de Sant’Ana Riesling. Riesling de Lisboa… Ahhh?? Devo dizer que sou um pouco louco por riesling. Nada que se compare a esses jihadistas rieslingistas que às vezes se encontra, mas definitivamente um fã. Este vinho vem de Mafra, mesmo a norte de Lisboa. Um lugar invulgar para encontrar a riesling, mas no entanto, eu tinha uma garrafa de Vinho Regional Lisboa Riesling na mão. Neste momento, qualquer fundamentalista do rieslingismo teria atirado a garrafa para longe com horror, lavado as mãos e sacrificado uma cabra aos Deuses Riesling. Eu não. Eu estava ansioso por o provar.
No nariz apresentou-se um pouco floral e tinha mais notas de fruta madura do que o típico riesling. Mas ainda assim agradavelmente aromático com pêssego e notas de ervas. No palato estava surpreendentemente fresco e fino, não tão maduro quanto o nariz sugeria. Algo invulgar mas, no geral, uma saborosa interpretação da Riesling. Lisboa nunca será Mosel, e isso é uma coisa boa. Potencia possibilidades de criar algo único.
O branco que se seguiu também era de uma casta estrangeira, Sauvignon Blanc. Uma casta com a qual normalmente me debato. Quando no seu melhor pode ser saborosa e gastronomicamente harmoniosa como mais nenhuma. Mas a maior parte dos Sauvignon Blanc são razoáveizinhos e normalmente desinteressantes. Cheirar este vinho foi como ficar preso dentro de uma máquina de lavar roupa. Voltas e mais voltas. Por um lado tinha este elemento relvado de clima fresco de Sauvignon Blanc. Mas por outro lado, tinha muito néctar e pêra madura, o que mais me fazia lembrar Chenin Blanc. Deu-me vontade de comer caranguejo grelhado. Não é um vinho arrebatador mas, se a sua onda é Sauvignon Blanc então provavelmente irá encontar uma nova face desta contundente casta.
Contactos
Quinta de Sant’Ana
2665-113 Gradil
Rua Direita 3, Mafra, Portugal.
Tel: (+351) 261 963 550
E-mail: geral@quintadesantana.com
Site: www.quintadesantana.com
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