Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira
Na Finlândia não é fácil encontrar uma boa garrafa de vinho português. Quando comecei a bradar por aqui sobre os vinhos de Portugal, a escolha era escassa. Hoje em dia a possibilidade de escolha é maior mas continua pequena. Nas “escolhas básicas” das lojas monopólio, há aproximadamente 22 tintos portugueses diferentes, 9 brancos, 2 espumantes e um rosé. Há mais alguns na selecção especial mas a maior parte das pessoas nunca a utiliza ou tão pouco conhece a sua existência. Não há muito por onde escolher. Fico contente por as pessoas se mostrarem interessadas e por alguns vinhos esgotarem mesmo, devido às boas críticas que receberam.
Fui à loja monopólio mais próxima e peguei no primeiro vinho português que não que ainda não conhecesse. Foi o Caves Velhas Cabeça de Toiro Reserva 2010 do Tejo. A Caves Velhas pertence à Enoport United Wines que é um grupo de antigas adegas portuguesas tais como a Adega Camilo Alves, Caves Dom Teodósio, Caves Moura Basto e mais algumas. O vinho era um lote 50/50 de Touriga Nacional e Castelão. A garrafa veio numa caixa de cartão que estava coberta de fotografias de medalhas e outros feitos, que este vinho em particular recebeu. Não augurava ser algo bom.
Ao provar o vinho achei que a Touriga Nacional combinava muito bem com a Castelão. A Castelão a suavizar o aroma floral da Touriga, sem no entanto perder um bocadinho que seja da sua intensidade. Tal como o rótulo sugere é um vinho robusto. Encorpado, com fruta madura e aromas de carvalho terroso. Estava à espera de algo mais pesado mas felizmente não era. Não deixa de ser um vinho com alguns “tomates” mas, talvez com comida se revelasse exactamente aquilo que o médico havia receitado.
Então, tive que fazer um grande bife para acompanhar. Normalmente consigo cozinhar um bom bife, mal passado é claro, mas desta vez deixei-o passar o ponto. Distraído pelo copo de vinho na minha mão, esqueci-me do bife e o resultado foi um bife bem passado. Raios! Ainda estava com fome portanto tinha de pensar em algo. Então surgiu-me a ideia de uma picante tagliata-esque de bife fatiado. Também fiz um puré de guacamole e voilá, o almoço estava pronto. E estava muito bom, sou eu que o digo. Mas a coisa mais surpreendente foi quão bem o vinho acompanhou este tipo de comida picante. É óbvio que acompanha bem um bife, mas um bife com pimenta, limão e coentros, quem diria… Ainda que eu tenha feito asneira a cozinhar, o vinho conseguiu salvar o dia.
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