Texto Ilkka Sirén | Tradução Patrícia Leite
Lembro-me de um jantar tardio que tive no ano passado no Douro, na Quinta do Vale Meão, durante a vindima, no qual o Xito falou-me pela primeira vez deste projecto MOB, com um sorriso de menino. Garantiu-me que não tinha nada a ver com a mafia Portuguesa (1) , mas eu não fiquei completamente convencido. Então o qual é o significado de MOB?
Estive mesmo para apresentar uma versão do Tupac Shakur para o nome, mas algo me diz que não o devo fazer.
MOB significa Moreira Olazabal Borges e é a nova joint venture no Dão dos enólogos Jorge Moreira (Poeira), Francisco “Xito” Olazabal (Quinta do Vale Meão) e Jorge Serôdio Borges (Wine & Soul). Estes três consagrados enólogos têm a sua actividade assente no Douro mas juntaram forças para produzir um vinho na região vitivinícola do Dão.
Sei o que estarão a pensar. Estes “senhores” vão fazer um vinho do Dão ao estilo do Douro e tudo terminará em lágrimas. Não é bem assim. Este grupo vitivinícola tem grande conhecimento sobre as diferentes regiões vitivinícolas Portuguesas, que inclui a própria região do Dão. De facto, a ideia deste projecto é produzir vinhos com uma identidade pura do Dão, o que normalmente significa vinhos delicadamente frutados e com grande acidez. O “gang” MOB arrendou em 2010 a Quinta de Corujão, na parte da região do Dão, no sopé da Serra de Estrela, a cadeia montanhosa mais alta de Portugal Continental.
Esta exploração vitícola situa-se a 500m sobre o nível do mar e posso garantir-vos que lá faz muito frio. É um local bem diferente dos paraísos quentinhos de surf que habitualmente vemos nos postais Portugueses. É até completamente diferente do Douro, que não está muito longe e, por isso, os vinhos são também “animais” completamente diferentes.
Para mim, as joint ventures sempre tiveram um ponto de interrogação. Talvez seja por uma dificuldade de comprometimento pessoal, demasiados compromissos e um grande “ego” ou porque elas visam apenas conseguir publicidade, dinheiro ou dominar o mundo mas, em muitos casos, os vinhos destas alianças não conseguem mesmo vingar. E também é comum que se acabe por pagar mais por estes vinhos. Mas, algumas vezes, bastante raras, podemos obter o melhor de dois mundos ou, neste caso, o melhor de três mundos.
M.O.B. White 2012
Dão
Antes de começar a divagar sobre estes vinhos, devo dizer que gostei bastante da cor usada na cápsula. Normalmente não dou muita atenção às cápsulas e outro tipo de vestimentas dos vinhos, mas simplesmente gostei desta. Será que estou a ficar mais sensível?
Este vinho é um lote de Encruzado e Bical, ambos excelentes exemplos da grande riqueza de castas em Portugal. A viscosidade combinada com um ligeiro “sal” e acidez crocante torna toda a experiência num momento de “água na boca”. Embora já tenha algum carácter, este vinho evoluirá, com mais algum tempo, para um verdadeiro go-go juice(2). Devo dizer que este vinho fez-me sentir muito feliz. É por causa de vinhos como este que as castas ímpares de Portugal estão a ganhar atenção que merecem.
Sugiro que deixe na mesa um copo extra com este vinho por algum tempo porque ele abre e desenvolve alguns aromas interessantes similares aos de um Riesling. Muito apetitoso !
M.O.B. Tinto 2011
Dão
As uvas incluem uma intrigante mistura de variedades: Touriga Nacional, Jaen (Mencia), Alfrocheiro e Baga. Morangos maduros, Pepsi Cola e endro, que associo normalmente à casta Jaen. Parece ser mais “focado” no sabor. Agradável final apimentado. Um pouco desarticulado mas um bom vinho que não dá muita luta a descer a garganta. Na verdade, este vinho faz-me lembrar aquelas danças Flash Mob que vemos no YouTube. Todas as castas juntaram-se, sabendo mais ou menos como a dança deveria acontecer, mas a coreografia acaba por ficar um pouco estranha e não sincronizada na perfeição. Mas não importa que seja uma dança Flash Mob, já que cada um é vedeta e no final todos se divertem. E quem sabe, com mais alguns anos de prática dentro da garrafa, estas castas poderão unir-se e apresentar um espectáculo de classe mundial tipo Gangnam Style em vez dos movimentos ligeiramente erráticos de uma dança Harlem Shake.
Contactos
Jorge Moreira / Francisco Olazabal / Jorge Seródio Borges
EN 17 27, 27, 6290-261, Rio Torto Gouveia, Guarda
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