Texto José Silva
António Pinto é um empresário de sucesso, na área da electricidade e electrodomésticos, mas que se apaixonou pela produção vinícola com origem numa propriedade familiar, em Celorico de Basto.
Apoiado pela mulher e pela filha, começou a fazer vinhos a partir de 2004. Sempre com a colaboração do enólogo Jorge Sousa Pinto, com grande experiência em toda a região dos vinhos verdes. A empresa vitivinícola chama-se Garantia das Quintas e a sua marca principal é Quinta de Santa Cristina. Tendo iniciado a comercialização de vinhos apenas com um branco e um tinto, rapidamente apareceram mais variedades, quer pela vontade de produtor e enólogo, quer pela solicitação do mercado. E não tardou a aparecer mesmo um espumante, hoje já uma referência na região. Em 2013 avançaram com a construção duma adega nova, mesmo ao lado da residência que ali possuem e praticamente no meio das vinhas, com o monte da Senhora da Graça à ilharga.
Mais bonito não podia ser! Em recente visita à nova adega, verificou-se a sua enorme funcionalidade, a par duma estética cuidada, onde falta apenas uma sala de provas, que não vai tardar.
Para além das tecnologias mais modernas, incluindo o frio, construiu-se também um lagar de granito onde alguns dos vinhos são ainda pisados a pé, mantendo a tradição, e muito bem.
As uvas vêm dos cerca de 40 hectares de vinhas, a maior parte das quais ali à volta, mas em várias altitudes, que produzem várias castas da região, como Alvarinho, Arinto, Avesso, Azal, Trajadura e uma curiosa e única Batoca, de que este é o único produtor. Mas já lá vamos.
Depois de terminada a visita à moderna adega e de vislumbrar o imenso vinhedo ali à volta, o produtor convidou os visitantes a segui-lo até um restaurante da região, muito perto, o “Sabores da Quinta”. E foi ali que produtor, a filha, o enólogo e o viticultor nos guiaram por uma viagem através dos vinhos principais, fazendo interessantíssimas ligações com a comida, numa prova bastante didática. Afinal o vinho deve acompanhar a comida!
Começou-se com o vinho base de 2015, composto por Arinto, Azal, Loureiro e Trajadura, simples, muito fresco, um vinho fácil de beber, bem fresco.
Depois veio o Alvarinho Trajadura 2015, uma conjugação de duas castas que já estão habituadas uma à outra, um vinho cheio de fruta mas sem exagero, fresco e com acidez muito equilibrada, bastante gastronómico e que atacou muito bem os petiscos que começavam a vir à mesa.
Presunto, alheira, salada de feijão frade, pataniscas de bacalhau, feijoada e fígado de cebolada ligaram também muito bem com o interessante Alvarinho Loureiro, a dar o melhor das duas castas, fresco, algo floral e tropical, óptima acidez, uma ligação surpreendente.
E veio o Alvarinho, um dos clássicos deste produtor, um vinho cheio de elegância, fino, levemente frutado e com notas tropicais, volumoso e com final longo.
Mais um a ligar bem com os petiscos, mas também com o bacalhau assado no forno com batatinha assada e muito azeite, que, entretanto, chegara à mesa.
Mas a grande surpresa da tarde foi um vinho branco feito com uma casta rara, originária desta sub-região de Basto, a Batoca. E de que este produtor é o único detentor, sendo este o primeiro engarrafamento, da colheita de 2015. Cheio de elegância, frutado no nariz e com alguma intensidade, muito equilibrado e fresco. Bela surpresa.
Já estávamos a apreciar a carne assada no forno com castanhas e arroz de forno, quando foi servido o Santa Cristina Reserva Branco 2014, feito com algumas das castas da quinta, de que se escolheram as melhores, com ligeiro estágio em madeira.
Embora tenha algum tropical, apresenta também frutos secos, tem óptima estrutura, muito elegante na boca, sedoso, com grande final.
Ainda antes das sobremesas provou-se um dos espumantes da quinta, o Bruto Branco 2013, feito apenas com Arinto. Com bolha muito fina, apresentou-se muito cítrico, cheio de frescura, alguma tosta na boca, elegante e sedutor. Um belo final.
Lá fora, o monte da Senhora da Graça continuava altivo…
Leave a Reply