Texto José Silva
A Casa Brites Aguiar está localizada muito perto duma das aldeias vinhateiras do Douro, Trevões, com as suas vinhas espalhadas pelas encostas do Rio Torto, beneficiando dum terroir fantástico, que é partilhado por olival, cerejal, nogueiral e souto, numa evolvente rural bem típica desta região duriense. Propriedade de uma família desde sempre ligada à terra, a partir de 2002 deixou de entregar as uvas à Adega Cooperativa, passando a trabalhá-las em adega própria. E assim as uvas produzidas nos 45 hectares de vinha, das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca e Tinta Francisca, passaram a produzir os vinhos desta casa, com marcas próprias, o “Brites Aguiar “e o “Bafarela”.
Sendo uma empresa familiar, é o irmão António Domingos (Tomi para os mais chegados) que abandona a ideia de ir para medicina e, há mais de 30 anos, se dedica por inteiro à terra e segue as pisadas do seu avô materno. Entre 1986 e 2004 reconverteu totalmente as vinhas para que pudessem ser tratadas mecanicamente. Fez a primeira vindima em 2003 e a partir de 2004 passou a trabalhar com a 2PR de António Rosas e Pedro Sequeira, o que se revelou acertado, pois têm tido bastante sucesso. Então, em 2004, aparece o primeiro Brites Aguiar e o primeiro vinho com 17%. Mas só a partir de 2008 é que surge o Grande Reserva Bafarela, com uma base de Touriga Franca e Touriga Nacional e uma ajuda de Tinta Roriz. Para o seu estágio são usadas barricas de 500 litros, de que se fazem três utilizações. Recentemente decidiram fazer uma prova vertical dos Grande Reserva Bafarela, que nunca tinha sido feita. E foi no ambiente do Douro que esta prova foi efectuada, com a presença do Tomi e mulher, e dos enólogos António Rosas e Pedro Sequeira.
O local escolhido, o D.O.C., não podia ser mais adequado, literalmente em cima do rio, com aquela paisagem arrebatadora, que enche os olhos, que nunca cansa. Os vinhos abertos atempadamente e à temperatura recomendada, apresentaram todos uma cor vermelha carregada, intensa mas elegante.
E têm um perfil comum, são elegantes mas consistentes com deliciosas notas químicas que lhes dão alguma rusticidade.
Iniciou-se a prova com o Grande Reserva Bafarela 2008, que apresenta 14,5% de álcool. Nariz com notas ligeiras de evolução, algumas especiarias e laivos de fruta vermelha. Na boca apresenta uma boa acidez, é elegante e tem estrutura simples mas consistente. Nota-se a idade, mas bebe-se muito bem.
O Grande Reserva Bafarela 2009, também com 14,5%, é aveludado, cheio de elegância, com notas de plantas silvestres, esteva, muito fresco. Na boca tem volume, é fresco e tem óptima acidez, muito persistente. Apresenta notas de especiarias, os taninos bem presentes, secos e uma óptima complexidade. Um vinho sério.
Seguiu-se o Grande Reserva Bafarela 2010, ainda com 14,5%, muito suave, fino, boa fruta madura, muito elegante. Na boca é fresco, intenso, os taninos bem ligados, bela acidez, frutos vermelhos bem presentes, complexo e muito longo, já se bebe muito bem.
O Grande Reserva Bafarela 2011, com 15% de álcool, é muito suave, elegante, tem muita fruta e alguma frescura. Na boca apresenta o mesmo perfil, uma óptima acidez, fruta bastante madura, frescura, algumas especiarias e final muito longo. Não parece do ano que é.
Veio então o Grande Reserva Bafarela 2012, com 14% de ácool, um belo perfil aromático, algum floral, muito fresco. Notas suaves de especiarias, volumoso, boa presença de fruta madura, taninos intensos e belo final. Um ano que continua a surpreender, com belos vinhos como este.
Terminou-se com o Grande Reserva Bafarela 2013, o mais recente, com 14,5% de álcool. Muito elegante, sedoso, fruta bem madura, intenso, fragrâncias de plantas do monte. Na boca apresenta-se bem frutado, fresco, acidez bem ligada com os taninos, óptima estrutura, um vinho ainda jovem, a evoluir, só lhe vai fazer bem mais algum tempo de garrafa.
Seguiu-se o almoço, naquele ambiente tão acolhedor.
Depois dum aperitivo do chefe começou-se pelo excelente ravioli de sapateira com aipo e cogumelos, um prato muito fresco que foi muito bem acompanhado pelo novíssimo Bafarela Rosé 2015, cheio de frescura, seco, muito bom. É pena haver poucas garrafas!
Depois deliciamo-nos com as bochechas de porco bísaro com cevadinha francesa, cremoso, bem ligado, mesmo muito bom. A harmonização foi com o Bafarela Colheita 2014, jovem mas intenso, deu boa réplica à carne de porco.
Passamos então para o cordeiro de leite com tupinambo e jus de trufa, requintado, aromático, a carne muito tenra e saborosa, na companhia do Bafarela Grande Reserva 2013, que já tínhamos provado e que esteve à altura do prato.
Com este mesmo vinho fomos para a sobremesa, de queijos e frutos vermelhos.
Que bem que se esteve no Douro, com a família Bafarela…
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