Texto João Barbosa
Portugal tem a sorte de ter duas regiões vinícolas de excelência! Madeira e Douro/Porto, de grande classe mundial. O que é notável num país com 92.000 quilómetros quadrados. O Douro é maravilhoso porque nele se consegue fazer «tudo».
Atravessar um rio não é coisa pouca.
As fronteiras são linhas imaginadas, são fabricadas. Não é absoluto, pois montanhas e rios teimam na «imperfeição geométrica» – sobretudo nos «velhos mundos». Não é por acaso que muitas cidades, regiões ou países têm nome de rios, ou deles derivados ou ligados.
Na mitologia grega clássica, os mortos iam para o Hades (Inferno) através do rio Aquaronte. Os rios (água) são sagrados em muitas culturas ancestrais. É disso que se trata.
A Quinta das Bandeiras situa-se no Douro Superior, junto à aldeia de Pocinho, na margem direita do segundo maior rio a passar em Portugal. Do outro lado fica a Quinta do Vale Meão. Provem-se os vinhos e perceber-se-á como uma linha de água (nem muito larga) pode ser uma fronteira, é facto.
Claro que existe diferente exposição solar e etcetera-e-tal, em que a características do solo são cruciais. A questão da enologia: quem os faz teima (ainda bem) em tirar partido dos factores diferenciadores. Há a Quinta de La Rosa, a Real Companhia Velha e os vinhos Passagem são… Passagem. Pretendo que seja lido como um grande elogio.
O enólogo Jorge Moreira partilha, em parte igual, a Quinta das Bandeiras com Sophia Bergqvist, que encabeça a Quinta de La Rosa, junto ao Pinhão. Gente irrequieta, que não está satisfeita com o que tem e que não quer mais do mesmo.
Para mim, o factor «homem» integra o terroir. Posto isto, digo que a aposta foi ganha. Acrescento que existe uma outra fronteira (clara, para mim) entre «qualidade» e «gosto». Enquanto cronista de vinho tenho a obrigação da imparcialidade – não confundir com ausência de opinião. Como enófilo, não são vinhos que me preencham. Por nenhuma razão em especial, apenas «gosto».
Cada qual com seu nariz e boca e não recuso recomendação. Quem gosta de vinho e quem gosta do Douro tem a «obrigação» de conhecer os vinhos Passagem. Ora vamos a eles:
Passagem Vinho Branco Reserva 2014 fez-se com «muitas uvas», sobretudo viosinho, gouveio, rabigato e códega do larinho, numa altitude de 400 metros. Com boa acidez, pede comida.
O Passagem Vinho Tinto Reserva 2013 alinha na frescura do seu irmão branco, tendo vivido 18 meses em barricas de carvalho francês. As castas são touriga nacional (70%), touriga franca (25%) e sousão (5%). Reportando-me ao «meu gosto»: Não sou enólogo, mas às vezes arrisco umas coisas de alquimia: tem demasiada touriga nacional, falta-lhe touriga franca e o sousão é casta que não aprecio.
Mais prazenteiro (meu gosto) é o Passagem Porto Vintage 2011, feito à base das duas tourigas, a percentagem não foi revelada. Sendo objectivo: é um vintage com identidade e que «não é mais um do frasco», citando José Mourinho. O fantástico ano de 2011 foi bem surfado.
Acrescento um «vale a pena»: está fora da banda espectral duriense, mas continua a ter em si o Douro. É diferente, mas é Douro.
Contactos
Passagem Wines
Tel: (+351) 254 732 254
Email: mail@passagemwines.com
Website: passagemwines.com
Leave a Reply