Texto João Barbosa
Durante a ditadura do Estado Novo (1926 a 1974) criaram-se arquétipos para identificar as províncias, entidade organizativa hoje inexistente. Havia uma redutora iconografia nacionalista, mas também regional. Valorizou-se muito o folclore, sendo aqui o fandango.
Para o Ribatejo desenharam-se toiros bravos, os nobres animais da actualmente polémica tourada, campinos e obviamente cachos de uvas. O vinho tinha uma importância crucial na economia e na alimentação, sendo que esta província produzia em grande quantidade.
A vontade de produzir muito levou a que as vinhas (generalizando) estivessem em solos ricos. Porém, a videira é masoquista. A reputação, até há poucos anos, não era das melhores. Porém, a comissão certificadora e vários produtores, em número crescente, encarregaram-se de mudar a imagem. O corolário foi a alteração da designação de Ribatejo para Tejo.
Uma das primeiras casas agrícolas a despertar para a nova realidade foi a Quinta da Lagoalva de Cima, situada junto a Alpiarça. É uma empresa que produz muito mais do que vinho, sendo o azeite outro produto identitário de qualidade. Ali lavra-se uma infinidade de bens alimentares. Em 2.500 hectares cabem muitas culturas e floresta.
Há quatro patamares de vinhos, com diferentes preços. Existe uma linha comum, com dois ramais: qualidade e «honestidade». Esta verdade traduz-se na regularidade e consistência do que é produzido e posto à venda – tendo que se ter em conta a especificidade da climatologia dos anos.
Recuso-me em entrar na obsessiva vontade de sentenciar (quase decreto) acerca da relação entre qualidade e preço. Cada pessoa tem o seu conceito e gosto, disponibilidade financeira e avaliação de até quanto sente ser aceitável um valor. Evito referir preços, pois não tenho dados para que possa assegurar um montante. Digo apenas que estes vinhos estão bem ao alcance duma algibeira da classe média, não custam um ordenado nem uma semana de trabalho.
Uma das primeiras referências que conheci foi o branco Lagoalva Talhão 1. Não gostei! Todavia, aproximou-se (aproximei-me) e é um vinho (referência abstracta) que bebo com agrado no Verão, como aperitivo e em convívio descontraído. A gama Lagoalva tem essa característica da descontração, sendo também competente para ir à mesa.
Os vinhos são muitos e acerca deles escrevi uma súmula, que penso ter traduzido o bom trabalho que se faz nesta firma. Vou ao motivo: Lagoalva Barrel Selection Tinto 2013. As gamas são Monte da Lagoalva, Espírito Lagoalva, Quinta da Lagoalva de Cima e Quinta da Lagoalva.
Tal como os anteriores e os olvidados, é um vinho de fácil prazer – no melhor do sentido do adjectivo. Contudo, é uma «coisa» à parte. A própria designação indica que se está presente de algo especial: uma escolha de várias barricas, que geraram 4.000 garrafas.
Trata-se dum par de syrah e touriga nacional, com a mesma percentagem. Estagiou um ano em barricas novas de carvalho francês. A madeira sente-se, mas não esmaga. Não é para se beber em tragos volumosos, antes com vagar.
A demora dos repastos do final de Outono e do Inverno, quando a mesa é rica e substancial, e as comidas mais complexas e exigentes quanto a parceiro. Concordo com o produtor quando aconselha pratos de forno. Estou a pensar no Natal.
Contactos
Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima, S.A.
Quinta da Lagoalva de Cima
2090-222 Alpiarça
Tel: (+351) 243 559 070
Email: geral@lagoalva.pt
Website: www.lagoalva.pt
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