Texto João Barbosa
Há 50 anos, um registo «não se diluía no mar de marcas que actualmente existem e não estava tão sujeito “aos gostos dos mercados” e às classificações dos líderes de opinião. Permitia, por isso, fidelidade por parte do consumidor, que fortalecia as marcas, as empresas, o negócio e o estilo do vinho» – explica Virgílio Loureiro.
«O vinho engarrafado era para dia de festa e o mais procurado era o do Dão. A fama tinha sido conquistada mais pelo pioneirismo do engarrafamento do que pela qualidade. A marca era “colectiva”, associada à origem e sobrepunha-se quase sempre à marca da empresa. Havia também marcas individuais, algumas delas lendárias, fruto da qualidade do vinho e, principalmente, da genialidade com que era publicitado» – informa Virgílio Loureiro.
Um caso emblemático é o Grão-Vasco, surgido em 1958, após a visita de Fernando Guedes (Sogrape) ao Dão. A marca escolhida foi o nome pintor Vasco Fernandes (Grão-Vasco – séculos XV e XVI), natural de Viseu.
Entre o Dão e a Bairrada há o clássico Buçaco (branco e tinto), do Palace Hotel do Bussaco. Por burocracia, não tem data de colheita, mas o número do lote indica o ano da vindima. Alexandre Almeida, sobrinho do fundador, conta que tudo começou por ser o «vinho da casa» e a primeira garrafa data de 1917.
Na tradição, os vinhos são feitos com a junção de uvas da Bairrada e do Dão – eram vinhos tradicionais dos agricultores, não de enólogo. «Desde logo com a ideia de permitir ao viajante a descoberta da gastronomia local e dos seus vinhos, enquanto vivência duma genuína afirmação cultural». À mesa serviam-se pratos tradicionais, «a par da cozinha, então moderna, de Escoffier».
No ano de 1964 surgiu o Adega Cooperativa de Borba Reserva, conhecido simplesmente por «rótulo de cortiça», pelo seu uso em vez de papel.
Alguns vinhos mudaram de nome: o Tinto Velho (1878) hoje é José de Sousa. O Conde d’Ervideira Reserva (cerca de 1880) existe, mas acima dele existe Conde d’Ervideira Private Selection. É um vinho ressuscitado, a produção foi abandonada em 1954 e retomada em 1991.
O Gaeiras Branco, feito com a casta vital, viveu grande prestígio nas décadas de 60 e 70 – mas começou a receber prémios a partir de 1876.
Morreu durante uns anos, ressurgindo com a colheita de 2013 – o herdeiro é o Casa das Gaeiras Vinhas Velhas.
O lugar de Peramanca deu o nome a um dos mais reputados vinhos do Alentejo. Registado, no século XIX, por José António Soares, foi valorizado, mas acabou. Em 1987, a marca Pêra Manca foi doada à Fundação Eugénio de Almeida, na condição de surgir apenas em anos excepcionais. O primeiro branco é de 1990 e o tinto de 1991. O rótulo original tem por base uma aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1864 – 1935), mas em 2003 foi redesenhado e simplificado.
John Reynolds, neto de Thomas Reynolds que comprou a Herdade do Mouchão, decidiu plantar uma vinha da casta alicante bouschet – pela primeira vez em Portugal. O Mouchão também ressuscitou, em 1985. A adega foi erguida em 1901 e a produção decorreu até à ocupação da Reforma Agrária (marxista).
Ao contrário do que pensei originalmente, encontrei mais marcas do que esperei. É impossível lembrar todas. Enumero mais algumas: Caves do Solar de São Domingos, Colares Chitas, Viúva Gomes, Lagoa Reserva, Messias Santola, Messias Vinho Verde, Messias Rosé, Frei João, Porta de Cavaleiros, Montes Claros, Pasmados…
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