Texto João Barbosa
Para quem é formado em história, escrever uma crónica longa sobre vinhos, em fascículos, é doce de macã para se dar a bebés. A civilização Egípcia durou quase 3.200 anos e cabe num livro… mais ou menos. Coloquei o marco nas marcas com 50 anos e escolhi as sobreviventes – vendia-se muito vinho a granel e em garrafas de litros, famosas pelas seis estrelas em relevo.
Vasco d’Avillez, hoje presidente ca Comissão Vitivinícola de Lisboa, recorda que, por essa altura, as exportações de vinho «subiam a um ritmo muito grande e em que os produtores se começaram a apetrechar com materiais de muito boa qualidade».
A seguir à Segunda Guerra Mundial, dois cidadãos norte-americanos tiveram uma influência gigantesca no negócio em Portugal. Deduziram que as tropas quando regressassem levariam recordações europeias, e o vinho estaria no topo das escolhas. Todavia, se não houvesse dois homens de visão nada teria acontecido: António Porto Soares Franco (José Maria da Fonseca) e Fernando Guedes (Sogrape).
O Conde de Vila Real, com casa na localidade de Mateus, recebeu a visita dum americano que, ao provar um vinho da casta alvarelhão, afirmou que daria um bom rosé. A Sogrape, fundada em 1942, aproveitou a dica e seguiu o conselho dado ao titular.
O pequeno palácio barroco deu o nome ao vinho e a Sogrape contratualizou com o Conde de Vila Real o uso da imagem do edifício. Porém, não há qualquer ligação entre o solar de Mateus e o vinho.
A Sul, em Azeitão, a José Maria da Fonseca produzia já um rosé. O Faísca era um sucesso comercial, com promoções, eventos, patrocínios… Em 1944, Henry Behar, que tinha uma distribuidora nos Estados Unidos, quis levá-lo, mas havia um grave problema! Faísca lembra fiasco. Lembrou-se do quadro de Diego Velázquez «A Rendição de Breda», também conhecido por «Las Lanzas» ou «Lancers».
Vasco d’Avillez sublinha que cedo se produziram milhões de litros. Em 1975, o Mateus chegou aos 36 milhões de garrafas e o Lancers às 18 milhões. Outro campeão de vendas é o Casal Garcia, a marca mais antiga de Vinho Verde.
Em 1938, o enólogo francês Eugène Hélisse «aterrou» por acaso na Quinta da Aveleda – o episódio é vasto. Embora relutante, Roberto Guedes aceitou a autocandidatura. Fizeram-se incipientes testes de consumidor, entre familiares e amigos, que ditaram o perfil vinho. Onde o pôr? Uma garrafa azul seduzia e o rótulo reproduz um lenço da senhora da casa. A Aveleda depressa apostou forte na promoção. Dos muitos aforismos de incentivo à compra, um lema ficou para a posteridade… até hoje: «Haja alegria. Haja Casal Garcia».
As duas marcas de rosés tornaram-se globais e apostaram muito na promoção, ao ponto de surgirem falsificações. A popularidade levou a que activistas políticos, em vários países, apelassem ao boicote à compra destes dois vinhos, devido ao regime político vigente em Portugal e às guerras em África.
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