Texto João Barbosa
Julgo que se chega a velho, não é a idoso, quando as memórias aparecem com frequência. Ai! Dizem-me as costas, o coração e os pulmões que já não tenho lugar no banco de suplentes duma equipa de futebol de escalão amador.
É a vida! Digo isto porque o produtor que apresento foi-me dado a conhecer num momento especial da minha vida. Isso não faz dum vinho, ou outra coisa, nem bom nem mau. No caso bom, mesmo. E porquê?
Porque os vinhos que mais me atraem têm um caracter diferenciador, que pode versar várias características. Como todos, com excepção quando a análise tem mesmo de ser às cegas e salas imaculadas, a afectividade ou a história pesa-me nas preferências. O que tem este?
A proveniência, até há pouco anos impensável. Baleizão fica no coração do Baixo Alentejo, que é quente, seco e ondulado. Pouco se sabe acerca desta aldeia e pouco se sabia… terra com vincado teor político, nomeadamente ao Partido Comunista. O resto da história não vem ao caso.
O que vem aqui é a planura. O Alentejo levemente ondulado, verde na Primavera e loiro do trigo maduro e da palha deixada depois da ceifa. É o Alentejo onde o calor é mais calor. Vinho? Bem, a viticultura, até à crise da filoxera, no século XIX, era cultivada em «todo» o lado, muito embora fosse residual em vários locais. Veio o pulgão e as vides não regressaram.
A Herdade Paço do Conde fica nesse campo quente. Pensar em calor é normal, mas deduzir que o vinho sai dali em forma de sopa ou de compota não é verdade. A sabedoria técnica e o empenho permitem belos resultados em locais «surpreendentes».
Esta propriedade tem a vantagem da proximidade do Rio Guadiana, que lhe dá água e fornece frescura. Porém não se pode exigir que não transmitam a envolvência, o que até seria mau sinal, por contrariar a dádiva da natureza.
São 2.900 hectares, dos quais 150 têm vinha plantada. O olival ocupa 1.100 hectares, com as tradicionais cultivares da região e outras exóticas: arbequina, azeiteira, cobrançosa, frantoio, galega (é a Rainha em quase todo o país, com um carácter suave e doce) e picual.
À frente do trabalho enológico está Rui Reguinga, técnico que conhece muito bem o Alentejo e que tem capacidade imaginativa para fazer diferente de fórmulas. Ora, essas características fazem com que não sejam vinhos de enólogo, mas onde o «alquimista» assina ao deixar que o produtor e o seu vinho brilhem e falem por si.
Bebi vários vinhos deste produtor na apresentação que fez no restaurante Eleven, em Lisboa. Cartada certa! Ligação à comida para melhor se perceber o que está no copo. Para começar veio o Herdade Paço do Conde Branco 2014, acompanhado por carpaccio de polvo e vinagrete de laranja. Visto não comer pescados, não sei da ligação além do que me disseram. Se «resistiu» a uma vinagreta é porque tem fibra fresca. Como tenho uma «avaria» quando me põem antão vaz no copo, a opinião sai fora da norma. Não amei, mas a culpa é da minha antipatia. As restantes castas que fazem o lote são a arinto e a verdelho.
O Herdade Paço do Conde Reserva 2014 é um «tintão», excelente para escoltar a comida mais forte e temperada do Alentejo.
O chefe do Eleven, Joachim Koerper, resolveu saltar barreiras com as sapatilhas atadas. E conseguiu! Leitão confitado com chutney de tomate e maracujá juntou o óbvio ao exótico. Dois vinhos e dois casamentos de memorizar: Herdade Paço do Conde Reserva Tinto 2011 e Herdade Paço do Conde Winemakers Selection 2011 (tinto). Ácidos, doces e gordura… tão diferentes quanto recomendáveis, as ligações.
A sobremesa foi uma variação de «floresta negra», em que provou que um tinto pode bem chegar para os finais dos repastos. No caso, Herdade Paço do Conde Colheita Seleccionada 2013.
Contactos
Monte Paço do Conde,
Apartado 25, 7801-901 Baleizão – Beja – Portugal
Tel: (+351) 284 924 416
Fax: (+351) 284 924 417
Email: geral@encostadoguadiana.com
Website: www.pacodoconde.com
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