Posts Tagged : João Barbosa

O Cavalo Maluco e os outros «índios» da Herdade do Portocarro

Texto João Barbosa

Começo este texto exactamente como comecei o anterior. Escrever acerca dum dos meus três vinhos portugueses favoritos é difícil pela preocupação do bom senso, prazer, memórias e qualidade intrínseca.

Gosto de certezas, incluindo a certeza da incerteza. Gosto que uma Coca-Cola seja uma Coca-Cola, sempre igual. Gosto da certeza da incerteza dos grandes vinhos: todas as colheitas são diferentes, porque não há anos de climatologia gémea. Mas que tenham um perfil comum e a qualidade que os torna príncipes. Os anos são o corpo e o perfil é o apelido.

A Herdade do Portocarro situa-se no litoral alentejano – território que está num sítio que burocracia muda de lugar. Bizarria não chamar alentejanos aos vinhos de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines. Esta propriedade fica no Concelho Alcácer, zona mais conhecida pelos arrozais e pelos pinhais.

Se todos os vinhos da Herdade de Portocarro são merecedores de comentário elogioso, dois destacam-se: o Anima e o Cavalo Maluco. O primeiro por ser uma «desarrumação» que José Mota Capitão, o produtor, causou. O segundo porque… é o tal, um dos meus três tintos portugueses favoritos.

Nesta propriedade da Península de Setúbal, embora lá não esteja, fazem-se cinco tintos, um branco e um rosé. Não comento, por não ter provado os Alfaiate Branco 2013 (esgana-cão, galego-dourado, arinto e antão vaz) e o Autocarro Nº 27 2013 (aragonês, touriga nacional e cabernet sauvignon).

Os vinhos com a marca Herdade do Portocarro são inesperados. Não sei se os entendo. Nunca foram o que esperava. Não lhe vejo parecenças com outros da zona. Será o famoso terroir, personagem fugidia que surge do nada e desaparece e que tanta gente diz ter convívio?

O Herdade de Portocarro 2011 tem mineralidade e frescura de boca. Fez-se com as castas aragonês, touriga nacional e cabernet sauvignon. Encorpado, mas não bruto. É um lavrador na cidade.

Partilho com José Mota Capitão a admiração pela casta touriga franca. Torço o nariz a um possível passeio, em larga escala, da rainha das castas do Douro pelo país. Dos vinhos não durienses, só o Herdade de Portocarro Partage Touriga Franca 2008 me dá um prazer ao nível (dos do) da sua região berço. Confirmo que esta variedade precisa de amigos; a solo não me faz palpitar o coração. Vale, pelo menos, a experiência.

Blend-All-About-Wine-Herdade do Portocarro-2011

Herdade de Portocarro – Foto Cedida por Herdade do Portocarro | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Herdade do Portocarro-Partage-Touriga-Franca

Herdade de Portocarro Partage Touriga Franca – Foto Cedida por Herdade do Portocarro | Todos os Direitos Reservados

José Mota Capitão veio para a ribalta com o primeiro vinho em Portugal feito exclusivamente com a casta sangiovese – julgo que não minto, até talvez tenha sido pioneiro no seu plantio. Ano após anos, a italiana mostra-se sensual, mas não frágil. Sotaque italiano, mas não cidadania. É dali, de São Romão do Sado, Freguesia do Torrão, Concelho de Alcácer do Sal, (Distrito de Setúbal), («Península de Setúbal»), Alentejo Litoral. Aposto – mas não sei a resposta, porque não perguntei – que é a casta que partilha o maior afecto deste vitivinicultor.

Os Anima comprovam o princípio da incerteza. Saem sempre muito bem, têm os traços dos irmãos e o apelido. Não são clones nem gémeos. Comentar um determinado ano só faz tanto se comentar todos os outros. Conselho a quem puder… compre, saboreie e conclua.

O Tears of Anima 2014 é um rosé de sangiovese. Tem a vantagem da casta que outros não ousam, resultando em aromas mais próximos dos vinhos brancos – e dos frescos: citrinos, líchias e ameixas colhidas em momento adiantado. Tem o carácter que deviam ter «todos» os rosados: baixo teor alcoólico. Em Portugal valoriza-se muito a capacidade dos vinhos portugueses serem gastronómicos… é uma vantagem? Bebam este pelo prazer de conversar e descontrair da praia que nos tornou encarnados, pelo esquecimento de nos barrarmos com protector solar factor 20.000!

Blend-All-About-Wine-Herdade do Portocarro-Tears-of-Anima

Herdade do Portocarro Tears of Anima – Foto Cedida por Herdade do Portocarro | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Herdade do Portocarro-Cavalo-Maluco

Herdade do Portocarro Cavalo Maluco – Foto Cedida por Herdade do Portocarro | Todos os Direitos Reservados

É momento do meu amor: Cavalo Maluco. Nome estranho! Tudo tem uma razão. Em menino, José Mota Capitão brincou – como em várias gerações – aos índios e cowboys. As crianças tendem a gostar dos vencedores … o miúdo que hoje faz vinho queria ser índio… talvez um dia venha o Touro Sentado!

O Cavalo Maluco 2011 é, possivelmente, o mais «doido» de todos. O ano foi grandioso e o chefe Lakota galopou. É filho de uvas de touriga franca, touriga nacional e petit verdot.

É melhor do que o anterior?! E do que o outro antes?! Sei lá, verdadeiramente. Acho que sim. O mesmo conselho a quem puder: compre, saboreie e conclua.

Maritávora Grande Reserva Branco Vinhas Velhas, príncipe do Douro

Texto João Barbosa

Começo este texto exactamente como vou começar o próximo. Escrever acerca dum dos meus três vinhos portugueses favoritos é difícil pela preocupação do bom senso, prazer, memórias e qualidade intrínseca.

Gosto de certezas, incluindo a certeza da incerteza. Gosto que uma Coca-Cola seja uma Coca-Cola, sempre igual. Gosto da certeza da incerteza dos grandes vinhos. Assim acontece com esta firma da região do Douro.

Maritávora é um nome mágico se pensarmos no drama da família Távora, exterminada pelo primeiro marquês de Pombal. Nem sei como alguém conseguiu manter o apelido. O actual proprietário da Quinta de Maritávora – em Freixo de Espada-à-Cinta – não tem parentesco com essa família aristocrática.

Blend-All-About-Wine-Junqueiro-Family-Maritavora

A família Junqueiro em Maritávora – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

A propriedade foi comprada, em 1870, pelo pai do poeta Guerra Junqueiro, tio bisavô de Manuel Gomes Mota. Conheci-o quando fazia um programa de agricultura para a RTP. Queria criar um enoturismo diferente, levando gente constante mente àquele ermo para fazer um vinho exclusivo. Porquê? Porque a vila vive das excursões para ver as amendoeiras em flor, porque ninguém sabe que quem desenhou o Mosteiros dos Jerónimos também ali esteve, porque tem uma estranha torre de sete lados.

Eu e o repórter de imagem chegámos no momento de jantar. Não há restaurantes sofisticados, come-se o que é da terra – princípio das filosofias do quilómetro zero, da slowfood e da sabedoria de Alexandre Dumas (pai).

No restaurante de província, Manuel Gomes Mota abriu uma garrafa:

– Uau!

Um vinhaço e «esquisito». O que era aquilo? Disse muita coisa e quase sempre ao lado, excluindo o evidente.

– Amanhã, quando visitares a quinta, vais perceber.

Blend-All-About-Wine-Maritavora-Manuel-Gomes-Mota

Manuel Gomes Mota – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Maritavora-José-Serôdio-Borges

Jorge Serôdio Borges – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

Verdade! O chão xistoso (tão xistoso) e as videiras centenárias. Vinho de mineralidade grandiosa e «confusão» das castas baralhadas nas vinhas, coisa antiga.

O que é terroir? É uma «coisa» que não há vitivinicultor que não reivindique. O que é um terroir? É uma «coisa» complexa e rara. Maritávora tem! Bons chãos (não só xisto em calhau), climatologia própria, boa vinha (cultivo está em modo biológico)e enologia de Jorge Serôdio Borges, um dos enólogos que melhor conhecem o Douro.

Blend-All-About-Wine-Vineyards

Vinhas – Foto Cedida por Maritavora | Todos os Direitos Reservados

A Maritávora comercializa um leque de opções, é impossível escrever acerca de todas. Tudo começou com um branco e um tinto. Aptos para receberem a designação Grande Reserva, só mais tarde foi adoptada.

Quanto a mim, os Maritávora Grande Reserva Tinto sofrem do padecimento dos filhos segundos. As tarefas de responsabilidade adjudicadas ao mais velho quando tem dez anos são negadas ao mais jovem, ainda que tenha 12 anos.

Os topos da gama tintos «ficam» na sombra. Não por demérito, mas porque os claros são especiais. O Maritávora Grande Reserva Vinhas Velhas Tinto 2011 é complexo e denso, terá uma longa vida. Feito com uvas das castas touriga nacional, touriga franca, tinta roriz e «outras». O estágio foi de 18 meses em barricas novas de carvalho francês.

Blend-All-About-Wine-Maritavora-Grande-Reserva-Vinhas-Velhas-2011-red

Maritávora Grande Reserva Vinhas Velhas 2011 tinto – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Maritávora-Grande-Reserva-Vinhas-Velhas-2011-white

Grande Reserva Vinhas Velhas 2011 branco – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

A minha paixão são os Grande Reserva Vinhas Velhas Branco. O de 2011 tem o carisma e a personalidade cativante dos irmãos que o antecederam, com benefício do factor ano. As castas são côdega do larinho, rabigato, viosinho e «outras». Conviveu três meses em barricas novas de carvalho francês, com battonnage. Tudo igual ao de 2012… de 2010…

Iguais?! Claro! Mineralidade fulgurante e uma «coisa estranha» que é frescura com calor – tem a climatologia, as exigências das uvas, as do solo e as da madeira nobre. Longo, fundo e variado no tempo em que é bebido.

Iguais?! Não! Felizmente, não. É tão boa a incerteza dos grandes vinhos!

Contactos
Quinta de Maritávora, EN221, Km88
5180-181 Freixo de Espada-à-Cinta
Portugal
Tel: (+351) 214 709 210
Fax: (+351) 214 709 211
E-mail: mgm@maritavora.com
Website: www.maritavora.com

Homenagem ao Cante – Adega Cooperativa da Vidigueira homenageia Património da Humanidade

Texto João Barbosa

A palavra cooperativa arrepia muita gente. Em parte com razão, mas não totalmente. Quando, há poucas décadas, começaram a surgir em Portugal as cooperativas vitivinícolas o resultado foi claramente positivo e a vários níveis.

Os agricultores ganharam força comercial, pela união, obtiveram melhores preços do que se vendessem a empresas privadas, conseguiram certeza no escoamento da produção. Em termos técnicos, as cooperativas conseguiram apetrechar-se com o melhor que havia nesse momento. Ou seja, o vinho melhorou de qualidade.

Depois «descansaram», mas mudou o mundo e o país. Na década de oitenta, as cooperativas alentejanas tomaram a dianteira e auxiliando-se de técnicos competentes e «actualizados», como o caso de João Portugal Ramos, contribuiram, e em muito, para a afirmação do Alentejo como terra vitivinícola de sucesso.

Porém, os apoios da União Europeia e a estabilização política (no caso do Alentejo ainda se colocou a questão da Reforma Agrária, de índole marxista) levaram a que os agricultores quisessem avançar com os seus próprios negócios.

Blend-All-About-Wine-Adega Cooperativa da Vidigueira-Homenagem-ao-Cante-croks

Rolhas da Adega Cooperativa da Vidigueira – Foto Cedida por Adega Cooperativa da Vidigueira | Todos os Direitos Reservados

Houve cooperativas que morreram, definharam, sobreviveram e tiveram sucesso. O mundo gira e hoje não há razão para se tomar por desajeitado o que se produz nas cooperativas. A Adega Cooperativa da Vidigueira conheceu dias complicados e agora reergue-se. Felizmente, há várias a recuperar.

A Vidigueira era famosa pelos seus brancos, onde brilhava a casta antão vaz… a tal que não gosto. Se a variedade faz sucesso no mercado e se cultiva em toda a região, por maioria de razão, ali tem de se dar muito bem.

Fazer bem feito e ter resultados dá para o orgulho. Acaba por ser curioso que quase toda a informação prestada pela Adega Cooperativa da Vidigueira seja de carácter economico-financeiro e muito centrada nos investimentos. Não há nada de errado, e traduz muito.

Um retrato frio: mais de 300 associados, 1.500 hectares de vinha, mais de 2,2 milhões de vinho tinto vendidos no ano passado e acima de 2,1 milhões de branco. Sete marcas de vinho, com diversas variedades,  e uma aguardente bagaceira. Por isso, centro-me num néctar icónico, para a empresa, associados e região.

Há quem diga que quando se juntam dois brasileiros se começa logo o samba. Há quem diga que quando se juntam dois alentejanos se começa logo a cantar. O cante (designação que só recentemente ouvi falar, conhecia como «canto» ou «cantar») é polifónico e originalmente participavam apenas homens. São canções dolentes, por vezes arrepiantes… As mulheres costumavam cantar nos trabalhos no campo, mas hoje há grupos corais que as aceitam.

Blend-All-About-Wine-Adega Cooperativa da Vidigueira-Homenagem-ao-Cante-white

Homenagem ao Cante branco – Foto Cedida por Adega Cooperativa da Vidigueira | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Adega Cooperativa da Vidigueira-Homenagem-ao-Cante-red

Homenagem ao Cante tinto – Foto Cedida por Adega Cooperativa da Vidigueira | Todos os Direitos Reservados

O cante tornou-se Património Imaterial da Humanidade em 2014. Daí nasceu a vontade de criar dois néctares comemorativos, branco e tinto da vindima passada. Não comento vinhos de homenagem, não tenho esse direito. Essas obras nasceram para o brinde, na alegria ou na tristeza. Digo só: bem alentejanos!

Contactos
Bairro Indústrial
7960-305 Vidigueira
Tel: (+351) 284 437 240
Fax: (+351) 284 437 249
E-mail: geral@adegavidigueira.pt
Website: www.adegavidigueira.com.pt

Herdade Paço do Conde, do Alentejo mais alentejano

Texto João Barbosa

Julgo que se chega a velho, não é a idoso, quando as memórias aparecem com frequência. Ai! Dizem-me as costas, o coração e os pulmões que já não tenho lugar no banco de suplentes duma equipa de futebol de escalão amador.

É a vida! Digo isto porque o produtor que apresento foi-me dado a conhecer num momento especial da minha vida. Isso não faz dum vinho, ou outra coisa, nem bom nem mau. No caso bom, mesmo. E porquê?

Porque os vinhos que mais me atraem têm um caracter diferenciador, que pode versar várias características. Como todos, com excepção quando a análise tem mesmo de ser às cegas e salas imaculadas, a afectividade ou a história pesa-me nas preferências. O que tem este?

A proveniência, até há pouco anos impensável. Baleizão fica no coração do Baixo Alentejo, que é quente, seco e ondulado. Pouco se sabe acerca desta aldeia e pouco se sabia… terra com vincado teor político, nomeadamente ao Partido Comunista. O resto da história não vem ao caso.

Blend-All-About-Wine-Herdade-Paço do Conde-Vines

As vinhas onduladas da Herdade Paço do Conde – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

O que vem aqui é a planura. O Alentejo levemente ondulado, verde na Primavera e loiro do trigo maduro e da palha deixada depois da ceifa. É o Alentejo onde o calor é mais calor. Vinho? Bem, a viticultura, até à crise da filoxera, no século XIX, era cultivada em «todo» o lado, muito embora fosse residual em vários locais. Veio o pulgão e as vides não regressaram.

Blend-All-About-Wine-Herdade-Paço do Conde

Herdade Paço do Conde – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

A Herdade Paço do Conde fica nesse campo quente. Pensar em calor é normal, mas deduzir que o vinho sai dali em forma de sopa ou de compota não é verdade. A sabedoria técnica e o empenho permitem belos resultados em locais «surpreendentes».

Blend-All-About-Wine-Herdade-Paço do Conde-The-olive-grove

O olival perto do Guadiana – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

Esta propriedade tem a vantagem da proximidade do Rio Guadiana, que lhe dá água e fornece frescura. Porém não se pode exigir que não transmitam a envolvência, o que até seria mau sinal, por contrariar a dádiva da natureza.

São 2.900 hectares, dos quais 150 têm vinha plantada. O olival ocupa 1.100 hectares, com as tradicionais cultivares da região e outras exóticas: arbequina, azeiteira, cobrançosa, frantoio, galega (é a Rainha em quase todo o país, com um carácter suave e doce) e picual.

Blend-All-About-Wine-Herdade-Paço do Conde-Team

Equipa – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

À frente do trabalho enológico está Rui Reguinga, técnico que conhece muito bem o Alentejo e que tem capacidade imaginativa para fazer diferente de fórmulas. Ora, essas características fazem com que não sejam vinhos de enólogo, mas onde o «alquimista» assina ao deixar que o produtor e o seu vinho brilhem e falem por si.

Bebi vários vinhos deste produtor na apresentação que fez no restaurante Eleven, em Lisboa. Cartada certa! Ligação à comida para melhor se perceber o que está no copo. Para começar veio o Herdade Paço do Conde Branco 2014, acompanhado por carpaccio de polvo e vinagrete de laranja. Visto não comer pescados, não sei da ligação além do que me disseram. Se «resistiu» a uma vinagreta é porque tem fibra fresca. Como tenho uma «avaria» quando me põem antão vaz no copo, a opinião sai fora da norma. Não amei, mas a culpa é da minha antipatia. As restantes castas que fazem o lote são a arinto e a verdelho.

Blend-All-About-Wine-Herdade Paço do Conde-white

Herdade Paço do Conde branco 2014 – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Herdade-Paço do Conde-red-reserva

Herdade Paço do Conde Reserva tinto – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Herdade-Paço do Conde-winemakers-selection-2011

Herdade Paço do Conde Winemakers Selection tinto 2011 – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Herdade-Paço do Conde-Olive-Oil

Azeite da Herdade Paço do Conde – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

O Herdade Paço do Conde Reserva 2014 é um «tintão», excelente para escoltar a comida mais forte e temperada do Alentejo.

O chefe do Eleven, Joachim Koerper, resolveu saltar barreiras com as sapatilhas atadas. E conseguiu! Leitão confitado com chutney de tomate e maracujá juntou o óbvio ao exótico. Dois vinhos e dois casamentos de memorizar: Herdade Paço do Conde Reserva Tinto 2011 e Herdade Paço do Conde Winemakers Selection 2011 (tinto). Ácidos, doces e gordura… tão diferentes quanto recomendáveis, as ligações.

A sobremesa foi uma variação de «floresta negra», em que provou que um tinto pode bem chegar para os finais dos repastos. No caso, Herdade Paço do Conde Colheita Seleccionada 2013.

Contactos
Monte Paço do Conde,
Apartado 25, 7801-901 Baleizão – Beja – Portugal
Tel: (+351) 284 924 416
Fax: (+351) 284 924 417
Email: geral@encostadoguadiana.com
Website: www.pacodoconde.com

Adega Mayor: Três Caiados, Monte Mayor e Solista

Texto João Barbosa

Escolher um nome tem muito do que se lhe diga. Hoje, uma minha bisavó não seria baptizada com 11 nomes para acabar por ser tratada por um diminutivo. No domínio das marcas a tarefa não é menos complicada.

Apresentar um produto tradicional com uma designação que evoque a região, seja facilmente memorizável, agradável ao ouvido e não atrapalhe a pronunciação noutros idiomas exige concentração.

A marca Caiado é certeira. Caiar significa pintar com cal, uma tinta simples e barata feita com calcário e água. A imagem do Alentejo e do Algarve brancos deve-se à aplicação do óxido de cálcio como revestimento das casas, protegendo-as dos elementos e amparando o calor. Por isso, Caiado não precisa de legenda explicativa.

Blend-All-About-Wine-Adega Mayor-2

Adega Mayor – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

O patrono destes vinhos é Manuel Rui Nabeiro, um homem do povo que fez fortuna com o negócio do café. Campo Maior é uma vila encostada a Espanha, nos tempos das fomes – problema endémico – saltava a fronteira e fazia pela vida, fugindo aos guardas. Hoje, tem a maior empresa de cafés do país, a Delta, que enfrentou e venceu a Nestlé, nas gamas comerciais. E a Delta Q que ganhou à Nespresso.

Blend-All-About-Wine-Adega Mayor

Adega Mayor – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

O vinho está no sangue dos portugueses e Manuel Rui Nabeiro não é excepção. Em 1997 foram plantadas as primeiras videiras na Herdade da Godinha e em 2000 na Herdade das Argamassas. A adega, inaugurada em 2007, tem o traço de Álvaro Siza Vieira, arquitecto portuense e vencedor do Prémio Pritzker, em 1992 – o «Nobel» da Arquitectura.

Vinte anos não é muito, mas podem fazer-se balanços. Desde o começo, a Adega Mayor tem reconhecimento da crítica e dos consumidores. Em traços gerais o que se pode dizer: vinhos marcadamente alentejanos, em aromas e paladares, com frescura e com uma pujança tranquila – força e não brutalidade.

Blend-All-About-Wine-Adega-Mayor-Caiado-White

Caiado branco – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Adega Mayor-Caiado-Rose

Caiado Rosé – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Adega Mayor-Caiado-Red

Caiado tinto – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

O Caiado Branco 2014 está talhado para os comeres do Verão, como a sardinha assada e a salada com pepino e pimento. É um lote de antão vaz (40%), arinto (30%) e verdelho (30%).

O Caiado Rosé 2014 é um lote de aragonês (40%), castelão (50%) e touriga nacional (10%). Embora possa ir para a mesa para fazer dueto com pratos com especiarias (penso que peixe e marisco serão um pouco frágeis), o ideal é sábado à tarde ou dia de férias. O sol a pôr-se e enquanto se não começa a jantar…

O Caiado Tinto 2014 tem a «bizarria» do cabernet sauvignon. Penso que a casta não das que melhor se mostrem em Portugal, apesar de alguns tintos icónicos. Aqui (20%) dá malícia ao aragonês (50%) e trincadeira (30%). Malícia, porque achei inesperado.

Blend-All-About-Wine-Adega-Mayor-Monte-Mayor-White

Monte Mayor branco – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Adega-Mayor-MOnte-Mayor-Reserva-Red

Monte Mayor Reserva tinto – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Adega Mayor-Solista-Verdelho

Solista Verdelho – Foto Cedida por Adega Mayor | Todos os Direitos Reservados

Monte Mayor Branco 2014 fez-se com antão vaz (30%), arinto (20%) e verdelho (50%). Tenho o problema de não gostar (há poucas excepções) da casta antão vaz. Põe-se a questão do «gostar» e do «ser bom», que são diferentes, conjugada com o dever de rigor e de verdade, para com quem lê. É um vinho que não tem defeito, mas por via desse aspecto pessoal tenho dificuldade em ficar empolgado. Em síntese: a antão vaz é provavelmente a variedade branca mais emblemática do Alentejo e este vinho tem todas as características para acompanhar as comidas mais leves que o Verão exige. Não fosse uma mais-valia, esta uva não faria parte dos lotes de «todos» os produtores alentejanos.

Monte Mayor Reserva Tinto 2013 exige comida com mais lume. É um vinho robusto, não é bruto. Os 14,5% de álcool aconselham prudência, até porque «engana» um bocadinho. Exceptuando a Lapónia, beberia este vinho no Outono noutra qualquer latitude. É um lote de alicante bouschet (30%), aragonês (40%) e touriga nacional (30%).

Guardei para último um «brinquedo», o Solista Verdelho 2014. Este é manganão, com os 14% de álcool e a surgir descontraído a assobiar… É felizmente fácil. É fruição. É Verão!

Contactos
Herdade da Argamassas, 7370-171
Campo Maior – Portugal
Tel: (+351) 268 699 440
Fax: (+351) 268 699 441
E-mail: geral@adegamayor.pt
Website: www.adegamayor.pt

Quinta de La Rosa – vinhos concentrados e elegantes

Texto João Barbosa

A família Bergvist chegou a Portugal para produzir pasta de papel, a partir da madeira de pinheiro, instando-se em Albergaria da Serra, junto Rio Caima, perto de Constância, banhada pelo Tejo. Mais tarde passaria a utilizar o eucalipto.

O engenheiro sueco D. E. Bergqvist depressa aprendeu onde fica a cidade do Porto, vindo a casar-se com Claire Feueheerd, proveniente duma família no negócio do Vinho do Porto desde 1815. A Quinta de La Rosa, junto ao Pinhão, foi dada presente pelo técnico à sua apaixonada.

Blend-All-About-Wine-Quinta de la Rosa-Main

Quinta de La Rosa – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

A data de 1815 é importante, pois foi é a data da Batalha de Waterloo e do fim do império de Napoleão. O antepassado Feueheerd veio para a cidade Porto, uma vez que precisava de reconstruir a vida, visto ter estado do lado do imperador francês enquanto político da cidade livre hanseática de Bremen. Curiosamente chegou a um país que lutou contra França e instalou-se numa cidade com forte presença inglesa nos negócios.

A propriedade chamava-se Quinta dos Bateiros e do outro lado fica a Quinta das Bateiras e um presente deve ser único, nomeadamente no nome. Porquê La Rosa? Sim, uma propriedade no Douro com um nome castelhano? Para mais com as diferentes origens da família… É que o pai de Sophia Bergqvist – que hoje dirige o negócio – tinha uma marca de Xerez chamada La Rosa. Ainda assim devo sublinhar que o artigo «La» foi usado durante séculos em português, como a famosa nau «Flor de La Mar» que se afundou com um enorme tesouro, em 1512.

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-Tim-Bergqvist

Sophia e Tim Bergqvist – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

É um passado distante, que daria para horas. A história recente da Quinta de La Rosa tem um marco no ano de 1988, quando produziu o seu primeiro vinho. Até essa data, os Bergqvist vendiam as uvas à Sandeman, um negócio iniciado em 1938. Apenas em 1985 é que o Vinho do Porto passou a poder estagiar no Douro, deixando de ser obrigatório fazê-lo em Gaia. Mas «o primeiro vinho a sério foi em 1991», diz Sophia Bergqvist.

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-The-Vines

As vinhas íngremes – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

A Quinta de La Rosa é muito íngreme e com diferentes exposições solares. A conjugação dos factores luz, temperatura e altitude contribuem para a complexidade dos seus vinhos. Jorge Moreira, o enólogo, garante que ali os vinhos só podem sair muito concentrados, pois é a natureza que o impõe.

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-Jorge-Moreira

Jorge Moreira – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

Penso que os tintos saem beneficiados, embora os brancos não deixem de ser de grande qualidade. O Quinta de La Rosa Branco 2014 traduz-se em mineralidade e notas de casca de limão verde e de pêra pouco madura. É um lote de gouveio, rabigato, malvasia, viosinho e códega de larinho.

O Quinta de La Rosa Branco Reserva 2014 é mais potente e exige comida na mesa. É bem seco e fresco, dominando os aromas de limão e tangerina, com notas abaunilhadas. Aqui, o carácter mineral é menos evidente. As castas são as mesmas do anterior.

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-white

Quinta de La Rosa branco – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-white-reserva

Quinta de La Rosa branco Reserva – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-rose

Quinta de La Rosa Rosé – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

O Quinta de La Rosa Rosé 2014 ficou aquém do que esperava. A soma das uvas de touriga nacional, touriga franca, tinta barroca e tinta roriz não transmitiram o Douro. Não sendo pesado, os 13,5% de álcool tornam-no contra-indicado para o almoço.

Os primeiros vinhos que conheci da Quinta de La Rosa foram os tintos e logo me apaixonei. Penso que estão uns socalcos acima dos brancos e bem acima do rosado. O douROSA Tinto 2013 é um retrato do Douro que mais gosto, com a terra de xisto e as ervas bravias secas. É seco sem ser austero e fez-se com touriga nacional, touriga franca, tinta barroca e tinta roriz.

O Quinta de La Rosa Tinto 2012 partilha esses traços identitários com o anterior e acrescenta alfarroba, menta, pimenta branca. É longo na boca. Um belíssimo vinho.

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-dourosa-red

douROSA tinto – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-red

Quinta de La Rosa tinto – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-red-reserva

La Rosa Reserva tinto – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Quinta-de-la-Rosa-port-vintage

Quinta de La Rosa Vintage Port – Foto Cedida por Quinta de La Rosa | Todos os Direitos Reservados

Um grande vinho – mesmo grande – é o La Rosa Reserva Tinto 2012. Tem tudo o que se pode esperar da região, desde a mineralidade do xisto, às cerejas, framboesas, geleia de morango, gomas pretas e chocolatinhos After Eight. Taninos muito agradáveis, vai como veludo. É fresco… e são 14,5% de álcool. Quase todo de touriga nacional, com uma parte de touriga franca.

O Quinta de La Rosa Port Vintage 2012 ainda está fechado, vai revelando alfarroba, cereja e um ramalhete de notas florais ainda pouco nítidas. É untuoso e vai longo. Dêem-lhe uns anos.

Contactos
Quinta de la Rosa
5085-215 Pinhão
Portugal
Tel: (+351) 254 732 254
Fax: (+351) 254 732 346
E-mail:holidays@quintadelarosa.com
Website: www.quintadelarosa.com

Vinhos Tiago Cabaço – tão jovem e já…

Texto João Barbosa

Entre as várias diferenças entre as mulheres e os homens, a estética dos corpos é das mais divertidas, porque opostas. As senhoras vivem aterrorizadas com a linha, podem ser magras, mas os espelhos dizem-lhe que estão mais volumosas. Os homens podem até estar balofos que o reflexo é sempre o Tarzan representado por John Weissmuller.

Uma outra diferença, ainda no mesmo âmbito, é a da idade: as senhoras tendem a ter a noção do passar dos anos, adoptam as suas estratégias para se sentirem confortáveis. Os cavalheiros, não fossem as «repentinas», «invulgares, «inexplicáveis» e «singulares» dores de burro, pensam terem sempre dez anos e aptos a jogar futebol – obviamente que Cristiano Ronaldo apenas dá uns toques quando comparado com o Homo Sapiens sapiens masculino.

Não sou excepção. Quando conheci Tiago Cabaço achei-o jovem. Até aí, tudo ok. O problema é que trouxe-me à memória uma refeição espantosa no restaurante da sua mãe, o São Rosas, em Estremoz. Agora a memória tem um lapso: estive lá no primeiro ou no segundo dia de aberto… em 1994!

– Meu Deus! Estou velho!

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Wines

Tiago Cabaço Wines © Blend All About Wine, Lda

O Tiago Cabaço tem 33 anos, portanto quando lá fui deveria estar a dar chutos numa bola de futebol, provavelmente sonhando em ser o Luís Figo – quanto a mim, o melhor jogador português de sempre, com o devido respeito ao Senhor Dom Eusébio da Silva Ferreira, o Pantera Negra.

Conta que os amigos mais próximos viviam a 3,5 quilómetros de distância, pelo que a infância viveu-a com os trabalhadores da casa que, muitas vezes, depois dum dia cansativo, jogavam futebol com ele. É claro, Tiago Cabaço tem hoje mais uns dez centímetros de altura do que eu… Bem, vamos ao vinho.

Começou a «trabalhar», a enfardar palha, com seis anos, ganhava 2.000 escudos por dia (dez euros, correspondentes a 27,5 euros, após actualização com base coeficiente de desvalorização de moeda, cálculo oficial fornecido pelo Ministério das Finanças). Aos 14 anos tornou-se piloto de motas, tendo ganho campeonatos, vindo a abandonar em 2003.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Cellar-2

Tonéis © Blend All About Wine, Lda

Entrou no negócio do vinho em 2000, distribuindo a produção da família, o Monte dos Cabaços, feitos na Herdade de Trocaleite. Por considerar que faltavam referências na oferta, decidiu avançar como vitivinicultor. A primeira obra em 2006, referente à vindima de 2004. Foram 50.000 garrafas, hoje são 500.000, devendo este ano alcançar as 600.000 – a capacidade máxima da adega.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Cellar

Barricas © Blend All About Wine, Lda

«Os vinhos fazem-se no campo» – defende Tiago Cabaço, que quer intervenções mínimas na adega. O objectivo é sempre o cume, uvas para fazer os Blog. Será depois Susana Estebán, a enóloga, decidido o que fazer com o quê. «Nunca foi usado ácido para corrigir um vinho» – garante.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Vines

Vinhas © Blend All About Wine, Lda

Conta que cresceu numa propriedade sem electricidade, gás nem água canalizada, onde estava já plantada vinha. Dos primeiros três hectares de alicante bouschet, em 2006, passou para 82 hectares, de alvarinho, antão vaz, arinto, encruzado, gouveio, marsanne, roupeiro, sauvignon blanc, verdelho (da Madeira), verdejo (de Rueda) e viosinho, nas brancas e as tintas, alicante bouschet, aragonês, cabernet sauvignon, petit syrah, petit verdot, syrah touriga nacional e trincadeira. Faz 17 referências, incluindo uma marca branca para a cadeia de supermercados Pingo Doce. Em breve haverá uma novidade fora do vinho… pediu segredo! Mais tarde contarei.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Cellar-3

© Blend All About Wine, Lda

Os solos da propriedade são franco-argilosos e xistosos (30%). As uvas brancas vão sobretudo para o chão de xisto. A rega abrange 60% da plantação, mas não acontece mais do que duas vezes no ano. No tempo do pintor – quando as uvas passam de verdes a amarelas ou roxas – é fornecida alguma água, momento que se de faz uma monda de cachos, pois «se for mais cedo, o bago fica maior» – esclarece o produtor. Uma ligeira rega poderá ser realizada no final da mudança de coloração.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Tasting-Table

Mesa de Prova © Blend All About Wine, Lda

As marcas mais emblemáticas ligam-se a designações da internet: blog, .Com e .Beb. Vamos então a eles.

O .Com Branco 2014 foi feito com as castas antão vaz, verdelho (da Madeira) e viognier. É um vinho descontraído. Por força de não ser apreciador da casta antão vaz – raramente tiro algum prazer de néctares em que faz parte – não lhe vejo grande interesse. Mas esse é um problema meu. A verdade é que a generalidade dos consumidores aprecia, ou não fosse tão plantada no Alentejo.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Wine-Range-2

Tiago Cabaço Wines © Blend All About Wine, Lda

Tiago Cabaço Encruzado 2013 foi a estreia da assinatura. O produtor disse ser muito reticente em dar o seu nome a um vinho, mas a pressão, criada com a notoriedade, levaram-no a ceder. Um vinho com esta casta branca do Dão é uma homenagem ao pai, que a plantou pela primeira vez no Alentejo – garante o vitivinicultor. É um vinho curioso, diferente dos que se fazem na sua região de origem, mas que mantém o carácter fresco e transmissão da mineralidade do solo.

Tiago Cabaço Vinhas Velhas 2013 é um lote de antão vaz, arinto e roupeiro. Muito fresco, em que o uso de estágio em madeira não danifica a natureza, nomeadamente a tangerina. É uma dança de doce e amargo bastante agradável, termina com secura suave.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Wine-Range

Tiago Cabaço Wines © Blend All About Wine, Lda

O .Com Premium Rosé 2014 é filho de uvas de touriga nacional e uma boa aposta para quem aprecia rosados. Mostra-se no olfacto frutado e floral: líchias (fruta de aroma floral), limão (casca), amoras pouco maduras e violetas – aroma típico da casta cultivada no Dão e que nem sempre manifesta noutras paragens). Na boca é mineral, seco e que pede comida delicada, mas pode ir só para participar nas conversas de amigos.

O .Com Premium 2013 tem o aroma da casta no Alentejo; mais próximo de doce de amora ou groselha. É suave, fácil – muito fácil – de se gostar. Resulta da junção de uvas de alicante bouschet, aragonês, touriga nacional e trincadeira. Não o aconselho para o tempo do calor.

Tiago Cabaço Vinhas Velhas Tinto 2013 é muito alentejano. Como definir um vinho alentejano? Dizendo que é alentejano! Belo!

O Blog Alicante Bouschet + Syrah 2011 é macio e escorregadio, pela frescura. Não é delicado, é fidalgo. Podia mandar servi-lo num restaurante com finesse, quando fosse pedir a namorada em casamento. E promete vida longa, como se deseja no amor.

Blend-All-About-Wine-Tiago Cabaço-Blog2012

Blog ’12 by Tigo Cabaço © Blend All About Wine, Lda

Já o Blog Alicante Bouschet + Syrah 2012 é mais complexo, necessita de mais tempo para ver a luz do dia (ou da noite). É duro, com fibra… Este oferecia-o ao médico que me operou durante 12 horas… Não fui operado.

De todos que provei, o Tiago Cabaço alicante bouschet 2011 foi o que me agarrou e não deixou fugir. É complicado defini-lo em termos aromáticos, tem fruta, chocolate, minério, vegetal e especiarias… não uma de cada… ficava aqui até amanhã a debitar descritores. A boca é igualmente complexa… Sou uma pessoa das artes e a imaginação leva-me, muitas vezes, para… levava-o para uma reunião secreta, numa sala em penumbra, chamando fantasmas. Um espaço feito de pedra, móveis pesados de excelentes madeiras das antigas colónias ultramarinas, pesadas tapeçarias renascentistas e quadros da Escola Framenga do século XVII. Não é pesado, é «simbólico e ritualístico». Viverá até usar bengala. É polido, seco… Uma grande descoberta!

Contactos
Tiago Cabaço Wines
Fonte do Alqueive, Mártires
Apartado 123
7100-148 Estremoz
Tel: (+351) 268 323 233
Email: geral@tiagocabacowines.com
Website: www.tiagocabacowines.com

Os tintos da Herdade da Farizoa

Texto João Barbosa

A Companhia das Quintas, não sendo um gigante do negócio em Portugal, tem um leque de propriedades espalhadas por diferentes regiões. De cima para baixo: Quinta da Fronteira (Douro), Quinta do Cardo (Beira Interior), Quinta de Pancas (Lisboa) e Herdade da Farizoa (Alentejo).

Possivelmente, o território no Alentejano seja o menos conhecido. A Quinta de Pancas tem já uma longa vida como referência no panorama português, a Quinta do Cardo é um caso raro de reconhecimento de vinhos da sua região, a Quinta de Fronteira está no mediático Douro e a Herdade da Farizoa, embora na região portuguesa de maior sucesso de vendas, tem mais competidores de dimensão.

Blend-All-About-Wine-Herdade-da-Farizoa-Vinhas

Heradade da Farizoa – Foto Cedida por Herdade da Farizoa | Todos os Direitos Reservados

A Herdade da Farizoa foi comprada em 2000 e a adega construída no ano seguinte. Uma característica não muito comum: não se fazem brancos. O pomar de videiras é composto por alicante bouschet (oito hectares), alfrocheiro (quatro hectares), aragonês (15 hectares), cabernet sauvignon (6,5 hectares), syrah (5,5 hectares), touriga franca (menos de um hectare), touriga nacional (6,5 hectares) e trincadeira (dez hectares). Havia dois hectares com tinta caiada, que foram arrancados. Encontram-se em pousio para virem a ser cultivados com alicante bouschet.

Blend-All-About-Wine-Herdade-da-Farizoa-Vinhas-Arvores

Heradade da Farizoa – Foto Cedida por Herdade da Farizoa | Todos os Direitos Reservados

A vinha ocupa uma pequena parte da propriedade – pequena para o padrão alentejano, com 156 hectares. O espaço está arrendado e é dominado por montados, de sobro e azinho, e pastagens. Existem um olival de quatro hectares. O solo é uma mistura de argila, mármore e xisto. Situa-se no concelho de Elvas e dentro da demarcação de Borba.

Blend-All-About-Wine-Herdade-da-Farizoa-by-night

Heradade da Farizoa – Foto Cedida por Herdade da Farizoa | Todos os Direitos Reservados

A empresa tem vindo a realizar uma reestruturação, inicialmente apenas de actividades administrativas e comerciais. A saída dos enólogos Nuno do Ó, que abraçou negócio por sua conta, e de João Corrêa, por doença, levou à contratação de Frederico Vilar Gomes para dirigir as operações de campo e enologia. É jovem e já confirmado como um dos melhores técnicos do país.

Sangue novo que trouxe inovação, alguma com um certo risco. Há liberdade para experiências. Frederico Vilar Gomes atribui responsabilidade e liberdade aos enólogos residentes em cada propriedade, pois são eles, melhor do que ninguém, a conhecer o terreno, o ambiente e as uvas. Visitei uma outra propriedade e provei uma amostra… as opiniões dividiram-se, mas se o técnico da quinta acredita, então que se faça o ensaio.

Na Herdade da Farizoa é Joaquim Mendes quem manda. Ali fazem-se os Portas da Herdade, Herdade da Farizoa, Herdade da Farizoa Reserva e Herdade da Farizoa Grande Reserva (anteriormente designado por Grande Escolha).

Blend-All-About-Wine-Herdade-da-Farizoa-Portas-da-Herdade

Portas da Herdade – Foto Cedida por Herdade da Farizoa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-WineHerdade da Farizoa

Heradade da Farizoa – Foto Cedida por Herdade da Farizoa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-WineHerdade da Farizoa-Reserva

Heradade da Farizoa Reserva – Foto Cedida por Herdade da Farizoa | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-WineHerdade da Farizoa-Grande-Reserva

Heradade da Farizoa Grande Reserva – Foto Cedida por Herdade da Farizoa | Todos os Direitos Reservados

O Portas da Herdade 2014 é uma aposta segura para os dias ao ar livre, acompanhando bem carnes greladas. É macio e escorregadio. É um lote de alicante bouschet (5%), aragonês (40%) sirah (15%) e trincadeira (15%).

O Herdade da Farizoa também alinha pela juventude e fruta, mais guloso que o anterior. Aragonês (50%), syrah (30%) e touriga nacional (20%) mostram-se bem casadas. Vai bem com os grelhados, mas massas também resultam.

O Herdade da Farizoa Reserva 2010 é um alentejano feito com touriga nacional (67%) e syrah (33%). É mais uma prova da plasticidade da casta portuguesa e da boa adaptabilidade da francesa. Ponho-o na mesa no Outono, com comidas mais fortes, mas madrugadoras face ao Inverno.

O Herdade da Farizoa Grande Escolha 2009 é um vinho que me surpreendeu. Sendo o Alentejo uma região quente e embora esta propriedade empreste frescura, a vivacidade ultrapassou as minhas expectativas. Sem marca de oxidação, com aromas de menta, restolho de trigo, pimenta branca e rosas secas. Chega com doçura e finaliza seco.

O Herdade da Farizoa Grande Reserva 2012 traz feições do mano mais velho, como a menta e o restolho do trigo. Para quem tem sangue alentejano, como eu, o perfume da lenha de azinho dá grande conforto. Somem-se-lhe pitadas de noz-moscada e erva-doce. Na boca mostra amoras e mirtilos, terra seca, cacau. Tem estrutura e fibra, mas sem bruteza. Não vem tão doce quanto o anterior e termina seco. Este é um lote de syrah (75%) e touriga nacional (25%).

Contactos
Herdade da Farizoa
7350-491 Terrugem
Tel: (+351) 268 657 552 | (+351) 93 80 90 518
Fax: (+351) 268 107 190

Monte da Ravasqueira e vinhos fora da norma

Texto João Barbosa

A história vitivinícola do Monte da Ravasqueira é recente. Os trabalhos na vinha datam de 1998. O primeiro plantio ocorreu em 2000 e a primeira vindima a ir para o mercado foi a de 2002, posta à venda em 2003, com o Fonte Serrana. Porém, esta propriedade, situada no concelho de Arraiolos, tem uma existência longa, além da família dos seus actuais proprietários estar intimamente ligada à história contemporânea portuguesa.

Blend-All-About-Wine-Monte-da-Ravasqueira

Monte da Ravasqueira – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

A propriedade pertenceu a Dom Nuno Álvares Pereira, condestável de Portugal e estratego que conduziu à vitória o partido de Dom João (futuro João I de Portugal) na guerra de sucessão, entre 1383 e 1385, contra Dom João I Rei de Castela e Leão. A posse da terra foi junta ao título de conde de Arraiolos, de que hoje é (25º) titular Dom Duarte Pio de Bragança, 24º duque de Bragança e herdeiro da Coroa de Portugal.

Mas com o tempo, a Herdade da Ravasqueira mudou de donos e de dimensão. Para o caso, interessa saber a partir de 1943, quando entrou na posse da família Mello, que à época era detentora dum empório empresarial, criado por Alfredo da Silva, com Companhia União Fabril.

Blend-All-About-Wine-Monte-da-Ravasqueira-Herdade

Herdade da Ravasqueira – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

A Revolução de 25 de Abril de 1974 causou naturalmente convulsões. A política focou-se à esquerda, sobretudo ao Partido Comunista Português, e a família Mello partiu para o exílio e os seus bens foram nacionalizados, sendo a Herdade da Ravasqueira sido ocupada por trabalhadores, no processo conhecido por Reforma Agrária.

A estabilização política e o enquadramento de Portugal na família das democracias da Europa ocidental conduziram ao regresso da família Mello, que voltou a ocupar um lugar na liderança empresarial do país, e à entrega desta propriedade alentejana aos seus antigos donos, em 1980, mas praticamente decrépita por abandono e negligência.

Blend-All-About-Wine-Monte-da-Ravasqueira-Herdade-The-Cattle

Cattle – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

A Herdade da Ravasqueira tem cerca de 3.000 hectares, perto de 1.500 ocupados com florestal. A criação de bovinos, cruzados de mertolengo e limusine, ascende a 500 cabeças, e o olival também tem uma pequena parcela. A actividade maior é a do vinho, estando plantados 45 hectares de vinhas, divididos por 29 talhões.

Este domínio alentejano é formado em declive, o que permite, através das diferentes altitudes, nuances diferenciadoras. Ao mesmo tempo, o solo é muito variável, existindo dez formações diferentes, sendo dominantes os argilo-calcários, estando a vinha em zonas com afloramentos de granito e de xisto.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-The-Vines

The Vines – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

O teor de argila varia entre os 20% a 30%, refere Pedro Pereira Gonçalves, director de viticultura e enologia. A constituição do chão permite retenção de água em profundidade, causando algum stress hídrico e obrigando a planta a esforçar-se. Em caso de necessidade, existe sistema de rega gota-a-gota. «Mais vale ser ela [videira] a pedir água do que lhe dar-mos» – explica o técnico.

Desde 2012 que Pedro Pereira Gonçalves está neste produtor. Embora jovem, tem já currículo e reputação. A aposta tem sido na frescura, apanhando a fruta mais cedo do que acontece na generalidade do Alentejo. Assim, conseguem-se néctares com graduações alcoólicas hoje raras – embora a tendência vá nesse sentido.

«A Ravasqueira tem muitas massas de água e fica num vale, por isso consegue-se maior frescura», assinala Pedro Pereira Gonçalves. Pois, o teor alcoólico dos brancos foi atirado para uns surpreendentes 11,5%, indo até aos 12,5%. Nos tintos, o intervalo situa-se entre os 13% e os 13,5%.

Uma das decisões do jovem enólogo foi – coisa ainda rara em Portugal – mandar fotografar a propriedade, por avião, em diferentes bandas de espectro. «Permitiu que a apanha, que era feita ao talhão, passasse a ser feita à zona» – explica o técnico.

Com estas informações adicionais tem sido possível acertar os vinhos aos perfis pretendidos. A agricultura de precisão «permite fazer o vinho na vinha». Com a chegada de Pedro Pereira Gonçalves aumentou o número das propostas de maior patamar de gama, nomeadamente reservas e monovarietais. A diversidade permite a produção de sete vinhos monovarietais: alvarinho, nero d’avola, petit verdot, sangiovese, sauvignon blanc, touriga franca e viognier. No próximo ano será lançado um espumante.

A casta alvarinho é originária do Noroeste de Portugal, com clima mais fresco. Se os descuidos, na região dos Vinhos Verdes, podem resultar em laranjadas (felizmente não é a regra), no quente Alentejo podem tornar-se rebuçados, um pouco pesados e, por conseguinte, enjoativos. Nada mais diferente do que se apresenta na Ravasqueira, onde a variedade foi plantada numa zona mais arejada e fresca.

O Monte da Ravasqueira Alvarinho 2013 é um vinho com notas de tangerina, mineral e elegante, mostrando potencial de evolução em garrafa. Se fecharmos os olhos, e sonharmos um bocadinho, até nos segreda a palavra Chablis… atenção, é uma sugestão suave.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-Alvarinho

Monte da Ravasqueira Alvarinho – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

O Monte da Ravasqueira Reserva Branco 2013 fez-se com alvarinho (40%) e viognier (60%) é escorregadio… portanto: cuidado. É um vinho com textura na boca e com aromas a lima, e pêssego.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-Reserva-Branco

Monte da Ravasqueira Reserva White – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

O MR Premium Branco é um vinho de homenagem ao pai da actual geração que dirige o Grupo Mello, José Manuel de Mello. É um vinho que o enólogo afirma não ser consensual, «mas que não é para ser». É um repositório de todas as castas favoritas do homenageado: alvarinho, arinto, marsanne, semillon e viognier. Na edição de 2013, Pedro Pereira Gonçalves optou por uma abordagem neozelandesa: fechar o vinho dentro das barricas durante um ano. Nasceram notas de baunilha, de bolacha maria, chocolate branco e ameixa. Muito elegante e, mais uma vez, escorregadio.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-MR-Premium-White

MR Premium White – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

Monte da Ravasqueira Rosé 2014 é filho de uvas touriga nacional, colhidas precocemente nos diferentes talhões onde está plantada. É fresco e, em vez das violetas de a cultivar oferece no Dão, surge com um ramalhete de rosas. É um vinho falsamente doce. Um rosado muito interessante.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-Rose

Monte da Ravasqueira Rosé – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

O Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs é, como se percebe pela designação, produto duma só localização, onde pontuam as castas syrah e touriga nacional. Na edição de 2012, a variedade francesa forneceu 70% das uvas. É um vinho bem seco, sem ser austero. Promete vida em garrafa.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-Vinhas-Romas

Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

O MR Premium Tinto 2012, em virtude da variedade de cultivares, é muito rico e complexo de aromas, que se vão sucedendo, casando, separando e regressando, simples ou acompanhados com o mesmo ou diferente par. Tem um notório traço da natureza alentejana – que muito aprecio – que é o de lenha de azinho. Na boca é também um falso doce. Tem a aceleração e garra de um roadster. Penso que também poderá evoluir bem em garrafa.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-Premium-Red

MR Premium Red 2012 – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

O Monte da Ravasqueira Touriga Franca 2012 é para um fanático da casta – eu – uma comichão. Por capricho, proibia que fosse plantada fora do Douro. Considero que das viagens poucas conseguem alcançar o carisma daquela região do Nordeste português. Isto não significa que a qualidade não exista, apenas uma irritação intelectual.

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-MR-Touriga-Franca

Monte da Ravasqueira Touriga Franca – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

A touriga franca revelou-se em 2012, na Ravasqueira, como alentejana, com os aromas dos restolhos e dos montados de sobro e de azinho. É seco de nariz e na boca mostra mineralidade, com evocação de giz. Tem uns taninos fantásticos, é racing e elegante, digamos o temperamento dum nobre na sua propriedade rural. Agora precisa de ser decantado com alguma violência ou aberto com antecedência. E vai aguentar-se anos. Reconheço que é uma bela touriga franca!

O Monte da Ravasqueira Syrah e Vignier (2012), em que a casta branca representa 3% do lote, é um vinho com frescura e vivacidade, que evolui bem no copo e interessante. Provei-o depois do vinho anterior. É belíssimo, mas é um menino ao pé do latagão. Definiria com a idiomática: «azar dos Távoras».

Blend-All-About-Wine-Monte da Ravasqueira-Syrah-Viognier

Monte da Ravasqueira Syrah and Viognier – Photo by Monte da Ravasqueira | All Rights Reserved

Ponto de ordem e conclusão: frescura, desalinho dos perfis face à norma, falsas doçuras (bom!), complexidade e promessa de longevidade.

Contactos
Monte da Ravasqueira
7040-121 ARRAIOLOS
Tel: (+351) 266 490 200
Fax: (+351) 266 490 219
E-mail: ravasqueira@ravasqueira.com
Website: www.ravasqueira.com

Herdade do Sobroso, vinhos alentejanos com temperamento especial

Texto João Barbosa

A memória não é o que foi e ainda assim lembro-me, de há uns anos, ter visitado a Herdade do Sobroso, estava tudo muito no começo. O fundamental já lá estava: a vinha, o território florestal e a simpatia.

Herdade do Sobroso – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

Agora, retornado com mais tempo, apercebi-me do empreendimento já constituído, na vertente vínica e no enoturismo – que alia o Alentejo, nas cores do seu calor, e à cidade pelo modo contemporâneo e sem a tão comum frieza. Um bom gosto a que não é alheio o traço do arquitecto Ginestal Machado, uma referência na reconhecida Escola do Porto, que já deu a Portugal dois prémios The Pritzker Architecture Prize – o «Nobel» da arquitectura.

Quando Ginestal Machado comprou estes 1.600 hectares, em 2000, estava tudo por fazer, resultado do pouco empenho de anteriores proprietários. Muito já se fez e a natureza não pára. Este domínio é também uma coutada de caça – o que não admira a variedade e quantidade de bicheza avistada, quando dei uma volta de todo-o-terreno com Filipe Teixeira Pinto, operacional da casa e enólogo residente.

Senti-me em reportagem para a National Geographic Magazine: veados, muflões, coelhos, lebres, perdizes, codornizes, javalis, patos bravos… Consta que os Sus scrofa (oink oink) costumam ser grandes e pesados e que um dia foi caçado um com mais do que o dobro do peso média registada na Herdade do Sobroso.

blend-all-about-wine-herdade-sobroso-piscina

Piscina – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

Vinho não é tudo, mas é o tema da crónica – e vou longo em muita coisa. O Alentejo é uma região, a maior portuguesa – cerca de um terço de Portugal continental, com mais de 31.551 quilómetros quadrados –, mas nela cabem realidades diferentes. A Herdade do Sobroso situa-se na Vidigueira, zona com Denominação de Origem Controlada, e famosa pelos seus vinhos brancos. Este domínio, pela orografia e pela margem do Rio Guadiana, consegue uma frescura que, muitas vezes, está ausente em néctares alentejanos. Filipe Teixeira Pinto tem o apoio, como consultor, de Luís Duarte.

Dos 1.600 hectares, apenas 52 estão ocupados com vinha. O encepamento é formado por castas locais, nacionais e internacionais. As brancas são todas portuguesas: alvarinho, antão vaz, arinto, perrum e verdelho. As tintas são mais «viajadas»: alicante bouschet, alfrocheiro, aragonês, cabernet sauvignon, syrah e tinta grossa.

O primeiro vinho foi posto à venda em 2008, referente à vindima de 2006. A linha condutora é a da frescura, que traz elegância. Penso que, sabiamente, estão a travar o caminho da pujança alcoólica, característica quase inevitável nas regiões quentes. O rosado tem 12,5% de álcool e os brancos 13%, o que nos tempos que correm é quase raro.

blend-all-about-wine-herdade-sobroso-sobro-rose-2014

Sobro Rosé 2014 – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

Pela graduação alcoólica já se percebeu que o rosado não é um subproduto dos tintos. As uvas são colhidas antes das brancas. O Sobro rosé 2014 consegue reunir dois desejos, pois vai bem (perigosamente) em conversas descontraídas e acompanha comidas delicadas. Foi todo feito com uvas de alicante bouschet.

blend-all-about-wine-herdade-sobroso-anas-branco-2014

Anas branco 2014 – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

Os muitos patos bravios que ali vivem inspiraram a marca de entrada de gama, Anas – a família desta ave palmípede é a Anatidae. O Anas branco 2014 é um diálogo entre as castas antão vaz, quente alentejana, e a arinto, nacional e muito fresca. Esta parelha resulta bem (vários produtores estão a recorrer a este casamento), até porque se deu travão à autóctone, sob pena de pesar como chumbo, sendo colhida «precocemente» (no tempo correcto). É guloso e pede cadeira diante duma vista agradável.

blend-all-about-wine-herdade-sobroso-sobro-branco-2014

Sobro branco 2014 – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

O Sobro branco 2014 é mais indicado para acompanhar comida. Mais uma vez, a equipa técnica evitou que as uvas de antão vaz esborrachassem o vinho. A elas se somaram as de perrum e arinto.

blend-all-about-wine-herdade-sobroso-sobro-tinto-2014

Sobro tinto 2014 – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

O Sobro tinto 2014 fez-se com uvas de aragonês, alicante bouschet, cabernet sauvignon e syrah. Aqui a minha nota vai para o belo cabernet sauvignon, que lhe confere virtudes. Infelizmente, em Portugal nem sempre se sabe trabalhar bem com esta casta – ou não será suposto por inadaptação. Aqui não se trata de pimentão.

blend-all-about-wine-herdade do sobroso-tinto-2013

Herdade do Sobroso tinto 2013 – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

No Herdade do Sobroso tinto 2013 encontrei o Alentejo. Os outros têm-no, mas este «nasceu lá e vive lá». O lote tem o sotaque cantado, pelas uvas de aragonês, alicante bouschet e alfrocheiro. Cuidado, que os frutos vermelhos e o chocolate são como duendes que distraem a atenção… 14% de álcool. É para ir para a mesa e o que me ocorre é «carne do alguidar», uma iguaria típica alentejana, que consiste em entrecosto temperado com massa de pimentão e muito alho, acompanhado por migas.

blend-all-about-wine-herdade do sobroso-cellar-Selection-tinto-2013

Herdade do Sobroso Cellar Selection tinto 2013 – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

O Herdade do Sobroso Cellar Selection 2013 (tinto) é uma coisa à parte, que representa o gosto dos proprietários, um vinho com assinatura. O casamento entre o alicante bouschet e o syrah é de estremecer e, novamente, a frescura torna-o perigoso, aqui são 14,5% de álcool. É um grande vinho. Em termos de gosto pessoal, é este que escolho.

blend-all-about-wine-herdade do sobroso-reserva-tinto-2012

Herdade do Sobroso Reserva tinto 2012 – Foto Cedida por Herdade do Sobroso | Todos os Direitos Reservados

Por fim, o cume. O Herdade do Sobroso Reserva 2012 (tinto) é também um vinho de excelência, com elegância, vontade de comida e conversa prolongada num serão sem horas para terminar. O lote fez-se com uvas de aragonês, alicante bouschet e cabernet sauvignon. Aqui, mais notória, a francesa dá-lhe «um piquinho», especiarias e verdura, a temperar o chocolate de cozinha, cerejas maduras e baunilha. Novamente, rédea curta, que são 14,5% de álcool.

Contactos
Pedrógão, Apartado 61
7960-909 Vidigueira, Portugal.
Tel: (+351) 284 456 116
Telemóvel: (+351) 961 732 958
E-mail: geral@herdadedosobroso.pt
Website: www.herdadedosobroso.pt