Texto João Barbosa
A repetição de palavras ou de rimas em latim faz-me sempre pensar tratar-se de magia. Não sei que livros andei a ler ou que filmes andei a ver. Bem, cá vai:
– Oriolus oriolus.
É o nome latino de papa-figos, um passarinho bonito comum na Europa e que pode ser visto até a uma parte da Ásia, voa até ao Cazaquistão e à Mongólia.
É um passarinho com ar simpático que os meus olhos de urbanita não conseguem identificar sem ajuda de quem sabe. Além de simpático é bonito. Não sou ornitólogo e fico por aqui, pois o tema não é acerca de aves.
Os Papa Figos fazem um par de vinhos do Douro. A Casa Ferreirinha (Sogrape) apresentou há poucos dias as novas edições. O branco é de 2015 e o tinto é de 2014. Se os papa-figos são uma alegria para os olhos, os Papa Figos dão bom prazer gastronómico.
Quando escrevo gastronómico não me refiro apenas à mesa, mas à globalidade do significado gastro. Palavra grega que significa estômago. Hoje pareço um sábio. Já escrevi latim e agora foi grego.
Ou seja, tanto o tinto quanto branco (sobretudo este) são apetecíveis no Verão. Mas tenho de fazer um aviso. O rubro apresenta uma graduação alcoólica de 13,5%. Nesta fase do ano em que se pedem comidas mais leves e que a praia pede mergulhos recomenda-se prudência.
É um tinto que tem frescura natural, o que já se sabe que nos pode enganar. Acresce que no calor, quando é fácil os vinhos se tornarem sopa, devem ser refrescados. Costumo deixá-los mais frios do que os normalmente recomendáveis 16 graus. Isto porque rapidamente aquecem. Ainda que a noite possa ser o momento do dia mais indicado, o Verão é muitas vezes injusto para os enófilos.
Voltando ao motivo por que disse que é globalmente gastronómico. É porque se bebe facilmente numa noite de conversa, daquelas sem tempo para acabarem. Nas férias, sempre que posso descontraio-me com amigos com quem nem sempre consigo privar, devido às horas curtas nas semanas de ofício.
O branco é mais comedido em relação ao álcool. Tem saudáveis 12,5%. E pensar que nem há muitos anos os produtos deixavam derrapar as vindimas dos brancos. Não quero com isto afirmar que devam ter sempre baixo volume alcoólico, pois há néctares que estão bem.
Há mais uma razão por que este vinho me caiu no goto: a touriga franca, omnipresente, ou quase, nos tintos do Douro. Aqui representa 30% do lote. As tinta barroca representa a mesma percentagem e a tinta roriz está em 15%. A touriga nacional, que prefiro a do Douro à tão festejada do Dão, dá uma gulodice que aprecio, sem que se torne enjoativa. Está sóbria, representando 15%.
As uvas vieram do Douro Superior, cultivadas principalmente em encostas voltadas a Norte e mais acima na montanha. A maceração pelicular fez-se em depósitos de inox, assim como a fermentação alcoólica. Um quarto do lote estagiou oito meses em barricas de carvalho francês. O engarrafamento ocorreu um ano depois das vindimas.
O branco fez-se com uvas das castas rabigato (50%), viosinho (20%), arinto (18%) e moscatel galego (5%). A fruta veio igualmente do Douro Superior, de zonas altas. Um quinto do lote estagiou três meses em barricas usadas de carvalho francês. A parte restante foi mantida em depósitos de inox.
E é isto! Boas férias para quem vai e continuação de bom trabalho para quem fica.
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