Texto José Silva
É um hotel de cinco estrelas ainda muito recente, situado em Vila Viçosa, bem no interior alentejano, numa região de grande produção de mármore. E este produto nobre está por todo o lado nas belas instalações do hotel, em combinações tradicionais e outras mais modernas e mesmo muito arrojadas. Neste hotel, como não podia deixar de ser, funciona um restaurante, mas que apresenta algumas soluções decorativas muito particulares, de extremo bom gosto, como a iluminação.
E que tem na sala principal uma mesa que é uma obra de arte: uma enorme mesa de mármore com um tampo de vidro, que é feita dum único bloco de mármore branco, uma beleza!
Serve como mesa principal para o buffet de pequeno-almoço, muito completo, e para refeições para grupos, a dar um toque exótico a uma bela refeição.
O restaurante tem à frente da equipa de cozinha um jovem chefe de português que desenvolve um trabalho notável, a formar os seus ainda mais jovens colegas, dando-lhes os conhecimentos necessários para que nada falhe ou falte, quer no dia-a-dia dos pequenos-almoços, nos almoços executivos e de trabalho, quer nos jantares mais sofisticados, com mais tempo.
O chefe Pedro Mendes pode assim desenvolver o seu trabalho, apoiado em produtos de excelência, a maior parte deles portugueses e alguns mesmo menos vulgares, como a utilização de algas do mar e de bolota alimentar, entre outros exemplos.
Chama-se “Narcissus Fernandessi” e tem já clientela dedicada, com muitos estrangeiros, que ali vão em busca da qualidade das ementas requintadas e variadas, de alguma surpresa que o chefe e a sua equipa, muitas vezes preparam, e de belas harmonizações com muitos dos melhores vinhos alentejanos.
A equipa de sala, liderada por um profissional experiente e atento, reúne todas as condições para nos servir com simpatia e competência, ajudando a proporcionar-nos uma experiência gastronómica que não vamos esquecer.
Na última visita, com alguns amigos, tivemos um jantar delicioso, cheio de equilíbrio, com apontamentos de enorme bom gosto.
Não podia faltar o pão regional e o óptimo azeite do Alentejo, para amaciar o palato.
Começou então um desfile de pratos saborosos, apresentados com requinte e explicados pelo pessoal de sala duma forma simples mas eficiente.
Veio primeiro um creme de moganga e nata trufada, servido numa simpática chávena, muito saboroso e delicado, a nata bem ligada, muito bom. Seguiu-se uma soberba sopa de gila com pão de bolota – um dos produtos que o chefe Pedro Mendes trabalha com paixão – pó de presunto e ovo de codorniz.
Primeiro veio o prato com os conteúdos e de seguida foi acrescentado o caldo, bem quente, de belo efeito. Estava delicioso! Veio então o carabineiro do Algarve, carnudo e apaladado, com creme de couve flor e coentros, endívia e emulsão de limão. Díficil de descrever, tanta simplicidade e tanto requinte, tanta elegância, com todos os elementos a fazerem uma harmonização perfeita.
Mas ainda fomos surpreendidos com um “foie-gras” confeccionado no ponto, a rondar a perfeição, com uma emulsão de diospiro a fazer uma ligação fantástica e meio bom-bom de “foie”, na companhia dum crocante pão de bolota a completar o requinte, excelente.
O prato de carne que foi apresentado era exótico, complexo, mas muito, muito bom: carne de veado fumada em azinho e alecrim, com redução de vinho Madeira, favinhas com coentros, creme de marmelo e uns pedacitos de couve flor panada, que belo prato!
Passamos então às sobremesas. Primeiro o mogango e o almeice, num belo casamento de produtos menos vulgares, depois torta de mel, esponja de bolota, gelado de diospiro e creme de limão, contrastes soberbos e resultado voluptuoso, num grande final.
Os vinhos que acompanharam esta festa dos sentidos foram um Herdade do Pombal branco de 2011, um alentejano de Estremoz, já com alguma evolução, e por isso mesmo cheio de elegância, com notas secas e fumadas, belo volume, gordo, envolvente, a provar que os vinhos brancos evoluem muito bem com a idade.
O outro foi um tinto de excelência, o Lima Mayer de 2008, ali da zona de Monforte, cheio de frescura e acidez, muito complexo e por isso mesmo fascinante, a aguentar muito bem as harmonizações propostas nesta bela refeição.
O Alentejo no seu melhor…
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