Texto João Barbosa
A palavra cooperativa arrepia muita gente. Em parte com razão, mas não totalmente. Quando, há poucas décadas, começaram a surgir em Portugal as cooperativas vitivinícolas o resultado foi claramente positivo e a vários níveis.
Os agricultores ganharam força comercial, pela união, obtiveram melhores preços do que se vendessem a empresas privadas, conseguiram certeza no escoamento da produção. Em termos técnicos, as cooperativas conseguiram apetrechar-se com o melhor que havia nesse momento. Ou seja, o vinho melhorou de qualidade.
Depois «descansaram», mas mudou o mundo e o país. Na década de oitenta, as cooperativas alentejanas tomaram a dianteira e auxiliando-se de técnicos competentes e «actualizados», como o caso de João Portugal Ramos, contribuiram, e em muito, para a afirmação do Alentejo como terra vitivinícola de sucesso.
Porém, os apoios da União Europeia e a estabilização política (no caso do Alentejo ainda se colocou a questão da Reforma Agrária, de índole marxista) levaram a que os agricultores quisessem avançar com os seus próprios negócios.
Houve cooperativas que morreram, definharam, sobreviveram e tiveram sucesso. O mundo gira e hoje não há razão para se tomar por desajeitado o que se produz nas cooperativas. A Adega Cooperativa da Vidigueira conheceu dias complicados e agora reergue-se. Felizmente, há várias a recuperar.
A Vidigueira era famosa pelos seus brancos, onde brilhava a casta antão vaz… a tal que não gosto. Se a variedade faz sucesso no mercado e se cultiva em toda a região, por maioria de razão, ali tem de se dar muito bem.
Fazer bem feito e ter resultados dá para o orgulho. Acaba por ser curioso que quase toda a informação prestada pela Adega Cooperativa da Vidigueira seja de carácter economico-financeiro e muito centrada nos investimentos. Não há nada de errado, e traduz muito.
Um retrato frio: mais de 300 associados, 1.500 hectares de vinha, mais de 2,2 milhões de vinho tinto vendidos no ano passado e acima de 2,1 milhões de branco. Sete marcas de vinho, com diversas variedades, e uma aguardente bagaceira. Por isso, centro-me num néctar icónico, para a empresa, associados e região.
Há quem diga que quando se juntam dois brasileiros se começa logo o samba. Há quem diga que quando se juntam dois alentejanos se começa logo a cantar. O cante (designação que só recentemente ouvi falar, conhecia como «canto» ou «cantar») é polifónico e originalmente participavam apenas homens. São canções dolentes, por vezes arrepiantes… As mulheres costumavam cantar nos trabalhos no campo, mas hoje há grupos corais que as aceitam.
O cante tornou-se Património Imaterial da Humanidade em 2014. Daí nasceu a vontade de criar dois néctares comemorativos, branco e tinto da vindima passada. Não comento vinhos de homenagem, não tenho esse direito. Essas obras nasceram para o brinde, na alegria ou na tristeza. Digo só: bem alentejanos!
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