Texto José Silva
Há alguns anos atrás acompanhei um grupo de austríacos, alguns deles pertencentes a uma confraria, pelo Douro acima, de autocarro e de barco, visitando algumas quintas e provando belos vinhos do Porto. Perante a satisfação geral e a rendição à beleza do Douro, desde logo houve a garantia de que nos haveríamos de encontrar novamente. Agora foi o convite dessa confraria, a St. Urbanus Weinritter Ordenskollegium, para me deslocar a Viena de Áustria, levando vários tipos de vinho do Porto, e fazer uma prova comentada desses vinhos, durante o jantar do capítulo da confraria. Acertados pormenores, achei que seria interessante dar a provar todos os tipos de vinho do Porto, no sentido de transmitir a mensagem não só da qualidade deste vinho único, como também da variedade e versatilidade das várias classes. Obtido o acordo e a vontade de provarem algumas marcas, foram contactados os produtores, recolhidas as garrafas e expedidas com tempo para a Áustria, com a indicação de armazenagem em boas condições. Assim, viajaram para o centro da Europa os seguintes vinhos do Porto:
– Pink Croft
– Dry White Rozès
– Quinta do Vallado 10-year-old Tawny
– Ramos Pinto Quinta do Bom Retiro 20-year-old Tawny
– Quinta da Devesa 30-year-old Tawny
– Vasques de Carvalho 40-year-old Tawny
– Niepoort Colheita 1999 Tawny
– Dalva 40-year-old Dry White
– Poças Special Reserve Ruby
– Quinta do Noval LBV Unfiltered 2009
– Graham’s Quinta dos Malvedos Vintage 2001
– Quinta da Casa Amarela Vintage 2011
Viena é uma cidade de grande beleza, com monumentos a lembrar o fausto de outrora e onde a cultura está por todo o lado, com a música de Wagner, Beethoven, Mhaler, Mozart e tantos outros a encher o ar.
Fiz ainda uma visita à região de Wachau, nessa altura ainda em vindimas, para provar alguns dos grandes vinhos brancos austríacos das castas Grunner-Weltliner e Rieseling e poder fazer alguma comparação com os bancos que temos por cá.
Chegado o dia da prova, rumamos às instalações que foram muito tempo ocupadas por um dos melhores restaurantes de Viena, que entretanto mudou de local, e as cedeu a uma escola de hotelaria.
Instalações de grande qualidade e conforto, o repasto foi preparado pelos cozinheiros chefes da escola, sendo o serviço garantido pelos alunos, liderados pelo professor de sala.
Entretanto os vinhos brancos e o rosé estavam a refrescar, os tintos estavam armazenados em local cuja temperatura se revelou suficientemente baixa para os servir.
O meu amigo Dr. Manuel Alexandre, confrade radicado há longos anos em Viena, onde foi durante bastante tempo delegado do ICEP, trouxe de casa um velho e lindíssimo decanter oficial do IVDP, o qual foi utilizado para decantar o Vintage 2001 da Grahm´s, que já apresentava bastantes sedimentos.
Dadas indicações simples aos alunos estagiários, foram suficientes para entenderem o que se pretendia, e os vinhos foram servidos adequadamente. A minha grande surpresa foi a ausência de copos de vinho do Porto, uma vez que estes profissionais não estavam familiarizados com este tipo de vinho.
A solução de recurso foi a utilização de pequenas flutes de espumante, que resolveram razoavelmente a situação e não prejudicaram a prova.
A prova começou com o Dry White e o Rosé, lado a lado, tendo o Rosé uma casca de limão, que lhe deu vida. Os outros vinhos do Porto foram provados durante a refeição, entre pratos, sendo explicadas as suas características, a importância das temperaturas de serviço e as várias possibilidades de harmonização para cada estilo.
E assim foram passando pela mesa os Tawnies, o Ruby, o LBV e os Vintage, sendo neste caso feita a comparação entre um Vintage recente (2011) e um Vintage já com 14 anos (2001), que ligaram mito bem com as várias sobremesas de chocolate e frutos vermelhos à disposição dos confrades.
Finalmente, para despedida, provaram-se os dois Portos de 40 anos (Branco e Tawny), com que se fez o brinde à confraria e ao vinho do Porto.
A outra surpresa da noite foi que o entronizado na cerimónia da confraria…fui eu próprio!!
Fica a experiência e a sugestão ao IVDP e aos produtores para a organização dum pequeno evento em Viena, num país com abertura a coisas novas, que conhece bem Portugal, mas onde ainda há muito trabalho a fazer em prol do vinho português e em especial do vinho do Porto.
Auf Wiedersehen!
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