Texto Sarah Ahmed | Tradução Patrícia Leite
Vasco Croft coloca dinâmica na Biodinâmica, o método holístico de cultivo no qual ele tem sido pioneiro na região dos Vinhos Verdes (e sobre o qual poderá consultar toda a informação neste site.
Desde a última vez que visitei em 2010 a quinta deste anterior Designer de Mobiliário e Arquitecto, em Ponte de Lima, o portefólio ganhou uma “cara nova” com um novo nome (Aphros e não Afros) e novos rótulos.
Croft explica que a mudança do nome foi motivada por um pedido dos EUA, o seu maior mercado de exportação, onde havia preocupações sobre a possível confusão do nome com África ou com o estilo africado de penteado. Felizmente (não me parece ser pessoa de ceder em vão), diz que “o novo nome, que corresponde à escrita em Grego, mantém-se em sintonia com o nome original, que significa “a espuma mítica de onde surge Afrodite”. Tudo está bem quando acaba bem.
Quanto aos rótulos, têm um padrão de três círculos interligados, que foram desenvolvidos a partir de gravuras do seu primo José Pedro Croft, um artista plástico internacional. Não foi só a ligação à família que o fez interessar-se pela imagem. Croft explica: “Espero que esta imagem seja uma lufada de ar fresco no mundo dos rótulos de vinho e que torne a arte contemporânea e o vinho mais próximos”. A propósito, acho que a rotulagem dos vinhos portugueses tem vindo a melhorar. Os rótulos estão mais coloridos e com mais personalidade, o que ajuda os vinhos a destacarem-se nas prateleiras e dá a conhecer aos consumidores algo sobre as pessoas por trás dos vinhos. Uma coisa muito positiva.
Mas o que conta verdadeiramente é o que está na garrafa e, na Aphros, as mudanças vão muito para além da aparência. Croft tem vindo a expandir de forma sustentada o portefólio com um ambicioso Vinhão em madeira (Aphros Silenus), Aphros Rosé, Aphros “Ten” (um Loureiro com baixo teor de álcoo, 10% vol.), Daphne (um Loureiro muito interessante que teve contacto com as películas da uva) e, mais recentemente, AETHER (um lote 50:50 de Loureiro e, para minha surpresa, Sauvignon Blanc, uma casta não-nativa).
O surto de crescimento na Aphros estende-se às vinhas e também aos vinhos. Em 2009, Croft adquiriu e instalou vinha na Quinta de Casa Nova na freguesia vizinha de Refóios, que foi cultivada desde o início de forma biodinâmica. Planeia ainda transformar uma casa em ruínas num wine bar e, já este ano, deu início aos trabalhos para uma nova adega com capacidade de produzir 120.000 garrafas. Depois disso, ele irá provavelmente “brincar” com um Aphros Pinot Noir da Quinta de Valflores, uma exploração vizinha que arrendou a longo prazo à família Bossert de Oregon, EUA (o que explica a casta Pinot Noir)!
Entretanto a pequena adega original (situada, conforme a tradição, debaixo da casa) da Quinta do Casal do Paço, propriedade histórica da família Croft, continuará a ser utilizada para os lotes mais pequenos, os vinhos artesanais. Sendo pertença da família desde o século XVII, as uvas da quinta eram vendidas às cooperativas locais até Croft dar início à marca Afros/Aphros em 2005. Ele reestruturou as vinhas e começou a cultivá-las de forma biodinâmica com a colaboração de Consultores franceses da área, primeiro Daniel Noel, agora Jacques Fourès; a quinta está certificada na íntegra desde 2011 pela Demeter (Agricultura Biodinamica). É aqui que o composto (na foto) é semeado com preparações biodinâmicas feitas exclusivamente a partir de matéria orgânica, sendo depois aplicado na vinha de acordo com os ciclos dos planetas. Quantidades homeopáticas das preparações são diluídas primeiro com água da fonte, dinamizada pela forma do fluxo da corrente (na foto), e depois energizada pela agitação no tanque de cobre (na foto). São também preparados aqui bio-estimulantes experimentais (na foto).
Mas para Croft nem tudo anda à volta do vinho. Ele Salienta que “[F]azer vinhos por si só não chega”. Para ele, “ser biológico ou biodinâmico é uma questão, em primeiro lugar, de consciência, relacionada com a compreensão e respeito pela Natureza e com a criação de uma relação profunda com a Terra da qual nós somos parte”. Afirma ainda que “não é só uma técnica, muito menos uma opção de Marketing”. É por isso que a sua visão se estende “para a criação de um centro agrícola / cultural”, com um espaço de permacultura e “floresta de alimentos” na Quinta do Casal do Paço – um “santuário” para diferentes espécies de plantas.
Este tipo de aumento da biodiversidade da quinta ajuda a natureza a auto-regular-se (por exemplo, incentiva os predadores naturais que matam as pragas da vinha ou desencoraja as pragas, proporcionando-lhes algo para comer que não seja a vinha!). E a floresta de alimentos irá fornecer produtos da quinta para o wine bar previsto para a Quinta de Casa Nova.
Estou desejosa de conhecer o wine bar numa futura visita mas, entretanto, posso recomendar vivamente que procurem a gama de vinhos Aphros. No mês passado, provei os últimos lançamentos (expostos infra) com Rui Cunha, o Consultor de Enologia de Croft, e aproveitei para lhe perguntar sobre os benefícios de trabalhar de forma biológica e biodinâmica. Ele lembra-se, rindo, que “as pessoas pensavam que era um pouco de loucura no início”. Rui Cunha encontrou-se com praticantes da Biodinâmica alemães e franceses durante as suas viagens, mas a sua prova de fogo aconteceu na Quinta da Covela. Diz que “foi assustador” quando Nuno Araújo (o anterior proprietário desta quinta dos Vinhos Verdes) anunciou que iam começar a converter toda a quinta para a produção Biodinâmica. Isto aconteceu em 2004, num período em que os cursos de enologia em Portugal não faziam qualquer referência ao modo orgânico da agricultura Biodinâmica.
Tal como Croft, Nuno Araújo contratou o Consultor Francês Daniel Noel e, diz Rui Cunha que “vimos um aumento imediato da qualidade das uvas. Eram menos produtivas e de repente mais equilibradas; com o tempo, tornaram-se mais consistentes no rendimento”. Acrescenta que a maturação tem sido mais lenta e a acidez maior, que provou ser particularmente útil num clima quente. Claro que, sendo o sabor o teste final, Rui Cunha diz que “as uvas sabem muito melhor”. Refere ainda que é como comparar um fruto da nossa própria árvore com um fruto comprado, que tenha sido cultivado de forma convencional (ou seja, com produtos químicos – fertilizantes, herbicidas e pesticidas). Quanto às especificidades, Rui Cunha admite que não pode explicar o motivo de algumas práticas biodinâmicas funcionarem, mas já viu em primeira mão como a preparação biodinâmica 500 (um composto de estrume de vaca) dá muito maior vitalidade ao solo e apenas 200 gramas de 501 (pó de quartzo) pode ter um impacto significativo na produção – “as folhas tornam-se mais espessas, ficando mais resistentes ao sol (a queimaduras) e insectos”.
Vasco Croft tem notado que, ultimamente, cada vez mais produtores portugueses estão a trabalhar de forma biológica ou biodinâmica, mesmo que não certifiquem os seus vinhos. De acordo com o Instituto da Vinha e do Vinho, Portugal tem agora cerca de 2.500 hectares de vinhas biológicas certificadas, que são cultivadas por 485 produtores de uva e 52 produtores de vinho certificados como Biológicos. Referindo-se a “uma tendência mundial de respeito pela terra e pela tradição e autenticidade dos vinhos”, na sua opinião, “[I]sso é bom, porque a era agro-química já desapareceu em termos éticos e científicos, pertence ao passado, mesmo que ainda permaneça por um tempo devido à inércia”.
Aphros Ten 2013 (Vinho Verde)
Ten foi produzido pela primeira vez em 2011 e provém de uvas Loureiro de vinhas mais jovens. O seu nome é uma referência ao baixo teor alcoólico (claro está, cerca de 10% vol.). O vinho de 2013, uma amostra da cuba, é muito bonito – este Loureiro meio-seco é um floral clássico com notas de pó-de-talco, sabor cristalino de lima e toranja e ainda uma pitada de casca de frutas cítricas. A acidez vivaz e de fazer crescer água na boca mantém o foco e equilíbrio (melhor do que na colheita de 2011, em que faltou um pouco de vitalidade). Muito bom; um excelente vinho para se beber avidamente e com o coração. 10%
Aphros Loureiro 2013 (Vinho Verde)
Há aqui uma série de factores para fazer um vinho mais sério, concentrado e estruturado. Primeiro, a uva vem de vinhas mais velhas. Em segundo lugar, o contacto com as películas da uva durante cerca de 4-6 horas (na prensa) e, uma vez prensado, o mosto é fermentado a temperaturas ligeiramente mais elevadas. É envelhecido nas borras com batonnage, o que dá corpo e complexidade. Assim, embora liderem os sinais florais do Loureiro, o vinho é muito mais firmemente estruturado, focado e mineral. Muito fino, longo e persistente. Acho-o mais puro do que as colheitas anteriores. Rui Cunha concorda comigo, salientando que esta colheita beneficiou com a aquisição de uma prensa (antes a prensa era alugada e não estava sempre disponível no momento ideal em função da vindima). Agora, as uvas podem ser colhidas precisamente no momento certo e ir directamente para a prensa, o que explica a precisão encantadora deste vinho. Muito bom mesmo e tem potencial de envelhecimento. 11,5%
Aphros AETHER 2013 (Minho)
Este vinho é um lote 50:50 de Loureiro e Sauvignon Blanc, produzidos na quinta. Rui Cunha explica que adora a casta Sauvignon, mas também há uma lógica empresarial subjacente a este vinho. A Aphros está a usar a mais conhecida casta francesa para “abrir portas” para os mercados de exportação. Para mim, Aether é um vinho de duas metades. O Loureiro impõe-se no nariz com as suas notas encantadoras, e até celestiais, de flores e talco. O Sauvignon domina na boca, com a mineralidade do giz, notas de rebentos de groselha e um final crocante mais marcado do que os Aphros Loureiros. É agradável e limpo, com o poderoso carácter varietal do Sauvignon, mas tenho que admitir que, pessoalmente, viro-me sempre mais para o charme do Loureiro! 12%
Contactos
Quinta Casal do Paço
Padreiro (S. Salvador)
Arcos de Valdevez 4970-500 Portugal
Tel: (+351) 91 42 06 772
E-mail: info@afros-wine.com
Website: www.aphros-wine.com
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