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Vinhos José de Sousa, prestígio e história

Texto Bruno Mendes

Foi com o sonho de produzir vinho no Alentejo numa propriedade carregada de prestígio e história que a José Maria da Fonseca adquiriu, em 1986, a Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes, situada em pleno coração do Alentejo, Reguengos de Monsaraz. Uma casa que, no que toca à produção de vinho, já conheceu a viragem de três séculos, permitindo assim à José Maria da Fonseca produzir vinho utilizando técnicas tradicionais de vinificação.

Para informação mais detalhada em relação aos vinhos José de Sousa pode ler o artigo previamente escrito pelo João Pedro de Carvalho aqui

Se procura saber mais sobre os outros vinhos da José Maria da Fonseca também poderá consultar o artigo estrito pelo João Barbosa aqui.

Na velha adega podemos encontrar as ânforas de barro, onde os vinhos passam parte da fermentação, uma técnica antiga de vinificação herdada dos romanos. A adega moderna está equipada com tecnologia de ponta, onde uma equipa exigente e talentosa dá vida a vinhos de personalidade vibrante, sofisticação e nobreza.

Os vinhos José de Sousa procuram combinar modernidade com o rigor da tradição, reflectindo assim o calor do sol e a luz do Alentejo.

Tudo isto mais pormenorizadamente no vídeo abaixo:

Soalheiro, Oppaco e Terramatter

Texto João Pedro de Carvalho

Nasceu em 1974 pelas mãos de João António Cerdeira a primeira parcela de apenas um hectare de uvas Alvarinho em Melgaço. o O tempo passou e hoje já sobre o olhar dos filhos Luís e Maria João Cerdeira, contam-se dez os hectares de vinha da casta Alvarinho. Durante mais de 25 anos esta marca tem sido presença à mesa, sendo de elogiar tanto a consistência como o potencial de guarda que este Alvarinho apresenta colheita após colheita. E na cavalgada dos anos as novidades foram sendo colocadas à disposição do consumidor, vinhos que quando saem para o mercado são quase sempre encarados com uma dose de experimentalismo/inovação, mas que pouco tempo depois se assumem como exemplos a seguir. Foi assim com o Primeiras Vinhas e também foi com o Reserva, ambos exemplares que elevam a casta Alvarinho para os patamares do que de melhor se faz em Portugal.

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Quinta de Soalheiro – Foto Cedida por Quinta de Soalheiro | Todos os Direitos Reservados

Na realidade são vinhos que precisam e até gostam de um tempinho de espera na garrafa, por exemplo o Alvarinho Soalheiro é exemplar que apenas o gosto de abrir com dois anos de estágio em garrafa mas as garantias a ver por colheitas como 2007 ou mesmo anteriores confirmam que nos podemos esquecer dele que não fica minimamente amuado. Neste caminho vai o Primeiras Vinhas e o Reserva, a mostrarem que há na adega do Soalheiro quem saiba educar os vinhos nesse sentido.

É já nas novas instalações que o processo criativo tem continuidade, as novidades fazem eco por entre os consumidores e acabam de chegar para já, dois novos vinhos ao mercado. O primeiro de nome Terramatter é da colheita 2014, um Alvarinho com uma vindima mais precoce, sem filtração e sujeito a depósito cujo envelhecimento é feito, essencialmente, em barricas de castanho (pipas tradicionais da região do Minho). A tonalidade é ligeiramente mais carregada que o normal na casa, nota-se algo fechado com a espectável precisão aromática que o produtor nos tem acostumado em todos os seus vinhos. Denso, bom volume de boca com muita elegância e frescura, sensação de ligeira untuosidade. Travo mineral vincado em fundo numa passagem plena de sabor e frescura. Está a meu ver ainda muito novo e será bastante interessante acompanhar a sua evolução, haja garrafas que o permitam.

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Terramater Alvarinho 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Oppaco Vinhão e Alvarinho tinto 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A outra novidade é o primeiro Soalheiro tinto de nome Oppaco, colheita 2013, baseado nas castas Vinhão e Alvarinho. Novamente a palavra inovação em foco, uma vez que se trata do primeiro vinho tinto da região com lote de uvas tintas e uvas brancas. O resultado é um vinho que alia a rusticidade da casta Vinhão, domada pela frescura e elegância que a casta Alvarinho mostra nas mãos de Luís Cerdeira. Grande frescura de conjunto, aromas limpos e definidos, aquela rusticidade que se faz sentir num misto de fruta muito presente mas ao mesmo tempo a mostrar um conjunto muito novo e cheio de energia. Diferente e senhor do seu nariz, identidade própria a pedir comida regional por perto, desde Galo de cabidela a uns Rojões à moda do Minho.

Contactos
Alvaredo . Melgaço
4960-010 Alvaredo
Tel: (+351) 251 416 769
Fax: (+351) 251 416 771
Email: quinta@soalheiro.com
Website: www.soalheiro.com

Herdade Paço do Conde, do Alentejo mais alentejano

Texto João Barbosa

Julgo que se chega a velho, não é a idoso, quando as memórias aparecem com frequência. Ai! Dizem-me as costas, o coração e os pulmões que já não tenho lugar no banco de suplentes duma equipa de futebol de escalão amador.

É a vida! Digo isto porque o produtor que apresento foi-me dado a conhecer num momento especial da minha vida. Isso não faz dum vinho, ou outra coisa, nem bom nem mau. No caso bom, mesmo. E porquê?

Porque os vinhos que mais me atraem têm um caracter diferenciador, que pode versar várias características. Como todos, com excepção quando a análise tem mesmo de ser às cegas e salas imaculadas, a afectividade ou a história pesa-me nas preferências. O que tem este?

A proveniência, até há pouco anos impensável. Baleizão fica no coração do Baixo Alentejo, que é quente, seco e ondulado. Pouco se sabe acerca desta aldeia e pouco se sabia… terra com vincado teor político, nomeadamente ao Partido Comunista. O resto da história não vem ao caso.

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As vinhas onduladas da Herdade Paço do Conde – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

O que vem aqui é a planura. O Alentejo levemente ondulado, verde na Primavera e loiro do trigo maduro e da palha deixada depois da ceifa. É o Alentejo onde o calor é mais calor. Vinho? Bem, a viticultura, até à crise da filoxera, no século XIX, era cultivada em «todo» o lado, muito embora fosse residual em vários locais. Veio o pulgão e as vides não regressaram.

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Herdade Paço do Conde – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

A Herdade Paço do Conde fica nesse campo quente. Pensar em calor é normal, mas deduzir que o vinho sai dali em forma de sopa ou de compota não é verdade. A sabedoria técnica e o empenho permitem belos resultados em locais «surpreendentes».

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O olival perto do Guadiana – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

Esta propriedade tem a vantagem da proximidade do Rio Guadiana, que lhe dá água e fornece frescura. Porém não se pode exigir que não transmitam a envolvência, o que até seria mau sinal, por contrariar a dádiva da natureza.

São 2.900 hectares, dos quais 150 têm vinha plantada. O olival ocupa 1.100 hectares, com as tradicionais cultivares da região e outras exóticas: arbequina, azeiteira, cobrançosa, frantoio, galega (é a Rainha em quase todo o país, com um carácter suave e doce) e picual.

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Equipa – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

À frente do trabalho enológico está Rui Reguinga, técnico que conhece muito bem o Alentejo e que tem capacidade imaginativa para fazer diferente de fórmulas. Ora, essas características fazem com que não sejam vinhos de enólogo, mas onde o «alquimista» assina ao deixar que o produtor e o seu vinho brilhem e falem por si.

Bebi vários vinhos deste produtor na apresentação que fez no restaurante Eleven, em Lisboa. Cartada certa! Ligação à comida para melhor se perceber o que está no copo. Para começar veio o Herdade Paço do Conde Branco 2014, acompanhado por carpaccio de polvo e vinagrete de laranja. Visto não comer pescados, não sei da ligação além do que me disseram. Se «resistiu» a uma vinagreta é porque tem fibra fresca. Como tenho uma «avaria» quando me põem antão vaz no copo, a opinião sai fora da norma. Não amei, mas a culpa é da minha antipatia. As restantes castas que fazem o lote são a arinto e a verdelho.

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Herdade Paço do Conde branco 2014 – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

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Herdade Paço do Conde Reserva tinto – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

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Herdade Paço do Conde Winemakers Selection tinto 2011 – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

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Azeite da Herdade Paço do Conde – Foto Cedida por Herdade Paço do Conde | Todos os Direitos Reservados

O Herdade Paço do Conde Reserva 2014 é um «tintão», excelente para escoltar a comida mais forte e temperada do Alentejo.

O chefe do Eleven, Joachim Koerper, resolveu saltar barreiras com as sapatilhas atadas. E conseguiu! Leitão confitado com chutney de tomate e maracujá juntou o óbvio ao exótico. Dois vinhos e dois casamentos de memorizar: Herdade Paço do Conde Reserva Tinto 2011 e Herdade Paço do Conde Winemakers Selection 2011 (tinto). Ácidos, doces e gordura… tão diferentes quanto recomendáveis, as ligações.

A sobremesa foi uma variação de «floresta negra», em que provou que um tinto pode bem chegar para os finais dos repastos. No caso, Herdade Paço do Conde Colheita Seleccionada 2013.

Contactos
Monte Paço do Conde,
Apartado 25, 7801-901 Baleizão – Beja – Portugal
Tel: (+351) 284 924 416
Fax: (+351) 284 924 417
Email: geral@encostadoguadiana.com
Website: www.pacodoconde.com

Quinta do Cardo, os vinhos biológicos

Texto João Pedro de Carvalho

A Beira Interior, localizada no interior centro de Portugal, tem um passado histórico vitivinícola que remonta à época romana. Com cerca de 16 000 hectares de vinha, a região apresenta uma grande variedade de castas, com destaque nas brancas para a Síria, Fonte Cal, Malvasia e Arinto e, nas Tintas, a Touriga Nacional, Touriga Franca e a Tinta Roriz. Os vinhos desta região são influenciados pela montanha cuja altitude com variações entre os 400 e os 750 metros, é dominada por solos de origem granítica na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa.

A Quinta do Cardo pertence ao grupo Companhia das Quintas e fica situada nas proximidades da vila de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda, no Interior Norte de Portugal. Desde a sua fundação, no inicio do Sec XX até 1988, a propriedade esteve nas mãos de uma família da região, de sobrenome Maia que se dedicavam maioritariamente ao cultivo de gado e à produção de queijos sendo o vinho um negócio secundário. O nome “Quinta do Cardo” advém das grandes extensões de cardos (leiteiros) existentes na propriedade que eram utilizados para a produção de queijos. Num total de 180 hectares, dos quais 69 são de vinhas cultivadas numa cota de 750 metros de altitude e os restantes acolhem uma extensa reserva de sobreiros e floresta espontânea.

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Quinta do Cardo Síria 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Cardo Bruto Touriga Nacional 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A colheita de 2014 marca o lançamento da gama de vinhos biológicos da Quinta do Cardo,cujos 69 ha de vinhas se encontram em modo de produção biológica. É desta colheita que sai o novo Quinta do Cardo Síria 2014, um vinho que de certa forma tem sido um estandarte dos brancos da região. A sua fama vem de longe muito por causa das características tão peculiares que costuma apresentar. Também o novo rótulo a fazer a diferença, diga-se que tanto o rótulo como o vinho encerram muitos e bonitos detalhes. Um vinho refrescante, mineral (pederneira), perfume floral, sente-se tenso e com nervo, limão, lima, maçã, boa frescura. Boca com ligeira untuosidade de início que se esbate numa saborosa passagem com final onde domina a austeridade mineral.

Por outro lado foco também atenções no primeiro espumante lançado pela Quinta do Cardo, Quinta do Cardo Bruto Touriga Nacional 2010, com direito a 36 meses de estágio em garrafa com o primeiro degorgement a ser feito em Junho de 2014. Aroma marcado pelos morangos, framboesas, floral ligeiro, biscoito numa delicada e bonita envolvente. Boca com bonita prestação, fruta a marcar o compasso com boa acidez presente, mostra uma boa secura no final persistente.

Ainda não me cansam as pernas de andar pelo Dão

Texto João Barbosa

Comecei a passear pelo Dão, mas como as estradas são compridas acabei por não chegar ao destino, sem fazer uma pausa de uma semana. Contava que a segunda revelação foi uma festa com vários oficiais de alta patente.

Aconteceu em 2010, quando João Tavares de Pina organizou um evento, em que participaram muitos produtores, todos eles de vinhos de grande qualidade. Este lavrador chamou-lhe «Dão – The Next Big Thing». Para quem não domina a língua inglesa, pode ser «traduzido» como «Dão – A Próxima Grande Surpresa».

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Expressões do Dão in cvrdao.pt

Não tenho nada para ensinar aos dirigentes da Comissão Vitivinícola Regional do Dão mas penso que esse momento deveria repetir-se, de modo a criar uma onda para o reconhecimento… talvez com concurso, debates e críticos internacionais.

Foi um encontro e pêras. Um verdadeiro encontrão. Um encontrão pela variedade e pela qualidade apresentada. Se apontei, não me recordo onde guardei a lista com a informação de todos os produtores, mas foram muitos. Como em tudo, há uns que memorizei pelo agrado.

Um foi o vinho do anfitrião e organizador. Os vinhos Terra de Tavares, muito vibrantes, autênticos, com o carácter do «terroir» – palavra em vias de banalização, devido a constante usurpação, não é o caso neste momento.

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Terras de Tavares, João Tavares de Pina – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Outra bela descoberta foram os da Casa de Darei, mais elegantes do que os anteriores, mas também muito especiais e agarrados à origem. Mas o maior espectáculo aconteceu no selecto Clube de Viseu, no seu salão de festa.

O ponto alto aconteceu quando se serviram os vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão – situada na Quinta da Cal, no concelho de Nelas. Brancos velhos em plena forma, nomeadamente de 1980 e 1981. Tintos da década de 70 ainda mais joviais.

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Solar do Vinho Dão (CVR Dão) cvrdao.pt

Um grande amigo contou-me de beber uns néctares da UDACA (União das Adegas Cooperativas do Dão) com «séculos», que o fizeram repensar a certeza de só gostar de vinhos novos. Infelizmente, não me passaram pelo estreito.

A minha memória do Dão criou-se do quase nada – como revelei na primeira parte deste passeio de recordações. Até muito tarde, sabia, de vinhos do Dão, apenas marcas antigas, como Porta de Cavaleiros, Dão Pipas, Grão Vasco, Meia Encosta, São Domingos, Messias e Borges… acho que mais nenhum.

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Expressões do Dão in cvrdao.pt

Já na década de 90 encontrei-me com néctares excelentes, ostentando nomes das quintas onde nasciam, o que é natural devido ao declínio das cooperativas da região. De então para cá, a lista tem-se alargado. Sabendo que serei injusto, por omissão involuntária, tenho de citar – além das já referidas – pérolas grená e loiras: Quinta dos Roques, Quinta da Vegia, Quinta da Passarela, Paço dos Cunhas de Santar, Quinta de Carvalhais, Casa de Mouraz, Quinta da Falorca, Duque de Viseu, Pedra Cancela, Pedro & Inês, Quinta da Fata, Quinta de Saes, Quinta da Pellada, Quinta do Perdigão, Quinta de Carvalhais e… saiu pela ordem «inexplicável» da memória, sem hierarquia.

Como em tudo, não há só maravilhas. Ainda assim, o negrume não é absoluto – felizmente. Um dia, embalado pelo prazer do Dão, tropecei num vinho da Adega Cooperativa de Penalva do Castelo. A experiência foi terrível. Sublinho o «foi». Actualmente, o que ali se faz rompe com esse passado.

Tive um mestre no jornalismo que nunca se cansou de elogiar o meu poder de síntese. Nestes artigos não tenho de ser sintético como nas notícias… não consigo dizer tudo o que quero acerca do Dão.

Tenham lá paciência, continua na próxima semana.

À procura do Ouro: O Vinho Português ao Microscópio

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Tem sido um grande privilégio para mim presidir, desde 2011, o painel de Portugal na Decanter World Wine Awards (“DWWA”), que reivindica ser a maior e mais influente competição de vinhos do mundo. Estes ano mais de 16000 vinhos deram entrada na competição, 730 dos quais portugueses (não contabilizando vinho do Porto nem vinho Madeira); poderá consultar os resultados no website da Decanter a 14 de Junho.

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À procura do Ouro: A equipa de elite, Decanter World Wine Awards 2015 – Foto de Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Os vinhos são avaliados por especialistas nas suas respectivas áreas. Todos os anos o meu ilustre painel inclui líderes de opinião e colegas campeões do vinho português. Este ano aproveitei a oportunidade para sondar as suas opiniões relativamente à performance do vinho português nos seus respectivos mercados (principalmente no Reino Unido, que é considerado uma janela de vendas para o mundo inteiro). As contribuições são de:

  • Danny Cameron, director da Raymond Reynolds, Reino Unido, uma importadora especializada em vinho português, que trabalha com algumas das mais conhecidas marcas premium do mercado.
  • Nick Oakley, fundador Oakley Wine Agencies, uma importadora especializada em vinho português que conta com quase todos os múltiplos supermercados como clientes.
  • Jo Locke, Master of Wine e responsável pelas compras em Portugal na loja online do Reino Unido – The Wine Society,  que recebeu mais prémios, merecidamente, pela sua lista de vinhos portugueses.
  • Anne Forrest, anterior responsável pelas compras em Portugal na Direct Wines, e que agora é directora na Vinos Sin Fronteras, Lda, sediada no Porto, uma especialista em exportação de vinho e consultadoria de negócios.
  • Cláudio Martins, anterior gestor/sommelier da britânica New Street Wine Shop, e agora director vínico na Montevino Partners Wine Merchants.
  • Madeleine Stenwreth Master of Wine, freelancer sueca de consultadoria vínica, especializada em desenvolvimento de produtos, blending e estratégias de qualidade e estilo.
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Nick Oakley, Claudio Martins, Madeleine Stenwreth Master of Wine, Decanter World Wine Awards 2015 – Foto de Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Notou algum crescimento nas vendas, qualidade e gama dos vinhos portugueses e, se sim, quais?

Danny Cameron: No Reino Unido acho que o valor ideal para as vendas em loja ronda entre as £8 e as £15 (€11-€20). Desde que a simpática Lehman Bros fez o que fez (crise financeira mundial), que o mercado para a alta gama portuguesa se tem debatido, mesmo os rótulos mais icónicos. Isto sugere que Portugal não é ainda um mercado totalmente confiável para estes potenciais consumidores que, durante as recessões, tendem a voltar àquilo que consideram ser escolhas seguras.

Nick Oakley: Sim, bastantes. Estamos a prever um crescimento de 20% em volume de negócio e ainda mais em valor. Estamos dentro das expectativas após estes quatro meses que passaram.

Jo Locke MW:  Sim,verificamos um aumento nas vendas, em grande parte devido ao grande foco dedicado à região (actividade de vendas dedicada e maior presença em mailings padrão), mas também pelas, agora, provas habituais de vinhos portugueses.

Anne Forrest: Sem dúvida que verificamos um aumento nas vendas no último ano, em especial com um crescimento acentuado no sector das ‘categorias especiais’ de fortificados, p.ex. não só nos normais Ruby, Tawny, Porto branco. Existe um grande interesse, e mútuo, por parte das pequenas e grandes vendedoras em encontrar algo realmente especial, com aquele factor único, que cause ‘wow’ ao cliente após o primeiro gole. Colheitas envelhecidos, Tawnies e Moscatel de Setúbal têm provado ser populares, superando as expectativas. Também constatamos um crescimento do Vinho Verde e de vinhos rotulados como monovarietais ou que estejam em grande forma na região do rótulo.

Cláudio Martins: Existe uma nova onda de vinhos portugueses no Reino Unido, as cartas de vinho dos restaurantes estão a aumentar a sua oferta de vinhos do Minho, Douro, Alentejo e até mesmo alguns do Dão, com diferentes categorias de preço, o que é óptimo. Hoje em dia o consumidor está mais consciente dos vinhos portugueses.

Madeleine Stenwreth MW: A qualidade está constantemente a melhorar; o mercado sabe-o, mas os consumidores têm de estar ainda mais convencidos da origem antes de se aventurarem. Não é fácil captar a atenção dos consumidores, salvo vinhos de marcas conhecidas/respeitadas ou assinados pelo énologo (João Portugal Ramos como exemplo), para criar essa confiança que Portugal ainda precisa de construir. Os vinhos são constantemente lançados no mercado, mas não existe poder para os manter nas prateleiras. A categoria está demasiado fragmentada e complicada para os consumidores saberem o que esperar das diferentes regiões. Isto significa que os consumidores precisam de uma marca confiável para se agarrarem. Acho que existe um problema por existirem tantos nomes que não dizem nada aos consumidores.

Que categorias de vinho português (por estilo, região, casta) estão a mostrar serem mais populares entre os consumidores?

Danny Cameron: Em termos de marketing, as regiões que investiram mais ou menos na promoção das suas regiões parecem estar a obter resultados.

Nick Oakley: Dão, Douro and Vinho Verde (uma nova onda de monovarietal). O Dão tem sido particularmente bem sucessido em todas as categorias – independentes, supermercados, online e mercado/restaurantes (por intermediários). No que toca ao Vinho Verde, os monovarietais Arinto e Avesso têm obtido sucesso até agora, juntando-se ao Alvarinho. Não vejo nenhuma razão para que os Loureiro não se juntem a eles.

Jo Locke MW: O Vinho Verde é a estrela actual, a todos os preços.

Anne Forrest: Neste momento o Dão está a vender muito bem, e tanto os blends tintos como brancos estão a mostrar serem muito populares. Enquanto região, o Dão parece estar a ganhar mais e mais tracção, já que os estilos são bastante consistentes por entre as várias marcas e os consumidores sentem-se confiantes para repetir a compra porque sabem que vão gostar do que vão encontrar na garrafa. Também têm um bom preço/qualidade e complexidade suficiente para manter os consumidores intrigados e a querer mais.

Cláudio Martins: Sem dúvida os vinhos do Minho, e os tintos do Douro ainda são a escolha normal da clientela numa wine shop ou num restaurante.

Madeleine Stenwreth MW: Tintos de qualidade comercial com notória concentração de fruta, mas com taninos suaves, redondos e fáceis de beber, acompanhados ou não por comida.

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Beatriz Machado, Nick Oakley, Claudio Martins, Decanter World Wine Awards 2015 – Foto de Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Que categorias (por estilo, região, casta) o/a impressiona mais; onde prevê ver ainda mais crescimento?

Nick Oakley: Para mim o Dão é a maior história e a minha região favorita. Um extra é que desenvolvemos um tinto à imagem californiana, com 14g de açucar, ao estilo Apothik. Chama-se Wolf & Falcon e foi desenvolvido pela Laithwaites. Aqui penso que foram o estilo e o branding que se sobrepuseram à origem.

Jo Locke MW: O Vinho Verde tem potencial para crescer; o Dão parece estar sub-representado e pode, e deve, fazer mais.

Anne Forrest: O Alentejo foi a região que mais me impressionou este ano. É desta a região que os portugueses adoram beber e parece apelar ao sentimento dos consumidores portugueses que escolhem beber em casa ou nos restaurantes. Existe uma grande competição dentro do mercado nacional com muitas marcas/adegas a surgir e que estão a lutar para se estabelecerem, o que está a impulsionar a qualidade. O Alentejo está a começar a ganhar reputação fora de portas e, penso que, eventualmente, com um pequeno número de produtores de topo a mostrarem o caminho, virá a ser uma ‘escolha segura’ para os consumidores no Reino Unido e em todo o lado.

Claudio Martins: Os vinhos do Dão têm muito para oferecer e a Touriga Nacional tem, naquela região, aquilo que os consumidores britânicos procuram. Prevejo observar um crescimento nos vinhos de Lisboa – se for feita uma boa campanha de marketing, direccionada ao mercado britânico, acredito que as pessoas irão começar a reconhecer os vinhos.

Madeleine Stenwreth MW: Tintos bem feitos, com um pequeno toque comercial, mantendo a pureza e honestidade da fruta. O Douro conseguiu isso. O Alentejo já se atreveu a distanciar-se do, demasiado maduro, tosco e over-oaked devido aos problemas de morrer ainda jovem na garrafa. No topo, poucos perceberam que se pode ir longe na elegância mesmo sendo encorpado. Quanto aos brancos, os pontos altos no DWWA foram sem dúvida os brancos [estejam atentos aos resultados do DWWA]. Vinhos de classe mundial!

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Anne Forrest, Matthieu Longuere Master Sommelier, Jo Locke Master of Wine, Decanter World Wine Awards 2015 – Photo by Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Onde acha que à espaço para melhorar?

Danny Cameron: Acho que a qualidade do todo dos vinhos portugueses é, no geral, 100% melhor do que há alguns anos atrás. Mas o país ainda tem poucas potenciais grandes marcas que possam singrar no mercado britânico.

Nick Oakley: Gestão de taninos no sul. Rotulagem por denominação em vez da marca (como em França). Isto está a funcionar para o Dão. De momento há milhares de marcas a tentar alcançar visibilidade e nenhuma a consegui-la. Vamos rotular o Dão como Dão, o Douro como Douro. Esqueçam o branding, ou pelo menos diminuam a sua importância. Só desta maneira é que os compradores ficarão a conhecer os vinhos.

Jo Locke MW: As rolhas são o maior problema neste momento. Como é possível que Portugal produza tanto e fique com o pior para si próprio? O número de vinhos de topo com rolhas pobres é chocante e não abona a favor da sua reputação. O rosé não é levado a sério mas não vejo razão para Portugal não produzir muitos e bons exemplares. Para nós, o mercado, bom, de rosé seco ainda é dominado pelo sul de França e não precisa de ser. Ah, e o pequeno problema de auto-confiança!!

Anne Forrest: Acho que um pouco mais de auto-confiança faria maravilhas! Os produtores que se mostram, que não ficam nos bastidores, que se informam dos mercados e que promovem activamente os seus vinhos estão a encontrar caminhos de entrar no mercado. Acho que Portugal está no caminho certo, portanto mantenham a receita, se faz favor!!

Claudio Martins: Intervenções ao nível de marketing, provas para consumidores, é a única maneira de colocar Portugal no mapa dos consumidores britânicos. O mercado já conhece o potencial e qualidade dos vinhos mas o consumidor precisa de o requisitar.

Madeleine Stenwreth MW: O design é muito importante e, juntamente com bom vinho e esforços para uma continuada educação genérica irão ajudar Portugal a mover-se na direcção certa. João Portugal Ramos é um exemplo do esforço constante para melhorar a qualidade e estilo, em constante evolução do todo para manter o consumidor feliz, e nunca desaponta. A consistência é a chave para uma vida longa nas prateleiras.

Para terminar, a escritora Jane MacQuitty juntou-se ao meu painel este ano, durante um dia; tem sido a correspondente de vinho e bebidas do The Times desde os anos 80. O que disse foi isto, “Como sabe, sou uma grande fã do vinho português, mas sinto que o país é o cavalo negro da Europa, com muito potencial com uma enorme quantidade de castas autóctones, muitos estilos de vinhos regionais e de outro tipo. Acho que o Vinho Verde está no topo da montanha mas também acho que o Dão, seja branco ou tinto, irá produzir muitos vinhos wow no futuro. Resumindo, o que Portugal precisa mesmo é de acelerar e de se juntar ao século XXI.”

Na Região Bairradina, Um Produtor Com Grande Tradição

Texto José Silva

Lembro-me de, há muitos anos atrás, nos cafés, ser muito popular pedir: “Uma bica (café) e uma São Domingos!”

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Aguardente Bagaceira Caves São Domingos © Blend All About Wine, Lda

E esta São Domingos era a bagaceira das Caves São Domingos, muito popular como bebida branca de qualidade. Os tempos foram passando, o consumo de bebidas brancas diminuiu substancialmente devido à legislação que entretanto apareceu, mas as Caves São Domingos lá continuam e, entre muitos outros produtos, também produzem esta e outras bebidas com imensa qualidade.

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As Caves São Domingos Lá Continuam © Blend All About Wine, Lda

As caves mantêm as suas instalações em Anadia, mas têm vindo a crescer e a produzir não só maior quantidade de vinhos e destilados, mas também uma maior variedade de produtos.

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As Suas Prestigiadas Aguardentes © Blend All About Wine, Lda

Embora o principal e o mais conhecido seja o espumante, as suas prestigiadas aguardentes têm também mantido a tradicional clientela e têm mesmo alargado o leque de tipo de consumidores, cada vez mais em busca do que é genuíno. Também os vinhos de mesa, das regiões da Bairrada e do Dão têm vindo a ocupar um lugar de destaque no portfolio da empresa.

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Adega Moderna © Blend All About Wine, Lda

Tudo isto fez com que sentissem a necessidade de modernização, e por isso a empresa tem hoje uma adega moderna, com toda a tecnologia disponível, sobretudo a rede de frio, que permite elaborar vinhos modernos e apelativos. Mas também manter a produção de espumantes que têm vindo a ser distinguidos pela crítica nacional e internacional e pelo público consumidor.

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Mais de Dois Milhões de Garrafas de Espumante – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Nas suas caves estão a estagiar mais de dois milhões de garrafas de espumante, das várias categorias, que vão saindo para o mercado conforme as solicitações.

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Tradicionais “Pupitres” © Blend All About Wine, Lda

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Método Mais Moderno Das Giro Paletes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ainda se encontram a estagiar nas tradicionais “pupitres”, onde as garrafas são rodadas diariamente, à mão, que coexistem com o método mais moderno das giro paletes, a permitir produzir maior quantidade de espumante, com a mesma qualidade.

Os espumantes, graças a uma grande preocupação com a divulgação e a participação em inúmeras feiras quer nacionais quer estrangeiras e a organização de provas um pouco por todo o país, são hoje cada vez mais consumidos também para acompanhar a nossa riquíssima gastronomia, que vai muito para lá do leitão assado, que continua, e muito bem, a ser um companheiro natural.

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Demi-johns © Blend All About Wine, Lda

Mas também ali se mantêm os demi-johns de licor e as barricas onde envelhecem as várias aguardentes produzidas nas caves, hoje já referenciadas em muitos mercados como das melhores que se produzem em Portugal. Os vinhos São Domingos são produzidos a partir de uvas originárias de vinhas próprias mas também de vinhas de viticultores bairradinos e do Dão, a quem a empresa dá apoio técnico, garantindo assim matéria prima de primeira qualidade.

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The Old Wall Clock – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Na sala principal, o velho relógio de parede lembrava que era tempo de provar alguns vinhos. E assim fizemos, provando o Caves São Domingos Branco 2014, que tem aromas florais e algum citrino, que lhe emprestam as castas Maria Gomes e Bical. Na boca é aveludado, ligeiramente cítrico, apaladado, muito agradável. Seguiu-se o Volúpia Branco também de 2014, este com as castas Sauvignon Blanc, Chardonnay e Maria Gomes, um vinho moderno cheio de frescura, muito mineral, com óptimo volume na boca, acidez muito equilibrada, cheio de elegância. – Para uma visão mais detalhada destes vinhos brancos confira o antigo anterior do João Pedro de Carvalho aqui.

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Velha Reserva Bruto 2008 © Blend All About Wine, Lda

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Cuvée Brute 2011 © Blend All About Wine, Lda

Depois, os espumantes. Primeiro o Velha Reserva Bruto 2008, feito com Pinot Noir e Chardonnay, com notas florais muito frescas no nariz, palha, brioche e algum tostado. Bolha muito fina e elegante, fresco na boca, com notas de frutos secos. Seguiu-se o Cuvée Bruto 2011, com Baga e Sauvignon Blanc, a dar-lhe alguma compelxidade no nariz, frutado, com notas secas, bolha finíssima, muita frescura na boca, tostado ligeiro, notas de amêndoa muito suaves, um espumante muito elegante.

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Lopo de Freitas Brute 2010 © Blend All About Wine, Lda

Finalmente provou-se o Lopo de Freitas Bruto 2010, que já é um clássico desta casa. Cerceal e Chardonnay fazem um belo casamento, com bolha muito fina, aromas levemente frutados, algo exótico. Na boca tem uma excelente acidez, é cheio, cremoso, com notas leves de frutos secos e um final longo muito agradável.

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Leitão Assado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Algumas Sugestões Cítricas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Na refeição de leitão assado esteve o Blanc de Blancs Bruto de 2011, muito fresco, mineral e com sugestões cítricas, óptima acidez, a dar boa luta ao leitão.

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Blanc de Blancs Brute 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No final, “um café e uma São Domingos”, pois claro…

Contactos
Caves do Solar de São Domingos, S.A.
Ferreiros – Anadia
Apartado 16
3781-909 Anadia – Portugal
Tel: (+351) 231 519 680
Fax: (+351) 231 511 269
Email: info@cavesaodomingos.com
Website: www.cavesaodomingos.com

Os dois Arinto do Marquês de Marialva

Texto João Pedro de Carvalho

Na continuação do artigo anterior em que se abordava a temática dos vinhos brancos produzidos em Portugal, cabe agora destacar mais dois belíssimos exemplares oriundos da Bairrada. Em modo de introdução convém dizer que é conhecida a paixão que o enólogo Osvaldo Amado tem pela casta Arinto desde os tempos em que trabalhou na região de Bucelas. Agora que se instalou na Bairrada tem vindo a apresentar ao consumidor interessantes e variados exemplares oriundos dos distintos produtores onde trabalha.

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Adega Cooperativa de Cantanhede – Foto de Adega Cooperativa de Cantanhede | Todos os Direitos Reservados

Certo é que a casta Arinto está um pouco espalhada por todo o território nacional, desde o Alentejo até aos Vinhos Verdes onde dá pelo nome de Pedernã. Mas é na região de Bucelas (Lisboa) que assume ou deveria assumir toda a sua plenitude, pois embora havendo por lá produtores que fazem a diferença pela qualidade dos seus vinhos, não chegam para conseguir agitar suficientemente as águas.

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Marquês de Marialva Reserva Arinto 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Retomando o assunto que são estes dois vinhos feitos da casta Arinto na Bairrada, oriundos da Adega de Cantanhede, que tiveram direito a passagem por madeira, num trabalho minucioso que Osvaldo Amado tão bem sabe fazer. O primeiro é o Marquês de Marialva Reserva Arinto 2013, vencedor do 4.º Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada, onde 30% do lote fermentou em barrica nova. O resultado é um branco que nos cativa pela maneira como combina a frescura da fruta (lima, toranja) com leve vegetal, num perfil bem vincado e abraçado pela ligeira sensação de untuosidade que a madeira lhe confere. Fundo algo tenso e mineral, num vinho com passagem de boca prazenteira e saborosa. Mediano de corpo, não tão vigoroso como faria supor pela prova de nariz, mas com bastante frescura e um final seco.

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Marquês de Marialva Grande Reserva Arinto 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O Marquês de Marialva Arinto Grande Reserva 2012 é o novo topo de gama branco da Adega de Cantanhede e apenas foi engarrafado em 2014. Escolha-se um copo largo que este é um branco que gosta de se espreguiçar enquanto desenvolve todos os seus encantos, criando empatia no imediato. A passagem por barrica não se faz disfarçar, mas é a fruta que nos conquista, cheirosa e bem fresca, muito bem delineada com apontamentos de limão, lima, laranja em geleia. Amplo, com muito boa complexidade a cativar a cada rodopio no copo com a casta sempre presente. Na boca é coeso, amplo e fresco, com ligeiro toque untuoso a embalar um conjunto que mistura a fruta fresca e sumarenta porem delicada com uma ligeira austeridade mineral de fundo. O prazer está garantido.

Contactos
Adega Cooperativa de Cantanhede, C.R.L.
Rua Eng. Amaro da Costa, Nº117
3060-170 Cantanhede
Bairrada – Portugal
Tel: (+351) 231 419 540
Fax: (+351) 231 420 768
E-Mail: geral@cantanhede.com
Website: www.cantanhede.com

Quinta do Pessegueiro Exibe Novidades

Texto João Barbosa

A humanidade agradece a grande quantidade de «o melhor vinho do mundo». Entre independentes, territórios com grande autonomia e Estados não reconhecidos, há 197 países. Destes, talvez só a Santa Sé não tenha um pé de vinha ou não fabrique uma garrafa de quarto de litro.

No total deve haver  um milhão d’«o melhor vinho do mundo» – que é um título democrático: tanto o camponês com 0,2 hectares, com o seu «vinho purinho», ao magnata, que despeja dinheiro, o conseguem fabricar.

Um homem – que se fez à vida e prosperou com mérito – tem uma ambição bem mais sensata: fazer um dos melhores vinhos do Douro. Refiro-me a Roger Zannier, que fez fortuna na indústria do vestuário, respeita e aprecia o vinho – e que tem uma outra propriedade, em França, nas Côtes de ProvenceChâteau Saint-Maur (cru classe).

Contrariamente a outros, incluindo os candidatos a ter «o melhor vinho do mundo», Roger Zannier não tem pressa. Estabeleceu um prazo – nem para ontem nem para amanhã; saudáveis oito anos – o que já dá pressão.

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Roger Zannier – Foto de Nuno Teixeira in mariajoaodealmeida.com

Não contratou um «enólogo voador», mas alguém com juventude, para trazer sangue novo, com capacidade reconhecida, e conhecimento da região. João Nicolau de Almeida (filho) toma conta do projecto.

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João Nicolau de Almeida in facebook.com/pages/Quinta-do-Pessegueiro/381339061883836

A firma apresentou em Lisboa os vinhos Aluzé Branco 2013, Aluzé Tinto 2011, Quinta do Pessegueiro Tinto 2011 e Quinta do Pessegueiro Vintage Port 2012. Cumpre um objectivo nem sempre alcançado: uma linha condutora, um perfil transversal que identifica a casa.

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Aluzé branco 2013, Aluzé tinto 2011, Quinta do Pessegueiro tinto 2011 and Quinta do Pessegueiro Vintage Port 2012 in facebook.com/pages/Quinta-do-Pessegueiro/381339061883836

A frescura aromática é traço comum a todos. Na prova de boca mantém-se essa agradável sensação. Somando-se – quase obrigatório – grande elegância, com fundura e persistência. Os quatro vinhos de pasto pedem comida. Pela elegância e suavidade, penso que a cozinha sofisticada lhe faça melhor companhia. Não afirmo que as comidas locais fiquem mal no retrato. O que quer expressar é a junção destes néctares, com o seu ADN duriense, com iguarias, com genética comum, mas trabalhadas de modo requintado.

Embora queiram um prato junto ao copo, os Aluzé fazem boa companhia quando se quer apenas conversar..

João Nicolau de Almeida estreou-se no engarrafamento do seu primeiro vintage. O Quinta do Pessegueiro Vintage Port 2012 está muito bem. Contudo, há mais caminho para andar. O mundo não acaba amanhã, os vintage são caprichos da natureza e não imposição dos homens… há tempo e saiba-se esperar pela ocasião.

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Quinta do Pessegueiro in quintadopessegueiro.com

Uma nota positiva é a qualidade arquitectónica das edificações, a recuperação da casa e a nova adega, com o traço dos arquitectos Artur Miranda e Jacques Bec. Não é um pormenor! Os edifícios funcionais – sejam para acolhimento, enoturismo de passagem, hotelaria, restauração e de fabricação – são um cartão-de-visita.

Infelizmente, são poucos os produtores que investem em boa arquitectura. Não é preciso contratar Norman Foster, Frank Ghery, Santiago Calatrava ou Siza Vieira. Há muito bons arquitectos portugueses, até jovens, capazes de criarem peças únicas. Este é mais um ensinamento de Roger Zannier.

Contactos
Quinta do Pessegueiro
Sociedade Agrícola e Comercial, Lda
5130-114 Ervedosa do Douro, Portugal
Tel : (+351) 254 422 081
Fax : (+351) 254 422 078
Email: quintadopessegueiro@zannier.com
Website: www.quintadopessegueiro.com

O terroir do Javali…

Texto João Pedro de Carvalho

O Douro tem sido nos dias de hoje uma das regiões mais mediáticas de Portugal. Actualmente são inúmeras as Quintas de inegável importância histórica no sector do Vinho do Porto, mas também existem muitas Quintas que têm vindo a ganhar notoriedade enquanto produtoras de vinhos tranquilos (vinho de mesa). Tentar descobrir um projecto mais recente que se destaque principalmente pela qualidade dos vinhos tranquilos, sem ter o peso da história a recair nos seus vinhedos, não será fácil mas também não será impossível.

Prova disso é a Sociedade Agrícola Quinta do Javali. Empresa familiar fundada em 2000 com o objectivo de produzir e comercializar (exporta 80% da produção) os seus próprios vinhos DOC Douro e Porto, situando-se na margem esquerda do Rio Douro em Nagoselo do Douro, São João da Pesqueira, no Cima Corgo. A Quinta do Javali viu 10 dos seus 20 hectares serem replantadados numa vinha com as castas da região Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Barroca e Touriga Nacional.

O proprietário e enólogo da quinta, José António Mendes é um apaixonado pelo seu trabalho. Nota-se no brilho dos olhos quando a conversa muda e passamos a falar dos seus vinhos. Enquanto vamos provando as novas colheitas vai explicando que procura fazer sempre todo o trabalho na vinha, evitando intervir na adega, as leveduras são autóctones, os vinhos são todos feitos em lagar com pisa a pé e aliam potência com uma frescura incrível. Não são vinhos fáceis, de agrado imediato, requerem paciência, mostram uma grande densidade, camadas de sabor e aromas, frescos, estruturados com taninos ainda presentes que em novos torna a decantação quase obrigatória.

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Quinta dos Lobatos 2013 | Quinta do Javali Reserva 2011 | Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta dos Lobatos 2013 (DOC Douro)
Acabado de lançar no mercado, austero e novo, fruta rija e madura com alguma compota mas muito limpa, especiado, nota de esteva, carnudo, ganha envolvência com o tempo no copo. Boca cheia de vigor e frescura com a fruta a explodir de sabor, secura no fim, pimenta preta, fundo mineral e prolongado.

Quinta do Javali Reserva 2011 (DOC Douro)
Passa 18 meses em barrica. Mais envolvente que o Quinta dos Lobatos, barrica mais integrada apesar do poderio do cacau e tabaco, mostra fruta madura com compota, floral, especiaria doce. Boca com elegância permitida por taninos envoltos em estrutura dominada pela fruta maturada, fresco, conquistador e com menos austeridade a fazer-se sentir.

Quinta do Javali Touriga Nacional 2012 (DOC Douro)
Com uma quantidade muito limitada de 600 garrafas, o vinho é uma provocação aos sentidos. Fruta marcada pela frescura e qualidade, leve geleia, perfume de violetas e ervas aromáticas, tabaco e pimenta Mostra-se coeso, ambicioso, compacto e provocante. Com uma boca cheia de frescura e sabor, revela-se saboroso e preenche por completo o palato numa estrutura ampla em grande final.

Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 (DOC Douro)
Este vinho é um autêntico juggernaut. Chega de forma arrebatadora e domina por completo quem prova. Mostra toda a austeridade do Douro, estrutura firme e fresca, madeira que o ampara sem excessos (20 meses de estágio), fruta muito limpa e sumarenta com balsâmico, especiarias, notas de baunilha e chocolate preto. Enorme vigor e complexidade, disposta por camadas de aromas e sabores, tudo firme e sem abanar. Alimenta-se de tempo no copo ou no decanter, cresce, ganha novas formas mas sempre tenso, sempre novo. Na boca é fresco e amplo, fruta que se mastiga, saboroso, enérgico e grandioso com secura final à procura de pratos condimentados.

Quinta do Javali Special Cuvée 2012 (DOC Douro)
Nasceu de um desafio lançado ao produtor por um apaixonado pelo mundo do vinho e ao mesmo tempo responsável pela distribuição em Portugal. O vinho dá uma prova de luxo, mais macio e delicado que o Vinhas Velhas, conquista pela finesse, complexidade e ao mesmo tempo não perde aquele fulgor e energia característica dos vinhos desta casa. O que mais chama a atenção é o delicado e bonito perfume floral que mostra ao lado de groselhas e framboesas muito frescas e limpas, quase aromas em HD. A barrica arredonda os cantos com toque fumado e baunilha. Na boca mostra uma bonita frescura que domina todo o conjunto, grande harmonia com enorme presença no palato, final muito longo.

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Quinta do Javali Porto LBV 2007/2008/2009 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta do Javali Tawny 20 Anos
De perfil delicado tem harmonia e boa dose de frescura. Nota-se que não tem a complexidade proveniente de um lote com vinhos tão velhos como outros 20Anos à venda no mercado. Bom fruto seco, laranja cristalizada, caramelo, figo, tudo envolto num conjunto bastante agradável, em final prolongado.

Quinta do Javali Porto LBV 2009
Da prova dos LBV 07, 08 e 09 foi este último que mais se destacou, apesar de todos eles estarem num nível de muito boa qualidade. Destacou-se o 2009 pela gulodice da fruta com a presença da mesma e a frescura num conjunto mais amplo e sumarento que os restantes. Na boca, sente-se mais presença da fruta compotada, chocolate e leve especiaria em final fresco e longo.

Contactos
Sociedade Agrícola Quinta do Javali
Apartado 71
5130-909 S. João da Pesqueira
Email: antoniomendes@quintadojavali.com
Site: www.quintadojavali.com