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Dois rosados do Tejo – Casal da Coelheira 2015 e Tyto Alba 2015

Texto João Barbosa

A Comissão Vitivinícola Regional do Tejo tem vindo a enviar vinhos para prova e que merecem aprovação – se mo permitem. Não dá para escrever acerca de todos, mas alguns mostram-se tão felizes que não há desculpa ou prioridade que os empurrem da sala das obrigações.

As firmas que produzem estes dois néctares são bem diferentes, começando pela dimensão até à natureza social. A empresa Casal da Coelheira tem origem no início do século XX e representa 250 hectares, dos quais 64 são de vinha. Contrariamente à anterior, a Companhia das Lezírias é uma sociedade anónima detida inteiramente pelo Estado – 17.800 hectares (1.500 hectares estão arrendados), sendo 130 hectares de vinha.

Sendo enorme, pensava que era ainda maior. Ainda assim, a Companhia das Lezírias é provavelmente a maior propriedade portuguesa. Se os números que tive acesso estão correctos, a área quase chega perto do dobro da cidade de Lisboa (10.000 hectares – Wikipédia).

Irei escrever mais, mas posso resumir estes dois vinhos numa interjeição:

– Oh Verão! Vem cá já! Não te demores.

O Casal da Coelheira 2015 é fantasticamente simples, feito com base em touriga nacional e syrah. Cumpre brilhantemente a função de diversão com que foi provavelmente concebido. Fácil no trato, prazenteiro, guloso sem ser um xarope, onde pontifica o aroma da groselha. Está decidido! Este é obrigatório para este Verão! Não o colocaria a acompanhar comida – eventualmente uma salada de frango com frutas. Quer conversa, vai ajudar na sedução… irá dar um contributo positivo para a taxa de natalidade.

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Casal da Coelheira Rosé 2015 in casaldacoelheira.pt

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Tyto Alba Vinhas Protegidas Rosé 2015 in tytoalba.pt

O Tyto Alba Vinhas Protegidas 2015 é uma revelação absoluta. O nome é bonito! E mais bonito quando se sabe que homenageia uma ave magnífica: a coruja-das-torres – que em Portugal conhece mais designações.

É uma revelação – para mim – porque não estava à espera de nada que se lhe compare.

– O que é isto?! Meus Deus!

Foi mais ou menos assim. Sou aficionado dos rosados, gosto dos doces aos extra-secos. Ponderados todos, este é (provavelmente) o rosé português melhor que bebi! Se não é o melhor que bebi, é pelo menos o que mais prazer me deu.

Nem sequer beneficiou de nenhum acontecimento que o balizasse. Um normal dia da semana, em que não estava stressado ou relaxado, nem triste nem alegre, nem cansado nem atlético, nem faminto nem saciado. Penso que estava no «ponto zero» ou no «ponto 50» numa escala de zero a 100.

– O que é isto?! Meus Deus!

Fresquíssimo, elegante, escorregadio, animal-de-festa, uma complexidade incomum, muito fácil, excelente para pratos leves, excelente para conversar, magnífico para dançar. Com a vantagem de ter apenas 12,5% de teor de álcool. Fiquei com uma vontade que aquele momento não terminasse.

O Tyto Alba Vinhas Protegidas 2015 resulta da junção de touriga nacional e de merlot. Conhecendo o calor da região e olhando para a graduação alcoólica deste néctar, tenho a dizer:

– Vale bem a pena não considerar os rosados como subprodutos dos tintos.

Depois dos anos iniciais – em que os rosados eram bizarrias, vistos como moda passageira, solução para aproveitamento de sobras ou curiosidade para ajudar a vender «o» vinho – hoje fazem-se em Portugal muitos rosés «verdadeiros» ou «honestos», feitos com vontade de os fazer e de os construir bem. Quer um, quer outro, estão na secção dos bons rosados nacionais.

Só posso aplaudir quem quis colher as uvas mais cedo e se empenhou em fazer um vinho e não uma sobra – não quero dizer que não existam bons rosados mais alcoólicos e resultando de aproveitamento de uvas colhidas para tintos.

Ao contrário da coruja-das-torres, o Tyto Alba Vinhas Protegidas 2015 voa de dia e de noite. A ave é uma espécie protegida. O vinho deve ser caçado até à extinção. E também ajudará a fazer crianças!

Era o vinho, meu Deus era o vinho

Texto João Barbosa

O vinho vive em mim, não só por o gostar de o beber, mas por tudo o que lhe está associado. Há mais textos de economia acerca do sector do que (provavelmente) trabalhos históricos, antropológicos ou sociológicos.

Há 30 anos havia tabernas em Lisboa… tabernas mesmo tabernas, não sítios bonitos de cenário e comida de pobre para ricos. Muitos petiscos a – agora chamam-lhes tapas, em espanhol é mais giro, provincianismo – serviam para chamar a bebida e alguns eram oferecidos.

Hoje é raffiné (estrangeirismo forçado, provocação por causa do que escrevi acima) servir cascas de batata fritas e cobrar como se fossem batatas de prata. Eram oferecidas e com sal. Outra coisa engraçada – esta é patética, mas ajuda a explica por que o bacalhau era alimento acessível aos pobres – eram as lascas. Sim, nada mais do que o «fiel amigo» seco e com o sal da conserva. Era barato e salgado, entretinha a boca e chamava mais uns copos.

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Uma taverna em Lisboa in Lisbon in Arquivo Municipal de Lisboa

Muitas tabernas eram igualmente carvoarias, onde se misturavam os odores do vinho (mau), da fuligem e da serradura… sim, os alcoólicos das tabernas bebiam até ao «limite», as limalhas de madeiras serviam para facilitar a limpeza… absorventes.

As tabernas, hoje chiquérrimas, eram feias, nojentas, malcheirosas e mal frequentadas. O vinho chegava em barris de madeira, de vários tamanhos, com sarro. Para os nostálgicos e românticos digo:

– Não! Antigamente, os tempos não eram melhores!

O texto ocorreu-me porque fui matar saudades duma canção, de um genial humorista português. Em 1977, o actor Hérman José também se dedicava à música e lançou o disco (45 rotações) «Saca o saca-rolhas». Além da graça, a canção é uma janela para Portugal de há 30 anos.

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O disco “Saca o saca-rolhas” de Herman José

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Ramo de loureiro in wikimedia.org

«Saca o saca-rolhas, abre o garrafão, viver sem vinho não presta». Esta afirmação está (sendo generoso) no limite do politicamente correcto. Os jovens dificilmente a saberão e os não portugueses certamente desconhecem.

Nos versos, além da indicação de consumo de um garrafão (cinco litros), conta-se dos motoqueiros a acelerar, depois de beber álcool, a arriscarem-se a congestão, por mergulharem no mar depois da farra, e (deduz-se) levar um passageiro a mais na moto. As estradas portuguesas eram uma guerra civil, no que respeita a mortes.

É claro que ainda persiste alguma dessa realidade. Porém, não tem a condescendência de outrora e é motivo de crítica unânime. Nesse tempo, o vinho era a base da bebedeira dos portugueses, mais do que cerveja… e os destilados estavam longe das algibeiras.

Este ponto merece um enquadramento histórico. Portugal, em 1974, passou duma economia fechada e controlada e aos poucos foi-se abrindo. Em 1975, as colónias tornaram-se independentes, com implicações financeiras. Na equação têm de se colocar as crises do petróleo, convulsões económicas derivadas de opções políticas, etc.

Se até 1974 o whisky escocês, por exemplo, estava «escondido» e o gin espanhol era tenebroso, as bancarrotas de 1977 e 1983, com intervenções do Fundo Monetário Internacional, tornaram bem visível a fronteira das bebidas alcoólicas.

O dinheiro fresco que brotava das fontes comunitárias, a partir de 1986, ajudou a mudar o paradigma. Alteraram-se os vários padrões de consumo, mas os portugueses continuam a exigir que o vinho seja barato. Nem pensam em quanto o produtor investe, o risco e a quanto vende.

No tempo do saca-rolhas do Hérman, o consumo era muito elevado e o preço muito baixo – algo também possível graças à produção de vinho-a-martelo, uma mistela que «até» podia conter vinho, mas era um composto de inúmeros de produtos que o adulteravam e embarateciam: falsificação de bens alimentares.

Os portugueses aceitam pagar um euro por uma garrafa de água ou 60 cêntimos por uma bica, mas um vinho acima dos cinco euros é um objecto de joalharia. Fiz as contas e o vinho ao valor do café custa 15 euros (0,75 litros).

Mas não posso terminar este olhar para o retrovisor sem um verso popular, com o sarcasmo da falsa ingenuidade: «À porta do Santo António [igreja] está um ramo de loureiro, é uma pouca-vergonha fazer do santo tasqueiro».

As tabernas tinham à porta, à disposição dos clientes, ramos de loureiro. Ao que parece, mascar estas folhas faz desaparecer o hálito a vinho. Bem se vê que os foliões iam aos tombos para casa, mas provavam a inocência, junto das justas recriminações das mulheres, por o hálito não ser a copo.

Uma convenção: eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes que eu sei.

Vinhos da Casa Cadaval – Padre Pedro, Padre Pedro Reserva, Casa Cadaval e Marquesa de Cadaval 2012

Texto João Barbosa

Contar do vinho da Casa Cadaval necessita de algumas informações prévias. Repito: a história e as estórias são mais-valias. Tudo tem uma origem e explicação e o vinho ganha em ser mais do que apenas vinho ou simples produto alimentar. Este produtor pode encher livros.

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Casa Cadaval – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

Um país com quase 900 anos de existência tem muito para conhecer. Ao longo dos séculos, famílias ascenderam e outras decaíram. Nas crises e nas guerras, umas casas passaram para o lado do inimigo e outras mantiveram-se fiéis o país.

Em dois dos três períodos em que foi preciso lutar pela independência, o sangue Cadaval verteu pelo lado português. Os dois primeiros momentos estão relacionados com os vizinhos e o terceiro com os franceses de Napoleão. Neste último momento, acompanharam o Rei e a restante Corte na viagem para o Brasil.

Na crise dinástica e guerra contra Castela, entre 1383 e 1385, o condestável Dom Nuno Álvares Pereira foi o grande estratega e comandante das tropas portuguesas. O conflito terminou com a Batalha de Aljubarrota, em que os invasores eram superiores em número – cuja proporção varia conforme os cronistas e historiadores.

Dona Beatriz Pereira de Alvim, filha única do condestável, casou-se com Dom Afonso, filho do Rei Dom João I, fora do casamento, e que viria a ser o primeiro duque de Bragança. O primeiro Cadaval, embora sem título, foi Dom Álvaro, quarto filho do segundo duque de Bragança – Dom Fernando.

A partir do primogénito, Dom Rodrigo de Melo, a família foi somando títulos: conde de Olivença (1476 – apenas um titular), conde de Tentúgal (1504), marquês de Ferreira (1533) e duque de Cadaval (1648), marquês de Cadaval (segundo filho do oitavo duque e único titular), além de «honras de parente» da casa real.

O primeiro duque de Cadaval foi Dom Nuno Álvares Pereira de Melo, terceiro marquês de Ferreira, cujo título, atribuído pelo Rei Dom João IV, foi mercê pelo papel desempenhado na Guerra da Restauração, contra Filipe III de Portugal – Filipe IV de Espanha, bisneto do Imperador do Sacro-Império Romano-Germânico Carlos V, casa de Habsburgo.

Portanto, daqui se vê o peso que Cadaval tem na História de Portugal. Olga Maria Nicolis di Robilant Álvares Pereira de Melo, marquesa de Cadaval por via do casamento e descendente da Imperatriz Catarina da Rússia, é uma figura importantíssima da cultura, benemérita e patrocinadora das artes, especificamente da música. Falecida em 1996, foi homenageada pela Câmara Municipal de Sintra, que lhe dedicou o Centro Cultural Olga Cadaval.

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Tasting Room – Photo Provided by Casa Cadaval | All Rights Reserved

A aristocrata cultivou amizade desde o Papa Pio XII a importantes compositores e escritores, não olhando a valores de doutrina política, mas aos de talento e cultura: Cole Porter, Maurice Ravel, Igor Stravinski, Mstislav Rostropovitch, José Vianna da Motta, Luís de Freitas Branco, Fernando Lopes Graça… só para citar alguns vultos da música.

Em Muge, na margem esquerda do Tejo e a 80 quilómetros a Norte de Lisboa, situa-se a propriedade de onde saem os vinhos que aqui se narram. É um domínio com cerca de 5.000 hectares, onde convivem bovinos, cavalos, floresta e vinho.

A propriedade é gerida por Teresa Schönborn, neta de Olga Cadaval. O apelido indica o caminho para a Alemanha. Sua mãe, Graziela Álvares Pereira de Melo, foi casada com Karl Anton von Schönborn, oitavo conde de Schönborn-Wiesentheid. O vinho é também cultivado nos domínios alemães: Schloss Schönborn (Rheingau – Reno) e Schloss Hallburg (Franken – Francónia).

Regressando ao Tejo, em 1994 a Casa Cadaval abandonou o negócio da venda do vinho a granel e assumiu-se como produtor e engarrafador, sendo uma das primeiras empresas, da região, a apostar na qualidade e numa marca.

A base da gama é formada pela marca Padre Pedro, nome que homenageia um antigo prelado amigo da família. As mais recentes colheitas: Padre Pedro Branco 2014 (arinto, fernão  pires, verdelho e viognier), Padre Pedro Tinto 2012 (aragonês, cabernet sauvignon, merlot e trincadeira – seis meses de estágio em barricas de carvalho francês) e Padre Pedro Rosé 2013 (aragonês, merlot e touriga nacional).

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Padre Pedro branco – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Padre Pedro tinto – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Padre Pedro rosé – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

 

O branco e o rosado apresentam-se com uns felizes 12,5% de álcool, o que os torna bem indicados para o Verão, tanto para a conversa, aperitivos ou comidas leves. O tinto tem um ponto acima e pede carnes não pesadas. Vinhos fáceis, no que de melhor se pode querer da palavra – descontraídos e acessíveis (penso) à maioria das bolsas e fáceis de encontrar.

Num patamar acima estão os Padre Pedro Branco Reserva 2013 (viognier e arinto – seis meses de estágio em barricas de carvalho francês) e Padre Pedro Tinto Reserva 2012 (alicante bouschet, merlot, touriga nacional e trincadeira – oito meses de estágio em barricas de carvalho francês e seis em garrafa). O claro acompanha desde pratos de peixe condimentados até alguns estufados de carnes não muito gordas. O escuro alinha com carnes mais fortes, da vitela ao porco bem condimentadas.

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Padre Pedro Reserva branco – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Padre Pedro Reserva tinto – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

Os vinhos que se apresentam com o nome do domínio são monovarietais, produzidos a partir de castas com bom desempenho. Os mais recentes são Casa Cadaval Trincadeira Preta 2011 (estágio de um ano em barricas novas de carvalho francês e mais de um ano em garrafa), Casa Cadaval Pinot Noir 2012 (estágio de seis meses em barricas de carvalho francês e de mais meio ano em garrafa) e Casa Cadaval Cabernet Sauvignon 2012 (estágio de oito meses em barricas novas de carvalho francês e seis meses em garrafa).

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Casa Cadaval Trincadeira Preta – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Casa Cadaval Pinot Noir – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Casa Cadaval Cabernet Sauvignon – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

No píncaro está um vinho que faz justa homenagem a Olga Cadaval. Um excelente vinho do Tejo, com complexidade aromática e de paladar, com força e elegância – vai longo e duradouramente na boca. Se bem que está prazenteiro, penso que guardá-lo por três anos ou quatro anos o beneficiará. O produtor oferece uma «garantia» de dez anos – metáfora.

O Marquesa de Cadaval 2012 é um tinto aprovado como reserva. É um lote de alicante bouschet, touriga nacional e trincadeira – estagiou um ano em barricas novas de carvalho francês e outro ano em garrafa. Merece ser servido na mesa natalícia… ou como assegurou o poeta José Carlos Ary dos Santos: o Natal é quando um homem quiser.

Contactos
Casa Cadaval
Rua Vasco da Gama
2125-317 Muge – Portugal
Tel: (+351) 243 588 040
Fax: (+351) 243 581 105
E-mail: geral@casacadaval.pt
Website: www.casacadaval.pt

Soalheiro, a excelência de 2015

Texto João Pedro de Carvalho

Desta vez vou falar da marca de Alvarinho que mais tenho em casa e que vai para longos anos tem um canto reservado no escuro da minha garrafeira. Muitos podem pensar, mas guardar os Alvarinho na garrafeira? Sim é verdade, guardo estes e outros porque a capacidade de guarda está mais que comprovada ano após ano, colheita após colheita. Para quem olha de soslaio ou fica na dúvida, então que tenha a sorte de provar um destes belos exemplares dos anos 90 ou para não recuar muito no tempo que se beba um “simples” 2007 e se for em Magnum ainda melhor.

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Soalheiro – Foto Cedida por Quinta de Soalheiro | Todos os Direitos Reservados

A evolução ou direi mesmo, a perfeição tem vindo a aumentar a olhos vistos e os vinhos a cada década que passa têm sabido espelhar isso mesmo. Hoje mais do que nunca a limpeza aromática aliada a uma energia própria dos vinhos da região (Vinhos Verdes) faz com que os Soalheiro, entre outros, ganhem outra dimensão na hora de irem à mesa. O génio da lâmpada neste caso da adega, chama-se António Luís Cerdeira e é quem tem tido a capacidade de deliciar com os seus vinhos uma legião de fans na qual eu me incluo.

Depois das recentes novidades que aqui já tive oportunidade de relatar, estará para breve o lançamento do Soalheiro Granit, chegam agora os novos 2015 de uma colheita considerada de excelência pelo próprio produtor. Neste caso são os mais jovens do alinhamento, começando pelo Soalheiro ALLO 2015 que resulta de um lote 50/50 de Alvarinho e Loureiro. Desta junção nasce um branco cheio de aromas que invocam fruta e flores frescas, vibrante, muito perfumado e ao mesmo tempo leve e divertido, num vinho que mal damos conta e a garrafa já acabou. É daqueles brancos que apetece ter à mesa num final de tarde em pleno Verão a acompanhar uns canapés ou mariscos de concha ao natural.

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Soalheiro ALLO 2015 & Soalheiro Alvarinho 2015 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O segundo vinho é o incontornável Soalheiro Alvarinho 2015, que quanto a mim se mostra muito melhor nesta colheita que por exemplo na anterior, noto aqui mais frescura com a fruta menos exposta e com a mesma a surgir menos madura e mais airosa. Quanto ao resto é o perfil Soalheiro a funcionar onde os descritores da casta aparecem num conjunto que conquista no imediato pelos aromas limpos e bem definidos, boa intensidade de conjunto a mostrar-se tenso, muito fresco e com austeridade mineral em pano de fundo. A fruta (maracujá, líchia, citrinos) funde-se com notas florais, uma muito ligeira e fina colherada de mel a fazer toda a ligação e que se equilibra muito bem com a acidez do vinho. Beba-se desde já com uns camarões tigre grelhados ou então que se guarde por dois anos para se ter uma agradável surpresa.

Contactos
Quinta de Soalheiro
4960-010 Alvaredo, Melgaço
Tel: (+351) 251 416 769
Fax: (+351) 251 416 771
Email: quinta@soalheiro.com
Website: www.soalheiro.com

Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 e Quinta da Alameda Tinto Jaen 2013

Texto João Barbosa

O Dão está em fase ascendente. A região acordou e está a mexer-se. Como seria de esperar, haverá erros, nada é perfeito, mas só o facto de reagir já é um dado a aplaudir. Está a acordar e a marcar pontos, caminhando para o estatuto que teve outrora. Mérito da Comissão Vitivinícola Regional, mas só possível por haver produtores determinados em fazer bem e a conseguir retorno financeiro.

Carlos Lucas é um dos homens que encabeçaram a ascensão, com a sua passagem pela Dão Sul, hoje Global Wines, empresa hoje presente também no Alentejo, Bairrada, Douro, Lisboa e Vinho Verde, além do Brasil (Vale do São Francisco).

A Dão Sul surgiu em 1990. As marcas Quinta de Cabriz e a Quinta dos Grilos apresentaram-se com preços convidativos e com características de fácil agrado do consumidor. O sucesso levou a que extravasassem o berço.

Os vinhos da Quinta de Ribeiro Santo, situada em Carregal do Sal, confirmaram o acerto de mão de Carlos Lucas. O Dão de hoje seria diferente, talvez muito diferente, sem o trabalho deste enólogo.

A Quinta da Alameda é uma parceria entre Carlos Lucas e o empresário Luís Abrantes, com actividade na indústria de mobiliário (Movecho). A parte de viticultura está a cargo de Amândio Cruz. Situa-se em Santar, no concelho de Nelas. A área é pequena para os padrões europeus, mas acima da média da região. O domínio tem 50 hectares, dos quais 15 são de vinha.

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As vinhas – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

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As vinhas – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

Para os mais curiosos por números, em 2009, do total de 305.266 empresas agrícolas, 283.071 tinham menos de 20 hectares – número que tem vindo a diminuir desde 1979 (é 2,6 vezes inferior). A superfície agrícola utilizada também tem decrescido, embora em menor ritmo (1,4 vezes inferior). A região Centro, onde se situa o Dão, é das que têm dimensão mais reduzida.

Passo dos números para o que mais interessa. Os dois sócios mantiveram uma parte de vinha velha, onde estão várias castas misturadas, como era a tradição, e reconverteram outra parte, plantando alfrocheiro, baga, jaen, tinta roriz, tinto cão e touriga nacional.

Está situada numa zona onde a altitude vai dos 400 aos 700 metros, nas imediações da Serra da Estrela e do rio Dão. Traduzindo numa só palavra: frescura. A escolha das novas castas teve em conta a produção de espumantes.

A valorização da vinha velha, pela constatação da qualidade dos vinhos obtidos, criou uma moda. Quem tem vinhas com 30 anos diz que são velhas… para mim, vale o que vale, não são. Na Quinta da Alameda, a idade dessas plantas é de mais de 80 anos.

Carlos Lucas confessou não ser fã da casta jaen. Porém, na Quinta da Alameda mudou de opinião, em 2012. No ano seguinte vinificou-a separadamente. Estreou-se agora e já conto dele mais adiante.

A região do Dão tem uma categoria de classificação especial, que pode ser comparada com a de Vintage, no Vinho do Porto. Carlos Lucas diz desconhecer se alguma vez foi atribuída a «Dão Nobre» e prevê que dificilmente o poderá ser… mistérios que os vinhateiros guardam.

O Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 foi apresentado a exame e não mereceu a distinção, como o leitor deve ter depreendido do parágrafo anterior. Ficou como Reserva Especial, o que, de alguma maneira, vai dar ao mesmo. Se o topo é inacessível, o patamar imediatamente abaixo ocupa-lhe o lugar.

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Carlos Lucas – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

A classificação recebida é justa! É um grande vinho e tem o que se espera do Dão. A região vive nestas garrafas, onde se guarda a memória vinda das vinhas velhas e a categoria reconhecida desde sempre.

O Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 fez-se com uvas de alfrocheiro, tinta roriz, tinto cão e touriga nacional… uma pitada de baga, casta proscrita, pese a sua antiga presença no passado por aqueles lados. O vinho conviveu um ano com a madeira de carvalho francês e estagiou outros 12 meses em garrafa. É um vinho de enorme frescura, suavidade e elegância. Uma frescura que encobre os 14 graus de álcool – nem se dá por isso.

O Quinta da Alameda Tinto Jaen 2013 é uma boa expressão da casta. É um vinho didáctico em dois níveis: o que é a casta jaen e o que é um vinho do Dão – apesar de a tradição ser a de vinhos de mistura de castas. O estágio em barricas de carvalho francês durou um ano. É igualmente um tinto com frescura e que dá bom prazer, com a elegância pela qual a região era/é conhecida.

Como é de esperar, não mando nada na região do Dão, tal como acontece com as outras todas. Porém, penso que ao não validar vinhos como Dão Nobre, o painel de provadores não está a beneficiar ninguém. Seria uma boa ajuda para os consumidores mais antigos se reencontrarem e os novos apreciadores se aventurarem nas maravilhas que, de facto, existem na região.

Outras regiões poderão chegar primeiro a uma nova designação de superior classificação, beneficiando da primazia. Cada um sabe de si e dos seus negócios. Fica a minha opinião, que vale o que o leitor quiser que valha.

Lembremo-nos que em Bordéus, Borgonha ou Champanhe «nunca» há anos maus… ou são excelentes ou clássicos. As classificações de topo são usadas e França é o que é.

Alambre Moscatel Roxo 2010, I’m sexy and I know it

Texto João Pedro de Carvalho

A casta Moscatel Roxo de Setúbal é uma uva rara que chegou a correr riscos de extinção no século passado. A diferença para a sua homónima branca, a Moscatel de Setúbal, começa na sua tonalidade roxa mas também nas refinadas diferenças a nível de aroma e paladar que originam vinhos exclusivos e de fino recorte. E é quando falamos na sua salvação que entra em cena o nome do mais antigo produtor de Moscatel de Setúbal, a José Maria da Fonseca.

Foi pelas mãos de Fernando Soares Franco, quinta geração da família, que se salvou o último hectare de Moscatel Roxo da região, na altura localizado na Quinta de Camarate. Hoje em dia a casta espalha-se por cerca de 40 hectares em toda a região sendo 10 hectares pertencentes ao produtor José Maria da Fonseca. A casta hoje em dia mostra a sua versatilidade nas mãos da experiente equipa de enologia, podendo o consumidor variar entre os vinhos generosos até ao rosé e terminar num espumante.

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Alambre Moscatel Roxo 2010 in jmf.pt

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Alambre Moscatel Roxo 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A última novidade a ser lançada foi este Alambre Moscatel Roxo 2010, um Moscatel Roxo de entrada de gama a permitir o acesso a um público mais alargado uma vez que os generosos feitos a partir desta casa são por regra mais caros que os restantes. Assim resolveu-se apresentar um Moscatel Roxo mais jovem e moderno, fresco, directo e sem toda a complexidade e mesmo densidade que por exemplo um Roxo 20 Anos nos apresenta. É um vinho com a qualidade que o produtor em causa já nos acostumou, mas que se bebe de forma descontraída em fim de tarde no terraço com os amigos. E esta abordagem mais directa faz falta porque nem tudo na vida tem de ser encarado de fato e gravata, em tom formal porque o vinho que nos deitam no copo assim o exige. Por aqui e neste caso com o Alambre Moscatel Roxo 2010 vive-se um clima festivo, num conjunto que da maneira como se mostra convida a isso mesmo, fresco, apelativo, conjuga o trio doçura/acidez/concentração de tal forma que se torna um sucesso imediato à mesa.

Contactos
Quinta da Bassaqueira – Estrada Nacional 10,
2925-542 Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, Portugal
Tel: (+351) 212 197 500
Email: info@jmf.pt
Website: www.jmf.pt

Sandeman – 226 anos a fazer história

Texto Bruno Mendes

A história da Sandeman Sandeman começou há 226 anos atrás, em 1790, quando Geroge Sandeman pediu um empréstimo de 300£ ao seu pai para começar o seu negócio de vinho do Porto e vinho Sherry em Londres. Fundou o negócio tendo em vista criar uma pequena fortuna para se poder reformar no final do século, mas acabou por criar uma das maiores empresas do mundo do vinho.

A Sandeman foi a primeira empresa de vinho do Porto a colocar marca no barril, em 1805. Todas as pipas eram então marcadas com o nome George Sandeman & Co de modo a assegurar a qualidade. No entanto esta marca só seria registada em 1877, o ano seguinte ao primeiro ao qual se pôde finalmente registar marcas formalmente.

No vídeo abaixo encontrará mais detalhes sobre esta empresa bem como os vinhos comemorativos dos 225 anos de existência.

Roquevale, uma vertical do Tinto da Talha Grande Escolha

Texto João Pedro de Carvalho

Desta vez rumo à vila de Redondo, mais propriamente à Roquevale que fica na estrada para Estremoz entre Redondo e a Serra D´Ossa. A empresa possui duas herdades num total de 185 hectares, a Herdade da Madeira Nova de Cima vocacionada para a produção de tintos onde despontam os solos de xisto e a Herdade do Monte Branco com solos de origem granítica mais vocacionada para a produção de brancos, onde está sediada a adega. A empresa que hoje se assume como a segunda maior empresa privada do Alentejo, a produção ronda os 3 milhões de litros por ano e é liderada pela enóloga Joana Roque do Vale.

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A adega e os vinhos – Foto Cedida por Roquevale | Todos os Direitos Reservados

O mundo do vinho e Joana Roque do Vale sempre andaram de mão dada, desde a infância em Torres Vedras onde os seus bisavôs eram produtores. Após a revolução de Abril o pai de Joana, Carlos Roque do Vale decide mudar-se para a vila de Redondo para tomar conta das duas herdades do sogro (que em 1970 já tinha iniciado a plantação de vinha na zona de Redondo). A Roquevale iria nascer em 1983 de uma sociedade entre Carlos Roque do Vale e o seu sogro. O caminho de Joana estava traçado, o mundo do vinho era a sua segunda casa, daí até fazer o seu estágio curricular na Herdade do Esporão foi um ápice. Aprendeu com os melhores, como coordenador de estágio teve o engenheiro Francisco Colaço do Rosário e o enólogo Luís Duarte que já na altura era também consultor da Roquevale. Terminado o curso começou a trabalhar na empresa da família onde iria assumir pouco tempo depois a enologia da empresa.

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Talhas – Foto Cedida por Roquevale | Todos os Direitos Reservados

Um produtor com marcas bem conhecidas dos consumidores onde se destacam nomes como Terras de Xisto, Tinto da Talha ou Redondo. O vinho agora em destaque foi durante largos anos considerado como o topo de gama da empresa, o Tinto da Talha Grande Escolha que nos mostra as duas melhores castas de cada colheita. A prova em formato vertical começou com o 2003 e foi até ao 2010, mostrando em todas as colheitas um vinho que encarou com naturalidade a passagem do tempo, sem sinais de desgaste ou velhice acentuada. Sempre com direito a passagem por barricas novas, durante as primeiras colheitas destaca-se a assídua presença da Touriga Nacional que ia intercalando com Aragones ou Syrah, daria lugar depois à Alicante Bouschet que combina com Syrah ou Aragones sendo 2009 o único que junta Touriga Nacional com Alicante Bouschet.

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A vertical – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O que mais gostei foi o 2010 Aragonês/Touriga Nacional que mostra uma dupla em perfeita harmonia num conjunto cheio de vida com muita fruta madura, algum vegetal presente, tudo em perfeita harmonia. Amplo, guloso, exuberante com ponta de rusticidade, num bom registo fiel à região e a pedir comida por perto. Muito bom está o Aragonês/Alicante Bouschet 2008 que mostra um conjunto cheio e guloso, cacau, fruta sumarenta com pingo de doçura, tudo balanceado e fresco, bálsamo de segundo plano com muito sabor no palato, equilibrado e com taninos a marcarem ligeiramente o final. Seguido bem de perto pelo 2003 junta Touriga Nacional/Aragonês que sendo a primeira colheita mostrou-se em muito boa forma a juntar a uma fruta vermelha ainda madura uma bonita frescura de conjunto com bálsamo fino, couro, especiarias, tudo em corpo médio ainda com energia e final longo. O Tinto da Talha Grande Escolha 2009 junta Touriga Nacional/Alicante Bouschet, inicio com vegetal fresco e fruta madura e de apontamento mais doce, de início algum químico, tudo muito novo cheio de garra e bastante sabor, boa frescura mas final um pouco mais curto do que se esperava.

O Aragonês/Syrah 2007 é de todos aquele que menos conversa, cerrado com aroma químico de início, cacau, pimenta, fruta envolta em geleia, frescura a envolver tudo com boca saborosa, rebuçado de morango em fundo com balsâmico num conjunto bem estruturado com bom suporte e persistência. Um vinho com muito ainda para dar e que certamente está em fase de arrumações. Da colheita 2004 Syrah com Touriga Nacional saiu um tinto com fruta vigorosa, muita pimenta com chocolate de leite, arredondado e coeso, ligeiro vegetal de fundo. Mostra a fruta bem limpa e saborosa, cereja ácida, amora, bom de se gostar. Para o fim ficaram as colheitas 2005 Touriga Nacional/Aragonês que se mostrou de todos o vinho mais aberto e espaçado, tímido mas a mostrar o cunho Roquevale bem patente. Muito melhor na prova de boca, que se fosse de igual gabarito no nariz, seria um caso muito sério. Por fim o que menos gostei, o Syrah/Touriga Nacional 2006 que despejou no copo aromas químicos com vegetal acentuado, num conjunto agreste, muita nota fumada, rusticidade a fazer-se sentir. Ligeira frescura na boca com alguma fruta em corpo mediano e sem ter a mesma prestação que os outros irmãos de armas.

Contactos
Roquevale, S.A.
Herdade do Monte Branco, Apartado 87
7170-999 Redondo
E-mail : geral@roquevale.pt
Website: www.roquevale.pt

Hexagon Tinto 2009 e Hexagon Branco 2013 (Seis é número de saber) – Colecção Privada Domingos Soares Franco Touriga Francesa 2013

Texto João Barbosa

Ao contrário do sete, para quem é supersticioso, o seis não é um algarismo mágico. Para os chineses, o oito é fantástico, de excelente augúrio. Por isso o seis é quase… mas há seis e «seis».

Escrita a graçola numerológica, os vinhos Hexagon (branco e tinto) são a prova de que o «seis» é de sabedoria e não de acaso. Seis porque se fazem com esse número de castas, provenientes de parcelas diferentes.

A primeira colheita apresentou-se em 2006, referente à vindima de 2000, apenas tinto. Lembro-me de o ter levado para um jantar com amigos e da reacção de contentamento dos festejantes. O Alexandre, um regular involuntário reactivo, ficou, literalmente de boca aberta e a proferir palavrões, no sentido elogioso: F***-**, GANDA VINHO! Cum c******!

Felizmente, os Hexagon são sempre diferentes. Para quem gosta da expressão da natureza, é uma mais-valia – muito embora implique que uns sejam melhores que outros. Para quem prefere uma fórmula que dê uniformidade, colheita após colheita, não os beba. Não critico, para mim são escolhas igualmente defensáveis e legítimas.

Tendo-os todos num elevado patamar de qualidade, é-me difícil não expressar algum gosto pessoal. Provavelmente serei um pouco «infantil»: o primeiro e o último são os melhores. A memória pode trair, evidentemente.

O mais recente tinto é referente a 2009 e fez-se com touriga nacional (35%), touriga francesa (touriga franca – Domingos Soares Franco, o enólogo-mor, prefere a denominação antiga – 17%), syrah (15%), trincadeira (13%), tinto cão (10%) e tannat (10%).

Desta formulação, a descrição aromática torna-se extensa – é que não levou «betume» que descaracteriza a expressão dos bagos. Extensa, complexa e maçadora. Aliás, os cheiros evoluem, substituem-se e regressam. Os enófilos que se entretenham numa brincadeira.

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Hexago tinto 2009 – Foto Cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

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Hexagon branco 2013 – Foto Cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

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Colecção Privada Domingos Soares Franco Touriga Francesa 2013 – Foto Cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

O exame oral obedece sensivelmente as mesmas características organolépticas. Acrescente-se elegância, enchimento da boca, fundura e longo final.

Também gosto muito do quatro. O Hexagon Branco 2013 é, na verdade, um quadrado. Tal como o oito, gosto muito do quatro. Do que não gosto é da casta antão vaz. Repito o que digo sempre: uma coisa é gosto e outra é qualidade. Por isso, não se veja na afirmação uma sentença de castigo.

O Hexagon Branco 2013 é um lote de viosinho (34%), verdelho (30,5%), antão vaz (20%) e alvarinho (15,5%). É igualmente um grande vinho, de complexidade olfactiva e excelente comportamento na boca.

Assinalando, para memória futura, a minha avaliação do «meu gosto»: Desgostou-me o antão vaz e o alvarinho. Se a primeira variedade é um golpe no barbear, a segunda é apenas um levantar de sobrancelha … a forma como esta casta do Norte da região dos Vinho Verde se manifesta no Sul não…

A touriga francesa é a grande alma da região do Douro, assim chamada (creio) por ter surgido na época em que em França se andava a fazer híbridas. Penso que o autor permanece anónimo, mas sabe-se que é filha de touriga, que à época não precisava de ser designada por «nacional», e de mourisco. A primeira porta-se bem na adega, mas é complicada no campo, e a segunda é o oposto.

Podia ter nascido com os maus genes de ambas, mas saiu uma planta extraordinária – para mim a melhor casta tinta portuguesa. Porém, são raríssimos os casos em que se mostra com a alma do Douro. Além de ser uva que gosta de ter amigos na garrafa.

Nesses casos raros, de cabeça, só me lembro de dois produtores que sabem conduzi-la como se fosse um Lamborghini – desculpem, mas é a única marca de super-automóveis desportivos de que gosto. São eles José Mota Capitão (Herdade do Portocarro) e Domingos Soares Franco.

Foi com a certeza que o enólogo-mor da José Maria da Fonseca tem «dedinhos» para conduzir o Miura e a excitação infantil – é a segunda vez neste texto que me acuso de ser criança, talvez seja grave – do brinquedo novo que abri a garrafa.

Bem, da qualidade já se sabe, nos Colecção Privada e no que referi acerca dos Hexagon é aqui também verdade. Por isso, quase não consigo fugir à classificação do «meu gosto».

Não é a touriga franca do Douro, mal seria, mas também uma excelência. Quando o provei, assaltou-me um espanto: umas notas florais, nada excessivas, de laranjeira. Comentei que nunca experimentara nada que se parecesse – até mesmo em tintos de castas diferentes.

Quando espreitei a ficha técnica percebi que «houve batota»… ou melhor, que Domingos Soares Franco estava a conduzir o Lamborghini num autódromo, com combustível preparado para competição.

A batota: touriga francesa (95%) e moscatel roxo (5%). Malandro! Grande Domingos!

Quinta do Francês, o médico que sonhou ser enólogo

Texto João Pedro de Carvalho

Rumamos novamente ao Algarve, uma região que num espaço de uma década tem vindo a fazer um esforço para se voltar a colocar no mapa da produção de vinho de qualidade. O contributo dos produtores que acreditaram naquela região tem sido fundamental, entre eles está Patrick Agostini o responsável pela Quinta do Francês. Nascido em França e descendente de uma família italiana do Piemonte com tradições vinícolas, Patrick formou-se como médico de anatomia patológica em França, mas também com formação em viticultura e enologia.

Acabaria por mudar-se para Portugal e aqui constituir família, encontrou uma propriedade que achou a ideal para cumprir o seu sonho, produzir vinho. Teve de começar praticamente do nada, uma vez que no início, a propriedade era apenas constituída por encostas com vegetação selvagem, mas após um ano e meio de preparação dos solos, drenagens e correcção de acidez a vinha foi implantada em 2002.

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Endtrada da Quinta do Francês in facebook.com/QuintaDoFrancesWinery

Hoje conta com 8 hectares de vinha situada nos vales de Silves, a meio caminho da Serra de Monchique, ali bem perto da ribeira de Odelouca. As vinhas distribuem-se por dois tipos de solos com os solos xistosos a totalizarem 6,5 hectares com a casta branca Viognier e as tintas Aragonês, Cabernet Sauvignon, Syrah e Trincadeira. Nos restantes 1,5 hectares e já em solo de aluvião muito perto da ribeira de Odelouca, ficou apenas instalada a Cabernet Sauvignon. Os seus vinhos têm vindo a ganhar notoriedade e a ganhar merecidamente o seu espaço junto dos consumidores. A qualidade sempre presente em vinhos onde a qualidade acima da média é hoje uma realidade não só na região de vinhos do Algarve mas também na Quinta do Francês.

Em prova coloco dois dos vinhos produzidos que a meu ver são o que de melhor o produtor tem para nos oferecer. O Quinta do Francês branco 2014 é um 100% Viognier com passagem por barricas de carvalho francês. Um branco com boa complexidade, fresco e de aromas delicados e limpos, descritores a invocar a casta (pêssego, maçã, pêra, ligeiro floral) baunilha da barrica com tudo em grande harmonia. Saboroso com a fruta a fazer-se sentir acompanhada de toque apimentado, algum fruto seco (avelã), frescura e a envolvente da madeira a arredondar os cantos em final de boa persistência.

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Quinta do Francês branco 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Francês tinto 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Do outro lado da mesa o Quinta do Francês 2013, um blend de Cabernet Sauvignon, Syrah e Aragonês com estágio em barrica por mais de um ano até ao engarrafamento. Mostra-se sério e com boa complexidade, frescura ligeira austeridade no aroma, grafite, tudo sem excessos com a fruta (frutos do bosque) a dar sinais de ligeira doçura, notas de bagas de pimenta preta, ligeiro floral num conjunto com a madeira bem integrada. Boca a dar indicação de um vinho sério e coeso, saboroso e com raça onde a fruta surge com notas de baunilha e especiarias em final de boa persistência.

Contactos
Quinta do Francês Estate Family
Sítio da Dobra Odelouca
Cx P 862H
8300-037 Silves – Portugal
Tel: (+351) 282 106 303
E-mail: quintadofrances@gmail.com
Website: www.quintadofrances.com