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Soalheiro – Alma Mater

Texto João Pedro de Carvalho

Uma história que começou nos anos 70 quando João António Cerdeira, com o apoio de seu pai, António Esteves Ferreira, plantou a primeira vinha de Alvarinho. Nascia em 1982 na Quinta de Soalheiro primeira marca de Alvarinho de Melgaço, gerida na actualidade por Maria Palmira Cerdeira e seus filhos. Um perdurar que se faz através das gerações da família Cerdeira, naquele que foi o meu primeiro contacto com a casta Alvarinho, curiosamente com o Soalheiro Alvarinho 1994, na altura um jovem. É caso para dizer que na passada do tempo, depois da afirmação, da consagração e finalmente a consolidação do projecto, chega portanto aquela altura de desbravar novos caminhos e desafios com o lançamento de novos vinhos.

São novas maneiras de entender e mostrar a casta Alvarinho, a primeira abordagem neste sentido foi um tal de Quinta de Soalheiro lá para o ano de 1999, mais recentes o Primeiras Vinhas seguido do Reserva. Mais recentes são estes dois lançamentos, do qual um é estreia absoluta e o outro é a segunda colheita. Em estreia absoluta o Soalheiro Alvarinho Granit 2015, fruto de uma selecção específica de vinhas plantadas acima dos 150 metros em solos de origem granítica. A fermentação ocorre a uma temperatura acima do normal em vinhos brancos em inox com battonage sobre as borras finas. O objectivo é mostrar a expressão da casta, bem como a expressão dos solos num lado mais seco, austero e mineral. Destaca-se boa exuberância com foco na fruta associada à Alvarinho, perfil muito limpo com grande elegância. Palato forrado a fruta, solidez com fundo mineral envolto em secura. Todo ele muito preciso e focado, mais uma bela criação deste produtor.

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Soalheiro Alvarinho Granit 2015 & Soalheiro TerraMatter 2015 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Já na segunda edição apresenta-se o Soalheiro TerraMatter 2015, elaborado com uvas em regime de produção biológica, não sujeito a filtração, fruto de vindima precoce e maloláctica parcial em barricas de castanho. Diferente e arrebatador pela maneira como conquista no imediato, tanto pela diferença mas pela qualidade que uma vez mais é apanágio desta casa. Fantástica prestação de finesse, energia e definição aromática. Não há lugar a qualquer espécie de “massacre” olfactivo num vinho focado e preciso, belíssima presença com muito ainda para dar, o tempo que dura no copo apenas o demonstra. Denso, bom volume de boca com muita elegância e frescura, sensação de ligeira untuosidade. Travo mineral vincado em fundo numa passagem plena de sabor e frescura da fruta. Está a meu ver melhor que o 2014 e tal como seria de esperar, ainda muito novo pelo que será bastante interessante acompanhar a sua evolução, haja garrafas que o permitam.

Contactos
Alvaredo . Melgaço
4960-010 Alvaredo
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Papa Figos Branco 2015 e Papa Figos Tinto 2014

Texto João Barbosa

A repetição de palavras ou de rimas em latim faz-me sempre pensar tratar-se de magia. Não sei que livros andei a ler ou que filmes andei a ver. Bem, cá vai:

– Oriolus oriolus.

É o nome latino de papa-figos, um passarinho bonito comum na Europa e que pode ser visto até a uma parte da Ásia, voa até ao Cazaquistão e à Mongólia.

É um passarinho com ar simpático que os meus olhos de urbanita não conseguem identificar sem ajuda de quem sabe. Além de simpático é bonito. Não sou ornitólogo e fico por aqui, pois o tema não é acerca de aves.

Os Papa Figos fazem um par de vinhos do Douro. A Casa Ferreirinha (Sogrape) apresentou há poucos dias as novas edições. O branco é de 2015 e o tinto é de 2014. Se os papa-figos são uma alegria para os olhos, os Papa Figos dão bom prazer gastronómico.

Quando escrevo gastronómico não me refiro apenas à mesa, mas à globalidade do significado gastro. Palavra grega que significa estômago. Hoje pareço um sábio. Já escrevi latim e agora foi grego.

Ou seja, tanto o tinto quanto branco (sobretudo este) são apetecíveis no Verão. Mas tenho de fazer um aviso. O rubro apresenta uma graduação alcoólica de 13,5%. Nesta fase do ano em que se pedem comidas mais leves e que a praia pede mergulhos recomenda-se prudência.

É um tinto que tem frescura natural, o que já se sabe que nos pode enganar. Acresce que no calor, quando é fácil os vinhos se tornarem sopa, devem ser refrescados. Costumo deixá-los mais frios do que os normalmente recomendáveis 16 graus. Isto porque rapidamente aquecem. Ainda que a noite possa ser o momento do dia mais indicado, o Verão é muitas vezes injusto para os enófilos.

Voltando ao motivo por que disse que é globalmente gastronómico. É porque se bebe facilmente numa noite de conversa, daquelas sem tempo para acabarem. Nas férias, sempre que posso descontraio-me com amigos com quem nem sempre consigo privar, devido às horas curtas nas semanas de ofício.

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Papa Figos tinto – Foto Cedida por Sogrape | Todos os Direitos Reservados

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Papa Figos branco – Foto Cedida por Sogrape | Todos os Direitos Reservados

O branco é mais comedido em relação ao álcool. Tem saudáveis 12,5%. E pensar que nem há muitos anos os produtos deixavam derrapar as vindimas dos brancos. Não quero com isto afirmar que devam ter sempre baixo volume alcoólico, pois há néctares que estão bem.

Há mais uma razão por que este vinho me caiu no goto: a touriga franca, omnipresente, ou quase, nos tintos do Douro. Aqui representa 30% do lote. As tinta barroca representa a mesma percentagem e a tinta roriz está em 15%. A touriga nacional, que prefiro a do Douro à tão festejada do Dão, dá uma gulodice que aprecio, sem que se torne enjoativa. Está sóbria, representando 15%.

As uvas vieram do Douro Superior, cultivadas principalmente em encostas voltadas a Norte e mais acima na montanha. A maceração pelicular fez-se em depósitos de inox, assim como a fermentação alcoólica. Um quarto do lote estagiou oito meses em barricas de carvalho francês. O engarrafamento ocorreu um ano depois das vindimas.

O branco fez-se com uvas das castas rabigato (50%), viosinho (20%), arinto (18%) e moscatel galego (5%). A fruta veio igualmente do Douro Superior, de zonas altas. Um quinto do lote estagiou três meses em barricas usadas de carvalho francês. A parte restante foi mantida em depósitos de inox.

E é isto! Boas férias para quem vai e continuação de bom trabalho para quem fica.

Quinta do Vale Meão

Texto José Silva

Visitar a Quinta do Vale Meão é sempre um enorme prazer, é mesmo uma aventura deliciosa. Uma das quintas que pertenceu a D. Antónia Adelaide Ferreira, uma das mais conhecidas, é há já muitos anos pertença dum seu trineto, Vito Olazabal, um homem do Douro, profundo conhecedor da região, um apaixonado por estas terras, estas vinhas e estes vinhos. Casado com Luísa Nicolau de Almeida, filha de Fernando Nicolau de Almeida, ligada ao Douro também visceralmente. Os filhos ali vivem e trabalham, o Xito nas vinhas e na enologia, a Luísa na difícil tarefa de divulgar e vender aqueles néctares de excelência. O Douro corre-lhes nas veias, são uma família com “patine”…Em recente visita, aquando dos Encontros do Douro Superior, fomos recebidos, como sempre, com simplicidade e simpatia, com a qualidade e o bom gosto que se lhes reconhece.

Numa nova área junto à piscina, pais e filha (o filho encontrava-se no estrangeiro) foram inexcedíveis, como habitualmente.

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A piscina – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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O relvado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ali à nossa frente, a paisagem falava por si e é muito difícil de descrever: a seguir à piscina o relvado (onde os miúdos jogam umas futeboladas), depois os vinhedos que vão até ao rio e mais ao fundo a morfologia deste Douro superior, brilhante, cheia de luminosidade, única.

Depois das boas vindas, o Vito comentou os vinhos que íamos provar, acompanhados de vários petiscos que se espalhavam já pela mesa, à nossa disposição. O Meandro branco, bem fresco, já corria pelos copos e a conversa amena alternou com a soberba da paisagem que dali se desfruta. Este branco está óptimo, com nariz algo exótico, apelativo, cheio de frescura e elegância, secundado pelo ataque de boca que alia frescura à acidez, com fruta branca madura e notas cítricas a deixar adivinhar ligeira mineralidade. Apetece sempre mais um copo…

Já em franco convívio, fomos convidados a subir para o imenso terreiro que ladeia a casa, com enormes árvores que providenciam a sombra apaziguadora da inclemência do sol. Ali, junto ao gradeamento sobranceiro à piscina, foram montadas as mesas, muito bem aparelhadas, para o repasto.

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Tiras de casca de laranja crocantes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Caldo Verde – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Pãozinho regional, umas curiosas tiras de casca de laranja crocantes e lá veio um tradicional caldo verde a rescender, delicioso. Foram então servidos o Meandro tinto 2013 e a grande novidade, o Monte Meão 2013, feito a partir de uvas da Vinha da Cantina, da casta…Baga! Isso mesmo, Baga no Douro Superior!!

E que bem que está o vinho, cheio de estrutura, intenso, com garra, muito equilibrado e com óptima acidez, uma bela surpresa.

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Monte Meão 2013 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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O bacalhau – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Como prato principal saboreou-se o bacalhau assado na brasa, lascado, com batata e ovo cozidos e azeitonas, polvilhado de salsa, cozinhado no ponto. A acompanhar, uma salada de tomate, outra de verduras e uma salada de porretas, como por ali se chamam, feita com os talos verdes do alho francês, muito saborosos. Então já se bebia também o Quinta do Vale Meão 2013, uma bomba deliciosa, cheio de estrutura, volumoso, muito frutado, intenso, um vinho extraordinário, um dos grandes tintos do Douro Superior. A conversa continuava muito interessante com o humor e a boa disposição dos anfitriões, com tantas e tantas outras histórias para contar, se pudéssemos por ali ficar até o sol se pôr.

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Tábua de quiejos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Bolo de chila e amêndoas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mas era chegado o final do repasto, com uma simpática tábua de queijos e um delicioso bolo de chila e amêndoas. Muitos continuaram nos tintos, outros atacaram o vinho do Porto Vintage de Vale Meão, do ano de 2001! Oh! La! La!

Uma deliciosa interpretação do que é um grande Vintage, um perfume, uma essência, cheio de corpo, acidez vibrante a equilibrar o conjunto, não apetece mais nada, para uma última espreitadela àquela paisagem que nunca cansa… Na hora da despedida, uma última olhadela para trás, onde o enorme portão da quinta exibe com galhardia, no ferro forjado: Quinta do Vale do Meão – Antónia Adelaide Ferreira – 1894.

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Os vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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O portão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Uma família com patine…

Contactos
Quinta do Vale Meão
5150-501 Vila Nova de Foz Côa
Portugal
Tel: (+351) 279 762 156
Fax: (+351) 279 762 207
Email: geral@quintadovalemeao.pt
Website: www.quintadovalemeao.pt

Quinta dos Plátanos, na rota dos clássicos

Texto João Pedro de Carvalho

A Quinta dos Plátanos insere-se na Região Vitivinícola da Estremadura, com Denominação de Origem de Alenquer. Uma das Quintas mais antigas do concelho de Alenquer, pertence, à freguesia de Aldeia Galega da Merceana.

A principal actividade ao longo dos anos, desde o século XVII, tem sido a vitivinicultura. Sempre mantida no seio da mesma família, seria já no século XX que se dá uma renovação, inicialmente pelas mãos de Artur de Menezes Corrêa de Sá, como posteriormente pelo seu filho mais velho, José de Menezes Corrêa de Sá. Surgem então as primeiras vinhas aramadas e com compassos que permitem a mecanização dos trabalhos, primeiro com alfaias de tracção animal, depois mecânica e utilizando mesmo meios aéreos nos tratamentos sendo então apontada como pioneira nalgumas práticas. Na década de 50 é feita a total renovação da adega que permitiu nos anos 60 o aparecimento dos vinhos com a marca Plátanos. Apenas mais tarde com a criação da Região Demarcada, passam a ser denominados Quinta dos Plátanos. Já nos últimos anos se tem procedido á reestruturação das vinhas, com 16 hectares onde se inclui Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz, Syrah e Cabernet Sauvignon. No total são 35 hectares de vinha entre castas brancas com destaque para o Arinto e o Fernão Pires e nas tintas para além das já referidas, Pinot Noir, Castelão e Alicante Bouschet.

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As vinhas – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Hoje em dia é Artur Corrêa de Sá e a sua filha Luísa que gerem os destinos da Quinta dos Plátanos. A enologia está a cargo de Jorge Páscoa embora na prova dos vinhos se note uma clara distinção entre as gamas apresentadas, uma linha que separa a gama Quinta dos Plátanos e a Plátanos. Essa distinção deve-se ao marido de Luísa, o produtor Joaquim Arnaud. Enquanto os primeiros vinhos mostram o lado mais clássico e digamos, mais rústico da região, os vinhos Plátanos mostram-se na faceta mais elegante como é apanágio da linhagem Arundel (Pavia). Um local que transpira história, cheio de recantos fantásticos, que quanto a mim continua à espera de vinhos à sua dimensão, o que pelo provado parecem estar no bom caminho mas ainda com alguma distância a percorrer.

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As vinhas – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Os vinhos – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os dois Quinta dos Plátanos surgem com DOC Alenquer, o tinto de 2014 e o branco também de 2014. O tinto mostra-se com raça, muita fruta preta madura, frescura bem presente com um travo algo vegetal que lhe dá dureza e rusticidade. Na boca é focado na fruta, carnuda em corpo mediano, saboroso e com boa frescura. O branco vai buscar os encantos às castas Arinto e Fernão Pires, com grande frescura, aromas com alguma acutilância, muito citrino e alguma fruta de pomar, flores e rebuçado de limão no final. Boca a condizer, fresco, convidativo e apelativo para a mesa em tempo quente. Na gama Plátanos dois vinhos, Plátanos Arinto 2014, com a casta bem presente nos aromas de folha de limoeiro, lima e limão, grande frescura, tenso e com ligeiro floral algo tímido em segundo plano, num bom exemplar da casta embora lhe falte maior acutilância na prova de boca. O Plátanos Tou Noir 2010 é fruto das castas Touriga Nacional e Pinot Noir, mostra-se fresco e muito apelativo, com uma bonita capacidade de se ir alterando no copo e ajustando com o tempo. Torna-se guloso, fresco e terrivelmente gastronómico com aqueles nacos de vitela no carvão acompanhados com manteiga de alho. Muita fruta do bosque bem suculenta, madura e gulosa, carnudo e saboroso, cheio de especiarias, muita garra ao mesmo tempo que escorre guloso pelo palato, todo ele embalado por uma bela frescura que em momento algum o deixa esmorecer.

Prova vertical de Bafarela

Texto José Silva

A Casa Brites Aguiar está localizada muito perto duma das aldeias vinhateiras do Douro, Trevões, com as suas vinhas espalhadas pelas encostas do Rio Torto, beneficiando dum terroir fantástico, que é partilhado por olival, cerejal, nogueiral e souto, numa evolvente rural bem típica desta região duriense. Propriedade de uma família desde sempre ligada à terra, a partir de 2002 deixou de entregar as uvas à Adega Cooperativa, passando a trabalhá-las em adega própria. E assim as uvas produzidas nos 45 hectares de vinha, das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca e Tinta Francisca, passaram a produzir os vinhos desta casa, com marcas próprias, o “Brites Aguiar “e o “Bafarela”.

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António Domingos – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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O Douro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Sendo uma empresa familiar, é o irmão António Domingos (Tomi para os mais chegados) que abandona a ideia de ir para medicina e, há mais de 30 anos, se dedica por inteiro à terra e segue as pisadas do seu avô materno. Entre 1986 e 2004 reconverteu totalmente as vinhas para que pudessem ser tratadas mecanicamente. Fez a primeira vindima em 2003 e a partir de 2004 passou a trabalhar com a 2PR de António Rosas e Pedro Sequeira, o que se revelou acertado, pois têm tido bastante sucesso. Então, em 2004, aparece o primeiro Brites Aguiar e o primeiro vinho com 17%. Mas só a partir de 2008 é que surge o Grande Reserva Bafarela, com uma base de Touriga Franca e Touriga Nacional e uma ajuda de Tinta Roriz. Para o seu estágio são usadas barricas de 500 litros, de que se fazem três utilizações. Recentemente decidiram fazer uma prova vertical dos Grande Reserva Bafarela, que nunca tinha sido feita. E foi no ambiente do Douro que esta prova foi efectuada, com a presença do Tomi e mulher, e dos enólogos António Rosas e Pedro Sequeira.

O local escolhido, o D.O.C., não podia ser mais adequado, literalmente em cima do rio, com aquela paisagem arrebatadora, que enche os olhos, que nunca cansa. Os vinhos abertos atempadamente e à temperatura recomendada, apresentaram todos uma cor vermelha carregada, intensa mas elegante.

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O perfil dos vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E têm um perfil comum, são elegantes mas consistentes com deliciosas notas químicas que lhes dão alguma rusticidade.

Iniciou-se a prova com o Grande Reserva Bafarela 2008, que apresenta 14,5% de álcool. Nariz com notas ligeiras de evolução, algumas especiarias e laivos de fruta vermelha. Na boca apresenta uma boa acidez, é elegante e tem estrutura simples mas consistente. Nota-se a idade, mas bebe-se muito bem.

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Grande Reserva Bafarela 2008 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2009 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2010 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

O Grande Reserva Bafarela 2009, também com 14,5%, é aveludado, cheio de elegância, com notas de plantas silvestres, esteva, muito fresco. Na boca tem volume, é fresco e tem óptima acidez, muito persistente. Apresenta notas de especiarias, os taninos bem presentes, secos e uma óptima complexidade. Um vinho sério.

Seguiu-se o Grande Reserva Bafarela 2010, ainda com 14,5%, muito suave, fino, boa fruta madura, muito elegante. Na boca é fresco, intenso, os taninos bem ligados, bela acidez, frutos vermelhos bem presentes, complexo e muito longo, já se bebe muito bem.

O Grande Reserva Bafarela 2011, com 15% de álcool, é muito suave, elegante, tem muita fruta e alguma frescura. Na boca apresenta o mesmo perfil, uma óptima acidez, fruta bastante madura, frescura, algumas especiarias e final muito longo. Não parece do ano que é.

Veio então o Grande Reserva Bafarela 2012, com 14% de ácool, um belo perfil aromático, algum floral, muito fresco. Notas suaves de especiarias, volumoso, boa presença de fruta madura, taninos intensos e belo final. Um ano que continua a surpreender, com belos vinhos como este.

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Grande Reserva Bafarela 2011 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2012 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2013 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

Terminou-se com o Grande Reserva Bafarela 2013, o mais recente, com 14,5% de álcool. Muito elegante, sedoso, fruta bem madura, intenso, fragrâncias de plantas do monte. Na boca apresenta-se bem frutado, fresco, acidez bem ligada com os taninos, óptima estrutura, um vinho ainda jovem, a evoluir, só lhe vai fazer bem mais algum tempo de garrafa.

Seguiu-se o almoço, naquele ambiente tão acolhedor.

Depois dum aperitivo do chefe começou-se pelo excelente ravioli de sapateira com aipo e cogumelos, um prato muito fresco que foi muito bem acompanhado pelo novíssimo Bafarela Rosé 2015, cheio de frescura, seco, muito bom. É pena haver poucas garrafas!

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Ravioli – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Porco Bísaro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois deliciamo-nos com as bochechas de porco bísaro com cevadinha francesa, cremoso, bem ligado, mesmo muito bom. A harmonização foi com o Bafarela Colheita 2014, jovem mas intenso, deu boa réplica à carne de porco.

Passamos então para o cordeiro de leite com tupinambo e jus de trufa, requintado, aromático, a carne muito tenra e saborosa, na companhia do Bafarela Grande Reserva 2013, que já tínhamos provado e que esteve à altura do prato.

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Cordeiro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Sobremesa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Com este mesmo vinho fomos para a sobremesa, de queijos e frutos vermelhos.

Que bem que se esteve no Douro, com a família Bafarela…

Vinhos Pouca Roupa 2015

Texto João Barbosa

O Sol já aquece e a minha vontade de me atirar para dentro do mar é tal… bem! Como escrever isto sem parecer que apanhei demasiado calor na cabeça?… Os três vinhos chamam-se Pouca Roupa… a marca mais pop dos vinhos portugueses!

Mal os recebi para prova não consegui controlar o cérebro, que se pôs a cantar «Pop muzik», o sucesso de 1979 de M, a banda britânica de disco sound e pop new wave. Não foi por acaso! Por esse ano passava um anúncio na televisão, animado pelo tema, em que uma moça ia abrindo sucessivamente calças que tinha vestidas, pareciam não acabar… Pouca Roupa!

Para esta associação ser entendida não é preciso chamar Sigmund Freud. Porém, o espírito frenético de liberdade e fruição da disco sound toma conta facilmente do ânimo. Dei por mim como disc jockey mental e a passar para Patrick Hernandez, com o «Born to be alive».

Não vou continuar a enumerar os sucessos que cantei enquanto escrevi este texto. Posso dizer é que é impossível parar um Verão decidido! Exijo noites de dança na praia!

Nem sempre a marca se adequa ao produto, seja por incompetência ou artimanha. Mas não é o caso. Os vinhos Pouca Roupa querem o Verão – já o dissera há cerca de um ano e repito. São três, cada qual com uma cor.

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Pouca Roupa branco 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

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Pouca Roupa rosé 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

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Pouca Roupa tinto 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

O Pouca Roupa Branco 2015 está fresquinho como um pinguim… e vai guloso e amigável, com 12,5 graus de álcool. Fez-se com uvas sauvignon blanc, verdelho e viosinho. É um tiro directo à diversão e vai bem com comida, conversa ou dança.

O Pouca Roupa Rosé 2015 é malandro. O lote de aragonês, cabernet sauvignon e touriga nacional engana a índole. Não fosse ser comedido no álcool, 12,5%, e seria um caso grave. É guloso e boa companhia para a conversa e para a festa.

O Pouca Roupa Tinto 2015 obriga a maior cuidado, pois a graduação alcoólica sobe para os 14 graus. É um lote de alfrocheiro, alicante bouschet e touriga nacional. Este precisa de comida no prato.

Três alentejanos irrequietos. Pop! Pop! Pop muzik! Pop! Pop! Pop muzik!

Vinhos Dona Berta, o perdurar de uma vontade

Texto João Pedro de Carvalho

Num pulo até ao Douro Superior, a Freixo do Numão, onde está sediada a adega dos vinhos Dona Berta. Durante anos a imagem de marca deste vinho foi o seu carismático produtor que recordo com saudade, o Engº Hernâni Verdelho. Foi com ele que conheci pela primeira vez a casta Rabigato, da qual era acérrimo defensor, e fiquei a conhecer os seus vinhos cheios de carácter, quer tintos quer brancos. As conversas duravam horas, sempre bem-disposto e com um carisma que conseguia transmitir como poucos para os seus vinhos. Era interessante notar que a raça e o toque por vezes até mais rústico que por vezes teimavam em mostrar de início, parecia que se vergava, qual vénia, aos pés do Engº Verdelho. Retomando as provas e o contacto com as novas colheitas, os vinhos sentem a falta do seu criador embora as linhas que os definem estejam presentes. Foram os herdeiros que deram continuidade ao projecto, fizeram perdurar o sonho de um homem, que de resto continua a ser alimentado pela fantástica mancha de vinhedo velho de onde nascem as variadas referências da adega. São vinhos que precisam de tempo em garrafa, cujo carácter bem vincado muda consoante o ano de colheita. É essa maneira de ser que procuro e gosto num vinho, que nos transmita a forma de estar durante um ano, que não seja igual ano após ano como se de um produto feito em série se tratasse. Estes que agora falo são vinhos com potencial de envelhecimento, que foram sabiamente educados e preparados para a vida pelo enólogo e professor Virgílio Loureiro. Desta forma não se estranhe que passados dez anos, quer tintos quer brancos, se mostrem com uma invejável saúde.

Uma prova com dois momentos, o primeiro com o vinho Dona Berta Vinhas Velhas Reserva branco 2015 a mostrar um 100% Rabigato cheio de frescura com a raça que lhe é conhecida. O vinho abandonou os aromas intensos e mais frutados que de certa maneira faziam adivinhar a casta no imediato, para agora mostrar-se mais tenso e mineral. Muito boa a frescura com a fruta bem coesa e presente, sem exageros que nunca aqui fizeram a festa. Tenso e com nervo na boca, boa secura no fundo de corpo bem estruturado, tem tudo para evoluir favoravelmente na passada do tempo. Por agora pede pratos de peixe/marisco com bom tempero até porque a estrutura que mostra ter, dá-lhe essa capacidade de embate. Peixe grelhado no carvão fará uma bela companhia.

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Dona Berta Vinhas Velhas Reserva branco 2015 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Dona Berta Reserva tinto 2012 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O segundo momento coube ao Dona Berta Reserva tinto 2012, onde mais uma vez o tinto leva o seu tempo a entrar para o mercado. Muito carácter num vinho com raça e cheio de energia, muita fruta (bagas e frutos silvestres) mas também uma ligeira austeridade quer a nível de aroma como faz intensão de o confirmar no palato. Tudo muito compacto e bem coeso, apertado de tal forma que só com tempo é que se vão poder descortinar melhor os aromas. Por enquanto é um tinto cheio de vida e energia, capaz de fazer um brilharete com um bife de novilho no carvão com molho alioli.

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Esporão – Monte Velho Tinto 2015 e Quinta dos Murças Reserva 2011

Texto João Barbosa

As regiões do Alentejo e do Douro são duas das mais reconhecidas regiões vitivinícolas portuguesas. Mais do que olhar para os números das vendas, que podem esconder argumentos acerca das preferências, a viva voz diz muito acerca das razões das escolhas.

São duas regiões onde se produzem vinhos fáceis de agradar, não motivando isso qualquer motivo de censura… sim, como em quase tudo, há defensores de que só as coisas difíceis, angulosas, complicadas ou excêntricas é que são boas. Portanto, para mim, a facilidade de agrado não é sinónimo de falta de qualidade nem incompatível do prazer.

Porque as empresas existem para dar lucro, naturalmente várias firmas produzem nestas duas regiões ou, pelo menos, comercializam com marca própria vinho que adquirem numa delas. O Esporão é das companhias que avançou das planícies para as montanhas.

O Esporão é um projecto de antecipação, em que Joaquim Bandeira percebeu o potencial da região, à época, muito centrada na produção cerealífera e corticeira. José Roquette compreendeu a visão e alinhou.

A fundação aconteceu em 1972 e o empreendimento acabaria adiado devido à Reforma Agrária, de inspiração marxista, que decorreu após a Revolução do 25 de Abril de 1974. Passado o período revolucionário e a entrada na então Comunidade Económica Europeia (1986), veio a acalmação que permite à economia decorrer sem sobressaltos.

A Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, foi restituída em 1979. A adega só ficou pronta em 1985, ano em que foi lançado o primeiro vinho, cujo rótulo apresenta uma pintura de João Hogan.

Desde esse primeiro vinho que a firma ilustra cada colheita com obras artísticas. O princípio tem sido seguido desde a primeira edição da Quinta dos Murtas, situada no Douro, em que a fotografia é a arte escolhida.

A arte não é a única excentricidade do Esporão. A firma adoptou uma política de agricultura sustentável, com recuperação de cursos de água, solos, flora e fauna – o que tem permitido também poupar em fitofármacos.

Outra loucura foi a nova adega, construída no sistema tradicional de taipa, que permite a climatização do edifício sem ter de recorrer a exigentes e dispendiosos aparelhos de refrigeração.

Outra bizarria é o respeito pelo património histórico, com a preservação duma torre medieval, um arco e uma ermida renascentistas, e a escavação de uma vasta área arqueológica, com vestígios de até há 3.000 anos Antes de Cristo.

Estas maluquices – sinónimos que quis sem aspas para que vincassem mais – chamam-se respeito e inteligência. Respeito pela natureza e pela sabedoria ancestral e inteligência porque se traduzem em economia de custos.

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Monte Velho Tinto 2015 – Foto Cedida por Esporão | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Murças Reserva 2011 – Foto Cedida por Esporão | Todos os Direitos Reservados

Apresentada que está a empresa do Esporão, avanço para os dois vinhos que justificam este texto. O Monte Velho Tinto 2015 (Regional Alentejano) e o Quinta dos Murças Reserva 2011 (Douro).

O Monte Velho Tinto 2015 assinala o 25º aniversário da marca e o rótulo está ilustrado com um padrão das mantas tradicionais alentejanas. Este vinho fez-se com uvas de aragonês, trincadeira, touriga nacional e syrah.

É um vinho para ser bebido descontraidamente. Não é um grande vinho, um néctar para ocasiões especiais. Pode classificar-se como aposta segura, pois vindima após vindima mantém-se num patamar de qualidade regular.

O Quinta dos Murças Reserva 2011 é mais exigente. Trata-se de um lote de tinta roriz, tinta amarela, tinta barroca, touriga nacional, touriga franca, sousão e mais algumas, que o produtor não refere especificamente. Uvas de vinhas com mais de 40 anos. A fruta foi esmagada a pé em lagares de granito e numa prensa vertical. Estagiou um ano em barricas de carvalhos francês e americano.

É um néctar que mostra o Douro e quer comida de se comer vagarosamente. É filho de 2011, ano de excelência no país e naquela região. Que se beba antes que venham as noites tremendas de calor de Verão ou que se espere por tempos mais frescos.

Contactos
Herdade do Esporão
Apartado 31,
7200-999
Reguengos de Monsaraz, Évora – Alentejo
Tel: (+351) 266 509 280
Fax: 351 266 519 753
Email: reservas@esporao.com
Website: www.esporao.com

Monte da Ravasqueira apresenta colecção de Verão e também…

Texto João Barbosa

Regressar à Ravasqueira é um prazer. A propriedade é bonita, é imponente e está bem arranjada. Volvi nesta Primavera e vi, pela primeira vez, a colecção de carros de atrelagem, todos em estado impecável, sendo o mais antigo do século XVIII.

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A colecção de carros de atrelagem – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

O vinho foi novamente a razão desta visitação. A oferta é já grande. Desta vez conheci novidades e fui apresentado a novas edições dalgumas referências, como o Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs. Uma vez que o Verão está à porta, vem agora o pretexto de contar das sugestões desta firma de Arraiolos.

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Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Syrah + Viognier 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Viognier 2013 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

A casta syrah e o Alentejo têm uma relação de amor longa e feliz. O mesmo acontece com a vignier. O Monte da Ravasqueira Syrah + Vignier 2015 fez-se com as uvas misturadas na fermentação, à moda das Côtes du Rhône. O Monte da Ravasqueira Viognier 2013 está na forma de pecado. Confirmada a paixão mútua entre a terra e estas uvas.

Quanto ao estio, esta casa apresenta dois brancos e um rosado, todos referentes ao ano de 2015. Todos estão a exigir areia e água salgada, sombra e piscina, convívio e grelhados.

O Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2015 é fresco e o carácter cítrico tempera a tropicalidade da casta. Está-se bem e é óptimo para as conversas das tardes sem fim.

O Monte da Ravasqueira Branco 2015 é mais complexo e mais interessante. O enólogo Pedro Pereira Gonçalves criou um baile de alvarinho, arinto, semillon e viognier. As castas completam-se, não se atropelam. Bebe-se bem a solo, mas o ideal é dar-lhe comida.

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Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira branco 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Rosé 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

Mas o que me encantou mais foi o Monte da Ravasqueira Rosé 2015, filho de uvas aragonês e syrah. Este quer festa! Conversa, comida e saltos para a piscina.

Disse descobertas? Sim, disse. São elas touriga franca e sangiovese.

Touriga franca no Alentejo? Sangiovese no Alentejo? É verdade. A adaptabilidade da primeira fora do Douro é uma raridade. Pelo menos, um resultado francamente positivo. A segunda é uma raridade em Portugal. Porém…

Porém, no Monte da Ravasqueira, em Arraiolos, as duas variedades estão cultivadas e já deram uvas para vinho, ambos datados de 2012. À mesa do almoço, Pedro de Mello e Filipe de Mello perguntaram por desejos. Feitos os pedidos, vieram as garrafas.

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Monte da Ravasqueira SG 2012 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira TF 2012 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

O Monte da Ravasqueira SG 2012 está belíssimo. Belo está também o Monte da Ravasqueira TF 2012. Palavra-puxa-palavra, aproveitámos a ausência do enólogo para brincarmos a aprendizes de feiticeiro. A olho se fez um lote com 70% de sangiovese e 30% de touriga franca. Penso que somar 5% à italiana e retirar à portuguesa ficará melhor.

Contudo, o meu negócio não é a enologia… Deixo um apelo pungente: Pedro Pereira Gonçalves pensa nisto! Faz 1.000 garrafas e compro-as todas! Já que referi… nunca é demais ouvir «O Aprendiz de Feiticeiro», poema sinfónico de Paul Dukas inspirado numa obra de Johann von Goethe. E já agora, ver ou rever também «Fantasia», o filme de animação que a Disney fez, em 1940, baseado na obra deste compositor francês do século XIX, em que o Rato Mickey desempenha o papel do jovem desobediente.

Contactos
Monte da Ravasqueira
7040-121 Arraiolos
Tel: (+351) 266 490 200
Fax: (+351) 266 490 219
E-mail: ravasqueira@ravasqueira.com
Website: www.ravasqueira.com

Quinta da Gândara

Texto João Pedro de Carvalho

Da Sociedade Agrícola de Mortágua, sai este branco produzido na Quinta da Gândara, fundada em 1756. Dos solos graníticos por entre as serras do Caramulo e Bussaco nascem as uvas que dão origem aos dois vinhos agora provados, um branco a partir da casta Encruzado e um tinto de Touriga Nacional. À falta de informação mais detalhada e apurada, apenas de registar que ficam inseridos no “plantel” do produtor Caves da Montanha (Bairrada). Vinhos inseridos num perfil que não vira costas à região, notamos, porém, que tudo se faz notar com um cunho mais modernista e à imagem dos nossos dias.

Não que isso seja mau sinal, apenas sinais de que a região tem de sabido evoluir e recolocar-se face às exigências do mercado e nos novos consumidores. Sinal disto são os vinhos de cunho mais moderno, mais prontos a beber e de taninos mais afinados onde o estágio e a vida em garrafa é muitas vezes deixada de lado. Somos por isso mesmo confrontados com o prazer imediato e ficamos a perder aquele potencial de guarda que tanta fama deu a regiões como é o caso do Dão. Resta saber se este é o caminho a seguir ou se foi apenas um atalho que se escolheu na procura do sucesso precoce. Ora num registo mais actual e moderno, mas como já foi dito, onde a região se faz notar no perfil, ambos ostentam a designação Reserva, a passagem por madeira foi em madeira nova de carvalho Francês e teve a duração de sete meses para o Branco e dez meses para o Tinto.

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Quinta da Gândara Touriga Nacional Reserva 2011 & Quinta da Gândara Reserva Encruzado 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Enquanto o Quinta da Gândara Reserva Encruzado 2013 se mostra de aroma rico, amplo com clara presença da madeira embrenhada na fruta madura com algum fruto seco a apontar numa nota de evolução precoce. No restante conjunto mostra-se fresco, médio porte, com fundo de recorte mineral a lembrar pederneira, baunilha, num perfil de peso médio com boa dose de frescura. Na boca conjuga a fruta madura com notas de tarte de limão, amplo e com secura final.

Já o Quinta da Gândara Reserva Touriga Nacional 2011 é o oposto do branco, um vinho cujos aromas remetem no imediato para o Dão. Num conjunto de boa frescura a mostrar uma Touriga Nacional fresca e madura, floral, casca de laranja com ligeira ponta de austeridade e exuberância. Tudo embalado num tom guloso com notas de cacau, especiarias, geleia de frutos do bosque, embrulhado em frescura com boca coesa, muita energia com austeridade de fundo, carnudo e cheio de sabor.