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Quinta de Covela os novos vinhos de 2014

Texto João Pedro de Carvalho

Foi no passado dia 22 de Abril que a Quinta de Covela veio a Lisboa mostrar os seus vinhos da colheita de 2014. Num dos ícones da gastronomia Lisboeta, a Cervejaria Ramiro, foram provados os brancos monocasta e o rosé da Quinta de Covela. Guiados por toda a equipa, a introdução coube ao viticultor Gonçalo Sousa Lopes e ao enólogo Rui Cunha. O ano de 2014 foi muito bom, a chuva fez-se sentir na devida altura intercalando com o calor fazendo com que a maturação das uvas tenha sido lenta e arrisco a dizer perfeita. O resultado está à vista, vinhos bem frescos com aromas e sabores muito bem definidos de forma cristalina e a mostrar uma natural apetência para a mesa. A procura por estes vinhos tem vindo a aumentar, sendo a produção de momento ainda reduzida face à necessária replantação que se ficou a dever ao mau estado em que foi encontrado grande parte do vinhedo, cerca de 40%.

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Equipa Covela – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Logo de início tivemos um mano a mano entre o Covela Edição Nacional Avesso com a colheita 2013 (garrafa magnum) e 2014. Uma diferença que se fez notar num Avesso 2013 muito mais sisudo e coeso, fruta (citrino, maçã) muito mais gorda sem grande definição aromática, num conjunto com alguma austeridade na boca, final seco.

O Covela Edição Nacional Avesso 2014 brilhou com os seus aromas muito puros e quase cristalinos, um toque floral muito perfumado com a fruta em grande destaque, muita frescura com nervo e mineralidade em fundo. Conjunto coeso, cheio de vida, boca com grande vida e muito sabor, secura final a pedir mesa que foi o que sucedeu acompanhando com galhardia umas Ameijõas à Bulhão Pato.

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Covela Edição Nacional Avesso 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O próximo vinho surge em tom de Arinto, muito austero e cheio de garra este novo Covela Edição Nacional Arinto 2014, muita frescura num conjunto ainda bastante novo. A base é de citrinos, com algum floral, embora todo o conjunto precise de mais tempo, por agora é o tom mineral de fundo que mais se faz destacar com uma enorme energia na boca. É um branco de bom porte atlético, muito menos brincalhão de aromas do que o Avesso. Neste caso pede pratos com um pouco mais de substância e vontade seja feita acompanhou umas Gambas al Ajillo.

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Covela Edição Nacional Arinto 2014 e Covela Rosé 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Outra das novidades o Covela Rosé 2014, feito a partir de Touriga Nacional que se vindima precocemente apenas para dar origem a este vinho. É um caso de sucesso e um dos melhores rosés feitos em Portugal, conquista pelo conjunto, jovem, fresco e delicado. Aromas e sabores muito detalhados, delicado floral com aquela frescura marcante. Palato equilibrado entre fruta/acidez com muito boa presença sem nunca deixar de ter aquela secura em final de boca que revigora o palato e lhe confere uma tão boa apetência gastronómica.

Contactos
LIMA SMITH Lda.
Quinta de Covela,
S. Tomé de Covelas
4640-211 BAIÃO
Tel: (+351) 254 886 298
E-mail: info@covela.pt
Website: www.covela.pt

A Tradição, a História, a Produção de Vinhos com Arte

Texto José Silva

O Alentejo ainda encerra alguns locais cheios de magia, seja pela beleza da paisagem, pela imensidão das terras a perder de vista, pelos produtos da terra, seja pela história das famílias e das construções. Ali na região de Estremoz existe um local onde todos estes predicados estão bem presentes, a Quinta Dona Maria, datada do século XVIII, que chegou a pertencer a el-rei D.João V.

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Dona Maria, Júlio Bastos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Dona Maria – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O actual proprietário, Júlio Bastos, tem sabido não só manter a beleza e a qualidade das instalações tão cheias de história e dos esplendorosos jardins circundantes, como tem apostado acertadamente na produção de vinhos de grande qualidade, hoje reconhecidos um pouco por todo o mundo como produtos de excelência.

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A Beleza – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A Qualidade das Instalações – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A partir de uvas muito boas de várias castas, de que se destaca naturalmente o Alicante Bouschet nos tintos, que são trabalhadas numa adega antiga muito bem recuperada, com belos lagares de mármore da região, onde ainda se pisa a pé, ali estagiam vinhos poderosos, cheios de raça mas também muito elegantes, com um perfil muito próprio e grande potencial gastronómico.

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As Vinhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Com uma viticultura de rigor, vinhas bem conduzidas, com a característica de não serem regadas, conseguem-se uvas muitos sãs, vindimadas na ocasião certa, escolhidas cuidadosamente, para poderem ser elaborados os vinhos com a chancela Dona Maria.

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Adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Na visita que fizemos recentemente, fomos recebidos pela enóloga Sandra Gonçalves e pelo proprietário, Júlio Bastos, para um passeio pela adega e toda a sua austeridade mas grande beleza e tentar entender como são trabalhadas as uvas que vão dar aqueles vinhos tão bons.

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Tectos de Madeira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Os Velhos Depósitos de Cimento – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A adega tem uns fantásticos tectos em madeira, com colunas em abóbada de cerâmica e grossa paredes de pedra, que também albergam os velhos depósitos de cimento, ainda utilizados depois de recuperados.

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As Barricas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Noutro compartimento repousam os vinhos, em inúmeras barricas de carvalho francês e americano, que a seu tempo hão-de ser engarrafados para continuar a estagiar mais alguns meses…ou anos. Depois de esclarecedoras explicações sobre todo o processo produtivo, Júlio Bastos convidou-nos para a sala de provas onde a Sandra Gonçalves preparou uma prova que foi guiada pelos dois, com o Júlio Bastos sempre com o seu característico tom crítico, mesmo em relação aos seus próprios vinhos. Mas também imensamente didático em relação aos vinhos alentejanos em geral, de que é grande conhecedor. Perante nós desfilaram oito vinhos que nos deram grande prazer:

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Os Brancos Dona Maria – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Dona Maria Branco 2014 mantém o perfil de aromas tropicais, bastante citrino, fresco, com acidez muito equilibrada e óptimo volume de boca. O Amantis branco 2013 com a casta Viognier a brilhar, tinha notas tropicais muito ligeiras e alguma fruta branca e ligeiro toque de fumo, com acidez balanceada a dar-lhe muita elegância.

O Viognier 2013 revelou-se um vinho ainda jovem, a combinar aromas de frutos brancos com algum floral mas muito elegante, com boca volumosa, cheio, acidez intensa mas equilibrada, a dar-lhe belo final. Depois um fantástico Rosé 2013, que se revelou muito equilibrado, com aromas tropicais muito suaves a par duma boca complexa, cheio de frescura, com notas de frutos tropicais, morangos, compota e uma acidez a ligar todo o conjunto, com um grande final.

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Os Tintos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Passados aos tintos, apareceu o Dona Maria Tinto 2012, um lote que apresentou aromas a frutos vermelhos maduros, notas ligeiras de fumo, de amoras. Na boca é vivo, com óptima acidez, frutos vermelhos intensos e um bom volume, um vinho muito equilibrado. O Touriga Nacional 2011 é um tinto que revela bem a qualidade do ano de colheita. Os aromas elegantes de violeta e bergamota, com notas ligeiras de fumo e algumas especiarias contrastam com uma boca cheia, aveludada, com notas de frutos vermelhos e algum chocolate e uma óptima acidez.

Seguiu-se o Amantis Tinto Reserva 2009, um vinho musculado, complexo, com aromas de frutos pretos maduros e alguma frescura. Na boca é volumoso, mantendo a complexidade, notas mentoladas, frutos vermelhos e algumas especiarias, acidez persistente e belo final.

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Quinta do Carmo Garrafeira 1986 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Para terminar a festa o Júlio Bastos abriu uma garrafa dum clássico da quinta, o Quinta do Carmo Garrafeira 1986, que foi previamente decantado. Apresentava uma cor violácea com laivos acastanhados a denotar a idade, muito elegante, nariz muito suave e aveludado, ainda com alguns frutos vermelhos. Na boca é delicado, macio, taninos deliciosamente suaves, cheio de complexidade, acidez muito equilibrada, persistente, ligeiramente fumado, com final longo, muito longo. Ganha se for aberto umas horas antes e prova que os tintos alentejanos também envelhecem bem.

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A Casa Pricipal – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Cá fora, no imenso terreiro, fomos “esmagados” pela beleza da casa principal, beleza que continua no interior, com várias salas que nos levam quase três séculos atrás. No canto duma delas, numa passagem secreta, parece que ainda vemos D. João V a entrar para uma visita furtiva a D. Maria, a cortesã a quem oferecera esta Quinta do Carmo…

Contactos
Quinta do Carmo 7100-055 Estremoz
Telefone: (+351) 268 339 150
Fax: (+351) 268 339 155
Email: donamaria@donamaria.pt
Website: donamaria.pt

Vinhos Vasques de Carvalho

Texto João Barbosa

Esquecendo a escala cósmica, um século é um sítio longínquo. Nesse tempo o mundo era a preto e branco… é o que se vê nas fotografias. Fora de brincadeira, atingir essa marca é para celebrar.

Não sendo absolutamente extraordinário, a verdade é que poucos humanos podem ou puderam dizer que chegaram ou ultrapassaram a barreira do século. Ainda há dias partiu o cineasta Manoel de Oliveira, aos 105 anos. Quem o conheceu diz que era uma pessoa de grande jovialidade – tal como estes vinhos.

Assim acontece com as empresas ou data de assentamento duma família num território. É na assinatura desse contrato que a história começa a contar. A companhia é jovem, criada em 2000, mas as raízes são seculares. A família Vasques de Carvalho estabeleceu-se em meados do século XIX no Vale do Rodo, onde hoje tem cinco hectares de vinha velha, plantada nos tradicionais em socalcos. Como a grande maioria dos agricultores do Douro, os Vasques de Carvalho vendiam o vinho às firmas de Gaia. Porém…

Porém, houve um ano em que José Vasques de Carvalho, bisavô do actual administrador, não abriu mão da colheita. O lavrador guardou tudo de 1880. É uma jóia, confirmando a visão desse lavrador oitocentista.

Ponto de ordem à mesa! O que já se pode conhecer? Além de Vinho do Porto, a Vasques de Carvalho apresenta uma gama de vinhos com denominação de origem Douro. Comum a todos eles, um perfil aromático muito elegante. Uma vez que as uvas brancas são compradas fora, penso que o desenho é arte do enólogo, Jaime Costa, de reconhecida competência. Todos eles muito frescos e elegantes.

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Oxum branco 2013 in vasquesdecarvalho.com

O Oxum Branco 2013 fez-se com uvas das castas viosinho, gouveio e rabigato. É bom vinho para tema de conversa entre enófilos apaixonados em debater os temas do nariz e da boca. Jaime Costa, que tem galões de general, refere «muito mineral, com notas frutadas de pêssego e citrinos maduros». Penso diferente e em concordância com o parceiro de prova: delicado sem ser frágil, com ramalhete de suave jasmim, flor de laranjeira e uma pitada de limão. A boca, infelizmente, fica aquém dos aromas. Cada qual escolha a sua, entre estas duas e outras hipóteses. Mas… belo vinho.

Ora, o branco foi onde mantive maior divergência quanto ao enólogo, que foi persistente nos Douro. Sinceramente, acho que escrever descritores é aborrecido e duvido que alguém vá comprar 0,75 litros de frutos vermelhos…

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Oxum tinto 2012 in vasquesdecarvalho.com

Oxum Tinto 2012 mantém o apetite. Elegante e prazenteiro, com o Douro dentro e uma elegância acima da média. Acima fica o X Bardos Tinto 2012, robusto como um cavaleiro e de bom trato, com notável fundura de boca.

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X Bardos branco 2012 in vasquesdecarvalho.com

Os Tawnies provados divergem entre si. Ah! A elegância aromática estende-se a estes vinhos. A divergência é que esperava bem mais do Tawny 10 anos. Penso que pode ser melhorado.

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Vasques de Carvalho 10 anos Tawny in vasquesdecarvalho.com

Dez anos não são 40, comparáveis em exercício intelectual. O Vasques de Carvalho 40 anos é um vinhaço. Um vinhaço! Um vinhaço! Um vinhaço!

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Vasques de Carvalho 40 anos Tawny in vasquesdecarvalho.com

Votos de sucesso, pois que produtores deste nível são sempre benvindos – recuso-me a escrever bem-vindos, por falta de lógica. Pois… já me esquecia… a firma porá à venda 750 garrafas do vinho de 1880. Uns milhares de litros do tesouro vão continuar sossegados nos tonéis. Um vinho com «tudo» dentro. Só vendo com nariz e boca.

Contactos
Vasques Carvalho
Av. Dr. Antão de Carvalho n. 43
5050-224 Peso da Régua
Douro, PORTUGAL
Telemóvel: (+351) 915 815 830
Tel: (+351) 254 324  263
Fax: (+351) 254 324 263
E-mail: vasquescarvalho43@gmail.com
Website: vasquesdecarvalho.com

Bruxas da Páscoa e Vinho do Porto

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

Chegou a Páscoa. Nós, finlandeses, somos exímios em pegar num feriado religioso, retirar-lhe tudo o que seja religioso e transformá-lo numa grande festa para comer e beber. Claro que há aqueles que seguem a tradição, mas para a maior parte das pessoas é apenas um longo fim-de-semana com amigos e família à volta de uma mesa a passar um bom bocado. Claro que temos uma boa parte de tradições de Páscoa. Os coelhinhos da Páscoa, os ovos de galinha e de chocolate são abundantes. O ovo de chocolate mais famoso é o Mignon e tem estado presente desde os finais do século XIX. Consiste na casca de um ovo verdadeiro recheada com nougat de amêndoa-avelã. Os tradicionais ovos de chocolate ocos não são nada quando comparados a este. Todas as Páscoas há cerca de 2 milhões de ovos Mignon à espera de serem consumidos, um número considerável tendo em conta que são todos feitos à mão.

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Eu e o meu irmão mais velho vestidos de bruxas – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Falando de tradições estranhas da Páscoa, durante este período, os finlandeses também cultivam erva em casa. Calma, não é a ilegal mas sim a normal azevém verde, que é colocada numa pequena taça em cima da mesa para simbolizar o renascimento da vida depois do Inverno e a chegada da Primavera. Além disso há também a tradição de vestir as crianças de bruxas. Sim, é mesmo isso. Acredita-se que antigamente havia, durante a Páscoa, bruxas montadas nas suas vassouras que faziam todo o tipo de travessuras. Agora os miúdos vão de porta em porta vestidos de bruxas, abanando galhos de salgueiro aos estranhos para lhes desejar felicidades, e em troca podem receber alguns doces. Uma estranha mistura de tradições Ortodoxas e Pagãs. Antigamente eram feitas grandes fogueiras para espantar as bruxas, tradição essa que ainda hoje se mantém. Como pode ver na fotografia acima, em criança, costumava passar todas as Páscoas a parecer a avó do Harry Potter.

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Graham’s LBV 2008 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Felizmente a minha carreira como Dumbledore não estava destinada. Em vez disso, posso beber este LBV mágico de 2008 da Graham’s e relaxar com a minha família. Na Finlândia o consumo de vinho sobe um pouco durante a Páscoa. Especialmente o vinho tinto que nas lojas de monopólio atinge mais 64% de vendas do que numa semana normal. O consumo de vinhos de sobremesa também sobe um bocado, o que me traz a este vinho do Porto. Um LBV aveludado é uma bebida excelente para Páscoa. Eu costumo servir Moscato d’Asti com sobremesas mais leves, como panna cotta. Mas com sobremesas de chocolate mais pesadas e com mämmi (uma estranha sobremesa finlandesa) prefiro um LBV firme. 2008 foi o ano da minha primeira visita a Portugal e trabalhei na vindima do Vale do Douro. Lembro-me de que o Verão não foi particularmente quente, para o que Portugal está habituado. Mas para mim, um pálido menino finlandês, parecia que estava a assar no forno e que estava a ficar maduro muito mais rápido do que as uvas. Quando a colheita começou houve algumas previsões meteorológicas sombrias e, mesmo com algumas chuvas, provavelmente muito necessárias, a qualidade do vintage saiu muito boa. Especialmente nalguns Single Quintas e, o nível do LBV é, na verdade, mais do que bom.

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Vinho do Porto e Gouda Velho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Com este firme mas delicado LBV Graham’s 2008 optei por algo super clássico no que toca à harmonização. Vinho do Porto e um queijo Gouda velho a desfazer-se é, provavelmente, a minha harmonização favorita de sempre. Quando o queijo se desfaz em pequenos cristais salgados na boca e o ingerimos juntamente com este vinho do Porto rico, frutado e com muita profundidade…o resultado final é, provavelmente, a coisa mais próxima da perfeição. O Porto tem já alguns anos e, sendo um LBV, começa já a ganhar aquela suavidade atraente em torno das bordas, continuado a ser vibrante e delicioso. Vou saborear este vinho com um grande sorriso no meu rosto e manter o copo debaixo de olho para que as sedentas bruxas da Páscoa não o venham roubar.

Contactos
Graham’s Porto
Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel: (+351) 223 776 484 / 485
Email: Lodge: grahams@grahamsportlodge.com
             Geral: grahams@grahams-port.com
Website: www.grahams-port.com

Herdade das Servas

Texto José Silva

Na imensidão do Alentejo, entre Estremoz e o Vimieiro, mesmo à face da estrada nacional N4, a Herdade das Servas ocupa uma enorme extensão de terreno, a maior parte pelos imensos vinhedos da herdade.

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Herdade das Servas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

São vinte e duas castas brancas e tintas, entre nacionais e estrangeiras, que povoam os cerca de 220 hectares de vinhas, divididos por quatro vinhas em espaços diferentes, que a família Serrano Mira tem vindo a plantar há várias gerações, até ao presente.

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Vinhas Modernas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Vinhas a abrolhar – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Vinhas modernas, bem conduzidas, com rega gota a gota, que dá gosto ver e que na nossa visita começavam já a abrolhar.

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Instalações Administrativas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Também no mesmo terreno estão as instalações administrativas, a loja de venda de produtos e o moderno restaurante, já a funcionar muito bem.

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A Adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E, claro, a adega, que também tem vindo a aumentar, seguindo as necessidades de vinificação de maior quantidade de uvas nos últimos anos.

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Adega muito bem equipada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Adega que está muito bem apetrechada, com toda a tecnologia moderna de controle de temperatura e de depósitos de inox onde fermentam primeiro e estagiam depois a maioria dos vinhos, após um trabalho cuidado de escolha das uvas quando estas chegam à adega, a partir do fim do mês de Agosto.

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Sala de Barricas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Também na adega há uma sala de barricas, muito fresca, com muito pouca oscilação de temperatura, onde vão descansar os grandes tintos das Servas, antes de serem engarrafados.

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Amália – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Como curiosidade, há uns anos atrás, da colheita de 2006, a Herdade das Servas engarrafou e lançou no mercado, juntamente com a Fundação Amália Rodrigues, um vinho tinto que se chama precisamente Amália, numa homenagem singela à grande diva do fado.

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O Novo Restaurante – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No novo restaurante, com belíssimas instalações, muito bem decorado, mesmo com algum requinte, fizemos uma refeição de aromas e paladares alentejanos, como deve ser, na companhia de Luís Mira, enólogo e proprietário e Tiago Garcia, enólogo residente.

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Dois Irmãos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Dois irmãos já com muita experiência neste mister, ela a chefiar a cozinha e ele a tomar conta da sala, exploram este restaurante que funciona nas instalações da quinta mas que está aberto ao público. Mesas muito bem postas e serviço impecável proporcionam uma refeição tranquila para apreciar comida e vinhos com tempo.

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Pão Alentejano – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Manteiga e Manteiga com Chouriço – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O pão alentejano delicioso esteve sempre presente, para barrar com manteiga normal e manteiga com chouriço, e para acompanhar uma deliciosa paioca de porco preto.

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Paioca – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois vieram os sonhos de farinheira, tostadinhos e saborosos, popularmente conhecidos por “papa ratos”.

 

A representar os cogumelos alentejanos estavam as túberas salteadas em azeite e alho e umas enormes silarcas recheadas, bem boas.

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Silercas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Pratos Principais – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Como pratos principais vieram à mesa costeletinhas de borrego panadas, empada de perdiz, os tradicionais pezinhos de porco de coentrada e um belo borrego assado no forno, tendo por companhia batatas fritas às rodelas e aos palitos, em ambos os casos excelentes e umas migas de espargos cativantes.

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Empada de Perdiz – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Borrego Assado no Forno – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Fechou-se com a simplicidade e bom gosto duma pêra bêbada deliciosa.

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Pêra Bêbeda – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Uma das apostas do restaurantes é ter apenas vinhos da Herdade das Servas na sua carta, o que se compreende.

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Monte das Servas Escolha branco 2014 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Durante esta bela refeição provamos primeiro o branco de 2014 Monte das Servas Escolha, um vinho ainda muito novo mas já cheio de vida, fresco e elegante, irreverente, com óptima acidez e frutos brancos equilibrados, servido bem fresco, esteve muito bem.

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Herdade das Servas Colheita Selecionada tinto 2012 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois entramos nos tintos, com o Herdade das Servas Colheita Selecionada de 2012, um vinho alentejano moderno, fresco, com boas notas de frutos vermelhos, limpo, taninos muito redondos, um vinho que pede comida.

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Herdade das Servas Reserva 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Terminamos com outro tinto, o Herdade das Servas Reserva da colheita de 2011, um vinho sério, cheio de elegância, com alguma complexidade no nariz, notas de frutos pretos intensas, acidez muito equilibrada, óptimo volume de boca e um final prolongado que prolonga também o prazer que este vinho nos dá.

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Licor Poejo Montemorense – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ainda houve tempo, já com o café, de recordar o paladar dum digestivo bem típico do Alentejo, um licor de Poejo

E lá partimos, com vontade de ali voltar em breve.

Contactos
SERRANO MIRA SA
Herdade das Servas
Apartado 286
7101-909 Estremoz -Portugal
Tel: (+351) 268 322 949
Fax: (+351) 268 339 420
Email: info@herdadedasservas.com ou restaurante@herdadedasservas.com
Website: www.herdadedasservas.com

Herdade de Rio Frio Branco 2013 e Herdade de Rio Frio Tinto 2013

Texto João Barbosa

Sou um nostálgico, ou não tivesse seguido o estudo de História. Não há futuro sem presente, nem presente sem passado. O tempo não retrocede, mas de trás podem colher-se conhecimentos úteis.

Não foi apenas a proximidade de Lisboa, capital e maior centro de consumo do país, que ditou que a margem esquerda do Tejo fosse farta em vinho. Quando uma vinha atinge 4.000 hectares não há acaso. Quem gosta de história que espreite o sítio na internet, que tem para ler.

A Herdade de Rio Frio – certamente uma das maiores propriedades rurais portuguesas (possivelmente já foi mais vasta), com 5.200 hectares – teve a maior vinha do mundo. Hoje são 118 hectares de vinha nova.

O negócio de outrora – décadas – é muito diferente do que o de hoje; o mundo mudou. Antigamente, a quantidade era o objectivo primeiro. Hoje, a empresa aposta no segmento «premium» e na exportação. A enologia está a cargo de Mário Andrade.

A estreia fez-se com um branco e um tinto, ambos classificados como Regionais Península de Setúbal e da colheita de 2013. Mais tarde virão néctares com Denominação de Origem Controlada Palmela e – ainda bem – Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo de Setúbal.

A prova dos dois vinhos deu-me juízos diferentes. Não me refiro a qualidade, mas ao monstro totalitário da subjectividade que me ataca quando escrevo opinião. Tem a ver com o branco, e já explico.

O Herdade de Rio Frio Tinto 2013 dá prazer a quem gosta de vinhos com calor – não estou a dizer nem sopa nem compota – no carácter, mas frescura na boca. As uvas que tem no lote são conhecidas, ainda que uma delas comece agora a dar muitos mais sinais de vida fora do Douro: a touriga franca.

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Herdade de Rio Frio tinto 2013 in www.rio-frio.eu

Quanto a mim, a touriga franca é a melhor casta tinta portuguesa e que explica o «fenómeno» do Douro. Não é uma variedade solista, é «a equipa», que faz jogo, puxa pela equipa, recupera bolas, recua para defender e lança o contra-ataque. Aqui representa 30%. A syrah deu muito boas provas no Alentejo e a localização da Herdade de Rio Frio é também ela quente, representa outros 30%. A merlot surpreendeu-me e os seus 40% dão brilho.

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Herdade de Rio Frio branco 2013 in www.rio-frio.eu

Já o Herdade de Rio Frio Branco 2013 sofre do «elemento patogénico» designado por antão vaz. Se a casta tem tantos adeptos e vinhos tão elogiados, quem estará a ver mal serei eu, mas estou aqui para dizer o que penso.

Os enólogos têm percebido que «abominável» melhora com a arinto – para mim a melhor uva branca portuguesa – que dá vida e boas maneiras «à coisa». Fez-se com antão vaz (30%), arinto (30%), fernão pires (20%) e verdelho (20%) – uma equipa de calor e frescura. Um vinho equilibrado.

Tenho um amigo que garante que o melhor Vodka-Vermute se faz da seguinte forma: deita-se o vermute no copo e despeja-se todo. Depois coloca-se o vodka e bebe-se. É o que penso da antão vaz… talvez mais ainda. Reconheço que tenho bebido bons vinhos com antão vaz, em todos eles um factor comum: não se sente «a famigerada».

Foi calor enjoativo da antão vaz o que me entristeceu neste vinho, que globalmente apreciei. Sou provavelmente hiper-sensível… e reconheço que o problema deve ser meu e não do mundo. Quem gostar desta casta terá aqui prazer.

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Herdade de Rio Frio
2955-014 Pinhal Novo
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O vinho é amigo e o psicólogo é psicólogo

Texto João Barbosa

Por motivos de saúde, que não vou partilhar a razão, fiz análise face-a-face e psicanálise. A minha experiência não cabe na piada, certamente com muitos exemplos de verdade, de que o paciente fala e o analista adormece, boceja ou pensa que ainda tem de ir ao supermercado.

Garanto que não. A minha analista, que vou manter em recato, é a melhor do mundo! Não que eu tenha feito análise com todos os analistas do planeta, mas porque é verdade. E uma verdade é uma verdade. Uma verdade nunca se irá desmentir ainda que elementos da investigação possam indicar um outro caminho… é como as mães: «melhor do mundo»!

Quem fez análise, com um bom profissional, percebe o que estou a afirmar. Ajuda muito ter alguém que, não sendo família nem amigo nem colega de trabalho, nos ajuda, com conselhos não vinculativos, fazendo de espelho, colocando questões, obrigando-nos a pensar.

Dizer que as depressões, os esgotamentos ou os vícios não se curam, no todo ou em parte, com apoio de especialistas não sabe o que diz. Há quem diga que são males dos ricos, dos ociosos e preguiçosos, dos tolos, etc.

Não! Não! E não! Mas uma coisa é certa; a análise não se realiza em cinco sessões e depois recebe-se alta. É cara. O caro é sempre relativo. Se temos uma qualquer doença e se o tratamento custa muitos euros, esse dinheiro acaba por não contar. Todavia é uma soma considerável, cada um sabe da sua algibeira e cada psicólogo tem o seu preço por consulta.

Os psicólogos não fazem a vez da família nem dos amigos. Embora se criem relações emocionais e afectivas, o psicólogo é um profissional especializado.

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Os amigos são como o vinho – em toda a crónica escrevo «vinho», porque é essa a bebida a que estou ligado na Blend, mas o correcto é afirmar «álcool». Dão apoio, mas não ajudam a curar. Com o vinho é quase a mesma coisa. Uma festa sem vinho promete ser uma chatice – claro que há os abusadores e aqueles que, devido a alcoolismo, têm de se abster.

O vinho dá alegria, solta-nos, desbloqueia conversas, faz rir. Que bom ter uma conversa a quatro: «eu, o amigo e dois copos». Penso que um pifo, de vez em quando, pode ser positivo. Desde que seja de vez em quando e a seguir não se tente conduzir o automóvel ou trabalhar com máquinas ou cirandar na sua proximidade.

Podemos ter amigos ou compinchas no local de trabalho, mas trabalho é trabalho e conhaque é conhaque. No serviço estamos a cumprir uma missão, que será remunerada no final do mês.

O que escrevi acima acerca do pifo «higiénico» é absolutamente questionável e condenável para muitos. Não é um dogma. O amigo que nos dá o ombro para chorar ou o abraço de alegria pode ser tão desastrado quanto o excesso de álcool, apesar da generosidade.

O vinho ajuda a esquecer? Tirará algum peso, mas não apaga a memória. O vinho faz uma festa? Certamente que, sozinho, não a faz. O vinho, para um enófilo como eu, é um amigo. Não é o cônjuge, com quem se partilha a cama, a mesa, as tarefas domésticas e as contas.

Dizem muitos médicos que beber um copo de vinho às refeições (ou só numa), faz bem. Dizem sempre tinto, pelo que suponho ser por essa substância válida esteja na película. Se assim é, talvez comer uvas seja mais saudável.

Uma outra situação, essa muito grave e porta larga para o alcoolismo, é matar a sede com vinho. O álcool, além de poder criar estados alterados de consciência, em excesso é nocivo, de curto a longo prazo, além de desidratar.

A água é o melhor líquido para matar a sede. Não há melhor. A água é a melhor bebida do mundo. O vinho pode ser um bom amigo ou uma má companhia. É amigo, não resolve. Para resolver há a água e o psicólogo.

A Santa Aliança dos Cheesburgers e Vinho do Porto

Texto Ilkka Síren | Tradução Bruno Ferreira

Antes que começem já com “Não, ele não pode ter feito isso”, pensem nisto por um bocadinho. Não é suposto a harmonização de vinho e comida ser uma coisa impossível. E, se pensarmos demasiado na questão corremos o risco de ficarmos entediados pela nossa própria curiosidade. O que vos quero dizer é: fiquem-se pelo simples. Descobrir uma boa harmonização de comida e vinho é, para mim, algo excitante e as regras são, não há regras! Sim, por vezes é preciso arriscar e experimentar algo que normalmente não associamos a certos vinhos. Neste caso foi um cheeseburger com vinho do Porto.

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Cheeseburger e rolha da garrafa acabadinha de abrir – Foto de Ilkka Síren | Todos os Direitos Reservados

Quero desde já deixar uma coisa perfeitamente clara. Eu amo vinho do Porto. Estou sempre a provar todo o tipo de vinhos, cervejas, cidras e bebidas espirituosas e tudo o que tenha o seu quê de <oomph>. Mas nada chega aos calcanhares de um bom vinho do Porto. É simplesmente um incrível e delicioso líquido. Existem muitas comidas boas para acompanhar com vinho do Porto. E, apesar de ser maioritariamente associado a sobremesas, acho que é muito mais gastronomicamente versátil do que isso. Confesso que esta harmonização Hamburger-Porto começou por ser apenas uma semi-intencional tentativa de provocação. Já ouvi pessoas a falar de harmonizações como por exemplo, vinho do Porto e bife suculento com pimentos. Então pensei, porque não fazê-lo com algo ainda mais comum, tipo um hambúrguer. Uma voz dentro da minha cabeça dizia-me que não iria funcionar, mas já aprendi a suprimir esse instinto.

Não quis estar a elaborar muito, sabia que para isto funcionar teria que ser com um cheeseburger, ou melhor, um DOUBLE-cheeseburger. Acompanhar queijo com vinho do Porto é bastante comum e algo de que eu gosto muito. Sempre gostei mais da combinação de sabores doces com salgados do que de doce com doce. Fazer hamburgers não é, normalmente, tarefa complicada, mas a escolha dos ingredientes é a chave para que esta harmonização funcione. Um bom bife com uma pitada de pimenta preta, queijo cheddar – nada dessas porcarias pré-cortadas – e ainda fiz a minha própria maionese de chipotle para conferir um bom sabor picante ao conjunto. Cebola vermelha em conserva para a acidez conferir algo especial e essencial ao hamburger. Nunca esquecendo a verdadeira definição de um bom hamburger: tem de ser possível comê-lo com as mãos.

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Ferreira LBV 2009 – Foto de Ilkka Síren | Todos os Direitos Reservados

Quanto ao Porto, escolhi um LBV Ferreira 2009. Queria algo acessível mas com uma boa estrutura. Este vinho é incrivelmente saboroso. Adoro a sensação na boca, a textura e a fruta inicial com um final picante. Para que esta harmonização funcione, o vinho não pode ser um vinho tímido, tem que ter presença. Este vinho não só tem isso como tem uma excelente relação qualidade/preço e é um exemplo de um bom Porto.

Agora querem saber, certo? Se estava bom? Sim, estava. Pode não ser a combinação mais elegante mas garanto que foi uma das melhores que tive o prazer de saborear nos últimos tempos. Se gostar de cheeseburgers (quem não gosta, certo?) e de vinho do Porto (duh!) então vai gostar desta combinação. Esqueçam por um bocado o snobismo vínico e desfrutem de uma coisa simples mas com comida muito saborosa. A ideia é baixar a fasquia no que toca à experimentação com comidas diferentes. Dito isto, a fasquia da qualidade deve ser sempre elevada. Experimente, e se não gostar experimente uma coisa diferente. Afinal o importante é divertirmo-nos.

Coleção Privada Domingos Soares Franco Moscatel de Setúbal (Armagnac)

Texto João Pedro Carvalho

Nasci e fui criado no Alentejo, mais propriamente em Vila Viçosa, quis a vida que aos meus 18 anos tivesse vindo estudar para Lisboa. Numa altura em que o vinho pouco me dizia a não ser por motivo de estar à mesa com os amigos lá se ia abrindo uma garrafa. E aqui novamente o destino colocou-me a morar paredes meias com um dos principais distribuidores de vinho da região de Lisboa. Não me lembro das vezes que lá entrei, na memória apenas retenho o muito que aprendi com as horas de conversa, os muitos vinhos que durante anos fui comprando e conhecendo, muitos deles acabadinhos de chegar dos produtores que na altura surgiam como cogumelos. O interesse pelo mundo do vinho foi crescendo e crescendo, fizeram-se as devidas formações e desta forma fui acompanhando já de forma mais consciente o evoluir de muitas dessas referências, o evoluir de muitos desses produtores.

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Coleção Privada Domingos Soares Franco Moscatel de Setúbal (Armagnac) – Foto de João Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Um daqueles momentos marcantes foi a descoberta dos grandes exemplares de Moscatel de Setúbal da José Maria da Fonseca ou mesmo do Bastardinho. E durante largos anos, hoje ainda se mantém, sempre que havia um jantar mais especial de amigos lá surgiam aquelas garrafinhas de Alambre20 Anos ao final da refeição para satisfação de todos.

Numa dessas visitas tinha acabado de chegar um novo lançamento da José Maria da Fonseca, um Moscatel a que o seu enólogo Domingos Soares Franco, decidido em inovar, chamou Colecção Privada. Fruto de uma investigação que durou cinco anos de ensaios com quatro tipos distintos de aguardente: neutra, Cognac, Armagnac e 50/50 Cognac Armagnac. Resultado foi que prevaleceu a escolha no Armagnac pela subtileza, frescura, complexidade e harmonia que mostra durante a prova. O envelhecimento é feito em cascos de madeira usada, sem estágio posterior em garrafa pois não evolui após o engarrafamento.

Sem ter todo aquele porte mais denso e melado que os exemplares mais velhos e de categoria superior, este Coleção Privada Domingos Soares Franco 2004 banhado com Armagnac mostra-se fresco e delicado, ao mesmo tempo que desperta o lado mais guloso. Muita tangerina, caramelo, alperce, tília, muito bem composto com um palato forrado de sabor, elegante e suavidade da fruta com caramelo e calda de laranja, acidez muito presente até final. Despedida longa e persistente, numa belíssima harmonia entre as sensações tanto do aroma como do palato. Para mim que sou guloso é parceiro ideal com uma torta de laranja.

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Para a mesa com Pouca Roupa

Texto João Barbosa

Há expressões engraçadas, que, de tão usadas, nem reparamos nem pensamos no que querem dizer… «Foi resvés Campo de Ourique» – o maremoto de 1755 quase chegou à colina de Campo de Ourique. Basta esta, pois não quero escrever um texto para almanaque.

No mundo da gastronomia – em que me centro apenas na componente vínica ou de outras bebidas – há igualmente expressões que dão jeito e, na pressa de se dizer o que se quer, o maremoto leva-lhe parte.

A minha expressão favorita é a do «vinho de piscina». A imagem é maravilhosa – mesmo não pensando num tanque cheio de vinho. Calor, sol, família e amigos. Tudo jóia! Mas… quantos de nós têm piscina ou conhecem alguém com piscina?

Infelizmente não tenho piscina. Azaruncho privado. Outra imagem é do vinho para depois da praia, quando as senhoras se enrolam nuns panos coloridamente desbotados e os homens enfiam os pólos tronco abaixo, contorcendo-se com a canção desagradável do sal, algodão e pelo.

Estiraçados nas cadeiras da esplanada – nas férias tudo é permitido – a ver o mar e o sol a pôr-se, bebendo um «vinho para depois da praia». Tudo jóia! Mas… quantos de nós tem arcaboiço para beber um copo de vinho entre a areia e a casa? Além da questão do volante… Ao jantar, é diferente. Mas, «vinho para depois da praia»?!

Não importa! «Vinho de piscina» e «vinho para depois da praia» são expressões fantásticas. E vêm a propósito de quê? Da nova marca de vinhos de João Portugal Ramos. É um achado!

«Pouca Roupa»! Duas palavras que sintetizam o que já era sintético: «vinho de piscina» e «vinho para depois da praia». Confesso que ao saber do «Pouca Roupa» lembrei-me de toda uma gama: Biquíni (bivarietal), Monoquini (monocasta), Triquini (três, claro)… já Tanga e Sunga… Nudismo, depois de esvaziada.

O que conta esta marca, que se veste de «negro, branco e rosa»? Desde logo um prazer fácil, directo ao assunto. Todos eles, mas uns mais felizes do que outros, o que é normal. São os três Regional Alentejano e referentes à vindima de 2014

Pouca Roupa tinto 2014

O Pouca Roupa Tinto 2014 é um alentejano temperado com Dão… ok, touriga nacional. A touriga nacional é do mundo, pelo que também do Alentejo, onde ocupa áreas significativas. O lote é composto ainda por alfrocheiro e alicante bouschet.

Ora o que tenho a dizer: 14% de álcool é demasiado. Sendo que tem acidez que o aguenta, o organismo não quer saber. A graduação é elevada se pensarmos em «pouca roupa». Só lhe aponto a graduação, é prazenteiro.

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Pouca Roupa branco 2014

O Pouca Roupa Branco 2014 é um alentejano diferente, em que viosinho, sauvignon blanc e verdelho se orquestram nos sentidos. Mais uma vez, boa acidez e a pedir comida leve. Aplaudo os seus 12,5% de álcool.

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Pouca Roupa Rosé 2014

O Pouca Roupa Rosé 2014 fez-se com uvas touriga nacional, aragonês e cabernet sauvignon. Guloso! A acidez mais do que aguenta os 13% de álcool. Porém, parece-me uma percentagem excessiva, quando penso em «pouca roupa».

Agora resta esperar que a Primavera seja simpática e o Verão seja amigo. Que o tempo de prazer não signifique maldade para as lavouras. Fiz a primeira recomendação a um amigo que tem piscina.

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