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Caiado(s) de fresco

Situada em Campo Maior, fica a Adega Mayor de onde nos chegam estas três referências da marca Caiado, que funcionam como entrada de gama do referido produtor. Apresentaram-se na última colheita (2015) com uma nova roupagem, pelo que se pode dizer que estão caiados de fresco. Disponíveis em tinto, rosé e branco, são vinhos onde a fruta é dona e senhora de todas as atenções. Destaca-se essencialmente a cuidada imagem, mas acima de tudo a qualidade que nos apresentam no copo é digno de realce. Todos eles são frescos, alegres e de perfil bem gastronómico, a pedirem mesa e companhia à sua volta.

Caiado logo

Logo – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

O Caiado branco 2015 feito a partir do lote das castas Antão Vaz, Arinto e Roupeiro, apenas com passagem por inox o que é algo que em termos de vinificação os mete todos no mesmo patamar. Depois são os aromas frescos e maduros, limpos, de uma fruta muito sumarenta e perfumada. A acidez dá a frescura suficiente para lidar com os mais triviais petiscos que nos surjam à mesa e porque não as Sopas de Cação ou uma Caldeta do Rio, tem estofo para tal e o problema é em conseguir ter garrafas suficientes para todos aqueles que se juntem à nossa mesa.

No interlúdio entre peças, diga-se pratos, abrimos o Caiado Rosé 2015 que é filho das castas Aragonês, Castelão e Touriga Nacional. Mudam os aromas e muda o tom, mudamos pois para os morangos, amoras e ameixa, tudo maduro e com um toque guloso de rebuçado. Picamos uma rodela de chouriço frito, depois mais outra, agora um bocadinho de farinheira sem problemas que o vinho aguenta pois tem frescura suficiente para tal. Damos conta e temos à frente umas Sopas de Tomate com Capelas, este Rosé como bom Alentejano porta-se à altura e quando damos conta no final nem Sopas nem vinho.

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Vinhos– Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Aguardamos então, com o Caiado tinto 2015 no copo, pelo próximo prato. Este tinto criado a partir do lote Aragonês, Trincadeira e Alfrocheiro mostra o lado mais morno da planície, sem por isso ter a sua dose de frescura e candura. Afinal de contas as Burras de Porco Preto tinham sido lentamente estufadas, ou direi caiadas, por este tinto. Uma combinação perfeita com o vinho a mostrar ter estrutura e frescura suficientes para a empreitada.

Texto João Pedro de Carvalho

Herdade do Mouchão, Tonel 3-4 2011

Ouvir falar em Herdade do Mouchão é lembrar no imediato de grandes vinhos que têm vindo a deliciar gerações de apreciadores, o seu nome teve a capacidade de se afirmar com o passar dos anos num dos ícones indiscutíveis do Alentejo, um vinho que faz parte do desejo de qualquer enófilo e é sem dúvida alguma um dos grandes produtores a nível nacional. A sua história da Herdade do Mouchão começa por volta do ano de 1825, quando o inglês Thomas Reynolds se instala no Porto como negociante de Vinho do Porto, três gerações passaram e o seu neto, John, envolveu-se no negócio da cortiça e comprou um número razoável de propriedades no Alentejo. A Herdade do Mouchão foi uma dessas herdades, com 900 hectares em que 70% são ocupados por montado de sobro. Do negócio da cortiça cedo se expandiu para o vinho,  plantou-se vinha (onde viria a surgir a Alicante Bouschet em Portugal) com a respectiva adega a ser construída entre os anos de 1901 e 1904. Com o passar dos anos a produção de vinhos foi sendo aperfeiçoada e seria na década de 50 que a marca Mouchão iria surgir no mercado pela primeira vez (1954), mantendo-se na mesma a produção de vinho a granel. Naquela altura a área de vinha já tinha sido aumentada, as vinhas de Alicante Bouschet trazidas de França seriam responsáveis por alguns vinhos míticos, tinha nascido no Alentejo um dos grandes produtores de vinho. Após o 25 Abril de 1974 a Herdade foi expropriada e tomada pela “Cooprativa 25 de Abril” da Casa Branca, apesar dos seus proprietários nunca terem abandonado a sua casa, a Herdade do Mouchão e a Adega apenas seriam devolvidos em 1985 num estado degradado e com grande parte das vinhas a terem deixado de produzir com outra tanta parte arrancada e substituída por outras variedades de maior rentabilidade, a grande maioria dos stocks dos melhores e mais antigos vinhos tinha sido vendida ao desbarato. Naquela altura foi necessário começar do zero, a vinha velha teve de ser arrancada, replantada e reformulada. Nos dias que correm, um século depois da sua fundação, a Herdade do Mouchão continua em plena forma e na posse da família Reynolds.

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Herdade do Mouchão – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Da Vinha  à Adega e a Vinificação

A vinha nos seus 38 hectares totais é composta por várias parcelas espalhadas pela Herdade do Mouchão, as vinhas da Dourada, das Canas, a Vinha Nova das Canas, da Barragem, a Vinha do Mouchão Velho e a mais especial de todas a Vinha dos Carapetos onde mora a parcela mais antiga de Alicante Bouschet. Nas restantes parcelas os encepamentos variam entre Trincadeira, Aragonez, Touriga Nacional, Touriga Franca, Castelão e Syrah,  nos brancos o Antão Vaz, Arinto e Perrum. No Mouchão a tradição fala mais alto, ainda bem para os consumidores, os vinhos mantém um cunho muito próprio fruto de um apurado terroir e de cepas de Alicante Bouschet muito velhas. Adega singela e cheia de carisma onde tudo parece imaculado com os seus imponentes e velhos toneis de madeira ( Mogno, Castanho, Carvalho e Macacaúba)  e algumas pipas mais velhas a recordar que o tempo é inquilino daquela casa vai para mais de 100 anos, ali mesmo onde a família de adegueiros se mantém há três gerações, guiados por Iain Reynolds Richardson o actual proprietário, num garante de que o saber fazer se vai mantendo ao longo dos anos e não se vira costas aos saberes do antigamente. A uva é escolhida e vindimada manualmente, transportada para a adega onde é esmagada e fermentada com os engaços nos nove lagares de pedra ali existentes. A pisa a pé é efectuada para todos os vinhos tintos do produtor, caso raro por terras do Alentejo, depois de fermentado o vinho é trasfegado para os tonéis que variam entre os 2.500 e 5000 litros de capacidade, onde efectua a maloláctica e onde estagia por períodos que variam entre os 4 e os 7 anos. Parte dos vinhos estagia também em barricas de carvalho francês de 225 litros. Em jeito de curiosidade no pico do Verão quando as temperaturas são mais elevadas, o adegueiro por volta das 6 da madrugada abre todas as janelas da adega com o objectivo de refrescar o local, sendo que por volta das 9 horas todas as janelas voltam a ser fechadas de forma a preservar ao máximo a temperatura interior. A enologia está a cargo do Enólogo Paulo Laureano.

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Vinha – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Alicante Bouschet

Falar-se na Herdade do Mouchão é ter de falar na casta vinda de França de seu nome Alicante Bouschet, que se instalou ali pela primeira vez na Vinha dos Carapetos e seria ali naquele fantástico e mágico local que daria o tiro de partida para aquilo em que se transformou nos dias de hoje, a grande casta do Alentejo. Da mal-amada por França a glorificada no Alentejo, a casta que se adapta a climas quentes e que foi menosprezada pelos Franceses, de tal forma que quando os Rothchild compraram a “Quinta do Carmo” nos anos 90, decidiram de forma pouco inteligente destruir todas as vinhas velhas de Alicante Bouschet que esteve na origem dos grandiosos vinhos da marca. Como casta é tintureira, polpa e sumo escuros, criada em laboratório por um professor de viticultura francês de nome Henri Bouschet, ao cruzar Grenache e Petit Bouschet em 1865, não muito depois viria para o Alentejo brilhar. Casta vigorosa que produz vinhos intensos e bem estruturados de grande longevidade, fruto da boa acidez e dos taninos que mete à disposição. De aromas a lembrar frutos silvestres, azeitona, especiado e vegetais, travo de bálsamo marca todos os tintos.

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Vinhos – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Vinhos com história

A determinada altura na Herdade do Mouchão, quando a superfície total de vinha era superior ao actual, nem sempre se conseguia vender toda a produção. Desta forma os vinhos que não se vendiam iam ficando armazenados e a determinada altura verificou-se que aqueles vinhos ganhavam com um estágio prolongado em adega. Na realidade o primeiro Mouchão engarrafado veria a apenas a luz do dia em 1949 seguido do 1954 e o 1963. O que aconteceu pelo meio desapareceu com a ocupação da Cooperativa Agrícola 25 de Abril. Apesar de tudo isto, a gama de vinhos tem vindo a ser aumentada com o passar dos anos, o primeiro vinho e o que goza de maior prestígio é o Mouchão, já teve na sua altura a edição em branco mas foi descontinuado, hoje só mesmo tinto, onde brilha o duo Alicante Bouschet com Trincadeira. Depois surgiu em 1990 o Dom Rafael, o nome homenageia o primeiro proprietário da Herdade do Mouchão, tal como o Dona Cristina que homenageava a sua esposa. Foi já em 1996 que aparece o vinho mais especial da casa, o Mouchão Tonel 3-4 assente numa base das melhores uvas de Alicante Bouschet. Em 2005 surge o mais moderno Ponte das Canas. Os anos de 1994 e 1995 foram trágicos com a geada a dizimar por completo a produção.

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Tonel Nº3 – 4 – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Mouchão Tonel nº 3-4 2011

Em anos de colheitas excepcionais e comprovada a sua qualidade, a equipa de enologia da Herdade do Mouchão reserva cerca de 10 mil litros de vinho nos famosos tonéis 3 e 4, de carvalho português, macacaúba e mogno, onde estagia durante 36 meses. O Herdade do Mouchão Tonel Nº 3-4 2011 é um vinho que carrega a responsabilidade de respeitar a casta e a tradição em anos excepcionais. Pleno de garra, profundidade e complexidade, é produzido a partir de uma cuidada selecção de uvas Alicante Bouschet provenientes da emblemática Vinha dos Carapetos, berço da casta em Portugal.

É um verdadeiro colosso que como poucos tem a capacidade de vergar autênticas plateias de apreciadores. A potência surge aliada a uma finesse que lhe assenta que nem uma luva de cetim, musculado mas bem torneado, de aromas limpos e cintilantes, enorme a fruta (bagas silvestres) bem madura e suculenta envolta em aromas de eucalipto. De copo na mão somos transportados para a Vinha dos Carapetos, de perfil amplo, profundo, com uma frescura que percorre todos os recantos. A complexidade cresce com o tempo que passa no copo, sem nunca largar aquele ligeiro terroso lá no fundo.

Texto João Pedro de Carvalho

Meruge, o charme da Lavradores de Feitoria.

As mais recentes colheitas do vinho Meruge, branco e tinto, foram recentemente apresentadas na Taberna da Rua das Flores. Esta marca criado pela Lavradores de Feitoria (Douro), teve direito a uma vertical de cinco tintos e cinco brancos, com a respectiva palestra dada pelo enólogo responsável, Paulo Ruão. ‘Meruge’ é um peculiar e “sonante” nome na história da Lavradores de Feitoria, começou por ser o nome de uma das 19 quintas que compõem o portefólio da empresa – Quinta da Meruge, situada no concelho de São João da Pesqueira e que assim se chama porque ali habitam, entre vinhas, muitas ervas silvestres com esta designação (aka morugem) –, mas rapidamente passou da vinha ao vinho! Em 2001 a Lavradores de Feitoria lançava os seus primeiros “vinhos de quinta” e, um deles, era precisamente o ‘Quinta da Meruge’, um tinto de 1999, que se repetiu nas colheitas de 2000 e 2001. Estávamos em 2005 quando a Lavradores de Feitoria lançou o seu primeiro “vinho de terroir”, um tinto da colheita 2003 a envergar precisamente o nome ‘Meruge’. Mais tarde, na vindima de 2009 nascia o ‘Meruge branco’.

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Vinhos Brancos – Foto de Ricardo Bernardo| Todos os Direitos Reservados

Sendo o ‘Meruge branco’ um Douro feito com Viosinho em estreme pode, a certo ponto, assumir-se que a sua história – ou gestação – remonta à vindima de 2007. Neste ano, a equipa técnica da Lavradores de Feitoria identificava um Viosinho de excelência, nascido de vinhedo com mais de 45 anos e que permitia a sua vinificação a solo. Considerada uma das melhores castas autóctones do Douro e Trás-os-Montes deu origem ao ‘Três Bagos Viosinho’, nas colheitas de 2007 e 2008. Um néctar que em 2009 evoluiu – e assim se manteve – para um caminho diferente: ao estagiar em madeira “deu salto” para a gama ‘Meruge’. Um chamado “branco de Inverno” que tem a particularidade de fermentar e estagiar seis meses em barricas de carvalho português, de Palaçoulo, novas e em cru – sem “queima/tosta” –, o que lhe imprime um carácter muito próprio. O desfile começou nos brancos e com cinco referências, desde 2010 ao novíssimo 2015 que será colocado no mercado no início do ano que se aproxima. Notável a frescura e limpeza de aromas que todos mostraram, num fio condutor comum a todos eles, permitindo entender como aromas e sabores iam evoluindo na passada do tempo.

Meruge branco 2015: Desde o mais novo ao mais velho, a barrica onde estagiaram nunca lhes chega a marcar a alma e o corpo, nota-se ligeiramente mas sem os tradicionais fumados, mesmo no exemplar mais recente. É comum a todos eles uma bonita e perfumada complexidade, enorme elegância com muitos aromas de cariz citrino, floral acompanhado de folha verde, ligeiro toque de madeira quase que acetinado no fundo. Na boca faz-se notar uma muito boa frescura que sempre presente, alarga para sabores de fruta bem fresca e ácida, boa estrutura com suporte na acidez e num fundo de sensação mineral. A guardar algumas se entretanto conseguir resistir aos seus encantos.

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Vinhos Tintos – Foto de Ricardo Bernardo| Todos os Direitos Reservados

No que aos tintos diz respeito, a Quinta da Meruge apresenta características muito especiais, principalmente na casta Tinta Roriz, plantada uma vinha de encosta virada a Norte. Um desafio para a equipa de enologia da Lavradores de Feitoria, que na vindima de 2003 encetou uma forma de vinificar distinta, a fim de dar origem a um tinto – de seu nome ‘Meruge’ – com características do Douro, embora mais suave e elegante. O lote – de Tinta Roriz (80%) e Vinhas Velhas (20%), com predominância de Touriga Franca e Touriga Nacional – estagia em barricas novas de carvalho francês.

Meruge tinto 2014 é aquilo a que se pode chamar, vinho de charme, com a Tinta Roriz a brilhar bem alto dando origem neste caso a um vinho de perfil mais Borgonhês. Um belíssimo vinho que como ficou provado, desenvolve uma fina complexidade na passada larga do tempo, não seja de estranhar a maneira como se mostra na fase mais jovem com ligeiro aroma terroso, mato rasteiro, cogumelos e especiaria, dando lugar a uma fruta bem ácida e marcante com chocolate e especiaria. Com muito boa presença na boca deixado pela fruta (cereja ácida) suportada por uma estrutura firme, com frescura, passagem saborosa e marcante. Uma belíssima aposta que irá ganhar com alguns anos de cave.

Texto João Pedro de Carvalho

Encontros com o Vinho e Sabores da Bairrada

Em mais uma excelente organização da Revista de Vinhos, tiveram recentemente lugar os quartos Encontros com o Vinho e Sabores da Bairrada. Foram utilizadas as belíssimas instalações do Velódromo de Sangalhos e do Museu do Vinho da Bairrada, em Anadia. Foram três dias intensos, entre provas nos stands dos vários produtores bairradinos ali presentes, visitas a algumas quintas e provas comentadas muito interessantes. No primeiro dia foi a visita ás caves de Sidónio de Sousa, um clássico bairradino. Depois duma rápida visita á adega, já a rebentar pelas costuras e a aguardar a inauguração dum novo pavilhão, foi servido um almoço pelo restaurante Magnum, com um polvo excelente como prato principal, acompanhado por alguns dos belíssimos espumantes e tintos da casa. O tinto Baga 1991 continua num nível superior, sedoso, elegante, estruturado, um belo vinho. Da parte de tarde na prova comentada de vinhos, já no Velódromo, João Paulo Martins presenteou-nos com 12 vinhos de sua escolha, com a particularidade de provarmos quatro brancos completamente diferentes, a provar a potencialidade da região para fazer vinhos tão diversos e sedutores.

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Vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Á noite, no Velódromo, o jantar foi servido pela Nova Casa dos Leitões. Depois de alguns petiscos e entradas, os leitõezinhos, saídos do forno, perfilaram-se para serem trinchados a preceito.

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Leitões – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No segundo dia foi a visita ás Caves Messias, na sua Quinta do Valdoeiro. Ali pudemos ver uma grande extensão de vinha e uma parcela de Baga carregada de cachos e cuja vindima estava programada para…12 de Outubro, muito para lá do equinócio. Sinais dos tempos! Um almoço divertido e variado, com carnes grelhadas em rodízio, teve a companhia de vários vinhos da casa, com algumas novidades já no mercado, com destaque para o Valdoeiro Reserva Branco 2010 e o espumante Messias Grande Reserva Baga Bairrada 2012 com um perfil duma extrema elegância.

Á tarde foi a vez duma prova comentada pelo Luis Lopes, no Museu do Vinho da Bairrada, com uma viagem fantástica por mais de 20 vinhos tintos, em que foram confrontadas as colheitas de 1991, 2001 e 2011. Viagem inebriante, variada, saborosa e muito esclarecedora do que são, como estão e que potencialidade têm estes tintos fantásticos. O Luis Lopes no seu melhor. No fim, brindamos com espumante, claro! Á noite o jantar foi servido pelo restaurante Sal Poente, num delicioso passeio por várias receitas de bacalhau. Sempre na companhia de vinhos da Bairrada.

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Prova de vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A última visita foi á Quinta de Baixo, na Cordinhã, agora dum homem do Douro mas apaixonado pela Bairrada e um dos fundadores dos Baga Friends: Dirk Niepoort.

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Quinta de Baixo – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Uma velha paixão tornada realidade, com uma excelente equipa de viticultura e enologia, liderada pelo Sérgio, um bairradino de alma e coração. Ali as castas autóctones são acarinhadas e levadas a produzir belos vinhos, embora com um estilo e vários perfis bem diferentes. A visita á adega foi esclarecedora do tipo de trabalho ali efectuado, sempre com enorme paixão, e a grande surpresa foram os vinhos que se provaram directamente das barricas, que estão a estagiar em toneis antigos, alguns com mais de 60 anos de idade, com capacidades a rondar os 1.000 litros, que o Dirk foi comprar á Austria e á Alemanha, e que albergaram durante anos vinhos brancos de algumas das regiões vinícolas daqueles países. Com a particularidade de nunca serem lavados nem queimados, ou seja, de não terem trabalho de tanoaria, o que lhes confere uma “patine”fantástica que vai ajudar a evolução dos seus irmãos bairradinos. O que se provou era excelente, grandes vinhos com o toque do Dirk.

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Dirk Niepoort – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

 

Seguiu-se um almoço em que nos deliciamos com vários petiscos e uma caldeirada de lulas confeccionada pelo próprio Dirk, com alguma ajuda. Com os aperitivos provou-se um espumante que ainda tinha a carica do estágio e foi aberto á la volée ali mesmo á nossa frente, um VV Bical  e Maria Gomes, um bruto natural!! Para além de vários vinhos da Quinta de Baixo, com destaque para o Lagar de Baixo Baga e o Poeirinho Baga, o Dirk não resistiu a abrir um vinho mais velho da quinta e um vinho Barolo italiano. Para a sobremesa, um vinho do Porto, pois claro.

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Vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E tinha chegado ao fim, mais esta jornada fantástica numa das regiões com mais futuro da vitivinicultura portuguesa…

Texto José Silva

Adega de Sabrosa, o Douro Cooperativo.

Adega de Sabrosa
Numa pesquisa recente que efectuei pelas Adegas Cooperativas que tenho como referência, faltava-me conhecer uma na região do Douro. Faz falta existir em cada região, pelo menos, uma Adega Cooperativa forte e bem implementada que sirva de referência para os consumidores de vinho nacional. Os exemplos noutras regiões são mais que conhecidos do consumidor, a imagem que algumas destas Adegas conseguiram conquistar deve-se à qualidade dos vinhos que colocam no mercado. Será por isso de fácil entendimento, que uma Cooperativa forte e com boa dinâmica de mercado será sempre benéfico para a região.

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Adega de Sabrosa – Foto da Adega de Sabrosa| Todos os Direitos Reservados

Dito isto, resolvi dar um pequeno passeio pelas várias regiões de Portugal, chegando à conclusão que me faltava uma referência na região do Douro no que a Adega Cooperativa diz respeito. Foi então que me foi apresentada a Adega de Sabrosa, fundada em 1958 por um pequeno grupo de viticultores. Fica localizada no concelho de Sabrosa, na sub-região de Cima Corgo e conta nos dias de hoje com 522 sócios. Reformularam recentemente a sua gama que passou a apresentar-se com a marca Fernão de Magalhães, que presta homenagem a Fernão de Magalhães, navegador português natural do Município de Sabrosa, que se notabilizou por ter organizado a primeira viagem de circum-navegação da Terra. A Adega de Sabrosa comercializa também um Moscatel do Douro e Vinho do Porto no qual sobressai o seu Porto 10 Anos.

A prova focou-se na marca Fernão de Magalhães Branco, Rosé, Tinto e o Reserva da Adega de Sabrosa, a enologia está a cargo da enóloga Celeste Marques. Vinhos que lá por fora têm sido bastante apreciados e ganho várias medalhas. O Fernão de Magalhães Branco da colheita de 2015 é um lote das castas Gouveio, Viosinho, Rabigato e Fernão Pires, com passagem por inox. Bem fresco com a fruta (citrinos, frutos de pomar) a saltar no aroma, muito limpo, directo, envolto em perfume floral. Na boca é comandado por uma boa frescura que embala a fruta de médio porte, num bom final. Sem falhas e mais que pronto a ir à mesa a acompanhar por exemplo um arroz de bacalhau.

O Rosé da colheita de 2015 nasce de um lote de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, passagem por inox. Um rosé bem composto, muita fruta vermelha (morango, framboesa) madura e rechonchuda, boa frescura de conjunto que combina com nota de algum rebuçado em segundo plano. Todo ele muito franco e directo, boca com boa frescura onde a fruta se mostra redonda e roliça, com uma ainda que muito ligeira doçura no final, bom companheiro para uns carapaus fritos com arroz de tomate.

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Os vinhos – Foto da Adega de Sabrosa| Todos os Direitos Reservados

Entrando nos tintos da Adega de Sabrosa, o Fernão de Magalhães 2014 resulta do lote das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. Por aqui dá-se lugar à expressão da fruta, pura e limpa, sem grandes entraves pelo meio ou aromas mais disto ou mais daquilo. Cheira e sabe a vinho do Douro, com aquela nota de esteva presente, leve fumado ao mesmo tempo que a fruta vermelha se mostra bem limpa e suculenta. Na boca é a fruta com boa acidez, mostra-se saborosa e acompanhada pelo travo vegetal também aqui a mostrar-se presente, com uma boa secura final. De perfil muito gastronómico, como é apanágio dos vinhos da região, liga bem com carnes na grelha.

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O Reserva – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

O Fernão de Magalhães Reserva 2012 é o topo de gama da Adega de Sabrosa, um lote de Touriga Nacional e Tinta Roriz com passagem por madeira. Um pouco mais concentrado que o anterior, complexidade mediana onde a fruta surge mais fresca e com mais presença, a Touriga Nacional em evidência com bom recorte floral (violetas), especiaria e algum arredondamento com ligeiro cacau morno dado pela passagem por barrica. Boca de médio porte, fresco e com a fruta em bom plano, inicialmente mais macio e convidativo, embala num travo vegetal seco. Uma boa surpresa que fará boa companhia a um cabrito assado no forno.

Texto João Pedro de Carvalho

As frescuras da Quinta do Pôpa

São três as propostas mais refrescantes que nos chegam da Quinta do Pôpa. Localizada perto de Tabuaço, são ao todo 14 hectares de vinha que alimentam, desde 2007, este sonho de um pai que se tornou realidade pela mão do seu filho. Hoje em dia são os netos Stéphane e Vanessa Ferreira que lideram o projeto com a enologia de Francisco Montenegro e João Menezes. São vinhos de homenagem com a marca Contos da Terra, a prestar homenagem ao Douro e às suas gentes enquanto os Quinta do Pôpa homenageiam a família proprietária.

Neste caso o destaque vai para aquele que é o primeiro Quinta do Pôpa Rosé, e a juntar-se a ele, as novas edições em branco do Quinta do Pôpa e do Contos da Terra. Comum a todos eles a baixa graduação que oscila entre os 12 e 12.5% Vol., tal como a frescura e a boa afinação de conjunto que mostram ter.

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Contos da Terra Branco 2015 – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Contos da Terra Branco 2015: tem como base as castas Viosinho, Rabigato, Cerceal, Folgazão, com passagem apenas pelo inox. Como já aqui foi dito um vinho que homenageia o Douro e as suas gentes, mostra-se com mediana intensidade onde a fruta (citrinos e tropical) surge gorda e suculenta, leve floral, conjunto cheiroso e feliz, um vinho muito polivalente que facilmente agrada à mesa.

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Quinta do Pôpa branco 2015 – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Quinta do Pôpa branco 2015: novamente com um lote de castas durienses a apresentar-se num perfil mais contido que o anterior, mesmo com estágio parcial em madeira, mostra-se ligeiramente mais envolvente com notas de fruta (tropical, citrinos) madura envoltas em capa de resina, leve baunilha a dar sensação de untuosidade, frescura de conjunto com boa intensidade.

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Quinta do Pôpa Rosé 2015 – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Quinta do Pôpa Rosé 2015: resulta do lote de Tinta Roriz e Touriga Nacional, a mostrar-se muito fresco, delicado nos aromas com a fruta (morango, framboesa) em plano de destaque, sumarenta e cheia de sabor. Na boca é um misto de sensações, entrada mais arredondada com a fruta em destaque para terminar com uma boa dose de secura num final de boa persistência.

Texto João Pedro de Carvalho

O Sossego da Herdade do Peso

Texto João Pedro de Carvalho

Situada no Baixo Alentejo, em plena Vidigueira, a Herdade do Peso acaba de colocar no mercado as últimas novidades, de nome Sossego, que se apresentam no formato branco, rosado e tinto. Surgem assim, na Herdade do Peso, os novos vinhos que se situam no patamar imediato ao Vinha do Monte, como vinhos indicados para um consumo mais casual e diário, com uma qualidade interessante para o objectivo pretendido. E é neste sossego por mim tão desejado e que me tem mantido nestes últimos dias bem afastado do reboliço da cidade, que me vou deixando deliciar pelos aromas e sabores dos vinhos que me vão passando pelo copo.

Neste caso é a franqueza de aromas que os domina por inteiro, a frescura em conjunto sempre bem afinado, mostra-se ao lado da fruta (madura e fresca) de intensidade mediana tal como se mostram a nível de corpo. E mesmo neste sossego deseja-se e procura-se alguma irreverência ou mesmo aquele algo mais que faça despontar o interesse naquilo que temos pela frente. Apetecia pois um pouco mais, mas talvez isso fosse pedir o que não se pode dar, ou o que não faz parte da estratégia delineada. Resta-nos, pois, em sossego apreciar estas novas referências:

Sossego branco 2015: num lote tipicamente alentejano com 75% Antão Vaz, 20% Arinto e 5% Roupeiro, fruta fresca e madura de bom nível com exuberância de bom tom, ligeiro floral a fechar o conjunto, algo discreto com boa secura no fundo, mas pronto para a mesa.

Sossego Rosé 2015: feito exclusivamente de Touriga Nacional, bonito na cor e na candura dos aromas, frescos, ligeiros e apelativos, sendo direto na forma como se faz mostrar. Presença mediana no palato sendo a fruta novamente protagonista, calmo, sereno, ligeira secura de fundo num perfil que agrada.

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Vinhos – Foto de Herdade do Peso | Todos os Direitos Reservados

Sossego tinto 2014: criado a partir de um lote de 75% Aragonez, 15% Syrah, 10% Touriga Nacional, com direito a estágio de 6 meses em barrica usada. Muita fruta madura em tom silvestre (amora, framboesa) com o aconchego da barrica, elegância num todo harmonioso. Boca num misto de fruta e frescura, corpo mediano com boa presença.

Biodynamic Wine by Monty Waldin

Texto João Pedro de Carvalho

É a mais recente pérola a ser adicionada ao já vasto leque de livros dedicados ao mundo do vinho com a chancela da editora Infinite Ideias. Cada título da The Infinite Ideias Classic Wine Library cobre uma região, país ou tipo de vinho e se tivermos em linha de conta os outros livros que já aqui foram abordados então podemos dizer que a qualidade está uma vez mais colocada num patamar muito alto.

O livro cujo título é Biodynamic Wine, versa sobre um tema que será controverso e originário de grandes discussões tendo por um lado os seus admiradores e seguidores/praticantes, sendo que também podemos contar com uma grande quantidade de cépticos e não crentes. O autor é Monty Waldin, uma autoridade no que toca a vinho orgânico e biodinâmico, também crítico, consultor e viticultor. O livro é uma janela aberta para o vinho biodinâmico, uma verdadeira fonte de conhecimento onde o autor com uma escrita fluida e cativante nos explica passo a passo processos e filosofias desta maneira de estar no mundo dos vinhos.

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Biodynamic Wine by Monty Waldin

Ao longo de 222 páginas vamos sendo guiados pelo mundo do vinho Biodinâmico, não espere encontrar avaliação de vinhos ou de produtores porque simplesmente não vai encontrar. Feita a introdução necessária somos levados a conhecer as origens da Biodinâmica onde a figura de Rudolf Steiner ganha o esperado protagonismo. Nos capítulos que se seguem são abordados todos os preparados, onde ficamos a conhecer entre muitas outras coisas o porquê dos cornos de vaca serem cheios de estrume e enterrados a determinada altura do ano, isto e muito mais sempre guiados pelas mais variadas técnicas e tratamentos alterativos que vão sendo enumerados e explicados um a um. Qual a importância do vortex na altura de dinamizar os preparados? Ou qual a ligação dos organismos ao cosmos e como daí se trabalha seguindo o ritmo celestial? Por último um capítulo dedicado à certificação Demeter, o rigor é o mesmo de sempre tal como a vontade de continuar a ler e a entender este modo de estar que cada vez mais ganha adeptos entre os produtores de vinho por todo o mundo.

Um livro de referência e obrigatório para todos aqueles que de alguma maneira tenham ligação com o fantástico mundo do vinho, sejam profissionais do ramo ou wine lovers.

Quinta de Santa Cristina

Texto José Silva

António Pinto é um empresário de sucesso, na área da electricidade e electrodomésticos, mas que se apaixonou pela produção vinícola com origem numa propriedade familiar, em Celorico de Basto.

Apoiado pela mulher e pela filha, começou a fazer vinhos a partir de 2004. Sempre com a colaboração do enólogo Jorge Sousa Pinto, com grande experiência em toda a região dos vinhos verdes. A empresa vitivinícola chama-se Garantia das Quintas e a sua marca principal é Quinta de Santa Cristina. Tendo iniciado a comercialização de vinhos apenas com um branco e um tinto, rapidamente apareceram mais variedades, quer pela vontade de produtor e enólogo, quer pela solicitação do mercado. E não tardou a aparecer mesmo um espumante, hoje já uma referência na região. Em 2013 avançaram com a construção duma adega nova, mesmo ao lado da residência que ali possuem e praticamente no meio das vinhas, com o monte da Senhora da Graça à ilharga.

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A nova adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mais bonito não podia ser! Em recente visita à nova adega, verificou-se a sua enorme funcionalidade, a par duma estética cuidada, onde falta apenas uma sala de provas, que não vai tardar.

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A nova adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A nova adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Para além das tecnologias mais modernas, incluindo o frio, construiu-se também um lagar de granito onde alguns dos vinhos são ainda pisados a pé, mantendo a tradição, e muito bem.

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O lagar de granito – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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As vinhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

As uvas vêm dos cerca de 40 hectares de vinhas, a maior parte das quais ali à volta, mas em várias altitudes, que produzem várias castas da região, como Alvarinho, Arinto, Avesso, Azal, Trajadura e uma curiosa e única Batoca, de que este é o único produtor. Mas já lá vamos.

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“Sabores da Quinta” – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois de terminada a visita à moderna adega e de vislumbrar o imenso vinhedo ali à volta, o produtor convidou os visitantes a segui-lo até um restaurante da região, muito perto, o “Sabores da Quinta”. E foi ali que produtor, a filha, o enólogo e o viticultor nos guiaram por uma viagem através dos vinhos principais, fazendo interessantíssimas ligações com a comida, numa prova bastante didática. Afinal o vinho deve acompanhar a comida!

Começou-se com o vinho base de 2015, composto por Arinto, Azal, Loureiro e Trajadura, simples, muito fresco, um vinho fácil de beber, bem fresco.

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Quinta de Santa Cristina branco 2015 – Foto Cedida por Quinta de Santa Cristina | Todso os Direitos Reservados

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Quinta de Santa Cristina Alvarinho-Trajadura 2015 – Foto Cedida por Quinta de Santa Cristina | Todso os Direitos Reservados

Depois veio o Alvarinho Trajadura 2015, uma conjugação de duas castas que já estão habituadas uma à outra, um vinho cheio de fruta mas sem exagero, fresco e com acidez muito equilibrada, bastante gastronómico e que atacou muito bem os petiscos que começavam a vir à mesa.

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Pataniscas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Feijoada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Presunto, alheira, salada de feijão frade, pataniscas de bacalhau, feijoada e fígado de cebolada ligaram também muito bem com o interessante Alvarinho Loureiro, a dar o melhor das duas castas, fresco, algo floral e tropical, óptima acidez, uma ligação surpreendente.

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Quinta de Santa Cristina Loureiro-Alvarinho – Foto Cedida por Quinta de Santa Cristina | Todso os Direitos Reservados

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Bacalhau Assado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E veio o Alvarinho, um dos clássicos deste produtor, um vinho cheio de elegância, fino, levemente frutado e com notas tropicais, volumoso e com final longo.

Mais um a ligar bem com os petiscos, mas também com o bacalhau assado no forno com batatinha assada e muito azeite, que, entretanto, chegara à mesa.

Mas a grande surpresa da tarde foi um vinho branco feito com uma casta rara, originária desta sub-região de Basto, a Batoca. E de que este produtor é o único detentor, sendo este o primeiro engarrafamento, da colheita de 2015. Cheio de elegância, frutado no nariz e com alguma intensidade, muito equilibrado e fresco. Bela surpresa.

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Carne assada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta de Santa Cristina Batoca – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Já estávamos a apreciar a carne assada no forno com castanhas e arroz de forno, quando foi servido o Santa Cristina Reserva Branco 2014, feito com algumas das castas da quinta, de que se escolheram as melhores, com ligeiro estágio em madeira.

Embora tenha algum tropical, apresenta também frutos secos, tem óptima estrutura, muito elegante na boca, sedoso, com grande final.

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Santa Cristina branco Reserva 2014 – Foto Cedida por Quinta de Santa Cristina | Todso os Direitos Reservados

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Quinta de Santa Cristina Bruto branco 2013 – Foto Cedida por Quinta de Santa Cristina | Todso os Direitos Reservados

Ainda antes das sobremesas provou-se um dos espumantes da quinta, o Bruto Branco 2013, feito apenas com Arinto. Com bolha muito fina, apresentou-se muito cítrico, cheio de frescura, alguma tosta na boca, elegante e sedutor. Um belo final.

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Monte Senhora da Graça – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Lá fora, o monte da Senhora da Graça continuava altivo…

Quinta de Pancas, o renascimento de um clássico

Texto João Pedro de Carvalho

Continuo no meu pequeno tour pelas belas Quintas que rodeia a cidade de Lisboa, desta vez fui visitar a prestigiada Quinta de Pancas que tanto e tão bom vinho tem colocado na mesa dos consumidores nas últimas décadas. A Quinta de Pancas, fundada em 1495, está localizada a 45 km a noroeste da cidade de Lisboa, na freguesia de Santo Estevão e Triana, no chamado “Alto Concelho de Alenquer” junto ao lugar de Pancas. Entre a Serra de Montejunto e a lezíria da margem direita do rio Tejo, por entre montanhas, montes, vales e planícies a Quinta de Pancas mostra-se altaneira com os seus 50 hectares de vinha. Por ali os solos predominantes são calcários, variando a sua origem conforme a altitude das respectivas parcelas e ao declive das mesmas. Dominam nas variedades tintas a Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Syrah, Merlot, Castelão, Alicante Bouschet, Tinta Roriz, Touriga Franca, Petit Verdot e Malbec. Nas variedades brancas temos a Arinto, Chardonnay e Vital.

Durante anos os seus vinhos conquistaram os gostos dos consumidores mais exigentes, foram famosos e alvos de cobiça na década de 90 os Special Selection onde brilhava entre outros o Touriga Nacional e o Cabernet Sauvignon, o piscar de olhos a um perfil inspirado nos vinhos de Bordéus nunca foi escondido nesta casa. No final dessa mesma década foi colocado no mercado aquele que seria o topo de gama, um vinho que ainda hoje me trás muito boas recordações, um vinho de excelência que dava pelo nome de Quinta de Pancas Premium. Depois o tempo deu passadas bem largas e assistimos a uma renovação do que por ali era feito, perdeu-se algum encanto mas não se perdeu o “savoir faire” e exemplo disso foi o lançamento do Grande Escolha.

Nos dias de hoje assistimos ao renascimento da Quinta de Pancas alicerçada numa nova estratégia que inclui juntamente com a Quinta do Cardo a separação da Companhia das Quintas, apresentando-se agora com imagem renovada, assinada por Rita Rivotti. Os vinhos, rótulos incluídos, também foram alvo dessa mesma renovação e foram apresentados recentemente. Como gama de entrada estão os Pancas na versão tinto e branco, ambos da colheita de 2015, num perfil simples e bastante directo, centrados na fruta madura bem fresca e convidativa, são a meu ver belíssimas compras para um consumo diário.

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Os novos vinhos – Foto Cedida por Quinta de Pancas | Todos os Direitos Reservados

Na gama Quinta de Pancas também em modo branco 2015 e tinto 2014, aqui melhor o branco na forma como se mostra, o tinto mais coeso e pouco falador ficando melhor na fotografia o Pancas 2015 pela jovialidade e forma desempoeirada como se mostrou. Já o branco mostra toda a candura da fruta madura, fresca e airosa, com ligeiro arredondamento. É um claro salto em frente na qualidade e no prazer que proporciona, para se terminar com os dois Reserva, também em formato branco com um 100% Arinto de 2014 e o tinto Reserva de 2013. O Reserva branco teve passagem por madeira durante 8 meses, o suficiente para lhe acalmar o espírito e conferir maior complexidade ao conjunto, dominado pela fruta madura com citrinos a fazer lembrar uma tarte de limão, ligeira baunilha e biscoito. Palato a condizer, bastante frescura suportada por uma bela estrutura. Também o Reserva tinto 2013 tem muito para mostrar, num perfil mais arredondado com nota de fruta vermelha bem rechonchuda, pleno de harmonia e sabor, madeira pouco presente e que dá lugar à fruta para que se destaque. Com vigor no palato, saboroso e com muito boa frescura a embalar a prova que pede comida por perto. Na passagem breve pelos vinhos ainda em estágio, direi que o futuro é uma vez mais prometedor para os lados da Quinta de Pancas.

Contactos
Quinta de Pancas
Porto da Luz, 2580-383 Alenquer
Tel: (+351) 263733219
Email: info@companhiadasquintas.pt
Website: www.companhiadasquintas.com