Posts Tagged : Still Wines

Rosé de Verão

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

O Verão aproxima-se a passos largos. Pelo menos é o que dizem. Aqui na Finlândia temos um início de Verão muito frio. Na verdade, da última vez que esteve assim tanto frio durante o mês de Junho o muro de Berlim ainda estava de pé. Não é que o mau tempo seja uma surpresa mas, depois de um Inverno tão longo, aqui na Finlândia já estamos mais do que prontos para algum calor. Com uma boa imaginação e um copo de rosé na mão, é fácil entrar no espírito de Verão. A única coisa que falta são os meus Speedos… e o protector solar factor 30… e as havaianas.

A Glass of Rosé

Um Copo de Rosé – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O Verão impulsiona as vendas de rosé em todo o mundo. Na Finlândia, os vinhos rosé são virtualmente inexistentes durante o ano mas, durante o Verão as prateleiras ficam inundadas de rosés provenientes de todas as partes do globo, desde a China até à Califórnia. Bombas intensas de fruta de diferentes origens que voam das lojas a uma velocidade recorde. Para ser honesto, a maior parte dos rosés que nos chegam não são lá muito bons. Entendo o conceito easy-going, mas a maior parte assemelha-se a Sprite cor-de-rosa. Simplesmente desinteressante. O rosé pode não ser o vinho intelectualmente mais desafiante, mas um bom rosé consegue “levar-me às nuvens” tal como os outros vinhos. Para mim, um bom rosé tem de ser equilibrado, fresco e cheio de sabor. Nada daqueles líquidos insípidos, sem força, com sabores que quase parecem artificiais. Hoje em dia parece que toda a gente faz rosé simplesmente porque o pode fazer. Trabalhos sem esforço, para matar a sede ou para lavar barris. Mas quando um rosé é realmente bom, cuidado…

Crayfish sandwich

Pão preto com Lagostim – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Cheguei a casa, vindo de viagem, e tinha que comer lagostim. Não sei porquê mas, por vezes, dá-me vontade de comer coisas muito específicas e, quando meto alguma coisa na cabeça, mais nada serve. Neste case foi lagostim com endro e limão barrado em pão preto. Mas não era um pão preto qualquer, era um pão preto ligeiramente mais doce, do arquipélago finlandês. Simples e delicioso, comida caseira no seu melhor. O lagostim gritava por vinho e, sinceramente, eu também. Como todos sabemos, um bom rosé é extremamente food-friendly (harmonizável com comida). Tem a acidez de dar água na boca e facilidade de beber dos vinhos brancos, mas é ligeiramente mais estruturado e tem um perfil mais vinoso. Por sorte tinha um JP Azeitão Rosé da Bacalhôa no frigorífico, que tenho justamente para estas emergências saborosas de lagostim.

JP-Azeitao-Rose

JP Azeitão Rosé – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O JP Azeitão é um rosé simples, com notas sedutoras de framboesa e cereja. Tem alguma Syrah que lhe confere um toque especiado. Não é complexo de forma alguma, é simplesmente um delicioso pequeno vinho. Um preço acessível e uma harmonização fantástica com alguns snacks de marisco.

Rose Screwcap

Rolha de Rosca – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Enquanto continuo à espera do Verão, são estes pequenos mimos que fazem a espera valer a pena. E assim nem é preciso protector solar, podemos simplesmente fechar os olhos e sentir o sol português por entre o vinho.

Contactos
Bacalhôa Vinhos de Portugal
Estrada Nacional 10
Vila Nogueira de Azeitão
2925-901 Azeitão
Portugal
Tel: (+351) 21 219 80 60
Fax: (+351) 21 219 80 66
Email: info@bacalhoa.pt
Website: www.bacalhoa.com

Quinta da Pacheca Colheita Branco 2014

Texto João Barbosa

Acontece-me – acontece com toda a malta que escreve sobre vinho – telefonarem-me, por vezes em momentos inconvenientes, para me perguntarem que vinho devem levar para um jantar. Suspiro e por amizade debito uns tantos.

Acontece sempre que estão num supermercado e têm pressa… o tempo esgotou-se em insignificâncias e o vinho é comprado a correr, na primeira porta aberta do caminho. Pergunto-lhes:

– Quando queres comprar um livro também vais a um supermercado?… Ou vais a uma livraria?

Nada a fazer. Vou dizendo marcas – é mais fácil de compreender – e é comum não existirem na loja. Invertem-se os papéis e o amigo debita o conteúdo das prateleiras. Daí escolho um, que nunca é bem aquilo e…

– Epá! Tens esse, aquele e aqueloutro. Apostas seguras, escolhe o que entenderes, estou a meio de (qualquer coisa) e tenho de me despachar.

Nas escolhas cabe frequentemente os vinhos da Quinta da Pacheca. Encontram-se na distribuição moderna, têm qualidade e apresentam preços acessíveis.

Quinta da Pacheca

Quinta da Pacheca – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Gosto de vinho há bastante tempo e sou militante assíduo. Hoje é mais fácil encontrar-se um bom vinho do que há 20 anos. Nesse tempo, as marcas eram poucas, os rótulos eram maus e nem só a fronha era má.

Ainda assim, já havia mais do que duas mãos cheias de vinhos de qualidade. Uns feneceram e outros sobreviveram. A Quinta da Pacheca engarrafa já há bués e tantas vezes comprei vinhos desta firma.

Tenho este produtor na memória – no lado bom – por várias razões: por o ter conhecido durante a minha primeira relação afectiva adulta e duradoura, por eu ter o apelido Pacheco e por causa do riesling.

Antes do tempo – comprovou-se – a Quinta da Pacheca produziu monovarietais, nomeadamente da casta riesling. Uma agitação feliz para quem não tinha bolsos para vinhos estrangeiros e queria, como uma esponja (!), absorver conhecimento.

Sou defensor das castas portuguesas, mas nada me choca que se cultivem variedades estrangeiras, desde que não sejam admitidas na certificação de Denominação de Origem Controlada. O riesling da Quinta da Pacheca vem-me à lembrança com regularidade.

Já se percebeu que as castas estrangeiras não produziram mais-valias. Ficam vinhos do Douro com a identidade das castas autóctones. Neste caso, cerceal, malvasia fina, gouveio e moscatel galego.

Quinta da Pacheca Harvest white 2014

Quinta da Pacheca Colheia branco 2014 in quintadapacheca.com

Não me recordo da gama da Quinta da Pacheca na década de 90, hoje tem largura. Este Quinta da Pacheca Colheita Branco 2014 é fácil, descomplexado, bem feito. Tem o sotaque do Douro e a aragem de Lamego; é fresco e apresenta-se com uns saudáveis 12,5 graus de álcool.

Penso que tem tudo para agradar a muita gente, nomeadamente o preço – recomendam cinco euros, menos um cêntimo. Não sou toda a gente.

Compreendo a inclusão, no lote, da casta moscatel galego. Dá gulodice e cria facilidade (não é defeito). Porque se costumam beber os brancos demasiado frescos, este açúcar dá «existência» ao que podia desaparecer.

Para mim, que não tenho nem meio litro para vender, a moscatel galego está a mais. Não faz falta para ter a identidade do Douro; não sou fã desta cultivar. Tenho o meu gosto, mas escrevo para o mundo e obrigo-me a sair dos pratos da balança. É um vinho que merece ser comprado e que, certamente, criará hábito.

(Pode também ler a peça que José Silva escreveu anteriormente sobre a Quinta da Pacheca aqui.)

Contactos
Quinta da Pacheca
Cambres – 5100-424 Lamego
Portugal
Tel: (+351) 254 331 229
Fax: (+351) 254 318 380
E-mail: comercial@quintadapacheca.com | enologia@quintadapacheca.com
Website: www.quintadapacheca.com

Alfeu, a Homenagem do Neto ao Seu Avô

Texto João Pedro de Carvalho

É graças à figura do Avô Alfeu e da sua dedicação à vinha e ao campo, que o seu neto João Amado, fundador da Amado Wines, foi buscar inspiração para se lançar na aventura que é a de produzir o seu próprio vinho. Uma marca que acima de tudo é uma homenagem a um homem do campo, apaixonado pela terra, inseparável do seu chapéu que agora também acompanha os rótulos.

Blend-All-About-Wine-Amado-Wines-Alfeu-Wines

Vinhos Alfeu – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Conheci este projecto no ano passado por altura do Festival do Vinho do Douro Superior em Vila Nova de Foz Côa, destinado totalmente aos produtores da Sub-região Douro Superior. Um evento onde se pode dizer que ainda é possível descobrir novos talentos, produtores que de certa forma nunca se ouviu falar ou leu sequer uma palavra acerca do seu trabalho, é para isto que eventos como este servem, para nos mostrar que estão lá de braços abertos para nos receber e mostrar o fruto do seu trabalho.

Blend-All-About-Wine-Amado-Wines-Alfeu-white-2013

Alfeu branco 2013 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Foi desta maneira que fiquei a conhecer no ano passado os vinhos com que João Amado quis homenagear o seu Avô e cujas novas colheitas foram provadas muito recentemente. A enologia está a cargo de Joana Maçanita (ver artigo Maçanita Douro) e quer o Alfeu branco 2013 como o Alfeu tinto 2012 mostram carácter muito vincado pela região e uma certa dose de atrevimento que tanto aprecio.

O Alfeu branco 2013, composto por Viosinho e Malvasia Fina nuns bonitos 12.5% Vol mostra-nos um conjunto coeso com muita fruta a surgir ao lado de ervas de cheiro, toque floral e fundo fresco. Palato marcado também pela fruta bem madura, alguma geleia, ligeira secura a fazer-se sentir em final de boa persistência.

Blend-All-About-Wine-Amado-Wines-Alfeu-red-2012

Alfeu tinto 2012 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

O Alfeu tinto 2012, Touriga Nacional e Tinta Roriz com a primeira a marcar todo o conjunto. Coeso com muita fruta madura rodeada de chocolate preto e com algum rodopiar, surgem flores associadas à Touriga Nacional. Ligeiríssima austeridade que se faz sentir desde o primeiro momento, conjunto sério e com boa energia. Um vinho assente numa boa estrutura, notando-se desde o primeiro gole o vigor e aquela ponta de austeridade dos taninos mais traquinas. A fruta rebenta de sabor acompanhada de cacau, termina seco e a pedir ou pratos como cabrito assado no forno ou então que se deixe descansar por mais uns tempos na garrafeira.

Ainda em estágio na adega do produtor estão mais dois tintos, duas novidades compostas por um 100% Touriga Nacional e um Reserva. Da prova que deram ainda os encontrei imberbes e pouco preparados para enfrentar o mundo, mantêm sim a mesma linha de seriedade, muito centrados na fruta, mas com um notável salto qualitativo.

Contactos
Amado Wines
Quinta do Meio, Relva
6430-075 Longroiva, Mêda
E-Mail: geral@amadowines.com
Website: www.amadowines.com

Poças: Uma nova era de vinhos do Douro com um pouco de “je sais quoi”

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

O vinho do Porto é tão representativo de Portugal, que é difícil de acreditar que a Poças Junior é uma das poucas casas de vinho do Porto que se manteve sempre na posse da mesma família (e já agora, de portugueses) desde que foi fundada, há cerca de 100 anos atrás por Manuel Domingues Poças Junior. Quando me encontrei com a viticultora chefe Maria Manuel Poças Maia, fiquei com a certeza de que a sua geração, a quarta, está completamente determinada em mantê-la assim.

Blend-All-About-Wine-Poças-Wines-Maria-Manuel-Poças-Maia

A nova era desarrolhada pela viticultora chefe de vinho do Porto Maria Manuel Poças Maia de Poças Junior – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Mas isso não é sinónimo de conservadorismo, de falta de imaginação ou entusiasmo. Muito longe disso! Ainda não me tinha apercebido que a Poças Wines foi uma das primeiras produtoras a lançar-se nos vinhos de mesa do Douro, no início da era moderna em 1990. O clique? O primo de Maria, o enólogo chefe Jorge Manuel Pintão, que tinha acabado de entrar no negócio, logo após terminar o curso de enologia em Bordéus e um estágio na Château Giscours, também nesta famosa região francesa. Maria Maia disse-me, “o Jorge queria fazer aqui, aquilo que tinha aprendido em Bordéus, e sabia que o Douro tinha potencial para bons vinhos secos.”

Claro que Jorge não foi o primeiro enólogo a inspirar-se em Bordéus. Fernando Nicolau de Almeida, o criador da Barca Velha, é quem pode ostentar esse “título”. Mas, graças à ligação contínua que Jorge manteve com a prestigiada região francesa (Maria Maia diz que “ele nunca perdeu o contacto com Bordéus”), a Poças deu um passo mais além. No ano passado a empresa garantiu os serviços do enólogo e consultor bordalense Hubert de Boüard de Laforest, dono da famosa Château Angélus, em Saint-Emilion. Juntamente com Philippe Nunes (de descendência portuguesa), da consultora Hubert de Boüard, este duo bordalense ajudou na criação dos vinhos do Douro 2014 da Poças.

Blend-All-About-Wine-Poças-Wines-Time-for-Reflection-at-Poças

Tempo de reflexão na Poças – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

25 anos a produzir vinhos do Douro fazem da Poças uma das empresas produtoras destes vinhos com mais experiência. Perguntei a Maria Maia porque é que a família sentiu a necessidade de contratar um consultor. A reposta foi franca e sem rodeios – “hoje em dia o mercado está complicado e queríamos expandir os nossos mercados de vinho de mesa. Estamos a crescer a nível de vinho do Porto mas queremos ver o mesmo tipo de crescimento nos vinhos do Douro, que está a começar a ser muito conhecido mas não o suficiente, precisa de ter ainda maior visibilidade.” Por outras palavras, não se tratou apenas de “ter alguém de fora a dar-nos novas ideias para evoluirmos”, mas também pelo perfil que a consultora Hubert Boüard lhes conferiu. E admite sem qualquer problema, “sendo de França, o estatuto é algo importante… Claro que trabalhar com Bordéus está a acrescentar valor à garrafa, mas também está a acrescentar valor à percepção.”

Blend-All-About-Wine-Poças-Wines-Maria-Manuel-Poças-Maia-of-Poças-Junior

Maria Manuel Poças Maia of Poças Junior contra um cartaz da Quinta Santa Barbara – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

No entanto, Maria Maia é peremptória a colocar ênfase num aspecto importante, “eles (a consultora Hubert Boüard) estão a ajudar a nossa imagem de vinhos e de estilos a crescer, mas sem nunca esquecer que queremos utilizar castas portuguesas e manter a herança das nossas uvas e do nosso terroir.” Dada a enorme experiência da consultora em vinhos de todo o mundo, a família ficou muito contente por ver o “grande respeito que demonstraram pelo que encontraram aqui no Douro.” Se Maria Maia receava que Boüard tivesse algumas reticências em relação às vinhas velhas, esse receio foi dissipado quando Boüard visitou pela primeira vez Santa Bárbara (as vinhas da Poças em Caêdo, Cima Corgo) e se deparou com as vinhas velhas e o xisto. A brilhar de orgulho, a viticultora que nos seus tenros 23 anos de idade assumiu a responsabilidade pelas três quintas da família em 2005, aponta, “Boüard disse-nos, ‘isto sim, é terroir’, e que estava realmente convencido que poderia fazer um vinho muito bom.”

Blend-All-About-Wine-Poças-Wines-Poças-Coroa-d’Ouro-2014

O novo e melhorado branco do Douro Poças Coroa d’Ouro 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Antes de provar as amostras dos novos, e melhorados vinhos de 2014 (ainda nenhum foi lançado no mercado, e os tintos ainda não estão acabados), falamos sobre as mudanças que foram efectuadas com a entrada da consultora Hubert Boüard. Descrevendo essas mudanças como “ligeiros aperfeiçoamentos”, Maria Maia explicou que o objectivo, no geral, consistia em, “alcançar um estilo mais internacional – uma percepção mais suave dos vinhos do Douro, porque são vistos como sendo muito tânicos, fortes e difíceis de beber.” Nas vinhas, esta procura de elegância,  e em especial de taninos mais refinados, comportou ligeiras mudanças na selecção da fruta. Agora as uvas provêm de parcelas mais maduras, e Boüard introduziu uma nova componente – uma vinha mais nova (15 anos) – à field blend do tinto que comanda as hostes – Símbolo – e que é composta predominantemente por vinhas velhas.

Blend-All-About-Wine-Poças-Wines-Poças-Vale-de-Cavalos-2014

Que venha o novo, para substituir o antigo – Poças Vale de Cavalos 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Na adega, as alterações passaram por diferentes configurações de prensa (para o branco unoaked) e diferentes escolhas de fermentação e carvalho. Os tintos deixaram de ser envelhecidos na combinação de carvalho francês e americano. Desde 2014 que são envelhecidos em barricas 100% de carvalho francês, utilizando diferentes tanoeiros ou o mesmo mas com diferentes madeiras. Os bordaleses são famosos pelos seus skills em blending, pelo que os vinhos premium são agora produzidos num novo espaço, mais amplo, “para poderem tentar diferentes opções [de blending].”

Blend-All-About-Wine-Poças-Wines-Poças-Simbolo-2014

Grande potencial do tinto que comanda as hostes Poças Simbolo 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Obviamente é ainda muito cedo para se chegar a qualquer conclusão definitiva relativamente a esta relação Douro/Bordéus, ou aos vinhos de 2014. No entanto, tendo comparado o branco Poças Coroa d’Ouro e as amostras (de barril) dos ainda não terminados Vale de Cavalos e Símbolo, com colheitas anteriores (2013, 2011 e 2007 respectivamente), acho que a Poças não só irá celebrar o seu centenário em 2018 como irá obter um grande retorno do seu investimento. Apesar da juventude, os três vinhos apresentaram um grande requinte no seu final; a longevidade melhorada do branco, e a qualidade dos taninos dos tintos, foram particularmente marcantes. O Símbolo 2007 estava em pleno estado de maturidade e mais desenvolvido do que estava à espera; pelo contrário, os taninos secos já estavam a começar a ofuscar a fruta. Por outro lado, o Símbolo 2014 impressionou-me com os seus requintados e fluentes taninos. A amostra que provei era vibrante, perfumada e mineral, com um longo e elegante final. A mostrar grande potencial, e reconheço que vai proporcionar mais prazer e durante mais tempo do que o 2007. É um testemunho à vinificação, já que o ano de 2007 foi um ano muito aclamado (declarado ano Vintage no vinho do Porto) e o ano de 2014 foi muito mais complicado, com chuvas intermitentes durante a colheita. Espero ansiosamente para provar o produto acabado.

Com o toque je sais quoi [da consultora Hubert Boüard] os vinhos do Douro da gama de 2014 da Poças podem ser novos, melhorados e com um perfil mais conotado, mas há coisas que não mudam. Foi-me dito que a Poças pretende manter a tradição da família no que toca à boa relação preço/qualidade (o preço do actual Simbolo é de €43-50/garrafa). Como diz Maria Maia, “preferimos a qualidade, não a quantidade, mas sem nunca atingir preços inalcançáveis.” Bebo a isso!

Contactos
Manoel D. Poças Junior – Vinhos, S.A
Rua Visconde das Devesas 186
4401 – 337 Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel.: (+ 351) 223 771 070
Website: www.pocas.pt

VZ, uma marca da história do Douro

Texto João Pedro de Carvalho

Foi em 1780 que a Van Zeller’s & Co se estabeleceu oficialmente como empresa de Vinho do Porto, comercializando vinho até ao ano de 1930. Pelo meio a empresa teria sido vendida a outro grupo de Vinho do Porto sendo comprada novamente em 1933 por Luís de Vasconcellos Porto, dono na altura da Quinta do Noval. Esta compra viria a transformar-se numa generosa oferta para os seus netos (filhos da sua única filha Rita de Vasconcellos Porto casada com o bisavô de Cristiano van Zeller). Desta forma várias marcas da Van Zeller’s & Co fundiram com a Quinta do Noval, tais como Van Zellers e VZ.

Em 1980 tomou-se a decisão de reavivar a Van Zeller’s & Co tornando-a independente da Quinta do Noval, com a sua própria quinta e stocks de Vinho do Porto. Uma vontade que iria entrar num período de dormência, numa altura que envolveu a venda da Quinta do Noval à AXA e a respectiva venda da Van Zeller’s & Co para os donos da Quinta de Roriz, primos de Cristiano van Zeller. O tempo passou e só em 2006 é que a Van Zeller’s & Co com todas as suas marcas (que datam do século XIX) chegaria às mãos de Cristiano van Zeller, também por generosa oferta de um familiar.

Blend-All-About-Wine-VZ-2013

VZ Douro branco 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os novos vinhos não tardaram muito em surgir no mercado, sendo o primeiro de todos um gama alta VZ Douro branco 2006, cujas uvas (Viosinho, Rabigato, Codega e Gouveio) provenientes de duas parcelas com idade média de 50 a 80 anos ficam localizadas no concelho de Murça. O resultado deste VZ Douro 2013 é um belíssimo branco, fermentado e com estágio de 9 meses em barrica com direito a battonage da autoria de uma equipa de enologia de luxo, composta por Cristiano van Zeller, Sandra Tavares da Silva e Joana Pinhão. Dá uma prova cheia de carácter, com o Douro bem vincado num conjunto que entrelaça e envolve com as notas ligeira tosta da barrica e a fruta (pêssego, citrinos, pera), coeso, sério, marcado por um final tenso e mineral. De igual modo toda a passagem pelo palato se enquadra com o já descrito, muito boa presença, amplo e com ligeira austeridade mineral em fundo. Todo o conjunto remete para um consumo que pode ser imediato ou para guardar por mais uns quantos anos na garrafeira.

Contactos
Lemos & van Zeller, Lda.
Rua de Gondarém, 1427 – 2º Dt. Ala Norte
4150-380 Porto
PORTUGAL
Telef. +351 223744320
Fax. +351 223744322
E-mail:

Website: www.quintavaledonamaria.com

 

Na Região Bairradina, Um Produtor Com Grande Tradição

Texto José Silva

Lembro-me de, há muitos anos atrás, nos cafés, ser muito popular pedir: “Uma bica (café) e uma São Domingos!”

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Aguardente

Aguardente Bagaceira Caves São Domingos © Blend All About Wine, Lda

E esta São Domingos era a bagaceira das Caves São Domingos, muito popular como bebida branca de qualidade. Os tempos foram passando, o consumo de bebidas brancas diminuiu substancialmente devido à legislação que entretanto apareceu, mas as Caves São Domingos lá continuam e, entre muitos outros produtos, também produzem esta e outras bebidas com imensa qualidade.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos

As Caves São Domingos Lá Continuam © Blend All About Wine, Lda

As caves mantêm as suas instalações em Anadia, mas têm vindo a crescer e a produzir não só maior quantidade de vinhos e destilados, mas também uma maior variedade de produtos.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Prestigious-Brandies

As Suas Prestigiadas Aguardentes © Blend All About Wine, Lda

Embora o principal e o mais conhecido seja o espumante, as suas prestigiadas aguardentes têm também mantido a tradicional clientela e têm mesmo alargado o leque de tipo de consumidores, cada vez mais em busca do que é genuíno. Também os vinhos de mesa, das regiões da Bairrada e do Dão têm vindo a ocupar um lugar de destaque no portfolio da empresa.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Modern-Cellar

Adega Moderna © Blend All About Wine, Lda

Tudo isto fez com que sentissem a necessidade de modernização, e por isso a empresa tem hoje uma adega moderna, com toda a tecnologia disponível, sobretudo a rede de frio, que permite elaborar vinhos modernos e apelativos. Mas também manter a produção de espumantes que têm vindo a ser distinguidos pela crítica nacional e internacional e pelo público consumidor.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-More-Than-2-Million-Bottles

Mais de Dois Milhões de Garrafas de Espumante – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Nas suas caves estão a estagiar mais de dois milhões de garrafas de espumante, das várias categorias, que vão saindo para o mercado conforme as solicitações.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Traditional-Riddling-Wine-Racks

Tradicionais “Pupitres” © Blend All About Wine, Lda

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Modern-Method-of-Remuage

Método Mais Moderno Das Giro Paletes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ainda se encontram a estagiar nas tradicionais “pupitres”, onde as garrafas são rodadas diariamente, à mão, que coexistem com o método mais moderno das giro paletes, a permitir produzir maior quantidade de espumante, com a mesma qualidade.

Os espumantes, graças a uma grande preocupação com a divulgação e a participação em inúmeras feiras quer nacionais quer estrangeiras e a organização de provas um pouco por todo o país, são hoje cada vez mais consumidos também para acompanhar a nossa riquíssima gastronomia, que vai muito para lá do leitão assado, que continua, e muito bem, a ser um companheiro natural.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Demi-Johns

Demi-johns © Blend All About Wine, Lda

Mas também ali se mantêm os demi-johns de licor e as barricas onde envelhecem as várias aguardentes produzidas nas caves, hoje já referenciadas em muitos mercados como das melhores que se produzem em Portugal. Os vinhos São Domingos são produzidos a partir de uvas originárias de vinhas próprias mas também de vinhas de viticultores bairradinos e do Dão, a quem a empresa dá apoio técnico, garantindo assim matéria prima de primeira qualidade.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Old-Wall-Clock

The Old Wall Clock – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Na sala principal, o velho relógio de parede lembrava que era tempo de provar alguns vinhos. E assim fizemos, provando o Caves São Domingos Branco 2014, que tem aromas florais e algum citrino, que lhe emprestam as castas Maria Gomes e Bical. Na boca é aveludado, ligeiramente cítrico, apaladado, muito agradável. Seguiu-se o Volúpia Branco também de 2014, este com as castas Sauvignon Blanc, Chardonnay e Maria Gomes, um vinho moderno cheio de frescura, muito mineral, com óptimo volume na boca, acidez muito equilibrada, cheio de elegância. – Para uma visão mais detalhada destes vinhos brancos confira o antigo anterior do João Pedro de Carvalho aqui.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Old-Reserve-Brute-2009

Velha Reserva Bruto 2008 © Blend All About Wine, Lda

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Cuvée-Brute-2011

Cuvée Brute 2011 © Blend All About Wine, Lda

Depois, os espumantes. Primeiro o Velha Reserva Bruto 2008, feito com Pinot Noir e Chardonnay, com notas florais muito frescas no nariz, palha, brioche e algum tostado. Bolha muito fina e elegante, fresco na boca, com notas de frutos secos. Seguiu-se o Cuvée Bruto 2011, com Baga e Sauvignon Blanc, a dar-lhe alguma compelxidade no nariz, frutado, com notas secas, bolha finíssima, muita frescura na boca, tostado ligeiro, notas de amêndoa muito suaves, um espumante muito elegante.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Aguardente-Lopo-de-Freitas-Brute-2010

Lopo de Freitas Brute 2010 © Blend All About Wine, Lda

Finalmente provou-se o Lopo de Freitas Bruto 2010, que já é um clássico desta casa. Cerceal e Chardonnay fazem um belo casamento, com bolha muito fina, aromas levemente frutados, algo exótico. Na boca tem uma excelente acidez, é cheio, cremoso, com notas leves de frutos secos e um final longo muito agradável.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Roast-Suckling-Pig

Leitão Assado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Citric-Suggestions

Algumas Sugestões Cítricas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Na refeição de leitão assado esteve o Blanc de Blancs Bruto de 2011, muito fresco, mineral e com sugestões cítricas, óptima acidez, a dar boa luta ao leitão.

Blend-All-About-Wine-Caves-Sao-Domingos-Blanc-de-Blancs-Brute-2011

Blanc de Blancs Brute 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No final, “um café e uma São Domingos”, pois claro…

Contactos
Caves do Solar de São Domingos, S.A.
Ferreiros – Anadia
Apartado 16
3781-909 Anadia – Portugal
Tel: (+351) 231 519 680
Fax: (+351) 231 511 269
Email: info@cavesaodomingos.com
Website: www.cavesaodomingos.com