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Casa Ferreirinha – História e Arte

Texto Bruno Mendes

Fundada no século XVIII, por Bernardo Ferreira, a Casa Ferreirinha foi adquirida em 1987 pela Sogrape. Os vinhos produzidos por esta casa, e a casa em si, são sinónimo de história e arte. Uma figura incontornável na história desta empresa é, sem dúvida, Dona Antónia Adelaide Ferreira, que, com o seu espírito empreendedor, refinou a fórmula da empresa e a consolidou.

A Sogrape tem sabido respeitar e preservar todo o património histórico e cultural que a Casa Ferreirinha implica e sempre manteve até aos dias de hoje, porém, permitindo que a empresa se adeque à inovação e à actualidade. A empresa conta com várias gamas de vinho, como o Vinha Grande, Esteva, Papa Figos, Planalto, Callabriga, Reserva Especial, Quinta da Leda, AAF e claro, o lendário Barca Velha.

Para conhecer um pouco melhor a história desta casa, veja o vídeo abaixo.

Grão Vasco Prova Mestra 2013

Texto João Barbosa

A região vitivinícola do Dão foi, durante muitos anos, um referencial de qualidade e onde nasceram marcas que garantiam qualidade, quando o país bebia sobretudo vinhos indiferenciados, a granel nas tabernas, do que vinha da aldeia quando o migrante interno lá ia matar saudades do berço.

O Dão não fugia à regra, mas puxando um bocadinho pela memória ocorrem-me alguns: Aliança, Caves Velhas, Constantino, Dão Pipas, Grão Vasco, Porta de Cavaleiros, São Domingos, Terras Altas, UDACA…

Em Nelas situa-se o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, na Quinta da Cale. A designação, só por si pode parecer vazia de significado, mas é uma casa importante, instituída em 1946. Trata-se dum organismo dependente do Ministério da Agricultura, criado durante a ditadura do Estado Novo que muito promoveu o consumo de vinho. Ficou célebre a frase publicitária: Beber vinho é dar o pão a um milhão de portugueses.

O ditador António Oliveira Salazar, como homem de origens rurais, visitava a sua aldeia de Vimieiro, no Concelho de Santa Comba Dão. Gostava do vinho da sua terra e há imagens em que o serve a camponeses – apesar de tudo, penso que nisso era genuíno e não pose para as fotografias de propaganda.

O país era pobre – foi-o de facto até ao final da ditadura, em 1974 – e o vinho era uma fácil e acessível fonte de calorias. A agricultura tinha um peso enorme nas contas públicas e, dentro dela, o trigo e o vinho.

Quanto à pobreza, por vezes relativizada ou menorizada, cito que, em 1979, na Fonte da Telha – terra partilhada por Almada e Sesimbra, na Área Metropolitana de Lisboa – muitas crianças eram alimentadas a sopas-de-cavalo-cansado… vinho e pão. Não é mito, está documentado, incluindo em filme. Muito antes, possivelmente até talvez após o final da Segunda Guerra Mundial, era enorme o número de crianças descalças. E até adultos.

Assim se pode enquadrar a importância que o sector tinha no Dão neste departamento público. Quem teve oportunidade de provar e/ou beber vinho do Centro de Estudo de Nelas comprovou a excelência destes néctares, com uma notável capacidade de envelhecimento, tanto tintos como brancos.

Andando para a frente, a região do Dão decaiu muito nas preferências dos consumidores. O ressurgimento tem sido progressivo e, durante anos, motorizado pela Dão Sul (Global Wines). Hoje, ninguém nega a qualidade dos vinhos desta demarcação e têm surgido novos vitivinicultores.

A marca Grão Vasco é icónica e a Sogrape tem vindo a promove-la. Julgo que com bom resultado. Recentemente foi apresentado o Grão Vasco Prova Mestra 2013, um tinto feito com uvas da Quinta dos Carvalhais (mais de 50%), com 105 hectares, dos quais 50 são de vinha, sendo a parte restante comprada.

Grão Vasco Prova Mestra 2013 é um lote touriga nacional (36%), tinta roriz (31%) e alfrocheiro (33%). A fruta foi prensada em cubas de inox, onde ocorreu a fermentação alcoólica. Fez a fermentação maloláctica em barricas de carvalho francês, tendo estagiado durante 12 meses. Antes de sair para venda, estagiou três meses em garrafa. Foi aprovado como «Reserva», mas essa indicação não faz parte da marca, embora venha a indicação num selo à parte.

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Grão Vasco Prova Mestra 2013 – Foto Cedida por Sogrape SA | All Rights Reserved

É um vinho fácil, onde as violetas – típicas da touriga nacional neste que é o seu berço – e as amoras e framboesas se «juntam». Menos óbvias, notas de mentol e de caruma de pinheiro. Na boca é suave, com taninos domesticados e com final não muito longo.

Já que escrevo acerca do Dão, não posso esquecer dois factos importantes. Um, mais conhecido do público, é o Queijo da Serra – o mais afamado cincho português. A outra referência é a obra do pintor Grão Vasco.

Portugal, pela sua situação periférica, as artes chegaram com atraso. Quando a Europa construía catedrais góticas, por cá ainda se erguiam igrejas em românico ou num género híbrido. Contudo, o caso de Vasco Fernandes, conhecido por Grão Vasco e que muitas vezes assinava como Velasco, é diferente.

Nasceu provavelmente em 1475, talvez em Viseu, e faleceu em 1542. Foi discípulo de Francisco Henriques, pintor flamengo, oriundo de Bruges. O facto de, à época, se traduzirem os nomes, ficou o registo dado nesse tempo.

A pintura de Vasco Fernandes pode ser considerada ainda como gótica, mas num período muito tardio, em que os avanços técnicos e «o gosto» do Renascentismo já se mostram.

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Retábulo de São Pedro in wikipédia

Quem se passeie pelo Dão não perca uma visita ao Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu, onde está um magnífico retábulo de São Pedro, originalmente colocado na Sé. Em Coimbra existe uma obra acerca do Pentecostes, no Mosteiro de Santa Cruz – onde está também o túmulo do primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques. Em Lisboa, há que ver no Museu Nacional de Arte Antiga.

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Obra acerca do Pentacostes, no Mosteiro de Santa Cruz in wikipédia

Quanto ao vinho, causa primária do texto, é uma aposta segura para quem aprecia o Dão. Não é estratosférico, mas também não é meramente mediano. A mediania cansa-me, mas este deu-me um prazer superior a esse patamar.

Quinta da Leda Vintage 1990, o primeiro Quinta da Leda

Texto João Pedro de Carvalho

Em 1979 a antiga Casa Ferreirinha ou A. A. Ferreira prosseguindo a tradição da família Ferreira adquiriu um terreno inculto denominado Quinta da Leda na freguesia de Almendra. Foram plantados cerca de 25 ha de vinha com o objectivo de testar as qualidades dos vinhos produzidos na sub-região do Douro Superior. O encepamento consistia em Tinta Roriz 34% Touriga Francesa 33% Tinta Barroca 23% Touriga Nacional 8% e Tinto Cão 2%. Ao décimo ano surgiu o primeiro vinho ali produzido e também o primeiro Vintage obtido no Douro Superior pela Casa Ferreirinha, Quinta da Leda Vintage 1990, tendo direito a uma segunda edição apenas em 1999. Hoje em dia a Quinta da Leda conta com 75 hectares e nela se colhem as melhores uvas da empresa, destinadas a vinhos como Barca Velha e o próprio Quinta da Leda cujo primeiro tinto surge como varietal de Touriga Nacional em 1995.

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Quinta da Leda vista panorâmica – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Leda Port Vintage 1990 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Confesso uma e outra vez que não sou grande apreciador de Porto Vintage, nem eu mesmo chego a entender por vezes esta minha rejeição ou incapacidade de ficar em êxtase com o estilo Ruby. Tenho assumidamente uma clara preferência pelos Tawny, sempre fui apreciador de vinhos onde a oxidação é palavra de ordem e os vinhos têm de mostrar argumentos para saberem resistir com galhardia à passagem do tempo. É por isso bem possível que não me consiga recordar de muitos Vintages que me tenham marcado de forma categórica. Mas recentemente tive oportunidade de beber este Quinta da Leda, um Vintage com 25 anos de vida e que a meu ver está naquele ponto óptimo de consumo, nem mais para um lado nem para o outro. No instante do primeiro contacto, do primeiro sorvo, dei por mim a pensar em como teria sido este vinho na sua fase mais jovem, não terá sido certamente um portento de força e taninos rugosos a implorarem por cave e pelo contrário deverá ter sido sempre um vinho que em novo teria alguma ponta de austeridade necessária para desenvolver embora desde cedo mostrasse elegância e equilíbrio entre a opulência da fruta bem madura e sumarenta com a frescura. Uma fórmula que podemos aplicar aos vinhos Quinta da Leda desde que foram saindo para o mercado.

E enquanto beberico o que resta da garrafa em acto de pura gulodice acompanhei com uma mousse de chocolate com azeite e pimenta vermelha. Ligação fantástica que catapultou o vinho para outro patamar a nível sensorial, tendo acidez suficiente para limpar o palato a fruta vermelha bem fresca alia-se em plena harmonia com o chocolate 70% cacau. Muita qualidade a mostra-se bem complexo e rico em detalhe, com frutos do bosque a surgirem já macerados, tabaco, especiarias, chocolate negro, ligeiro terroso no fundo. Na boca replica tudo o aqui descrito, enorme frescura logo de inicio que acompanha toda a passagem pelo palato com um apontamento apimentado e seco no final. Certamente ainda vai durar mais alguns anos em garrafa mas para mim foi um Vintage que me deu muito prazer a beber.

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