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Justino’s Madeira Wine

Texto João Pedro de Carvalho

A tradição do vinho na Madeira é secular, tudo começou no século XV quando o Infante D. Henrique ali mandou plantar vinhas de Malvazia/Malmsey importada da Grécia. Passados mais de 500 anos o Vinho Madeira tornou-se um dos ícones do Mundo do Vinho, quer pela longevidade quer pela qualidade, marcando presença em acontecimentos tão marcantes como por exemplo a Declaração da Independência dos Estados Unidos a 4 de Julho de 1776.

Na recente viagem à Madeira uma das empresas visitados foi a “Justino´s, Madeira Wines, S.A.” criada em 1953 mas cujo fundador foi Justino Henrique Freitas em 1870 quando ainda era uma companhia familiar conhecida como Vinhos Justino Henriques (V.J.H.). Em 1981 Sigfredo da Costa Campos compra a empresa e amplia o seu valor com a compra do stock da Companhia Vinícola da Madeira. Associa-se em 1993 ao grupo Francês “La Martiniquaise” e em 1994 muda-se das instalações no centro do Funchal para o Parque Industrial de Cancela onde se encontra até hoje. Com a sua morte em 2008 a empresa, passou a ser detida na totalidade pelo grupo Francês.

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Alinhamento dos 10 Anos (Sercial, Verdelho, Boal, Malvazia*) © Blend All About Wine, Lda.

A prova, excelente por sinal, foi realizada nas atuais e modernas instalações onde me deixou alguma saudade aquela atmosfera tão característica das adegas mais antigas por onde a passagem do tempo deixou as suas marcas e histórias. Felizmente essa carga nostálgica passou de imediato com a excelência dos vinhos que me iam sendo servidos.

Antes do destaque daqueles que mais gostei, um pequeno apontamento sobre os Justino’s 10 Anos das castas mais conhecidas (Sercial, Verdelho, Boal, Malvazia), vinhos que nos oferecem uma intensidade e maturidade acima da média. E é muito provavelmente a partir de aqui que se começa a melhor entender o “Mundo Madeira” em vinhos cuja harmonia de conjunto se mistura num bouquet mais adulto e que já nos permite sonhar com os patamares mais altos.

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Justino’s Terrantez Old Reserve © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Terrantez Old Reserve
A Terrantez é uma casta rara e quase extinta, que envolve os vinhos a que dá origem com uma capa de mistério e fascínio. Estamos perante um vinho com mais de quarenta anos, alguns apontamentos tal como os toques esverdeados no rebordo indicam que pode ser bem mais velho que isso. Um vinho concentrado e profundo, notas de iodo, caril, laca, madeira de casco velho, frutos secos com bolo inglês, exótico e misterioso. Boca com entrada que envolve e forra o palato com travo untuoso de nozes e amêndoas, geleia de laranja, enorme elegância com aquela acidez que conquista num final muito longo e persistente.

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Justino’s Sercial 1940 © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Sercial 1940
Pela alta acidez que a casta transporta para os vinhos, é a que mais tempo necessita para se desenvolver e mostrar em garrafa. De todos o meu favorito com muitas notas de maresia, muita amêndoa salgada, laca, complexidade e elegância, mel com casca de laranja cristalizada ao mesmo tempo que debita uma frescura bem afiada a embalar toda a prova. Grande presença no palato com ligeira untuosidade de frutos secos salgados, iodo, raspas de citrinos, muita emoção e sabor, mais uma vez a acidez em destaque num vinho a todos os níveis inesquecível.

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Justino’s Verdelho 1954 © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Verdelho 1954
Um vinho que emana frescura e energia, complexidade a rodos num conjunto denso e até algo cerrado de início com aquele toque de limão muito maduro em geleia, chá verde, ramalhete de flores na companhia de nozes, muita vivacidade em conjunto pujante e seco. Boca em contraste com os aromas, cheio de sabor com notáveis apontamentos onde se destaca a secura que revitaliza o palato e convida a mais um trago, sempre com muito sabor e ligeiro toque de untuosidade num vinho que termina apimentado e com um enorme final.

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Justino’s Malmsey 1933 © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Malmsey 1933

Um grande vinho que mostra a razão pela qual não há vinhos comparáveis com os grandes Madeira, aqui a longevidade coabita com uma complexidade/frescura difícil de encontrar noutro local. Este é dos grandes, daqueles que conquista no imediato, sente-se por natureza da casta que é mais doce e “pesado” que os provados anteriormente. Grande complexidade com notas de caramelo de leite, passas de figo, laca, frutos secos, elegância entre conjunto e aquela acidez necessária que lhe dá enorme vida, café moído, caixa de charutos, especiarias, tudo muito bem pronunciado numa perfeita harmonia entre nariz e boca. Palato com passagem untuosa e fresca, com aquela pontinha doce no final que o torna pecaminoso.

Contactos
Parque Industrial da Cancela
9125-042 Caniço
Madeira
Tel: (+351) 291 934 257
Fax: (+351) 291 934 049
E-mail: justinos@justinosmadeira.com
Site: www.justinosmadeira.com

Almoço no Chalet Vicente

Texto José Silva

Num dia temperado e cheio de sol no Funchal, a Olga e eu sentámo-nos a uma mesa da esplanada dum dos restaurantes mais acolhedores da cidade Madeirense para uma refeição tranquila. Chalet Vicente, uma casa solarenga com vários espaços e recantos, entre as salas interiores e a enorme esplanada.

E, logo à entrada da sala principal, pontifica um enorme grelhador, por onde passam peixes e carnes diversos. Mas a ementa é muito variada, entre petiscos e pratos principais, havendo mesmo ao almoço um interessante serviço de buffet.

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Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Tudo aquilo é dirigido por um grande senhor da gastronomia madeirense, um homem com enorme experiência e muito bom gosto, o Nélio Ferreira, que não só nos recebeu, como nos orientou por uma refeição deliciosa, uma viagem por petiscos muito bem preparados, um desfile dos sabores da Madeira na nossa mesa, que souberam tão bem.

O bolo de caco, aquele pão fofinho delicioso, torrado e barrado com manteiga e alho, esteve sempre presente, ao longo da refeição, que começou com umas pouco vulgares mas soberbas ovas de peixe-espada preto, muito bem temperadas, suculentas e crocantes, uma boa surpresa.

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Filetes de peixe-espada preto e bolo de caco – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Logo seguidas dum polvo estufado com batata doce, molho espesso e envolvente, o polvo tenríssimo, excelente. Então o amigo Nélio já tinha aberto uma garrafa dum vinho branco de mesa madeirense, dum pequeno produtor, o “Vai de Cabeça”, da casta Verdelho. À temperatura certa, esteve muito bem, seguro, fresco, com óptima acidez e aquele toque mineral intenso que dá belíssimas ligações. Como foi o caso dos bifinhos de fígado de vitela, com cebola e muito louro, delicados e extremamente saborosos. Vieram depois uns deliciosos filetes de peixe-espada preto, fofinhos e apetitosos, cobertos por um molho de banana e maracujá, uma maravilha

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Vai de Cabeça branco – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Durante a refeição, chegou ao restaurante um atum pequeno, fresquíssimo, de que nos vieram mostrar à mesa algumas partes, já limpas e preparadas. E não resistimos à proposta do amigo Nélio, e apreciamos os bifinhos de atum com molho de vilão, na companhia dumas batatas doces tostadinhas, com mel de cana, algo muito especial, a carne do lombo de atum a desfazer-se em lascas generosa, o molho espesso e bem temperado, a batata doce com paladar exótico, mesmo muito bom.

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Bifinhos de atum com molho de vilão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mas não terminamos sem provar uma das especialidades da casa, as perninhas de rã panadas, bem fritas, com seu molho branco, deliciosas. E já não conseguimos ir à sobremesa… mas conseguimos deliciar-nos com um vinho da Madeira da casa Barbeito, um verdelho 10 anos que esteve muito bem. Intenso no nariz, cheio de frescura e notas de frutos secos, casca de tangerina e caramelo. Na boca é uma explosão de mineralidade, fresco e com acidez vibrante, envolvente, notas tostadas, seco, delicioso.

Perninhas de rã panadas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Com o café não resistimos a outro cálice deste néctar madeirense, servido fresco, como deve ser, um final perfeito desta refeição digna dum Chalet!!

Obrigado amigo Nélio.

Contactos
Restaurante Chalet Vicente
Estrada Monumental, 238
9000-100 Funchal
Madeira, Portugal
Portugal
Tel: (+351) 291 765 818
Tel: (+351) 967 793 903
E-mail: chaletvicente@sapo.pt
Website: chaletvicente.com

Madeira – Relatos de uma prova apaixonante na Henriques & Henriques!

Texto Olga Cardoso

Estive recentemente na ilha da Madeira para participar na 5ª edição do evento Rota das Estrelas, um festival gastronómico internacional de enorme qualidade – veja aqui  (www.rotadasestrelas.com).

Como não poderia deixar de ser, a deslocação à Madeira incluiu também a visita a alguns produtores de vinho daquela ilha. Muitos foram os vinhos provados … e grande parte deles deixaram agradáveis memórias.

Um desses produtores foi a Henriques & Henriques, uma empresa cuja história remonta a 1850 e que, ao contrário do que é habitual na Madeira, possui considerável percentagem de vinhas próprias.

Nesta empresa, hoje pertencente maioritariamente à Porto Cruz, tudo transpira organização, limpeza e cuidado. Aquilo que me deixou mais impressionada, para além dos vinhos naturalmente, foi a sua encantadora tanoaria. Sim, na Madeira os produtores possuem tanoarias próprias tal a sua relevância no processo de vinificação e estágio dos seus vinhos licorosos.

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Tanoaria © Blend All About Wine, Lda.

A prova foi magistralmente dirigida por Humberto Jardim, C.E.O da empresa e grande conhecedor de vinhos Madeira. Por entre diferentes perfis, colheitas e castas, conduziu-nos naquela que foi uma “viagem” através do tempo, do conhecimento e das emoções.

O portefólio deste produtor é bastante grande e poderá ser conhecido através do seu site (www.henriquesehenriques.pt), do qual constam imagens e notas de prova dos diversos vinhos que o compõem.

Neste artigo irei falar apenas de cinco dos vinhos provados, aqueles que mais me impressionaram e emocionaram.

Pois é mesmo assim… os grandes exemplares do Madeira são vinhos que fascinam, que entusiamam e nos deixam perplexos.
São vinhos que passam por vicissitudes enormes ao longo do seu percurso, designadamente por uma maturação a temperaturas muito elevadas, vinhos que sofrem extraordinárias metamorfoses que os transformam em algo verdadeiramente excepcional.

Marcados por uma acidez pungente, resistem ao passar dos anos, décadas e séculos como nenhum outro..

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Vinhas © Blend All About Wine, Lda.

Sercial 1971
Marcado por alguma adstringência que se traduz em aromas e sabores a caules e engaço, este vinho mostra-se brilhante e cristalino. Com evidentes notas de frutos secos e especiarias, apresenta-se complexo, com a secura e a acidez viperina típica da casta. Profundo e vibrante, termina longo e persistente. Memorável Sercial.

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Sercial 1971 © Blend All About Wine, Lda.

Verdelho Solera 1898
Se há exemplos de perfeição, este Madeira será um desses casos! Embora suspeita, atenta a minha paixão por esta casta, a verdade é que este vinho me deixou completamente rendida e fascinada. Tudo é ouro neste vinho. Desde a sua cor de um ouro envelhecido até à sua nobre e brilhante complexidade, tudo reluz, impressiona e subjuga! O nariz liberta aromas a frutos secos, mel e delicadas notas de madeira velha. A boca é intensa, volumosa e tremendamente cremosa. Um vinho de antologia!

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Verdelho Solera 1898 © Blend All About Wine, Lda.

Boal 1957
Com um grau de doçura devidamente alicerçado numa acidez acutilante, este Madeira é outro exemplo de charme e pedigree. Aromas de caramelo, pralinés e metais ferrosos, revela uma enorme diversidade olfativa, num nariz que contudo se apresenta limpo e sedutor. A boca é cheia e redonda. Com um perfeito equilibrio e harmonia, deixa um final interminável de que tão cedo não me irei esquecer. Um dos melhores Boal que alguma vez provei!

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Boal 1957 © Blend All About Wine, Lda.

Terrantez 1954
Proveniente de uma casta muito difícil, que por essa razão corresponde apenas a uma percentagem ínfima dos encepamentos na Madeira, este vinho parece-me até um pouco louco e desmedido. Sendo difícil e rara, esta casta dá lugar a vinhos verdadeiramente únicos e arrebatadores. Este 1954 é talvez uma das suas mais puras manifestações. O nariz é uma bomba de aromas a frutos secos, mel e madeira velha muito suave. Com uma textura e uma estrutura notáveis, revela uma complexidade e um profundidade que fazem dele quase desumano. Se não fosse feito por homens, diria que se tratava de uma criação divina!

Founders Solera 1894
Feito essencialmente de Malvasia, a mais doce das castas nobres do vinho Madeira, este solera possui fortes aromas a passas, casca de laranja, sendo também um pouco especiado. Engrandecido pelo passar dos anos, apresenta hoje uma enorme concentração e complexidade. A cor é escura e intensa e a sua boca de um volume impressionante. Cheio e untuoso, com uma textura extremamente macia, termina bastante longo. Um vinho para se mastigar, um vinho que o tempo soube engrandecer!

Contactos
Henriques & Henriques – Vinhos, S.A.
Sítio de Belém
9300-138
Câmara de Lobos
Madeira – Portugal
Tel: (+351) 291 941 551/2
Fax: (+351) 291 941 590
E-mail: HeH@henriquesehenriques.pt
Site: www.henriquesehenriques.pt