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Convento do Paraíso, a reconquista do Algarve

Texto João Pedro de Carvalho

O Algarve enquanto região produtora passou praticamente de inexistente para uma tímida e crescente vontade de se fazer ouvir. Os investimentos que têm sido feitos na última década têm sabido mostrar os seus frutos e hoje em dia o Algarve enquanto região produtora de vinho de qualidade é uma realidade. A região vive ainda órfã de uma identidade própria que consiga distinguir os vinhos ali produzidos das restantes regiões, algo que acontece por culpa própria e que depende dela própria para saber encontrar o melhor caminho. Têm esse dever os produtores que ali têm sabido fazer vingar com sucesso os seus projectos, como disto é exemplo o Convento do Paraíso (Silves).

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Vinhas Convento do Paraíso – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

Tudo acontece na Quinta de Mata Mouros, propriedade do empresário Vasco Pereira Coutinho, localizada ao lado do rio Arade paredes meias com a cidade de Silves. O Convento de Nossa Senhora do Paraíso foi edificado no séc XII após conquista de Silves, de vinha são 12 hectares plantada de raiz no ano de 2000, onde despontam Cabernet Sauvignon e Sousão nas tintas e Alvarinho e Arinto nas brancas, sendo esta apenas a quarta vindima desta joint venture que começou em 2012 e que junta a família Pereira Coutinho com a família Soares (Herdade da Malhadinha Nova e Garrafeira Soares). Na adega juntam-se para o mesmo fim a vertente mais tradicional com os lagares e a faceta mais moderna com a tecnologia de ponta.

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Imprevisto 2014 – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

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Euphoria tinto – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

Poderiam optar por fazer vinhos previsíveis, felizmente não o fazem digo eu e serve isto de mote para o tinto Imprevisto 2014 num lote de Touriga Nacional/Aragonez. Desponta juventude com muita fruta carnuda e bem suculenta, muito vigor com balanço entre a doçura da fruta e a acidez, floral com toque aconchegante de alguma compota, bastante direto e apetecível desde o primeiro copo. Segue-se a gama Euphoria que nos invoca a sensação de bem-estar, satisfação e alegria, com versão rosado, branco e tinto. Três vinhos que seguem o mesmo diapasão, fruta bem limpa e madura com aromas muito presentes num conjunto a mostrar-se com energia e muito bem-disposto. O branco 2014 centrado no duo Alvarinho/Arinto brilha pela sua frescura, alguma calda tropical a envolver os citrinos de bom-tom, floral num todo convidativo e muito atraente. Enquanto o rosado 2014 com Touriga Nacional/Aragonez mostra os seus frutos vermelhos bem torneados envoltos num delicado perfume. Boa frescura no palato com passagem saborosa e ligeiramente seco no final de boa persistência. Por fim o tinto 2013 que teve ainda direito a 6 meses de estágio em barricas de carvalho francês. Mostra-se num plano mais sério onde a fruta negra e vermelha muito centrada nas bagas e frutos silvestres se mistura com um toque vegetal muito presente. Ao conjunto juntam-se ainda notas terrosas e de alguma especiaria, em fundo a barrica aconchega todo o conjunto que ainda com sinais de juventude dá bastante prazer à mesa.

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Convento do Paraíso 2012 – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

Finalmente o que se assume como topo de gama, o Convento do Paraíso 2012 que resulta do inusual lote de Cabernet Sauvignon e Sousão. Diferente, desafiante e ao mesmo tempo cativante quer a nível de aromas como de sabores. Da fruta muito sólida e fresca combina tons de vegetal maduro, alguma compota e especiaria com bonita envolvência da madeira.  Vinhos de um projecto recente que merecem ser conhecidos e cujo cunho de qualidade conferido pela equipa da Herdade da Malhadinha promete muitas alegrias no futuro próximo.

Da praia ao campo com um copo de vinho na mão

Texto João Pedro de Carvalho

Em pleno Agosto o momento é de pura descontracção, na realidade nesta altura e tal como na comida não gosto de complicar muito, procuro vinhos polivalentes e que toda a gente vai gostar. E com a chegada do Verão é tempo de fazer uma pequena selecção. Certo é que entre praia ou campo o destino quase sempre leva ao encontro das grelhas com marisco, peixe ou carne. Altura em que as comidas mais frescas e leves têm por direito lugar reservado à mesa e da mesma forma os vinhos também se querem frescos e com pouca ou nenhuma passagem por madeira.

De norte a sul de Portugal tive oportunidade de escolher alguns dos brancos que ao longo do ano mostraram a capacidade de me proporcionar momentos marcantes de boa disposição e amizade ao lado de familiares e amigos. Alguns desses exemplos são oriundos da região dos Vinhos Verdes onde se encontram os melhores exemplares de Alvarinho e Loureiro, marcas como Soalheiro ou Quinta do Ameal são sinónimo de satisfação garantida e certamente que mesmo que me esqueça de alguma garrafa há a garantia de se aguentarem por largos anos. As ligações que estes vinhos proporcionam com as mais diversas saladas ou pratos de cariz mais oriental justificam em pleno a sua escolha.

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Praia – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Um pouco mais abaixo por terras da Bairrada sem esquecer os brancos ali produzidos a minha aposta recaiu nos espumantes, com exemplares da Adega de Cantanhede e Caves São Domingos. Estes como outros espumantes são quase sempre os pontos de partida da refeição, os espumantes dão o ar festivo a uma refeição, animam os copos e a ligação com as mais diversas entradas é quase sempre muito bem conseguida.

Continuando perto do mar e já na região de Lisboa, procurei vinhos de grande frescura e com corpo suficientemente capaz de acompanhar desde os mariscos servidos ao natural até às cataplanas ou mesmo os mais variados pratos de arroz. Vinhos com menos aromas de cariz tropical, neste caso mais tensos com aquele pendor mineral e uma acidez que revigore ao mesmo tempo que limpa o palato. O leque de escolhas é amplo e diversificado, desde a versatilidade da casta Arinto que varia entre os ChocapalhaVale da Capucha ou até Bucelas com os Quinta da Murta. Ampliando o leque para a Malvazia de Colares com o Arenae da Adega de Colares ou o Malvazia do Casal de Santa Maria. Para finalizar o passeio por Lisboa fui buscar o Vale da Mata branco, um vinho que ano após ano consegue uma muito boa prestação à mesa ao lado de pratos com mais tempero como um peixe no forno.

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Campo – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Termino as minhas escolhas com alguns rosados de grande nível e que são inegavelmente do melhor que se cria em Portugal. Vinhos como o Dona Maria Rosé (Alentejo) ou o Covela Rosé (Vinhos Verdes), escolhidos para acompanhar o que vai saindo da grelha, servidos frescos são companheiros à altura dos mais atrevidos cortes de carne ou de peixes mais gordos. Como é óbvio as escolhas poderiam ter sido outras, mas este ano quer na praia ou na piscina estes foram os vinhos que escolhi para ter no copo.

Quinta do Cardo, os vinhos biológicos

Texto João Pedro de Carvalho

A Beira Interior, localizada no interior centro de Portugal, tem um passado histórico vitivinícola que remonta à época romana. Com cerca de 16 000 hectares de vinha, a região apresenta uma grande variedade de castas, com destaque nas brancas para a Síria, Fonte Cal, Malvasia e Arinto e, nas Tintas, a Touriga Nacional, Touriga Franca e a Tinta Roriz. Os vinhos desta região são influenciados pela montanha cuja altitude com variações entre os 400 e os 750 metros, é dominada por solos de origem granítica na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa.

A Quinta do Cardo pertence ao grupo Companhia das Quintas e fica situada nas proximidades da vila de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda, no Interior Norte de Portugal. Desde a sua fundação, no inicio do Sec XX até 1988, a propriedade esteve nas mãos de uma família da região, de sobrenome Maia que se dedicavam maioritariamente ao cultivo de gado e à produção de queijos sendo o vinho um negócio secundário. O nome “Quinta do Cardo” advém das grandes extensões de cardos (leiteiros) existentes na propriedade que eram utilizados para a produção de queijos. Num total de 180 hectares, dos quais 69 são de vinhas cultivadas numa cota de 750 metros de altitude e os restantes acolhem uma extensa reserva de sobreiros e floresta espontânea.

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Quinta do Cardo Síria 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Cardo Bruto Touriga Nacional 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A colheita de 2014 marca o lançamento da gama de vinhos biológicos da Quinta do Cardo,cujos 69 ha de vinhas se encontram em modo de produção biológica. É desta colheita que sai o novo Quinta do Cardo Síria 2014, um vinho que de certa forma tem sido um estandarte dos brancos da região. A sua fama vem de longe muito por causa das características tão peculiares que costuma apresentar. Também o novo rótulo a fazer a diferença, diga-se que tanto o rótulo como o vinho encerram muitos e bonitos detalhes. Um vinho refrescante, mineral (pederneira), perfume floral, sente-se tenso e com nervo, limão, lima, maçã, boa frescura. Boca com ligeira untuosidade de início que se esbate numa saborosa passagem com final onde domina a austeridade mineral.

Por outro lado foco também atenções no primeiro espumante lançado pela Quinta do Cardo, Quinta do Cardo Bruto Touriga Nacional 2010, com direito a 36 meses de estágio em garrafa com o primeiro degorgement a ser feito em Junho de 2014. Aroma marcado pelos morangos, framboesas, floral ligeiro, biscoito numa delicada e bonita envolvente. Boca com bonita prestação, fruta a marcar o compasso com boa acidez presente, mostra uma boa secura no final persistente.

Ramos Pinto – Duas Quintas 25 anos de História

Texto João Pedro de Carvalho

A casa Ramos Pinto foi fundada em 1880 por Adriano Ramos Pinto ao qual se juntou o seu irmão António. Numa casa onde a inovação e a mentalidade empreendedora sempre andaram de mãos dadas, destaca-se para o caso o nome de José Ramos Pinto Rosa que executou em conjunto com o seu sobrinho João Nicolau de Almeida o importante projecto da selecção das cinco castas recomendadas para o Douro, tanto para Vinho do Porto como para vinho de mesa. Inspirado no seu pai, Fernando Nicolau de Almeida, criador do Barca Velha, João Nicolau de Almeida cedo entendeu que parte do segredo seria juntar uvas de altitude (mais acidez) com uvas de maior maturação, provenientes de cotas mais baixas. Desta forma juntaram-se as uvas da Ervamoira (150m de altitude) com Bons Ares (600m de altitude), o nome pois claro seria Duas Quintas e após alguns ensaios seria lançado pela primeira vez com a colheita de 1990.

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Casa Ramos Pinto – Foto de Ramos Pinto | Todos os Direitos Reservados

O Duas Quintas foi à época uma inovação e um desafio que uniu às mais modernas técnicas de vinificação os tradicionais lagares, num projecto pensado de raiz e mais uma vez pioneiro na região e catalisador do surgimento de um “novo Douro”. Em 1991 iria surgir o Duas Quintas Reserva e em 1992 o Duas Quintas branco. Ao longo de 12 vinhos fomos tomando pulso aos 25 anos de História que a mestria de João Nicolau de Almeida nos ia traduzindo em vinhos e palavras.

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Vinhas de Ervamoira – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Num breve apanhado pelos vinhos que mais me marcaram a prova começou com um magnífico Duas Quintas branco 2000 apresentado numa bela e esguia garrafa renana, decantado e servido o vinho no imediato deixou todos literalmente boquiabertos. Uma combinação entre frescura e toques de lápis de cera, com tisana e flores onde a fruta combina alternadamente entre a frescura e os toques mais untuosos da geleia. É daqueles vinhos que apetece beber e ter em casa mais umas quantas garrafas guardadas. Ao seu lado foi apresentado o Duas Quintas branco 2014 que mostrou toda a genica da sua juventude, quiçá irreverente onde dá para antever que o seu futuro também será de grande categoria.

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Deanter Branco – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Deanter Tinto – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Demos entrada nos tintos, com o primeiro de todos, aquele que foi o início, o Duas Quintas 1990. Um vinho muito bonito, cheio de vida e onde a fruta parece rejubilar de alegria com tanto morango e framboesa fresca, muita energia com aromas terciários de muito bom-tom, cantos bem arredondados mas cheio de finesse e com uma presença de boca de fazer inveja. Um clássico em toda a linha tal como o eloquente Duas Quintas Reserva 1991 que foi o primeiro Reserva e teve a capacidade de elevar o patamar da qualidade muitos furos acima do que existia para a época na região.

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Duas Quintas 1990 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Da colheita de excepcional qualidade, 1994, surgiram em prova os dois tintos. Comparando o Duas Quintas 1994 com o 1990, mostrou-se a meu ver melhor e com mais presença da fruta, algum vegetal num todo muito equilibrado. Já o Duas Quintas Reserva 1994 num perfil clássico de um grande tinto do Douro, nobre e cheio de carácter, muito complexo a combinar a frescura da fruta com um toque de caramelo de leite, uma delícia.

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Os vinhos em prova – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O final da prova seria com os vinhos do novo milénio, tal como o branco também o Duas Quintas Reserva 2000 se mostrou um colosso a caminho do estrelato, denso, coeso e com muita frescura, tudo em grande onde só o tempo o poderá domar. O último vinho, Duas Quintas 2013 é bastante tentador, amplo de aromas com bonito perfume, tudo muito novo e cheio de energia, dentro do carácter e perfil que os vai guiando nesta fantástica viagem que começou em 1990.

Contactos
Av. Ramos Pinto, 380
4400-266 Vila Nova de Gaia
Portugal
Telefone: (+351) 223 707 000
Fax: (+351) 223 775 099
Email: ramospinto@ramospinto.pt
Website: www.ramospinto.pt

As refrescantes novidades da Quinta do Portal

Texto João Pedro de Carvalho

O projecto da Quinta do Portal nasce no Douro no início dos anos 90 do séc. XX tendo como base uma propriedade centenária da família do seu proprietário, João Branco. A produção que ali sempre foi de Vinho do Porto, viu estender o conceito de todo o projecto para uma “Boutique Winery” onde é o enólogo Paulo Coutinho desde 1994 o máximo responsável pelos vinhos ali produzidos. Para além da produção de Vinhos do Porto, nascem também vinhos DOC Douro e Moscatel, alicerçados nas quatro Quintas (Portal, Confradeiro, Muros e Abelheira) todas situadas no Cima-Corgo que perfazem um total de 100 hectares de vinha com variações entre os 200 e 550 metros de altitude.

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Adega – Foto de Nélson Garrido | Todos os Direitos Reservados

Na Quinta do Portal não são apenas os seus vinhos que se destacam, a juntar a tudo isto temos também a fantástica adega desenhada pelo prestigiado arquitecto Siza Vieira, naquela que será das primeiras adegas de autor a nascer em Portugal. Para a complementar nasceu a Casa das Pipas, um enoturismo de excelência amplamente galardoado dentro e fora de portas.

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Casa das Pipas – Foto Cedida por Quinta do Portal | Todos os Direitos Reservados

Voltando aos vinhos e à mais recente apresentação que Paulo Coutinho nos proporcionou, o meu destaque desta vez vai para os vinhos de aromas mais frescos, mais atrevidos e digamos até mais apetecíveis para esta época do ano. A prova foi conduzida de forma muito descontraída, para surpresa ainda foram colocados em prova alguns vinhos de colheitas anteriores para tomar o pulso à capacidade de envelhecimento das criações de Paulo Coutinho. Diga-se de passagem que em todos os casos a evolução era notável, mesmo num surpreendente momento de forma do Mural branco 2004 que certamente na altura em que andou pelas prateleiras passou por baixo do radar de todos nós.

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Mural branco 2004 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Portal Verdelho/Sauvignon Blanc 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O primeiro branco a entrar em cena foi o Quinta do Portal Verdelho/Sauvignon Blanc 2014 que nasce das parcelas experimentais da Quinta da Abelheira. Encantou com os seus aromas frescos e frutados, numa combinação bastante airosa entre as duas castas. O resultado é um branco muito perfumado, com aromas limpos onde o destaque vai para a fruta (citrinos, tropical, frutos pomar) que combina com vegetal fresco e uma ligeira sensação de pederneira. Na boca mostra uma bela frescura que se sente no palato, rico, marcante e a entrar com fruta bem sumarenta terminando seco e prolongado.

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Quinta do Portal Moscatel Galego 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Enquanto isso já o Quinta do Portal Moscatel Galego 2014 esperava no copo, exuberante o suficiente para chamar a atenção. Em primeiro plano o apontamento floral a lembrar rosas seguido da fruta madura, aqui com bastante laranja. Muita frescura a embrulhar todo o conjunto, algo linear mas que cumpriu sem falhas a acompanhar um alargado leque de entradas que iam aparecendo à mesa.

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Quinta do Portal Rosé 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Por último o Quinta do Portal Rosé 2014, um blend entre Tinta Roriz, Touriga e Touriga Nacional onde predominam os frutos silvestres e as notas de romã. Pelo meio ligeira nota de hortelã num conjunto a mostrar uma bela frescura que se sente também na boca onde ganha maior expressividade, até mais que no nariz. Gosto da secura final com um travo de morango e amora que perdura no palato, num vinho feito a pensar na mesa e nos amigos.

Contactos
EN 323 Celeirós – 5060-909 Sabrosa
(Estrada Pinhão-Sabrosa)
Tel: (+351) 259 937 000
Telemóvel: (+351) 969 519 021
E-mail: reservas@quintadoportal.pt
Website: www.quintadoportal.com

Antonio Madeira Branco, agora como dantes

Texto João Pedro de Carvalho

Por vezes o voltar às origens torna-se essencial para fazer perdurar algo que tem ficado esquecido no tempo, neste caso o voltar atrás no tempo à procura de métodos e ideias que por motivos da suposta inovação foram ficando esquecidos. Corremos o risco nos dias de hoje, sufocados pelo reboliço da civilização moderna, em afirmar que a inovação não é mais do que uma volta ao passado. Sinais dos tempos e dos que a seu tempo, enveredaram por esses caminhos mostrando a todos que sim é possível e que sim vale a pena.

E o produtor António Madeira, lusodescendente que tem no Dão para além das suas raízes familiares uma paixão. E foi no Dão que se dedicou de corpo e alma a criar os seus vinhos, que são tal como já disse, um regressar ao antigamente, uma vontade de resgatar o Dão de um passado que teve com glória e que pouco ou nada tem a ver com a realidade actual. Para isso António teve de meter as mãos nas vinhas, foi entendendo as variações entre vinhedo e os solos onde moram, foi acima de tudo aprendendo com a região. Da mesma forma que António foi aprendendo, também foi ensinando e mostrando na saudável teimosia de quem acredita naquilo que faz e quer, conseguir resgatar do esquecimento o que outros já não queriam saber. As vinhas centenárias que salvou são hoje a sua maior riqueza, são também na sua essência a maior riqueza que o Dão tem para nos oferecer.

Blend-All-About-Wine-António Madeira Branco as good as ever

António Madeira Branco 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Nessas vinhas que soube ensinar a tornar a viver, mora a essência do lote onde surgem castas de nomes estranhos e engolidos pelo tempo. São em forma e conteúdo, as vinhas que davam origem aos vinhos que hoje apelidamos de clássicos e que construíram toda uma imagem de uma região. E como nestas coisas não faz quem quer mas apenas quem sabe, não será de estranhar o virtuosismo do António que com apenas três vinhos no mercado conquistou no imediato todas as atenções. Os seus vinhos falam por si, mas acima de tudo falam pela região do Dão e por aquele cantinho tão especial que escolheu encostado à Serra da Estrela.

No total controla 5 vinhas velhas com idades entre os 50 a 120 anos que entre os 500 e 600 metros de altitude moram em solos graníticos. Nesse field blend moram mais de 20 castas autóctones onde por vezes as brancas se misturam com as tintas, algumas em vias de extinção, onde neste caso a base é 75% Síria, Fernão Pires e Bical. Aqui não deixa de ser curioso que a existência da casta agora rainha de nome Encruzado, faz apenas parte do blend como sempre fez e onde no passado a sua existência a solo mais não era do que um mero exercício experimental. É pois este o seu primeiro branco, da colheita 2013, que resultou em pouco mais do que 600 garrafas fruto do trabalho de precisão e da vetusta idade das cepas cuja produção é bastante reduzida. António chama-lhe vinho de terroir, obviamente não poderia estar mais de acordo pois o vinho mostra um carácter tão diferenciador que apenas de aquele local poderia nascer um vinho assim. O António Madeira branco 2013 tem de delicado tem de profundo, denso e com uma bonita austeridade mineral que lhe domina os fundos. A fruta mostra-se limpa, pura, arrebitada e bonita, cheirosa com alguns ramalhetes de flores das giestas ali do campo. É daqueles vinhos que precisa de atenção, até de uma decantação prévia para que se mostre em condições, tal como no palato vincado pela força e austeridade do granito, muito boa acidez com a fruta a aconchegar. Sente-se alma e nervo, sente-se que temos aqui vinho para muitos anos, temos aqui um grande vinho do Dão. Perfeito a acompanhar peixes nobres de carne delicada ou simplesmente para apreciar em companhia de grandes amigos. Obrigado António Madeira.

Contactos
António Madeira
Tel: (+33) 680633420
Email: ajbmadeira@gmail.com
blog “A palheira do Ti Zé Bicadas

Vale dos Ares um Alvarinho Consensual

Texto João Pedro de Carvalho

Voltei às minhas origens e à terra que me viu nascer (Vila Viçosa) e é por aqui que tenho andado nos últimos dias em modo de mini férias. Tempo que aproveito para rever e visitar alguns amigos e para matar saudades de casa. É por isso espectável e natural que nestes momentos o ponto alto seja quase sempre à mesa, onde para além da gastronomia se partilha também o vinho e a boa disposição.

Neste último jantar em que estive foram bastante variados os vinhos que marcaram presença à mesa. Curioso verificar que em quase todos esses vinhos à medida que foram sendo bebidos iam sendo acompanhados dos mais variados comentários. Aqui como em todo o lado chega aquele momento em que apenas se bebe e conversa, em que o vinho em causa parece ainda que de forma errónea ter ficado esquecido e sem direito a grande discussão de parte dos presentes. Será pois um vinho que reúne um consenso mais generalizado entre o gosto dos presentes, aquele que agradou de tal forma que ninguém teceu qualquer comentário, costuma-se dizer que quem cala consente, terá sido esta a razão do silêncio.

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Vale dos Ares Alvarinho 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Um desses vinhos foi o Vale dos Ares Alvarinho 2014 oriundo da Região dos Vinhos Verdes produzido por Miguel Queimado (MQ Vinhos) com enologia de Gabriela Albuquerque. É um Alvarinho que não se deixa cair em tentações levianas, não peca nem pelo excesso de exotismo nem pela falta de afirmação, mora ali na rua do meio. Mas o morar na rua do meio não significa que seja descaracterizado, nada disso, é todo ele bem-apessoado, senhor do seu nariz, mostra-se sério e convincente envolto numa bonita e fresca fragrância. Elegante e harmonioso, fresco e convidativo, melhora com algum tempo de copo, com uma prova de boca fresca e marcada pela fruta, equilíbrio e uma estrutura firme embora flexível pelo que o vinho parece que se molda ao nosso palato, muito por causa da batonage a que foi sujeito. Nada a dizer pois claro a não ser como alguém disse à mesa… Deste já não há mais?

Contactos
MQ Vinhos, Unipessoal Lda
Quinta do Mato, sn, Lugar do Mato
4950-740 Sá-MNC
Tel: (+351) 251 531 775
Telemóvel: (+351) 934 459 171
Email: info@mqvinhos.pt
Site: mqvinhos

No Reino do Pêra Manca – Cartuxa

Texto João Pedro de Carvalho

Passados quase 15 anos voltei à Adega da Cartuxa, ali paredes meias com o Mosteiro da Cartuxa onde vivem desde1598 os monges cartuxos. A Adega da Cartuxa, propriedade da Companhia de Jesus, foi nacionalizada após a revolução liberal do século XIX e adquirida em 1869 por José Maria Eugénio de Almeida. Apenas em 1950 a adega viria a ser modernizada por Vasco Maria Eugénio de Almeida, conde de Villalva, tendo entrado para os bens da Fundação em 1975. Foi a partir dessa altura que se começou a encarar a produção vinícola, com plantação de novo vinhedo entre 1982 a 1985, numa perspectiva completamente diferente, com ligação desde o início à Universidade de Évora através da equipa na altura chefiada pelo saudoso Engº Colaço do Rosário, a quem os vinhos do Alentejo muito devem. Foram marcantes as colheitas dos finais dos anos 80 como o Cartuxa branco 1987 estagiado em madeira em destaque ou em 1990 com o surgir do primeiro Pêra Manca tinto.

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Adega da Cartuxa © Blend All About Wine, Lda

Os motivos que me levaram a afastar dos vinhos da Cartuxa prendem-se com as evidentes mudanças de perfil que os vinhos começaram a sofrer com a entrada de uma nova equipa de enologia. Com isto viria um reformular dos rótulos e o meu total afastamento dos vinhos que deixei de encarar com a mesma paixão que então tivera muito por causa do Pêra Manca 1995, aquele que é o vinho mais marcante do meu percurso enquanto enófilo. Passado tanto tempo seria altura de voltar a tomar contacto mais de perto com a realidade vínica que hoje é criada na Adega da Cartuxa. As espectativas não saíram furadas, os vinhos saíram daquela fase confusa após mudanças na enologia, certamente que foram precisos algumas colheitas para assentar o perfil desejado com os necessários retoques.

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Tonéis © Blend All About Wine, Lda

Todos os vinhos provados mostraram um nível muito acima da média, a atenção apesar de tudo o que foi provado ficou centrada apenas nos Cartuxa que terminam em apoteose com os vinhos comemorativos dos 50 Anos, para atingir a apoteose com os Pêra Manca. No que a brancos diz respeito o Cartuxa 2013 resultante de um lote de Arinto e Antão Vaz, destaca-se pela boa frescura e pureza da muita fruta madura (citrinos, pêra, ananás) num conjunto algo tenso com uma passagem de boca muito saborosa e séria, tudo no sítio, com uma acidez cítrica a tomar conta do final. No copo ao lado já estava o Pêra Manca branco 2012 a mostrar uma muito boa exuberância com um certo arredondamento, bonita evolução com tempo de copo que o teve e bastante. Harmonioso e envolvente, enche a boca de sabor e classe, frescura tem a suficiente que abraça todo o conjunto de forma equilibrada de maneira a que não temos por ali pontas soltas. O trabalho de madeira está nesta altura completamente integrado, um novo perfil que me agradou neste belíssimo branco.

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Os brancos © Blend All About Wine, Lda

A grande surpresa estaria guardada para o final da prova com um vinho que em conjunto com outros foi criado para comemorar os 50 anos da criação da Fundação Eugénio de Almeida por Vasco Maria Eugénio de Almeida. O Cartuxa 50 Anos branco 2012 é um branco cujo lote de vinha velha com as castas Arinto, Assario e Roupeiro fermentou com curtimenta completa durante 25 dias. Se tivermos em conta os vinhos que fizeram história nesta casa sempre foram no seu aparecimento autênticas irreverências perante o consumidor menos atento, desta vez a provocação surge logo pela tonalidade com nuances alaranjadas. O vinho tem uma complexidade fantástica, um ramalhete de aromas distinto, muito limpos de fruta madura, laranja, limão, ervas de cheiro, anis, muito cativador e diferente de tudo o resto, pelo meio junta-se a frescura que a tem e em muito boa conta, peso e medida.

Com um nível muito alto colocado na mesa era altura de mudar a tonalidade da prova e os tintos tomaram conta do palco. A conversa inicia com o enólogo Pedro Baptista a apresentar o Cartuxa 2012, que nos mesmos modos da versão branco vê centrar todas as suas atenções na qualidade e pureza da fruta madura, a remeter para aquele perfil mais clássico a que esta zona do Alentejo nos acostumou. Ainda cheio de vigor cheio de especiarias com apontamento vegetal, na boca replica a prova de nariz, amplo e atrevido a espicaçar os sentidos com muita vida e uns taninos marotos ainda por polir no final de boca. O salto que se deu foi em direcção ao Cartuxa Reserva 2012 a mostrar-se mais sério como seria de esperar, embora mantendo a toada clássica, juntando a energia do Alicante Bouschet com a generosidade do Aragonez, alguma gulodice com notas de alcaçuz, fruta madura num conjunto com frescura embora se mostre mais polido e com maior envolvimento. No palato é saboroso mostrando-se num patamar acima do anterior, uma diferença que se sente a todos os níveis.

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Os tintos © Blend All About Wine, Lda

O culminar da prova de tintos seria atingido com a apresentação do Cartuxa 50 Anos tinto 2011 onde a Alicante Bouschet brilha em conjunto com a Syrah. Este vinho em tudo especial mostra-se denso, escuro, misterioso e com uma complexidade que se vai desenrolando no copo de forma fantástica. A fruta carnuda e sumarenta aparece fresca, bem delineada, um deleite para os sentidos, a explodir de sabor no palato em conjunto com algum herbáceo, cacau entre outros. Um verdadeiro colosso com anos de vida pela frente que fez as minhas delícias preenchendo os mais altos requisitos. Fantástico. No copo ao lado estava o expoente máximo da Adega da Cartuxa, nascido pela primeira vez em 1990, o Pêra Manca tinto 2010. Sem comparações possíveis com o vinho anterior, diametralmente oposto pois aqui o que comanda é a finesse e harmonia de componentes, tudo numa toada de pura classe com frescura e fruta de grande gabarito. Diga-se que é dos que se bebem com imenso prazer, sem cansar e apetece sempre mais um copo e outro até que a garrafa fica vazia. É a todos os níveis um grande vinho, que se soube reencontrar no caminho das estrelas e mostra-se ao melhor nível a que a marca me tinha acostumado.

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A grandiosidade do Alentejo

Texto João Pedro de Carvalho

Este texto não é mais do que uma opinião muito pessoal sobre a terra e a região que me viu nascer, o Alentejo. É por ali que gosto de andar, que gosto de matar a dita saudade dos cheiros e sabores que me marcaram a memória desde a minha tenra infância. É o chamamento da terra mãe, o chamamento da família que pelas tropelias da vida ficou lá longe e tão distante que não a posso abraçar sempre que quero.

O meu destino foi igual ao de tantas outras gerações nascidas no Alentejo, uma terra pobre que sempre viveu do suor do trabalho das suas gentes. O tal destino de ir para a cidade à procura de uma vida melhor, no meu caso vim estudar para Lisboa que fica a 200km da minha terra natal Vila Viçosa e por aqui fiquei. Como pano de fundo sempre procurei ter o campo, aquele campo que ora verde ora dourado foi e continua a ser chão que dá alimento e condimento a todas as suas gerações.

Foi dessa mesma necessidade que nasceu uma gastronomia rica em aromas que sempre soube captar o melhor que cada uma das influências das várias civilizações que por lá foram passando. Essa mesma gastronomia que de tão rica e única faz as delícias de tantos nos dias de hoje, foi a mesma que nas difíceis horas servia de sustento aos que com poucos recursos faziam muito, aos que sem saber a foram criando, convivendo por vezes lado a lado com a luxuriosa Doçaria Conventual das várias ordens religiosas que se foram instalando nos muitos Conventos da região.

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Alentejo – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Mas será de vinho que interessa falar, de uma cultura que terá vindo com os Romanos, que trouxeram a técnica das talhas de barro que se soube manter até aos nossos tempos. Apesar da técnica de fabrico das mesmas tenha ficado esquecida no tempo, tal não impede que de norte a sul de Portugal a procura hoje em dia por parte dos produtores pelas ditas talhas seja uma realidade. Muito em breve desde os Vinhos Verdes passando pelo Douro até Bairrada e Lisboa vamos ver essa “novidade” que de novo não tem nada aparecer no mercado.

Sobre os tempos mais modernos, o vinho do Alentejo tem sabido subir a pulso a maneira como conseguiu conquistar o mercado nacional no que a vendas diz respeito. Foi apenas preciso uma década se tanto para passar de uma posição na altura desconfortável para não mais largar a liderança de vendas. A qualidade foi sempre algo que acompanhou os vinhos desde muito cedo e basta recuar umas décadas para poder confirmar isso mesmo junto de algumas das referências mais marcantes da enologia da região e porque não dizer até mesmo a nível nacional. Quem aponta o dedo acusando toda uma região de que aos seus vinhos lhes falta frescura/acidez e não têm a capacidade de envelhecer dignamente em garrafa, pura e simplesmente não sabe do que fala. Dos mais recentes artigos sobre produtores situados no Alentejo que foram visitados até aos exemplos mais clássicos de vinhos icónicos que perduram em grande forma até aos dias de hoje. E a lista tem tanto de extensa como os anos de colheita, sem entrar nos anos 90 onde a lista seria muito mais extensa deixo alguns exemplos anteriores como o José de Sousa Tinto Velho 1940 ou mesmo 1961 e 1986, o Mouchão 1954 ou 1963, Quinta do Carmo Garrafeira 1985 ou 1986, Tapada Chaves 1971 ou o 1986, Adega de Portalegre 1986 etc.

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Alentejo – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Depois veio a revolução enológica e deu-se uma rutura com o passado, nos anos que se seguiram parte do vinho do Alentejo ficou refém da experimentação e adaptação daqueles que naquela altura começavam pela primeira vez a criar vinho sem terem ainda garantias suficientes para definir aquilo que seria o novo perfil da região. Essa mesma revolução começa agora a dar os seus frutos, lado a lado com os outros que entretanto se foram afirmando ao longo do tempo como verdadeiros clássicos da região. Este quase renascer de toda uma região em conjunto com uma nova fornada de vinhos, frescos, muitas vezes a contrabalançar entre a elegância e o perfil mais austero garante de uma saudável longevidade mas sempre com o tão carismático toque do Alentejo. Tal como a proliferação de estilos e castas, de aromas e de sabores, também o mesmo se verifica a nível das variadas sub-regiões ou até mesmo dos solos onde a variedade permite encontrar desde os xistos, argilas, areias ou calcários. Somando a tudo isto a Gastronomia e o seu povo, este Alentejo que me apaixona tem tudo para continuar a ser uma das regiões de eleição em Portugal.

João Portugal Ramos

Texto João Pedro de Carvalho

João Portugal Ramos licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia em 1977. Estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, após o que iniciou em 1980 no Alentejo a actividade de enólogo-gerente da Cooperativa da Vidigueira. Sairia passado pouco tempo, passando pela Casa Agrícola Almodôvar onde em 1982 ganha o prémio de Melhor Vinho na Produção com o tinto Paço dos Infantes 1982. Daria o salto para a Adega Cooperativa de Reguengos de Monsaraz onde ajudou a criar a marca Garrafeira dos Sócios. A partir da experiência acumulada, João Portugal Ramos constituiu no final da referida década a sua primeira empresa de nome Consulvinus com o objectivo de dar resposta às inúmeras solicitações de vários produtores, no seu percurso de glória criou alguns dos míticos Tapada do Chaves, Quinta do Carmo ou Cooperativa de Portalegre. A partir de 1989, a Consulvinus alargou a sua actividade para além do Alentejo, chegando ao Ribatejo, Península de Setúbal, Dão, Beiras, Estremadura e Douro.

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A Adega © Blend All About Wine, Lda

 

Em 1990, João Portugal Ramos plantou os primeiros cinco hectares de vinha em Estremoz, onde vive desde 1988, dando início ao seu projecto pessoal. A construção da adega em Estremoz, no Monte da Caldeira, iniciou-se em 1997, tendo sido ampliada em 2000. O sucesso e os prémios acumulados pelos “seus” vinhos ao longo da sua carreira valeram-lhe o reconhecimento nacional e internacional como um dos principais responsáveis pela evolução dos vinhos portugueses. Fruto da sua mestria têm nascido alguns dos grandes vinhos de Portugal, muitos deles ainda feitos em talha, vinhos que fazem parte da história e que têm tido a capacidade única de marcarem tanto percurso enófilo como foi o meu caso. Os exemplos são vários e na sua quase totalidade, incluindo os da década de 80, ainda mostram uma invejável forma na hora da prova.

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A gama de vinhos © Blend All About Wine, Lda

 

Muito recentemente face aos pedidos do mercado investiu nos Vinhos Verdes, já antes tinha no Douro juntamente com o enólogo José Maria Soares Franco criado o projecto Duorum. Passados 13 anos sem lançar uma nova marca de vinho alentejano, tirando os topos de gama, criou a marca Pouca Roupa com um enorme sucesso de vendas. Como tem vindo a ser hábito e não podia ser de outra forma, são os consumidores a ditarem o sucesso deste nome incontornável da enologia.

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Vila Santa Reserva 2012 & Vila Santa Reserva 2009 © Blend All About Wine, Lda

Na mais recente visita à adega e em animada conversa com o Engº João Portugal Ramos, foram colocadas em prova as mais recentes colheitas no mercado com um destaque para os brancos de 2104 que brilham alto fruto de um ano de excepcional qualidade. Foi proposto logo de início provar lado a lado a colheita mais recente com uma colheita anterior onde se começou pelo Vila Santa. O Vila Santa tinto nasceu na colheita de 1991, na altura ainda feito em talha, afirmando-se desde muito cedo como uma das grandes relações preço/satisfação existentes em Portugal. A qualidade assegurada colheita após colheita num perfil que tendo sofrido os necessários ajustes mas onde se tem sabido preservar o “estilo” Vila Santa que tanto prazer dá quando em novo como o 2012 ou mesmo com uns anos em garrafa como tão bem se mostrou o 2009.

De seguida provamos os Quinta da Viçosa, a meu ver os vinhos mais irreverentes do produtor e que nos oferecem a cada colheita o blend das duas melhores castas. Em prova o Quinta da Viçosa 2012 (Aragonês/Petit Verdot) e o 2011 (Touriga Nacional/Cabernet Sauvignon). Nota-se acima de tudo o cunho bem pessoal do enólogo, o espaço de destaque que a fruta ganha, limpa e sempre fresca, desempoeirada e inserida num conjunto sempre com bastante vigor, o tal vigor que permite sem exageros prolongar todos os seus vinhos numa linha de tempo muito acima da média. Quanto aos vinhos, o 2012 ainda muito vigoroso, demasiado novo o que me faz inclinar para o 2011, aquele travo de Cabernet Sauvignon a fazer lembrar Bordéus conquista-me no imediato, embora os dois ainda muito novos e a precisar de tempo em garrafa. Para estes dois tintos a escolha seria óbvia, carne de porco ou novilho com bom tempero, ligações com javali, veado ou caça grossa serão sempre vencedoras.

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Marquês de Borba Reserva 2012, Estremus 2001 & Quinta da Viçosa 2007 © Blend All About Wine, Lda

A fase final da prova contou com a presença daquele que é um dos “novos” clássicos do Alentejo, o Marquês de Borba Reserva que desde que saiu pela primeira vez na colheita 1997 conquistou por direito próprio lugar entre os grandes vinhos da nação. A evolução deste vinho é algo notável, comprova-se provando o 1999 que está num momento de forma magistral e ainda com muita vida pela frente. Terá sido este 1999 o melhor de todos até à data para o seu criador, eu irei juntar ao 1999 o 2012. Embora o 2013se encontre em momento pré-escolar a prova que dá é de um vinho ainda na fase de arrumos, tudo muito espalhado, muita caixa por abrir, precisa de tempo. Enquanto isso o 2012 já se mostra algo mais esclarecido, dá mostras de um conjunto luxuoso ao qual não se consegue ficar indiferente. A envolvência entre fruta/madeira confere um elevado grau de sensualidade e elegância ao vinho, no palato confirma tudo o que tem vindo a ser dito. Por esta altura são os pratos mais nobres e delicados que brilham, uma Perdiz Estufada é o casamento perfeito.

Para o final fica aquele que é de momento o topo de gama do produtor, o Estremus 2011, ainda que se tenha tido um vislumbre do que será a sua nova edição. Mas é no 2011 que as atenções se prendem com razões de sobra para que tal aconteça, o vinho que nem sequer nasce em vinhedo velho é um monumento de classe e raça. Muita finesse com a fruta num patamar de definição e frescura muito acima da média, no fundo sente-se a pujança e nervo de um grande vinho, um gigante adormecido com muitas alegrias para dar nos tempos futuros. A prova que dá esbarra numa saudável austeridade no palato, os tais taninos que ainda não se acomodaram, no nariz a cada rodopio no copo a complexidade vai-se desenrolando. Mais uma vez a enologia de João Portugal Ramos a conseguir lançar um vinho grandioso, como tem sido seu costume ao longo das últimas três décadas. Uau.

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