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Vinho do Porto: um cão é um cão e um gato é um gato

Texto João Barbosa

Não vou escrever acerca de política! Todavia, cito o actual ministro da Educação para ilustração do assunto deste texto. Nuno Crato, governante muito contestado, é um consagrado cientista e professor no Instituto Superior de Economia e Gestão (

Lisboa), catedrático de Matemática e Estatística. Tem um currículo impressionante, disponível na internet.

Ouvi a Nuno Crato, anos antes de ser ministro, que aprender não tem de ser divertido. Também não tem de ser enfadonho, acrescento. Não tem de ser divertido, porque educar é mais do que, na escola, ensinar números e letras, ou, em casa, a saber comer de faca e garfo e dizer «por favor» e «obrigado». A educação deve preparar a criança/jovem para a vida adulta, onde não vai encontrar mimo dos colegas ou contemplações do director.

Tenho ouvido que o mundo do Vinho do Porto é complicado, demasiado complicado, que o consumidor não entende… que há demasiadas categorias e variantes.

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Vinho do Porto in hipersuper.pt

Afirmo que os sete mil milhões de habitantes da Terra são todos Homo sapiens sapiens e, por isso, dotados de inteligência e capacidade de aprendizagem. Nem todos são capazes de desenvolver a fusão nuclear a frio, mas se preparados para tal teriam essa competência. Obviamente, há quem esteja acima da média e abaixo dela.

Por complicado que possa ser, o mundo do Vinho do Porto é menos complexo do que uma tese de doutoramento acerca do papel da estética e rupturas conceptuais nas sociedades modernas e ocidentais.

A última vez que ouvi alguém escandalizado estavam em causa as «12» variações de Vinho do Porto… Eu conto «28». Portanto, parto em desvantagem para a discussão. Se o argumento for simplificar poderia resumir-se tudo a quatro variantes: branco, rosé, tawny e ruby. Ou mesmo só a três, retirando o rosé, porque na verdade é um ruby.

Ora um gato é doméstico é um Felis catus e um cão é um Canis lupus familiaris. Porém, ambos pertencem ao reino Animalia, filo Chordata, classe Mammalia e ordem Carnivora. Diferenciam-se na família: Canidae e Felidae. Atirando o latim pela janela, uma criança gatinhante distingue um cão de um gato. O cão tem donos e o gato tem assistentes pessoais.

Claro que não se pode exigir a alguém acabado de entrar no mundo dos vinhos que saiba tudo, ou quase, sobre o Vinho do Porto… Nem de Bordéus ou de Borgonha, etc.

Portanto, o Vinho do Porto é complicado, certo?! Certo! Escolho outra grande região vinhateira do mundo:

Em Bordéus existem seis sub-regiões (Blayais et Bourgeais, Entre-Deux-Mers, Graves, Libournais, Médoc e Sauternes), subdivididas em 38 denominações de origem controlada.

Em 1855, o imperador Napoleão III ordenou que fosse criada, a pretexto da Exposição Universal de Paris, uma lista em que eram hierarquizados os vinhos de Bordéus. Assim, estabeleceram-se seis patamares qualitativos: Premier Grands Crus, Deuxièmes Grands Crus, Troisièmes Grand Crus, Quatrièmes Grand Crus e Cinquièmes Grands Crus.

Esta listagem apenas abrangeu a margem esquerda do rio Garona. No topo ficaram: Château Lafite (hoje acrescentado Rothschild), Château La Tour, Château Margaux, Château Haut-Brion, Château Mouton (hoje acrescentado Rothschild). Ou seja, três da denominação de origem de Pauillac, um de Margaux e outro de Graves (único, outros ficaram excluídos).

Por terem ficado de fora da listagem de 1855, foram criadas outras tabelas específicas. Em Sauternes et Barsac: Premier Cru Supérieur, Premiers Crus e Deuxièmes Crus. Em Saint-Émilion: Premiers Grands Crus Classés A, Premiers Grands Crus Classeés B, Grand Crus Classés… Chega? Ainda há a tabela de Graves e do Médoc. Ah! E os genéricos Bordéus.

Ah, pois! Seria mais fácil juntar as peças todas, analisar e criar uma lista unificada para Bordéus… já nem digo para França. Mas não! Sarcasticamente digo: Lamentável! Os apreciadores de Bordéus esclarecidos conhecem e debatem os vinhos de cada lado das margens e suas microrregiões… os anos e a meteorologia, as marcas… Sabe quem sabe e saberá quem quiser saber. Para saber um pouquinho, estudará um pouquinho; Para comprar pelo preço, verá o selo e olhará para a algibeira. Quem quiser comprar pela estética do rótulo, escolhe o mais bonito; quem quiser comprar de ouvido, escolherá o que lhe recomendaram.

Vamos a contas:

Brancos – Lágrima (muito doce), Doce, Meio-Seco, Seco, Extra-Seco, 10 anos, 20 anos, 30 anos e 40 anos.

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Ramos Pinto Lágrima branco in ramospinto.pt

Rosé – Rosé (estilo Ruby – evolução em garrafa).

Ruby – Lágrima, Ruby, Ruby Reserve, Ruby Special Reserve, Late Bottled Vintage, Vintage Single Quinta, Vintage, Garrafeira (evolução em demijohns) e Crusted (lote de vários anos).

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Sandeman Port Vau Vintage 2011 in sandeman.com

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Taylor’s Quinta Terra Feita Vintage Port 1991 taylor.pt

Tawny – Tawny, Tawny Reserve, Tawny Special Reserve, 10 anos, 20 anos, 30 anos, 40 anos, Colheita (indicação do ano) e Muito Velho.

Ah! E o Quinado! Não é bem um Vinho do Porto, mas uma associação com quinino. Criado a pensar na população das colónias ultramarinas, visto o quinino ser usado como anti-malárico.

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Quinado Ferreirinha

Os franceses são tão complicados, mas tão dotados de inteligência que conseguem perceber que um cão é um cão e o gato é um gato. Em Portugal, coitadinhos, não somos incapazes de perceber – ou de tentar conhecer – o Vinho do Porto, tal como qualquer outra pessoa doutro povo. Os franceses sabem que os sete mil milhões de habitantes do planeta são todos Homo sapiens sapiens. Por cá, cão e gato precisam de ser explicados.

Já que é para simplificar, por que não retirar as denominações de origem?… Atrapalha ter de saber regiões… e lá fora ligam tanto a isso como a línguas-de-veado e a tisana de lúcia-lima. E porquê mostrar o ano? Algum consumidor pouco conhecedor ou interessado vai preocupar-se se aquele vinho é de 2009 ou de 2010? Saberá das diferenças naturais entre cada safra?

Com sinceridade pergunto: o consumidor comum, fora dos países mais tradicionalistas e do «Velho Mundo», quer saber além da casta? Gosta de branco ou de tinto, «porque sim», e compra syrah, sauvignon blanc ou tempranillo. Esse consumidor típico, do «Novo Mundo» ou de países europeus onde o vinho é menos notório, quererá saber dos estilos do Vinho do Porto ou das classificações de Bordéus? Quem se apaixonar pelo vinho vai procurar, experimentar, estudar, diversificar… ou outros?…

Fernando Lopes Graça – um dos maiores compositores musicais portugueses do século XX – recusava-se a comer ou a beber com música a tocar. Para ele, a música estava acima de qualquer outra coisa, e precisava de sossego para entender e apreciar cada nota. Compreendo?… Sim, mas parece-me exagerado.

Não é snobeira. É simples constatação. Compreendo os amantes dos automóveis que distinguem as jantes dos Ferraris consoante à época e os seus desenhadores. Eu não distingo uma biela duma caixa-de-velocidades. O assunto não me interessa, não uso tempo com isso. É válido para tudo e para o vinho também.

No século XIX, alguém escreveu que existem tantas variedades de Vinho do Porto como de fitas num retroseiro. É facil?! A descoberta dá prazer e conhecimento.

Adega de Borba Garrafeira Tinto 2009

Texto João Barbosa

As adegas cooperativas quando surgiram trouxeram preocupações com a qualidade que, à época, eram inéditas em Portugal. Por outro lado, permitiram aos agricultores obter rendimentos acima dos obtidos com as vendas a empresas de grande dimensão, muitas delas apenas armazéns onde tudo se misturava a eito.

Na década de 80, do século XX, as adegas cooperativas do Alentejo viram além e chamaram técnicos de enologia, o que lhes permitiu ter vinhos de patamar superior. João Portugal Ramos, hoje produtor independente e negócio em várias regiões, foi o primeiro (!) leading wine maker português – detesto estrangeirismos, mas aqui não encontrei melhor.

Porém, na década seguinte foram aparecendo vitivinicultores. Acreditaram na qualidade do seu vinho e que mereciam rendimentos superiores aos permitidos com as vendas a cooperativas e grandes operadores de mercado de vinho a granel, ou quase.

Tiveram a coragem de pôr a cabeça no cepo, arriscando dinheiro, trabalhando furiosamente para o sucesso, que ninguém poderia fazer por si. Alguns ficaram pelo caminho, mas muitos mais sobreviveram e o seu número sendo engordado.

O mercado – essa criatura informe que veste qualquer roupa – deslumbrou-se e castigou as adegas cooperativas. Umas vezes com justiça e outras sem razão. Penso que todas elas sofreram com o rótulo depreciativo que o «mercado» lhe colou.

Não sei toda a história da Adega Cooperativa de Borba, mas não deve ter escapado a dissabores. Não importa aqui o passado, mas o presente. Hoje esse bicho chamado «consumidor» reconhece-lhe a qualidade e marimba-se para a palavra «cooperativa».

O sucesso desta empresa não é alheio à competência de quem toma conta do campo dos associados, de quem faz os lotes na adega e de quem gere de forma moderna e competente. Tudo somado resulta numa enorme ajuda a quem tem de vender o vinho.

Há um mito – que tem muita razão de ser – que os vinhos alentejanos não têm longevidade. Há dois ou três anos provei o vinho Adega de Borba Rótulo de Cortiça 1964 (tinto – não havia branco) e estava esmigalhador.

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Vinhas in adegaborba.pt

A 24 de Abril de 1955 deu-se a fundação da Adega Cooperativa de Borba. Eram 13 os associados e hoje são cerca de 300. A terra toda somada representa cerca 2.000 hectares de vinha, sendo 70% de castas tintas.

O «consumidor» português tem teimosias – que como todas hão-de passar – e exige vinhos fresquinhos a saltar, como o peixe acabado de pescar. Isto cria situações injustas para o vinho, por conseguinte para o produtor, e para o consumidor, que não bebe vinhos que merecem tempo no momento da sua maturidade. Ouve-se, com frequência, a expressão «pedofilia vínica».

A tesouraria dos vitivinicultores e a oportunidade de despachar produto são os pretextos para que juvenis se apresentem nas prateleiras e nas cartas de vinhos. Uma casa grande, como a Adega de Borba, tem aqui uma vantagem, desde que seja bem gerida.

Criar um «garrafeira» e pô-lo à venda cinco anos depois da colheita é quase um luxo.A Adega de Borba lançou o Adega de Borba Garrafeira Tinto 2009, com denominação de origem controlada Alentejo – embora pudesse colocar a sub-região de Borba.

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Adega de Borba Garrafeira red 2009 in adegaborba.pt

Este vinho fez-se com uvas das castas alicante bouschet, aragonês e trincadeira, todas elas com raízes fincadas em solos argilo-calcários. O lote esteve um ano em barricas de carvalhos americano e francês, posteriormente dormiu por 30 meses em garrafa.

Abrir já não é «pedofilia vínica», mas penso que merece ser guardado mais um tempo. Quanto tempo? Isso é já lotaria, pois há sempre surpresas – boas ou más – com vinho arrecadado durante muitos anos. Não me comprometo, cito o conselho do enólogo: «até dez anos».

Quando me perguntam acerca da relação entre a qualidade e o preço dum vinho – ou de qualquer outra coisa – respondo que não sei. É que a importância que se dá ao dinheiro, o nível de exigência para um vinho, a disponibilidade financeira, o momento e a finalidade formam uma equação que só o próprio poderá resolver.

Por mim – esta opinião é apenas minha e de modo nenhum responde à questão da relação entre a qualidade e o preço – os vinhos da Adega de Borba são vendidos a preços cordatos e apresentam qualidade acima e valor abaixo doutros do mesmo patamar.

Os Adega de Borba Branco, Adega de Borba Branco Rosé e Adega de Borba Tinto vendem-se 2,89 euros, valor recomendado pelo produtor. Neste nível é fácil de opinar, pois o preço é mais do que acessível. Quando o visado é Adega de Borba Garrafeira Tinto 2009… é comparar com oficiais da mesma patente e escolher, de preferência com o auxílio dum responsável de garrafeira. O produtor vende-o 15,75 euros.

Contactos
LARGO GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL 25, APARTADO 20
7151-913 BORBA, PORTUGAL
Tel: (+351) 268 891 660
Fax: (+351) 268 891 664
Website: www.adegaborba.pt

Vinhos Palato do Côa – sem pressas e com sonho

Texto João Barbosa

Em 2008, Carlos Magalhães, enólogo com prática no Alentejo e na Bairrada, descobriu a Quinta da Saudade, na aldeia de Muxagata, no concelho de Vila Nova de Foz Côa. Conhecendo as aptidões para a produção de vinho de qualidade, desafiou quatro amigos a comprar a propriedade, vindo mais tarde a juntar-se um quinto elemento.

Os seis sócios (Albano Magalhães, Bernardo Lobo Xavier, Carlos Magalhães, João Anacoreta Correia, João Nuno Magalhães e Manuel Castro e Lemos) propuseram-se atingir um patamar elevado: «criar serenamente os melhores vinhos do Douro».

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Os seis sócios in palatodocoa.pt

Obviamente que os desejos são partilhados por muitos, pelo que só fica bem pretender atingir o topo. Se todos visarem a excelência e daí nascer uma saudável competição, o resultado será um contínuo trabalho para valorização das marcas, da região e do país.

O Douro Superior não é fácil de aturar… É bastante frio no Inverno e no Verão tem as portas abertas para o Inferno. Porém – talvez por as videiras serem masoquistas – esta sub-região dá a nascer vinhos com grande reconhecimento dos consumidores, da crítica nacional e internacional.

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As vinhas in palatodocoa.pt

Carlos Magalhães afirma-se apaixonado pela Borgonha e que tem o sonho dos seus vinhos terem esse padrão. Não me parece fácil, devido às condições naturais dessa região francesa e as do Douro. Mas ele é que é o enólogo e conhece as suas uvas, os solos da quinta e o clima do local.

A Quinta da Saudade tem 7,5 hectares agricultados com vinha, com umas dezenas de anos. Aos quais se somam 8,5 hectares plantados recentemente. As variedades brancas são as tipicamente durienses rabigato, viosinho e códega de larinho. As tintas são as touriga franca, touriga nacional, tinta roriz e alicante bouschet.

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As uvas in palatodocoa.pt

A verdade é que os vinhos Palato do Côa apresentam-se com frescura. Os de entrada de gama mostram-se frescos e são vinhos bem-feitos, sem vaidades injustificadas. Ficam bem numa refeição em família, em que não visitas para qualquer cerimónia, ou para um convívio entre amigos, em que a efervescência da amizade não mata o vinho, nem este causa transtorno para divergir as conversas para críticas enófilas.

O Palato do Côa Reserva Tinto 2011 já exige mais atenção, que o ponham na mesa quando os sogros forem jantar lá a casa.

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Palato do Côa Reserva in palatodocoa.pt

Guardar vinhos para ocasiões especiais torna-se muitas vezes injusto, para o vinho e para o enófilo. Todavia, há vinhos que têm de ser bebidos já, antes que a juventude se consuma e restem apenas cinzas no «tal dia» em que a rolha sai da garrafa.

O Palato do Côa Escolha Tinto 2011 e o Palato do Côa Grande Reserva Tinto 2011 estão num patamar onde é difícil entrar. Tanto um como outro são belíssimas ofertas ao médico que nos operou ou aos sogros, no jantar de apresentação. Neste último caso, é precisa moderação para não os habituar «mal».

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Palato do Côa Escolha in palatodocoa.pt

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Palato do Côa Grande Reserva in palatodocoa.pt

Em Portugal diz-se – desconheço se noutros países e idiomas – que o Natal é quando um homem (ser humano) quiser. Por isso, que se bebam no Natal, tendo em atenção à temperatura de serviço e ao companheiro que espera no prato.

Fora de brincadeiras, os Palato do Côa Escolha Tinto 2011 e o Palato do Côa Grande Reserva Tinto 2011 devem ser poupados ao tempo quente, nos países com um Verão para escaldões. Pedem comida robusta e ar condicionado… pois que o Natal seja quando um homem quiser, mas não no tempo quente. Tanto um como outro merecem repousar algum tempo, no escuro e com temperatura acertada.

Contactos
Quinta da Saudade
Muxagata, Vila Nova de Fóz Côa

Albano Kendall Magalhães​
Email: akmagalhaes@palatodocoa.pt
Tel: +351 939 363 890

Carlos Magalhães
Email: carlosmagalhaes@palatodocoa.pt
Tel: +351 964 246 161

Website: www.palatodocoa.pt

Vinhos do Monte da Raposinha

Texto João Barbosa

Era uma vez uma raposa, animal omnívoro, que passou sob uma videira onde estavam pendurados uns belos cachos. A Vulpes vulpes tinha fome e bem se jogou a elas, mas não as alcançou. Derrotada, mas orgulhosa, exclamou:

– Estão verdes!

Essa é a da estória de Esopo. Mas há mais raposas e mais uvas. Em Montargil há umas vinhas só para raposinha. A propriedade é a Herdade da Raposinha, mas trata-se de topónimo recente, visto ser uma homenagem à actual proprietária, Rosário Sousa Ataíde.

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Monte da Raposinha in montedaraposinha.com

Este território de 150 hectares está na família de Rosário Ataíde desde o século XVIII, mas o cultivo da vinha é recente. Aliás, em Montargil só há dois produtores, de acordo com Nuno Ataíde, juiz no Tribunal da Relação do Porto, que deu vida ao sonho enófilo do sogro.

Pedro Sousa, médico em Coimbra, não chegou a provar os vinhos da Raposinha. Até 2004, o Monte da Raposinha era usada para fins lúdicos, embora com pomar, olival, sobreiral e pinhal. Nuno Ataíde mandou plantar dois hectares, depois mais cinco e sete em 2014.

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Monte da Raposinha in montedaraposinha.com

A gestão da casa agrícola está a cargo de João Nuno Ataíde, um dos três filhos do casal. Na enologia manda Susana Esteban – já se sabe que com mão certa. A colheita de 2007 foi a primeira a ser posta à venda, em 2008.

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As vinhas in montedaraposinha.com

Os dois primeiros hectares foram cultivados com touriga nacional, aragonês e trincadeira, em partes iguais, especifica João Nuno Ataíde. Actualmente em produção estão as castas touriga nacional (1,5 hectares), syrah (1 ha), aragonês (1ha), trincadeira (0,5 ha), arinto (1,25 ha), chardonnay (0,75 ha), antão vaz (0,6 ha) e sauvignon blanc (0,4 ha). As castas plantadas no ano passado foram alicante bouschet, touriga nacional e syrah. Cerca de 40% do vinho faz-se com uvas compradas.

Nuno Ataíde afirma que «começou quase com o pêlo do cão e depois de começar a fazer contas». O produtor diz ainda não querer fazer contas. O objectivo quantitativo é atingir os 100.000, a capacidade instalada da adega. Hoje exporta cerca de 60% da produção, sendo todo o vinho classificado como Regional Alentejano.

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A adega in montedaraposinha.com

O Alentejo é todo quente, mas Montargil fica num Alentejo abundante em água, uma mais-valia para quem precisa de matar a sede às culturas. Até 2014, as vindimas começaram sempre em Agosto.

Ora os vinhos:

Num traço geral refiro que têm a mão segura de Susana Esteban. Volta e meia surge a questão se os vinhos de enóloga são femininos… se há vinhos femininos feitos por homens. O modo de estar será diferente, penso que as diferenças não estão no género, mas na personalidade.

Susana Esteban faz vinhos femininos? Não sei. Sei que faz certos, prazenteiros, elegantes e diferenciados. Esta enóloga não usa uma forma para fazer vinho. Faz os lotes com base nos moldes da natureza. Não falo em terroir – isso dá para teses de doutoramento e longas conversas nos serões de Inverno – mas em natureza.

O «chapa quatro» de Susana Esteban é não haver «chapa quatro». Mas há uma assinatura, recuso o termo «feminino», mas elegante. Teimo em acreditar que as obras tendem a reflectir a personalidade dos autores. Mal conheço a enóloga, mas a impressão que tenho é duma mulher que sabe o que quer e com tranquilidade de muita classe.

A elegância é transversal desde os Monte da Raposinha (tinto 2012 – touriga nacional, alicante bouschet, syrah e aragonês  – e branco 2013 – arinto e antão vaz), ao Athayde Reserva Branco 2013 (chardonnay e sauvignon blanc), Athayde Grande Escolha Tinto 2011 (syrah, touriga nacional e alicante bouschet) até ao Furtiva Lágrima 2010 – nome da ária «Una furtiva lagrima», da ópera «O elixir do amor», de Gaetano Donizetti – um lote de alicante bouschet, syrah e touriga nacional.

Contactos
Estrada do Couço, S/N
7425 – 144 Montargil, Portalegre
Portugal
Tel: (+351) 919 860 902
Email: geral@montedaraposinha.com
Website: www.montedaraposinha.com

A História do Esporão e os seus vinhos

Texto João Barbosa

Reguengos de Monsaraz está a 170 quilómetros do litoral oceânico. Durante séculos, talvez milénios, um nevoeiro naquela zona alentejana terá sido fenómeno raríssimo. A construção da Barragem de Alqueva, no rio Guadiana, criou o maior lago artificial da Europa – há quem discorde – tornou frequentes as névoas.

Não vou entrar – nem sinteticamente – no elencar de vantagens e desvantagens da construção da represa, em termos económicos, ambientais e sociais. Só refiro que a água tem permitido regar as vinhas, que se multiplicaram por todo o Alentejo. O empreendimento foi falado pela primeira vez em meados da década de 60 e o projecto empresarial da Herdade do Esporão «arrancou» em 1973 – entre aspas, porque levou anos adiado por razões externas à vontade dos empresários.

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Esporão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Esporão começou por ser «uma fantasia» de Joaquim Bandeira, que viu além e quis plantar uma grande vinha no Alentejo. Desafiou José Roquette, que deixou a banca para abraçar a nova empresa.

A ditadura caiu em 1974 e, em 1975, o Governo reforçou a ideia de construir a barragem, ainda que passassem décadas até que fosse erguida. Também nesse ano, a Herdade do Esporão foi ocupada, no âmbito da Reforma Agrária. Em 1978 a propriedade foi devolvida, ainda que com a obrigatoriedade de ter de vender as uvas à cooperativa local.

ADN com mais do que vinho

Antes de entrar na prosa dos vinhos quero referir um aspecto que considero altamente relevante no mundo dos negócios, que é a responsabilidade social, em vasto censo. Seja no apoio directo à arte ou ao património humano, à cultura e ao ambiente, Herdade do Esporão tem no ADN querer ser mais do que uma vinícola.

Em 1985 aconteceu a primeira vindima que daria corpo ao primeiro vinho com marca própria, que sairia em 1987. O primeiro filho foi Reserva Tinto e, desde essa primeira edição, que os rótulos apresentam uma obra de arte. O consagrado João Hogan foi o escolhido para a estreia, mas, infelizmente para a empresa, o quadro não reside na colecção.

No âmbito da cultura, refira-se a preservação da Torre do Esporão, uma pequena fortificação medieval, a preservação do achado arqueológico na Herdade dos Perdigões (comprada em 1995, sendo o achamento do sítio acontecido em 1996), datado de entre os IV e III milénios Antes de Cristo – quantos empresários suportariam militante e financeiramente o que se poderia considerar como contratempo indesejável.

Em 2006, João Roquette assume a chefia da casa, que inicia uma reestruturação e replantio das vinhas e adopta uma política ambiental no sentido da recuperação e recriação de habitats, pondo a natureza a trabalhar e poupando em tratamentos de fitofármacos.

Outra acção de recolocação no «sítio» é a nova adega, recentemente finalizada, construída em taipa – método abandonado e praticamente esquecido. Muitas adegas alentejanas eram construídas desse modo e por alguma razão era: frescura. A terra, cascalho e madeira permitem um continuado arejamento e regulação da temperatura… ou seja, economia em energia.

Os protagonistas

Os vinhos não são o pretexto da empresa. As preocupações é que são resposta ao impacto que actividades agrícolas ou industriais implicam. Vêm agora para a conversa dois tintos – com obras de Alberto Carneiro – e dois brancos.

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Esporão Reserva tinto 2012 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Reserva Tinto 2012 é um tiro de canhão, com os seus 14,5% de álcool. Dito assim poder-se-á pensar que é pesado. Errado! É um vinho com frescura. Aliás, a experiência da empresa e sucesso desta referência mantém-na num patamar de fiabilidade e prestígio. Fez-se com uvas de alicante bouschet, aragonês, cabernet sauvignon, trincadeiras, entre outras. Está equilibrado em fruta e madeira e promete viver durante uns bons anos.

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Esporão Private Selection tinto 2011 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Private Selection 2011 está num patamar acima, incluindo na perspectiva de longevidade. É um vinho com um maior estágio em madeira, sendo ela 70% de carvalho americano. Tem taninos com garra e elegância, fundura de boca, uma agradável relação de frescura e calor, e final longo.

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Esporão Verdelho 2014 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

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Esporão Duas Castas – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Verdelho 2014 traz frescura e tem garra. Não duvido que irá ligar muito bem com as comidas mais leves. Se o vinho anterior expressa a casta, o Esporão Duas Castas mostra além das variedades, exemplifica os locais onde as cultivares arinto (60%) e gouveio (40%) têm as raízes enterradas. Mais uma vez, tem frescura e agarra-se ao enófilo.

Contactos
Herdade do Esporão
Apartado 31, 7200-999
Reguengos de Monsaraz
Tel: (+351) 266 509280
Fax: (+351) 266 519753
Email: reservas@esporao.com
Website: esporao.com

Frescuras: Os novos vinhos 2014 da José Maria da Fonseca

Texto João Barbosa

Estou tão fartinho do calor e o Verão ainda agora começou. A rua, de onde escrevo, é fresca… bem, diria que é o frigorífico do Inferno. Mentalmente – porque alguém tem de ficar em Lisboa a tomar conta da cidade quando sai toda a gente – estendi a toalha na areia e já dei umas quantas cabeçadas no oceano, para refrescar ideias e congelar chatices.

Escrevo à luz ténue do fim da tarde. Como sempre, esta época e este momento põem-me num tempo que não volta. Oiço os GNR, e relembro que «aos 16 já falta pouco para sentir 86». Certezas e não nostalgias.

Algumas certezas dão conforto. Quando penso nos meus 16 lembro-me de várias praias, porque as férias de Verão eram mesmo grandes. Em Junho ia para Sesimbra e mentalmente faço a estrada e «o agora» pára o meu veículo invisível à passagem por Azeitão.

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José Maria da Fonseca 2014 Wines – Photo Provided by José Maria da Fonseca | All Rights Reserved

Porque é Verão. Porque dali chegaram-me os novíssimos 2014. Vinhos prontos para enfrentar o calor e desfrutar o estio. Frescos e escorregadios. Colecção Privada Domingos Soares Franco Verdelho 2014, Colecção Privada Domingos Soares Franco Moscatel Roxo 2014, Quinta da Camarate Branco Seco 2014, Quinta de Camarate Branco Doce 2014, Periquita Branco 2014 e Periquita Rosé 2014 – além do BSE, que já foi referenciado anteriormente.

A apresentação decorreu no By The Wine José Maria da Fonsecaum local que me lembra algumas antigas casas de pasto – não eram nem tabernas nem restaurantes – e que se situa na Rua das Flores, paralela à Rua de Alecrim, entre os turísticos largos do Cais do Sodré e do Camões. Cito o estabelecimento, pois nele se pode conhecer, através de imagens, algum do passado desta firma histórica.

O ano de 2014 ficará marcado, em Portugal, pela morte de Eusébio, craque do futebol da década de 60, e, no mundo, pelo «não» dos escoceses à independência. As pessoas do vinho guardarão um tempo de «ora bolas»! Estava tudo a ir tão bem até que chegou a chuva.

Porém, não foi uma catástrofe. Um dos aspectos positivos é a frescura dos vinhos cujas uvas foram vindimadas antes da chuva. É o caso destes apresentados pela firma de Azeitão. Como em tudo, há aspectos positivos e outros que nem tanto. Aqui, o menos aprovado é assunto subjectivo. Substantivos são a frescura e o acerto do tiro ao coração do Verão.

Quinta de Camarate Branco Seco 2014 uma junção de uvas alvarinho e verdelho, é sensual no nariz e mostra frescura, pede comida. Para as noites estivais.

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Quinta de Camarate Seco white 2014 – Photo Provided by José Maria da Fonseca | All Rights Reserved

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Quinta de Camarate Doce white 2014 – Photo Provided by José Maria da Fonseca | All Rights Reserved

Quinta de Camarate Branco Doce 2014 não me atrai. O problema é exactamente ser doce. Fez-se com uvas das castas alvarinho e loureiro. Porém, apresenta-se como uma alternativa, nos aperitivos, a brancos generosos ou a vermutes.

Os dois Periquita podem ir juntos para a mesma festa. O Periquita Branco 2014 junta alvarinho, viosinho e viognier e é para ser posto à mesa com as comidas leves do Verão. Antes, os amigos em calções e chinelos flik-flak divertiram-se com o Periquita Rosé 2014.

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Periquita white 2014 – Photo Provided by José Maria da Fonseca | All Rights Reserved

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Periquita Rosé 2014 – Photo Provided by José Maria da Fonseca | All Rights Reserved

Quem deve estar na brincadeira no seu ofício e a firma José Maria da Fonseca não brinca, não há vinhos sério e vinhos de faz-de-conta. Isto, porque tenho de escrever que os dois vinhos restantes são «mais a sério». Ou seja, trata-se de retórica.

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Colecção Privada Domingos Soares Franco Verdelho 2014 – Photo Provided by José Maria da Fonseca | All Rights Reserved

O Colecção Privada Domingos Soares Franco Verdelho 2014 é um carro-de-assalto ao Verão…

– Xô, calor! Xô! Ide para longe!

O Colecção Privada Domingos Soares Franco Moscatel Roxo Rosé 2014 vem, na sequência das edições anteriores, a pregar sustos à temperatura. Ainda assim, digo que não é «o meu vinho». Tenho de assinalar um aspecto: os vinhos Colecção Privada Domingos Soares Franco Moscatel Roxo têm sido muito celebrados, quer pela crítica, quer pelo público. Perante isso, faço vénia e assumo que o problema só pode estar em mim, não acredito em conjuras siderais… e logo contra o paladar dum simples mortal.

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Colecção Privada Domingos Soares Franco Moscatel Roxo Rosé 2014 – Photo Provided by José Maria da Fonseca | All Rights Reserved

Um generoso também no Verão

Os vinhos Moscatel de Setúbal são, infelizmente, pouco conhecidos. A maioria é consumida na sua região de origem. É pena, pois distinguem-se dos mundialmente famosos Porto e Madeira.

A firma José Maria da Fonseca apresentou o Alambre 2010, que estagiou em madeira usada. É certeiro no agrado, seja para começar ou arrumar com a sobremesa. A empresa sugere que entre em cocktails; só com gelo; com ginger ale e casca de limão; com água com gás…

Contactos
Quinta da Bassaqueira – Estrada Nacional 10,
2925-542 Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, Portugal
Tel: (+351) 212 197 500
E-mail: info@jmf.pt
Website: www.jmf.pt

Juro que termino aqui o passeio pelo Dão!

Texto João Barbosa

Queria apenas escrever acerca de três vinhos do Dão, mas a corrente deste rio levou-me a enquadrar, porque a região nasceu bem, enfraqueceu e está (ainda) a renascer. Termino onde desejei começar.

A qualidade tem vindo a aumentar e faz justiça à natureza e ao engenho humano, pois o Dão é das melhores regiões vinhateiras portuguesas. No elencar das virtudes e fealdades da região dou três exemplos que traçam o meu boneco. A Dão Sul, a Sogrape e a Casa de Mouraz. Qualquer delas conhece o sucesso e as vitórias nunca acontecem por acaso. Uma retrato a preto e branco e dois a cores.

A cores: Quando em 2004 comecei a fazer o programa «Da Terra Ao Mar» – domingos, às 11h00, na RTP 2 – uma das primeiras reportagens foi sobre a Casa de Mouraz. Um casal jovem mudara-se de Lisboa para lavrar uma vinha em modo biológico, hoje em biodinâmico. Tinham quatro hectares e hoje Sara Dionísio e António Lopes Ribeiro oficiam em mais zonas do país, mantendo o coração no Dão.

A preto e branco: A Dão Sul (Global Wines) foi fundada em 1989 e a ela se deve muito do renascimento da região, recolocando-a nos escaparates. Uma estratégia de qualidade acima da média e preço amigo da algibeira.

A Quinta de Cabriz tornou-se conhecida do grande público. Um sucesso avassalador que ditou a chegada de uvas doutras terras da zona e que a marca passasse a ser apenas Cabriz. A Quinta dos Grilos – supostamente doutro produtor, embora doutro dono, dizem as más-línguas –serviu para criar uma dinâmica de competição. Outro caso de popularidade, embora menos visível. Hoje é só Grilos, pela mesma razão do anterior.

Infelizmente, Cabriz e Grilos decaíram na qualidade. Fazer muito e muito bem é quase a quadratura do ciclo, é muitíssimo difícil. A Casa de Santar, outrora com mais sainete, conhece a mesma sina. Contudo, a contratação do enólogo Osvaldo Amado está a dar melhores resultados. À parte: o vinagre de Cabriz é excelente!

A Global Wines não faz só vinhos de gama baixa. Os Paço dos Cunhas de Santar e o Pedro & Inês – evocativo do grande e trágico amor entre o infante Dom Pedro, mais tarde rei Pedro I de Portugal, com Dona Inês de Castro – fazem parte do melhor da região.

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Quinta dos Carvalhais – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

O pretexto original era o de contar acerca de três vinhos da Quinta dos Carvalhais, propriedade da Sogrape. É a maior empresa portuguesa do sector – uma multinacional familiar – que não brinca em serviço. No Dão faz vinhos de classe mundial e criou três «indivíduos»: personalidade e expressão da origem; terroir.

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Quinta dos Carvalhais – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

A touriga nacional é original do Dão, onde oferece um ramalhete de violetas. Sem caricatura de aroma – exagero que está a acontecer na região – tem o carácter é educado. Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2012 é pedagógico, expressa a casta e elegância que deu fama ao sítio onde nasceu.

Igual valor tem o amarelo, concretizado com a variedade mais vistosa da zona, muito fresca e mineral . O Quinta dos Carvalhais Encruzado 2013 tem igualmente uma função formativa, do que é a casta e do que de melhor se faz no Dão.

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Quinta dos Carvalhais Encruzado 2013 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2012 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Carvalhais Reserva tinto 2010 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

Porém, a regra portuguesa dita que os vinhos sejam resultado da junção de várias castas, embora a empresa não forneça, no seu sítio na internet, quais as que o encarnam. O Quinta dos Carvalhais Reserva Tinto 2010 reúne o verdadeiro carácter do Dão.

O melhor de antigamente, a longevidade. Foram feitos para durar, mas podem beber-se já. Com os anos que têm pela frente… compre várias garrafas, beba umas e guarde outras. Tire apontamentos para comparar e recordar.

Ainda não me cansam as pernas de andar pelo Dão

Texto João Barbosa

Comecei a passear pelo Dão, mas como as estradas são compridas acabei por não chegar ao destino, sem fazer uma pausa de uma semana. Contava que a segunda revelação foi uma festa com vários oficiais de alta patente.

Aconteceu em 2010, quando João Tavares de Pina organizou um evento, em que participaram muitos produtores, todos eles de vinhos de grande qualidade. Este lavrador chamou-lhe «Dão – The Next Big Thing». Para quem não domina a língua inglesa, pode ser «traduzido» como «Dão – A Próxima Grande Surpresa».

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Expressões do Dão in cvrdao.pt

Não tenho nada para ensinar aos dirigentes da Comissão Vitivinícola Regional do Dão mas penso que esse momento deveria repetir-se, de modo a criar uma onda para o reconhecimento… talvez com concurso, debates e críticos internacionais.

Foi um encontro e pêras. Um verdadeiro encontrão. Um encontrão pela variedade e pela qualidade apresentada. Se apontei, não me recordo onde guardei a lista com a informação de todos os produtores, mas foram muitos. Como em tudo, há uns que memorizei pelo agrado.

Um foi o vinho do anfitrião e organizador. Os vinhos Terra de Tavares, muito vibrantes, autênticos, com o carácter do «terroir» – palavra em vias de banalização, devido a constante usurpação, não é o caso neste momento.

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Terras de Tavares, João Tavares de Pina – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Outra bela descoberta foram os da Casa de Darei, mais elegantes do que os anteriores, mas também muito especiais e agarrados à origem. Mas o maior espectáculo aconteceu no selecto Clube de Viseu, no seu salão de festa.

O ponto alto aconteceu quando se serviram os vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão – situada na Quinta da Cal, no concelho de Nelas. Brancos velhos em plena forma, nomeadamente de 1980 e 1981. Tintos da década de 70 ainda mais joviais.

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Solar do Vinho Dão (CVR Dão) cvrdao.pt

Um grande amigo contou-me de beber uns néctares da UDACA (União das Adegas Cooperativas do Dão) com «séculos», que o fizeram repensar a certeza de só gostar de vinhos novos. Infelizmente, não me passaram pelo estreito.

A minha memória do Dão criou-se do quase nada – como revelei na primeira parte deste passeio de recordações. Até muito tarde, sabia, de vinhos do Dão, apenas marcas antigas, como Porta de Cavaleiros, Dão Pipas, Grão Vasco, Meia Encosta, São Domingos, Messias e Borges… acho que mais nenhum.

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Expressões do Dão in cvrdao.pt

Já na década de 90 encontrei-me com néctares excelentes, ostentando nomes das quintas onde nasciam, o que é natural devido ao declínio das cooperativas da região. De então para cá, a lista tem-se alargado. Sabendo que serei injusto, por omissão involuntária, tenho de citar – além das já referidas – pérolas grená e loiras: Quinta dos Roques, Quinta da Vegia, Quinta da Passarela, Paço dos Cunhas de Santar, Quinta de Carvalhais, Casa de Mouraz, Quinta da Falorca, Duque de Viseu, Pedra Cancela, Pedro & Inês, Quinta da Fata, Quinta de Saes, Quinta da Pellada, Quinta do Perdigão, Quinta de Carvalhais e… saiu pela ordem «inexplicável» da memória, sem hierarquia.

Como em tudo, não há só maravilhas. Ainda assim, o negrume não é absoluto – felizmente. Um dia, embalado pelo prazer do Dão, tropecei num vinho da Adega Cooperativa de Penalva do Castelo. A experiência foi terrível. Sublinho o «foi». Actualmente, o que ali se faz rompe com esse passado.

Tive um mestre no jornalismo que nunca se cansou de elogiar o meu poder de síntese. Nestes artigos não tenho de ser sintético como nas notícias… não consigo dizer tudo o que quero acerca do Dão.

Tenham lá paciência, continua na próxima semana.

Um passeio incompleto pelo Dão

Texto João Barbosa

Uma conversa recorrente cá em casa é acerca da memória. Um tema teimoso, discussão bizantina… é quase um cerimonial para sorrisos, pois já todos disseram e explicaram o que pensam. O meu partido é o de que não são necessárias fotografias para se construírem memórias.

Já colocaram um livro, estrategicamente posto para nele tropeçar com os olhos, em que o autor garante a necessidade das fotografias ou imagens para se fazerem memórias. Ora, em milhares de anos de evolução, o ser humano sempre teve memórias e a fotografia data do século XIX, à década de 20. Mesmo os retratos pintados têm «alguns» séculos, mas são segundos na escala da vivência do Homo sapiens sapiens. Além de que quer a fotografia, quer a pintura – sobretudo esta – não estavam acessíveis à grande maioria da população. Além de que a memória também se falseia e reinventa, até se inventa.

Isto tudo para falar sobre o Dão, de três dos seus vinhos. A minha recordação da zona do Dão limita-se a uma fotografia em que eu e os miúdos de Campo de Besteiros fizemos um comboio com as cadeiras lá de casa. Porém, a recordação mais clara é a da centopeia – que coisa estranha – que se afogara na bacia do lavatório.

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Arco dos Cavaleiros (old) in visoeu.blogspot.pt

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Arco dos Cavaleiros Nowadays in Panoramio.com – Photo by filipe_ | All Rights Reserved

Para mim o Dão – Viseu – tem uma má memória, uma chatice num «restaurante» em que o bife veio com cabelos. Ainda hoje não gosto de Viseu, com todo o respeito pelos seus habitantes, nascidos e apreciadores.

O Dão diz-me quase nada. Porém, o vinho está numa prateleira à parte. O meu pai comprava, muitas vezes, tinto dessa região. Tenho 45 anos e na minha infância o Douro «não existia», o Alentejo «não existia»… da Bairrada não me lembra… havia Vinho Verde e umas marcas de vinhos provenientes de videiras superprodutivas, provavelmente da Estremadura e do Ribatejo.

Como o meu pai bebia quase sempre tinto, o vinho do Dão é encarnado. Ainda hoje! O Doutor Freud explicaria. Porém, é muito mais do que isso. É uma região com néctares maravilhosos, com um bom número de produtores com esmero. O problema do Dão é a dimensão da propriedade e uma característica típica portuguesa – ali talvez sublimada – que é a desunião.

Há dois momentos especiais quando descobri o Dão. Uma garrafa e um evento. O primeiro episódio causou-me o espanto da descoberta do que é um Chuck Norris de salão e outro foi conhecer um grupo de oficiais de alta patente, envergando uniformes de gala.

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Porta dos Cavaleiros Colheita de 1983 in garrafeiranacional.com

Chuck Norris pela sua força e capacidade de resistência, mas com elegância… poderá pensar que James Bond seria «adjectivo» mais correcto, só que o 007 é urbano. Passo a contar: na casa dos meus pais havia uma garrafa de Porta de Cavaleiros, referente à colheita de 1983. Não sei como não foi abatida ao efectivo, mas, como sobreviveu, o meu pai deu-ma, em Fevereiro de 1994, quando passei a ter casa própria e vida de solteiro. Todavia, a garrafa ainda viveu mais de uma década. Um dia, em 2007, resolvi que tinha de ir para dentro. Que espanto! Espanto! Uma jovialidade, elegância… o que tem a ver com Chuck Norris? É que a garrafa (o vinho) apanhou calores, viveu com luz, não se deitou e movimentou-se algumas vezes. Colossal em todos os aspectos!

Não perca o próximo episódio.

Quinta da Pacheca Colheita Branco 2014

Texto João Barbosa

Acontece-me – acontece com toda a malta que escreve sobre vinho – telefonarem-me, por vezes em momentos inconvenientes, para me perguntarem que vinho devem levar para um jantar. Suspiro e por amizade debito uns tantos.

Acontece sempre que estão num supermercado e têm pressa… o tempo esgotou-se em insignificâncias e o vinho é comprado a correr, na primeira porta aberta do caminho. Pergunto-lhes:

– Quando queres comprar um livro também vais a um supermercado?… Ou vais a uma livraria?

Nada a fazer. Vou dizendo marcas – é mais fácil de compreender – e é comum não existirem na loja. Invertem-se os papéis e o amigo debita o conteúdo das prateleiras. Daí escolho um, que nunca é bem aquilo e…

– Epá! Tens esse, aquele e aqueloutro. Apostas seguras, escolhe o que entenderes, estou a meio de (qualquer coisa) e tenho de me despachar.

Nas escolhas cabe frequentemente os vinhos da Quinta da Pacheca. Encontram-se na distribuição moderna, têm qualidade e apresentam preços acessíveis.

Quinta da Pacheca

Quinta da Pacheca – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Gosto de vinho há bastante tempo e sou militante assíduo. Hoje é mais fácil encontrar-se um bom vinho do que há 20 anos. Nesse tempo, as marcas eram poucas, os rótulos eram maus e nem só a fronha era má.

Ainda assim, já havia mais do que duas mãos cheias de vinhos de qualidade. Uns feneceram e outros sobreviveram. A Quinta da Pacheca engarrafa já há bués e tantas vezes comprei vinhos desta firma.

Tenho este produtor na memória – no lado bom – por várias razões: por o ter conhecido durante a minha primeira relação afectiva adulta e duradoura, por eu ter o apelido Pacheco e por causa do riesling.

Antes do tempo – comprovou-se – a Quinta da Pacheca produziu monovarietais, nomeadamente da casta riesling. Uma agitação feliz para quem não tinha bolsos para vinhos estrangeiros e queria, como uma esponja (!), absorver conhecimento.

Sou defensor das castas portuguesas, mas nada me choca que se cultivem variedades estrangeiras, desde que não sejam admitidas na certificação de Denominação de Origem Controlada. O riesling da Quinta da Pacheca vem-me à lembrança com regularidade.

Já se percebeu que as castas estrangeiras não produziram mais-valias. Ficam vinhos do Douro com a identidade das castas autóctones. Neste caso, cerceal, malvasia fina, gouveio e moscatel galego.

Quinta da Pacheca Harvest white 2014

Quinta da Pacheca Colheia branco 2014 in quintadapacheca.com

Não me recordo da gama da Quinta da Pacheca na década de 90, hoje tem largura. Este Quinta da Pacheca Colheita Branco 2014 é fácil, descomplexado, bem feito. Tem o sotaque do Douro e a aragem de Lamego; é fresco e apresenta-se com uns saudáveis 12,5 graus de álcool.

Penso que tem tudo para agradar a muita gente, nomeadamente o preço – recomendam cinco euros, menos um cêntimo. Não sou toda a gente.

Compreendo a inclusão, no lote, da casta moscatel galego. Dá gulodice e cria facilidade (não é defeito). Porque se costumam beber os brancos demasiado frescos, este açúcar dá «existência» ao que podia desaparecer.

Para mim, que não tenho nem meio litro para vender, a moscatel galego está a mais. Não faz falta para ter a identidade do Douro; não sou fã desta cultivar. Tenho o meu gosto, mas escrevo para o mundo e obrigo-me a sair dos pratos da balança. É um vinho que merece ser comprado e que, certamente, criará hábito.

(Pode também ler a peça que José Silva escreveu anteriormente sobre a Quinta da Pacheca aqui.)

Contactos
Quinta da Pacheca
Cambres – 5100-424 Lamego
Portugal
Tel: (+351) 254 331 229
Fax: (+351) 254 318 380
E-mail: comercial@quintadapacheca.com | enologia@quintadapacheca.com
Website: www.quintadapacheca.com