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Esporão Verdelho 2004, da cave para a mesa

Texto João Pedro de Carvalho

Desde cedo que enquanto enófilo ganhei o gosto de guardar vinhos por longo período na minha cave. O objectivo sempre foi e continuará a ser a curiosidade por ver como evoluem uns e a necessidade expressa dessa mesma guarda por outros tantos vinhos que ali ficam esquecidos durante largos anos. Quem gosta de vinhos e gosta de os apreciar é curioso por natureza, faz parte de condição humana o ser curioso. É essa mesma curiosidade que nos leva a querer saber algo mais sobre a maneira como se vão comportar com a passagem do tempo, até que forma o tempo os consegue educar ou não. Certo e sabido que o risco é quase sempre um factor também a ter em conta, mais ainda quando os vinhos que guardamos não têm qualquer historial que nos garanta o sucesso da nossa operação. A ressalva será sempre feita para todos aqueles que estando demasiado jovens e com os taninos em pontas necessitam de um bom repouso. E depois lá vão ficando algumas dezenas, depois centenas de garrafas acumuladas por tipo e região, garanto que o mais difícil é começar todo este processo. As surpresas até hoje têm sido quase sempre positivas, aprende-se sempre um bocadinho com estas comparações entre o vinho que foi em novo e o vinho adulto que é hoje, outros surgem já cansados e com as rugas da idade mais ou menos vincadas.

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Garrafeira – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Esporão Verdelho 2004 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Muito recentemente e por motivo de um jantar de amigos aqui em casa, decidi resgatar um desses vinhos que tenho na cave, um Esporão Verdelho 2004. Um branco com 11 anos de idade, um atrevimento ou até loucura dirão alguns, mas a verdade é que este Verdelho conseguiu a proeza de atingir aquele momento wow destinado apenas aos grandes vinhos. Esse momento é quando a generalidade dos convivas esboça um sorriso após provar o vinho que tem no copo e diz a dita palavrinha… wow. Um vinho que provei vezes sem conta na altura do seu lançamento no mercado, gostava tanto na altura que resolvi guardar umas garrafas. Esta terá sido a última resistente deste Verdelho 2004 que mostrou ainda uma invejável frescura de boca e de nariz, toda a fruta que antes era fresca agora está envolta em calda e ligeiramente adocicada, toques vegetais com tisana, ramalhete de flores, tudo muito bem composto num vinho sério e adulto, com as ideias muito bem delineadas. Na boca frescura, ponta de untuosidade a enrolar a fruta no palato, mostra-se com consistência e muito boa presença, muito prazer a beber e a voltar a beber, sem cansar.

É este um dos motivos que me leva a guardar vinho, acima de tudo a curiosidade mas também a satisfação de posteriormente os poder partilhar com gente que lhes sabe dar o respectivo valor. O único senão é quando a garrafa fica vazia e nos questionamos por que razões na altura não se guardaram mais umas garrafas.

Contactos
Herdade do Esporão
Apartado 31, 7200-999
Reguengos de Monsaraz
Tel: (+351) 266 509280
Fax: (+351) 266 519753
E-mail: reservas@esporao.com
Website: esporao.com

A História do Esporão e os seus vinhos

Texto João Barbosa

Reguengos de Monsaraz está a 170 quilómetros do litoral oceânico. Durante séculos, talvez milénios, um nevoeiro naquela zona alentejana terá sido fenómeno raríssimo. A construção da Barragem de Alqueva, no rio Guadiana, criou o maior lago artificial da Europa – há quem discorde – tornou frequentes as névoas.

Não vou entrar – nem sinteticamente – no elencar de vantagens e desvantagens da construção da represa, em termos económicos, ambientais e sociais. Só refiro que a água tem permitido regar as vinhas, que se multiplicaram por todo o Alentejo. O empreendimento foi falado pela primeira vez em meados da década de 60 e o projecto empresarial da Herdade do Esporão «arrancou» em 1973 – entre aspas, porque levou anos adiado por razões externas à vontade dos empresários.

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Esporão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Esporão começou por ser «uma fantasia» de Joaquim Bandeira, que viu além e quis plantar uma grande vinha no Alentejo. Desafiou José Roquette, que deixou a banca para abraçar a nova empresa.

A ditadura caiu em 1974 e, em 1975, o Governo reforçou a ideia de construir a barragem, ainda que passassem décadas até que fosse erguida. Também nesse ano, a Herdade do Esporão foi ocupada, no âmbito da Reforma Agrária. Em 1978 a propriedade foi devolvida, ainda que com a obrigatoriedade de ter de vender as uvas à cooperativa local.

ADN com mais do que vinho

Antes de entrar na prosa dos vinhos quero referir um aspecto que considero altamente relevante no mundo dos negócios, que é a responsabilidade social, em vasto censo. Seja no apoio directo à arte ou ao património humano, à cultura e ao ambiente, Herdade do Esporão tem no ADN querer ser mais do que uma vinícola.

Em 1985 aconteceu a primeira vindima que daria corpo ao primeiro vinho com marca própria, que sairia em 1987. O primeiro filho foi Reserva Tinto e, desde essa primeira edição, que os rótulos apresentam uma obra de arte. O consagrado João Hogan foi o escolhido para a estreia, mas, infelizmente para a empresa, o quadro não reside na colecção.

No âmbito da cultura, refira-se a preservação da Torre do Esporão, uma pequena fortificação medieval, a preservação do achado arqueológico na Herdade dos Perdigões (comprada em 1995, sendo o achamento do sítio acontecido em 1996), datado de entre os IV e III milénios Antes de Cristo – quantos empresários suportariam militante e financeiramente o que se poderia considerar como contratempo indesejável.

Em 2006, João Roquette assume a chefia da casa, que inicia uma reestruturação e replantio das vinhas e adopta uma política ambiental no sentido da recuperação e recriação de habitats, pondo a natureza a trabalhar e poupando em tratamentos de fitofármacos.

Outra acção de recolocação no «sítio» é a nova adega, recentemente finalizada, construída em taipa – método abandonado e praticamente esquecido. Muitas adegas alentejanas eram construídas desse modo e por alguma razão era: frescura. A terra, cascalho e madeira permitem um continuado arejamento e regulação da temperatura… ou seja, economia em energia.

Os protagonistas

Os vinhos não são o pretexto da empresa. As preocupações é que são resposta ao impacto que actividades agrícolas ou industriais implicam. Vêm agora para a conversa dois tintos – com obras de Alberto Carneiro – e dois brancos.

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Esporão Reserva tinto 2012 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Reserva Tinto 2012 é um tiro de canhão, com os seus 14,5% de álcool. Dito assim poder-se-á pensar que é pesado. Errado! É um vinho com frescura. Aliás, a experiência da empresa e sucesso desta referência mantém-na num patamar de fiabilidade e prestígio. Fez-se com uvas de alicante bouschet, aragonês, cabernet sauvignon, trincadeiras, entre outras. Está equilibrado em fruta e madeira e promete viver durante uns bons anos.

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Esporão Private Selection tinto 2011 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Private Selection 2011 está num patamar acima, incluindo na perspectiva de longevidade. É um vinho com um maior estágio em madeira, sendo ela 70% de carvalho americano. Tem taninos com garra e elegância, fundura de boca, uma agradável relação de frescura e calor, e final longo.

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Esporão Verdelho 2014 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

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Esporão Duas Castas – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Verdelho 2014 traz frescura e tem garra. Não duvido que irá ligar muito bem com as comidas mais leves. Se o vinho anterior expressa a casta, o Esporão Duas Castas mostra além das variedades, exemplifica os locais onde as cultivares arinto (60%) e gouveio (40%) têm as raízes enterradas. Mais uma vez, tem frescura e agarra-se ao enófilo.

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