Posts Tagged : Douro Wines

As refrescantes novidades da Quinta do Portal

Texto João Pedro de Carvalho

O projecto da Quinta do Portal nasce no Douro no início dos anos 90 do séc. XX tendo como base uma propriedade centenária da família do seu proprietário, João Branco. A produção que ali sempre foi de Vinho do Porto, viu estender o conceito de todo o projecto para uma “Boutique Winery” onde é o enólogo Paulo Coutinho desde 1994 o máximo responsável pelos vinhos ali produzidos. Para além da produção de Vinhos do Porto, nascem também vinhos DOC Douro e Moscatel, alicerçados nas quatro Quintas (Portal, Confradeiro, Muros e Abelheira) todas situadas no Cima-Corgo que perfazem um total de 100 hectares de vinha com variações entre os 200 e 550 metros de altitude.

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Adega – Foto de Nélson Garrido | Todos os Direitos Reservados

Na Quinta do Portal não são apenas os seus vinhos que se destacam, a juntar a tudo isto temos também a fantástica adega desenhada pelo prestigiado arquitecto Siza Vieira, naquela que será das primeiras adegas de autor a nascer em Portugal. Para a complementar nasceu a Casa das Pipas, um enoturismo de excelência amplamente galardoado dentro e fora de portas.

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Casa das Pipas – Foto Cedida por Quinta do Portal | Todos os Direitos Reservados

Voltando aos vinhos e à mais recente apresentação que Paulo Coutinho nos proporcionou, o meu destaque desta vez vai para os vinhos de aromas mais frescos, mais atrevidos e digamos até mais apetecíveis para esta época do ano. A prova foi conduzida de forma muito descontraída, para surpresa ainda foram colocados em prova alguns vinhos de colheitas anteriores para tomar o pulso à capacidade de envelhecimento das criações de Paulo Coutinho. Diga-se de passagem que em todos os casos a evolução era notável, mesmo num surpreendente momento de forma do Mural branco 2004 que certamente na altura em que andou pelas prateleiras passou por baixo do radar de todos nós.

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Mural branco 2004 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Portal Verdelho/Sauvignon Blanc 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O primeiro branco a entrar em cena foi o Quinta do Portal Verdelho/Sauvignon Blanc 2014 que nasce das parcelas experimentais da Quinta da Abelheira. Encantou com os seus aromas frescos e frutados, numa combinação bastante airosa entre as duas castas. O resultado é um branco muito perfumado, com aromas limpos onde o destaque vai para a fruta (citrinos, tropical, frutos pomar) que combina com vegetal fresco e uma ligeira sensação de pederneira. Na boca mostra uma bela frescura que se sente no palato, rico, marcante e a entrar com fruta bem sumarenta terminando seco e prolongado.

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Quinta do Portal Moscatel Galego 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Enquanto isso já o Quinta do Portal Moscatel Galego 2014 esperava no copo, exuberante o suficiente para chamar a atenção. Em primeiro plano o apontamento floral a lembrar rosas seguido da fruta madura, aqui com bastante laranja. Muita frescura a embrulhar todo o conjunto, algo linear mas que cumpriu sem falhas a acompanhar um alargado leque de entradas que iam aparecendo à mesa.

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Quinta do Portal Rosé 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Por último o Quinta do Portal Rosé 2014, um blend entre Tinta Roriz, Touriga e Touriga Nacional onde predominam os frutos silvestres e as notas de romã. Pelo meio ligeira nota de hortelã num conjunto a mostrar uma bela frescura que se sente também na boca onde ganha maior expressividade, até mais que no nariz. Gosto da secura final com um travo de morango e amora que perdura no palato, num vinho feito a pensar na mesa e nos amigos.

Contactos
EN 323 Celeirós – 5060-909 Sabrosa
(Estrada Pinhão-Sabrosa)
Tel: (+351) 259 937 000
Telemóvel: (+351) 969 519 021
E-mail: reservas@quintadoportal.pt
Website: www.quintadoportal.com

Quinta da Touriga-Chã, a plenitude do Douro Superior…

Texto José Silva

Jorge Rosas herdou não só esta belíssima quinta, mas também todo um património genético e a história duma família ligada ao Douro e à produção de vinhos de qualidade.

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A Quinta – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O seu bisavô, Adriano Ramos Pinto, foi o fundador da casa Ramos Pinto em 1880, o seu pai, José António Rosas, foi um visionário no Douro Superior, tendo ficado célebre por comprar os terrenos onde se ergue a quinta da Erva Moira. Mais tarde, em 1990, José António Rosas comprou a Quinta da Touriga, no lugar de Chã, em Foz Côa, também para produzir vinhos. E uma vez mais, como na Erva Moira, ali não havia nada a não ser pedras, xisto.

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Xisto – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mas a visão daquele homem e a sua sabedoria e conhecimento profundo dos terrenos, das vinhas e do clima desta região, veio, mais uma vez, dar-lhe razão. Nasceram então os vinhos tintos da Quinta da Touriga-Chã, e têm evoluído de tal forma, que estão entre os melhores vinhos tintos do Douro. Agora já pela mão de Jorge Rosas, que se mantém como administrador da casa Ramos Pinto, mas que dedica uma pequena parte do seu tempo e muita paixão, a levar por diante o trabalho iniciado por seu pai.

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A Casa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A quinta tem uma casa muito interessante, cuja intervenção foi pouco invasiva, deixando que aquela paisagem extraordinária fale por si.

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A Piscina – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Construções Rústicas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mesmo a piscina parece que faz já parte da paisagem, a par de algumas construções rústicas que ali se mantêm intactas.

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Algum Arvoredo – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

À volta, além de algum arvoredo, é a vinha que envolve tudo, naquele serpenteado tão característico dos vinhedos de planalto.

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A Vinha envolve tudo – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Serpenteado Característico dos Vinhedos de Planalto – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Se no início fazia o vinho em adega alheia, mas muito distante da Touriga-Chã, em 2000 Jorge Rosas resolveu avançar com a construção de adega própria, hoje uma realidade e uma aposta ganha.

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A Adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Fazendo uso de Materiais Tradicionais – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Projectada pelo mesmo arquitecto que tinha feito a casa, é uma adega que utiliza materiais tradicionais, como o xisto, mas que é acima de tudo muito funcional, versátil, como deve ser uma adega. Os mostos e, mais tarde, os vinhos, agradecem. Os vinhos desta quinta têm vindo a evoluir constantemente, dentro do perfil desejado pelo produtor, de tal forma que são reconhecidos e premiados um pouco por todo o lado onde estão presentes. Isto apesar da sua pequena produção, de pouco mais de 6.500 garrafas, divididas por dois níveis de vinho: o Puro e o Quinta da Touriga-Chã, este o mais cotado. E Jorge Rosas afirma categoricamente que quer continuar a fazer vinhos que sejam muito bons quando são lançados, mas que daqui a 5, 10 ou 15 anos sejam excelentes, devido à sua enorme capacidade de envelhecimento.

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Prova Vertical – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Parece que o tempo lhe tem dado razão, o que pudemos confirmar numa simpática prova vertical de algumas das colheitas ainda disponíveis na sua adega.

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Quinta da Touriga-Chã tinto 2010 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Quinta da Touriga Chã 2010 apresentou-se duma cor granada escura, muito carregado, com laivos violeta, muito intenso. Nariz ainda fechado, austero mas ao mesmo tempo com aquela elegância característica deste vinho. Frutado, fresco, aromas complexos de chocolate preto, de madeira, fumo e especiarias, vai abrindo, precisa de tempo no copo. Na boca é impressionante a força deste vinho, com os taninos ainda bem evidentes mas a evoluir,  cheio de frutos pretos, amoras, ameixas, mirtilos e algumas flores do monte. Leves notas de fumo, muito fresco e com acidez poderosa a ligar todo o conjunto e a proporcionar um final imenso. Está ali para durar e durar.

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Quinta da Touriga-Chã tinto 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Seguiu-se o Quinta da Touriga Chã 2011, um ano excepcional, tem uma cor granada carregada, muito escuro, brilhante. Revela aromas variados de frutos pretos, cheio de frescura, algum fumo e notas de tabaco. Na boca é poderoso, cheio, intenso, com acidez e frescura a casarem lindamente, notas de chocolate preto, amoras, figos, ameixas, apesar disso um vinho que revela a sua enorme elegância, muito sedutor.

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Quinta da Touriga-Chã tinto2012 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O ano de 2012 apresenta também grandes vinhos tintos nesta região. O Quinta da Touriga Chã 2012 apresentou a mesma cor granada muito carregada, brilhante. No nariz uma explosão de aromas complexos de flores do campo e frutos silvestres, notas de humus, cheio de elegância, sedoso. Na boca revela toda a sua dimensão, muito intenso, aveludado e ao mesmo tempo poderoso, os frutos pretos bem maduros, notas de chocolate preto e ligeiramente especiado, revelando a sua grande elegância num final muito longo.

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Quinta da Touriga-Chã tinto 2013 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Finalmente veio o Quinta da Touriga Chã 2013 (ainda sem rótulo), o mais jovem da família, e que revelou acima de tudo isso mesmo, a sua juventude. Dum granada muito escuro, opaco, brilhante. Nariz poderoso, cheio de frutos pretos e flores selvagens, muito fresco, até ligeiramente apimentado. Na boca novamente a fruta muito intensa, frescura e muito boa acidez, um vinho saboroso e que promete. Precisa ainda de garrafa e vai certamente dar-nos muitas alegrias.

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Aquela beleza toda no horizonte – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois, aproveitando um calor sufocante, mergulhamos tranquilamente na piscina, com aquela beleza toda no horizonte…

Contactos
Quinta da Touriga
Apartado 17
Vila Nova de Foz Côa , 5151-909 Guarda
Tel: (+351) 279 764 196

Alfeu, a Homenagem do Neto ao Seu Avô

Texto João Pedro de Carvalho

É graças à figura do Avô Alfeu e da sua dedicação à vinha e ao campo, que o seu neto João Amado, fundador da Amado Wines, foi buscar inspiração para se lançar na aventura que é a de produzir o seu próprio vinho. Uma marca que acima de tudo é uma homenagem a um homem do campo, apaixonado pela terra, inseparável do seu chapéu que agora também acompanha os rótulos.

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Vinhos Alfeu – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Conheci este projecto no ano passado por altura do Festival do Vinho do Douro Superior em Vila Nova de Foz Côa, destinado totalmente aos produtores da Sub-região Douro Superior. Um evento onde se pode dizer que ainda é possível descobrir novos talentos, produtores que de certa forma nunca se ouviu falar ou leu sequer uma palavra acerca do seu trabalho, é para isto que eventos como este servem, para nos mostrar que estão lá de braços abertos para nos receber e mostrar o fruto do seu trabalho.

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Alfeu branco 2013 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Foi desta maneira que fiquei a conhecer no ano passado os vinhos com que João Amado quis homenagear o seu Avô e cujas novas colheitas foram provadas muito recentemente. A enologia está a cargo de Joana Maçanita (ver artigo Maçanita Douro) e quer o Alfeu branco 2013 como o Alfeu tinto 2012 mostram carácter muito vincado pela região e uma certa dose de atrevimento que tanto aprecio.

O Alfeu branco 2013, composto por Viosinho e Malvasia Fina nuns bonitos 12.5% Vol mostra-nos um conjunto coeso com muita fruta a surgir ao lado de ervas de cheiro, toque floral e fundo fresco. Palato marcado também pela fruta bem madura, alguma geleia, ligeira secura a fazer-se sentir em final de boa persistência.

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Alfeu tinto 2012 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

O Alfeu tinto 2012, Touriga Nacional e Tinta Roriz com a primeira a marcar todo o conjunto. Coeso com muita fruta madura rodeada de chocolate preto e com algum rodopiar, surgem flores associadas à Touriga Nacional. Ligeiríssima austeridade que se faz sentir desde o primeiro momento, conjunto sério e com boa energia. Um vinho assente numa boa estrutura, notando-se desde o primeiro gole o vigor e aquela ponta de austeridade dos taninos mais traquinas. A fruta rebenta de sabor acompanhada de cacau, termina seco e a pedir ou pratos como cabrito assado no forno ou então que se deixe descansar por mais uns tempos na garrafeira.

Ainda em estágio na adega do produtor estão mais dois tintos, duas novidades compostas por um 100% Touriga Nacional e um Reserva. Da prova que deram ainda os encontrei imberbes e pouco preparados para enfrentar o mundo, mantêm sim a mesma linha de seriedade, muito centrados na fruta, mas com um notável salto qualitativo.

Contactos
Amado Wines
Quinta do Meio, Relva
6430-075 Longroiva, Mêda
E-Mail: geral@amadowines.com
Website: www.amadowines.com

Poças: Uma nova era de vinhos do Douro com um pouco de “je sais quoi”

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

O vinho do Porto é tão representativo de Portugal, que é difícil de acreditar que a Poças Junior é uma das poucas casas de vinho do Porto que se manteve sempre na posse da mesma família (e já agora, de portugueses) desde que foi fundada, há cerca de 100 anos atrás por Manuel Domingues Poças Junior. Quando me encontrei com a viticultora chefe Maria Manuel Poças Maia, fiquei com a certeza de que a sua geração, a quarta, está completamente determinada em mantê-la assim.

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A nova era desarrolhada pela viticultora chefe de vinho do Porto Maria Manuel Poças Maia de Poças Junior – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Mas isso não é sinónimo de conservadorismo, de falta de imaginação ou entusiasmo. Muito longe disso! Ainda não me tinha apercebido que a Poças Wines foi uma das primeiras produtoras a lançar-se nos vinhos de mesa do Douro, no início da era moderna em 1990. O clique? O primo de Maria, o enólogo chefe Jorge Manuel Pintão, que tinha acabado de entrar no negócio, logo após terminar o curso de enologia em Bordéus e um estágio na Château Giscours, também nesta famosa região francesa. Maria Maia disse-me, “o Jorge queria fazer aqui, aquilo que tinha aprendido em Bordéus, e sabia que o Douro tinha potencial para bons vinhos secos.”

Claro que Jorge não foi o primeiro enólogo a inspirar-se em Bordéus. Fernando Nicolau de Almeida, o criador da Barca Velha, é quem pode ostentar esse “título”. Mas, graças à ligação contínua que Jorge manteve com a prestigiada região francesa (Maria Maia diz que “ele nunca perdeu o contacto com Bordéus”), a Poças deu um passo mais além. No ano passado a empresa garantiu os serviços do enólogo e consultor bordalense Hubert de Boüard de Laforest, dono da famosa Château Angélus, em Saint-Emilion. Juntamente com Philippe Nunes (de descendência portuguesa), da consultora Hubert de Boüard, este duo bordalense ajudou na criação dos vinhos do Douro 2014 da Poças.

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Tempo de reflexão na Poças – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

25 anos a produzir vinhos do Douro fazem da Poças uma das empresas produtoras destes vinhos com mais experiência. Perguntei a Maria Maia porque é que a família sentiu a necessidade de contratar um consultor. A reposta foi franca e sem rodeios – “hoje em dia o mercado está complicado e queríamos expandir os nossos mercados de vinho de mesa. Estamos a crescer a nível de vinho do Porto mas queremos ver o mesmo tipo de crescimento nos vinhos do Douro, que está a começar a ser muito conhecido mas não o suficiente, precisa de ter ainda maior visibilidade.” Por outras palavras, não se tratou apenas de “ter alguém de fora a dar-nos novas ideias para evoluirmos”, mas também pelo perfil que a consultora Hubert Boüard lhes conferiu. E admite sem qualquer problema, “sendo de França, o estatuto é algo importante… Claro que trabalhar com Bordéus está a acrescentar valor à garrafa, mas também está a acrescentar valor à percepção.”

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Maria Manuel Poças Maia of Poças Junior contra um cartaz da Quinta Santa Barbara – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

No entanto, Maria Maia é peremptória a colocar ênfase num aspecto importante, “eles (a consultora Hubert Boüard) estão a ajudar a nossa imagem de vinhos e de estilos a crescer, mas sem nunca esquecer que queremos utilizar castas portuguesas e manter a herança das nossas uvas e do nosso terroir.” Dada a enorme experiência da consultora em vinhos de todo o mundo, a família ficou muito contente por ver o “grande respeito que demonstraram pelo que encontraram aqui no Douro.” Se Maria Maia receava que Boüard tivesse algumas reticências em relação às vinhas velhas, esse receio foi dissipado quando Boüard visitou pela primeira vez Santa Bárbara (as vinhas da Poças em Caêdo, Cima Corgo) e se deparou com as vinhas velhas e o xisto. A brilhar de orgulho, a viticultora que nos seus tenros 23 anos de idade assumiu a responsabilidade pelas três quintas da família em 2005, aponta, “Boüard disse-nos, ‘isto sim, é terroir’, e que estava realmente convencido que poderia fazer um vinho muito bom.”

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O novo e melhorado branco do Douro Poças Coroa d’Ouro 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Antes de provar as amostras dos novos, e melhorados vinhos de 2014 (ainda nenhum foi lançado no mercado, e os tintos ainda não estão acabados), falamos sobre as mudanças que foram efectuadas com a entrada da consultora Hubert Boüard. Descrevendo essas mudanças como “ligeiros aperfeiçoamentos”, Maria Maia explicou que o objectivo, no geral, consistia em, “alcançar um estilo mais internacional – uma percepção mais suave dos vinhos do Douro, porque são vistos como sendo muito tânicos, fortes e difíceis de beber.” Nas vinhas, esta procura de elegância,  e em especial de taninos mais refinados, comportou ligeiras mudanças na selecção da fruta. Agora as uvas provêm de parcelas mais maduras, e Boüard introduziu uma nova componente – uma vinha mais nova (15 anos) – à field blend do tinto que comanda as hostes – Símbolo – e que é composta predominantemente por vinhas velhas.

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Que venha o novo, para substituir o antigo – Poças Vale de Cavalos 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Na adega, as alterações passaram por diferentes configurações de prensa (para o branco unoaked) e diferentes escolhas de fermentação e carvalho. Os tintos deixaram de ser envelhecidos na combinação de carvalho francês e americano. Desde 2014 que são envelhecidos em barricas 100% de carvalho francês, utilizando diferentes tanoeiros ou o mesmo mas com diferentes madeiras. Os bordaleses são famosos pelos seus skills em blending, pelo que os vinhos premium são agora produzidos num novo espaço, mais amplo, “para poderem tentar diferentes opções [de blending].”

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Grande potencial do tinto que comanda as hostes Poças Simbolo 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Obviamente é ainda muito cedo para se chegar a qualquer conclusão definitiva relativamente a esta relação Douro/Bordéus, ou aos vinhos de 2014. No entanto, tendo comparado o branco Poças Coroa d’Ouro e as amostras (de barril) dos ainda não terminados Vale de Cavalos e Símbolo, com colheitas anteriores (2013, 2011 e 2007 respectivamente), acho que a Poças não só irá celebrar o seu centenário em 2018 como irá obter um grande retorno do seu investimento. Apesar da juventude, os três vinhos apresentaram um grande requinte no seu final; a longevidade melhorada do branco, e a qualidade dos taninos dos tintos, foram particularmente marcantes. O Símbolo 2007 estava em pleno estado de maturidade e mais desenvolvido do que estava à espera; pelo contrário, os taninos secos já estavam a começar a ofuscar a fruta. Por outro lado, o Símbolo 2014 impressionou-me com os seus requintados e fluentes taninos. A amostra que provei era vibrante, perfumada e mineral, com um longo e elegante final. A mostrar grande potencial, e reconheço que vai proporcionar mais prazer e durante mais tempo do que o 2007. É um testemunho à vinificação, já que o ano de 2007 foi um ano muito aclamado (declarado ano Vintage no vinho do Porto) e o ano de 2014 foi muito mais complicado, com chuvas intermitentes durante a colheita. Espero ansiosamente para provar o produto acabado.

Com o toque je sais quoi [da consultora Hubert Boüard] os vinhos do Douro da gama de 2014 da Poças podem ser novos, melhorados e com um perfil mais conotado, mas há coisas que não mudam. Foi-me dito que a Poças pretende manter a tradição da família no que toca à boa relação preço/qualidade (o preço do actual Simbolo é de €43-50/garrafa). Como diz Maria Maia, “preferimos a qualidade, não a quantidade, mas sem nunca atingir preços inalcançáveis.” Bebo a isso!

Contactos
Manoel D. Poças Junior – Vinhos, S.A
Rua Visconde das Devesas 186
4401 – 337 Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel.: (+ 351) 223 771 070
Website: www.pocas.pt

O terroir do Javali…

Texto João Pedro de Carvalho

O Douro tem sido nos dias de hoje uma das regiões mais mediáticas de Portugal. Actualmente são inúmeras as Quintas de inegável importância histórica no sector do Vinho do Porto, mas também existem muitas Quintas que têm vindo a ganhar notoriedade enquanto produtoras de vinhos tranquilos (vinho de mesa). Tentar descobrir um projecto mais recente que se destaque principalmente pela qualidade dos vinhos tranquilos, sem ter o peso da história a recair nos seus vinhedos, não será fácil mas também não será impossível.

Prova disso é a Sociedade Agrícola Quinta do Javali. Empresa familiar fundada em 2000 com o objectivo de produzir e comercializar (exporta 80% da produção) os seus próprios vinhos DOC Douro e Porto, situando-se na margem esquerda do Rio Douro em Nagoselo do Douro, São João da Pesqueira, no Cima Corgo. A Quinta do Javali viu 10 dos seus 20 hectares serem replantadados numa vinha com as castas da região Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Barroca e Touriga Nacional.

O proprietário e enólogo da quinta, José António Mendes é um apaixonado pelo seu trabalho. Nota-se no brilho dos olhos quando a conversa muda e passamos a falar dos seus vinhos. Enquanto vamos provando as novas colheitas vai explicando que procura fazer sempre todo o trabalho na vinha, evitando intervir na adega, as leveduras são autóctones, os vinhos são todos feitos em lagar com pisa a pé e aliam potência com uma frescura incrível. Não são vinhos fáceis, de agrado imediato, requerem paciência, mostram uma grande densidade, camadas de sabor e aromas, frescos, estruturados com taninos ainda presentes que em novos torna a decantação quase obrigatória.

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Quinta dos Lobatos 2013 | Quinta do Javali Reserva 2011 | Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta dos Lobatos 2013 (DOC Douro)
Acabado de lançar no mercado, austero e novo, fruta rija e madura com alguma compota mas muito limpa, especiado, nota de esteva, carnudo, ganha envolvência com o tempo no copo. Boca cheia de vigor e frescura com a fruta a explodir de sabor, secura no fim, pimenta preta, fundo mineral e prolongado.

Quinta do Javali Reserva 2011 (DOC Douro)
Passa 18 meses em barrica. Mais envolvente que o Quinta dos Lobatos, barrica mais integrada apesar do poderio do cacau e tabaco, mostra fruta madura com compota, floral, especiaria doce. Boca com elegância permitida por taninos envoltos em estrutura dominada pela fruta maturada, fresco, conquistador e com menos austeridade a fazer-se sentir.

Quinta do Javali Touriga Nacional 2012 (DOC Douro)
Com uma quantidade muito limitada de 600 garrafas, o vinho é uma provocação aos sentidos. Fruta marcada pela frescura e qualidade, leve geleia, perfume de violetas e ervas aromáticas, tabaco e pimenta Mostra-se coeso, ambicioso, compacto e provocante. Com uma boca cheia de frescura e sabor, revela-se saboroso e preenche por completo o palato numa estrutura ampla em grande final.

Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 (DOC Douro)
Este vinho é um autêntico juggernaut. Chega de forma arrebatadora e domina por completo quem prova. Mostra toda a austeridade do Douro, estrutura firme e fresca, madeira que o ampara sem excessos (20 meses de estágio), fruta muito limpa e sumarenta com balsâmico, especiarias, notas de baunilha e chocolate preto. Enorme vigor e complexidade, disposta por camadas de aromas e sabores, tudo firme e sem abanar. Alimenta-se de tempo no copo ou no decanter, cresce, ganha novas formas mas sempre tenso, sempre novo. Na boca é fresco e amplo, fruta que se mastiga, saboroso, enérgico e grandioso com secura final à procura de pratos condimentados.

Quinta do Javali Special Cuvée 2012 (DOC Douro)
Nasceu de um desafio lançado ao produtor por um apaixonado pelo mundo do vinho e ao mesmo tempo responsável pela distribuição em Portugal. O vinho dá uma prova de luxo, mais macio e delicado que o Vinhas Velhas, conquista pela finesse, complexidade e ao mesmo tempo não perde aquele fulgor e energia característica dos vinhos desta casa. O que mais chama a atenção é o delicado e bonito perfume floral que mostra ao lado de groselhas e framboesas muito frescas e limpas, quase aromas em HD. A barrica arredonda os cantos com toque fumado e baunilha. Na boca mostra uma bonita frescura que domina todo o conjunto, grande harmonia com enorme presença no palato, final muito longo.

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Quinta do Javali Porto LBV 2007/2008/2009 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta do Javali Tawny 20 Anos
De perfil delicado tem harmonia e boa dose de frescura. Nota-se que não tem a complexidade proveniente de um lote com vinhos tão velhos como outros 20Anos à venda no mercado. Bom fruto seco, laranja cristalizada, caramelo, figo, tudo envolto num conjunto bastante agradável, em final prolongado.

Quinta do Javali Porto LBV 2009
Da prova dos LBV 07, 08 e 09 foi este último que mais se destacou, apesar de todos eles estarem num nível de muito boa qualidade. Destacou-se o 2009 pela gulodice da fruta com a presença da mesma e a frescura num conjunto mais amplo e sumarento que os restantes. Na boca, sente-se mais presença da fruta compotada, chocolate e leve especiaria em final fresco e longo.

Contactos
Sociedade Agrícola Quinta do Javali
Apartado 71
5130-909 S. João da Pesqueira
Email: antoniomendes@quintadojavali.com
Site: www.quintadojavali.com