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A apresentação de um antigo produtor – Quinta Dona Matilde

Texto João Barbosa

A cada curva do Douro parece haver uma quinta ou um recanto particular. É um rio com carisma, um vale em que a natureza e o homem se juntaram na criação. Nas curvas e contracurvas, alturas e margens, modo de encarar o Sol e ampla variedade de castas escreve-se um livro grande. Nem tudo merece ser personagem ou capítulo, mas é um calhamaço.

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Quinta Dona Matilde – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

A Quinta Dona Matilde tem direito a entrar na estória. Se vou buscar a imagem de livro é porque existe enredo acerca desta propriedade. Este domínio pertenceu, durante quatro gerações, à família Barros, que a comprou em 1927.

Em Maio de 2006, Manuel Ângelo Barros vendeu o Grupo Barros ao Grupo Sogevinus. A Quinta Dona Matilde foi agregada com os restantes activos. Contudo, o vinho é um diabrete e cedo começou a importunar o empresário que vendera a propriedade.

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Quinta Dona Matilde – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

Assim, Manuel Ângelo Barros e família decidiram que tinham de regressar ao vinho. Tantas voltas deram que acabaram por recomprar a Quinta Dona Matilde, no final de 2006 – os restantes activos permaneceram na Sogevinus.

A quinta situa-se em Canelas, entre Peso da Régua e o Pinhão, dentro do espaço demarcação inicial do Douro, estabelecida em 1756. Todo o domínio vinícola, 28 hectares, está classificado como Letra A – a mais alta da tabela de pontuação a cargo do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. Além das uveiras, a Quinta Dona Matilde tem olival tradicional, pomar, onde se destacam limoeiros e laranjeiras, jardins e terra deixada à natureza. Tudo isto soma 93 hectares.

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Quinta Dona Matilde – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

O Vinho do Porto foi sempre o destino das uvas desta quinta. Uma pequena parte ficava por fortificar, mas apenas para consumo da família. Na década de 60, a firma produziu um rosé e, na de 90, branco – mas sempre marginais. Na reencarnação familiar, a produção de vinho do Douro está a par da de Vinho do Porto. Actualmente vende uvas ao grupo The Fladgate Partnership.

Manuel Ângelo Barros afirma que não tem pressa em pôr os vinhos à venda, decisão raríssima em Portugal. Agora apresentaram a vindima de 2011, referente a tintos. Já o branco anunciado é o de 2015. A tradição da casa era a de fazer tawnies e assim será, embora a fabricação de néctares com indicação de idade esteja, para já, afastada. Decidido está a aposta na família dos rubis, nomeadamente vintages. A viticultura é competência de José Carlos Oliveira e a enologia é da responsabilidade de João Pissarra.

O Dona Matilde Branco 2015 é um lote feito com as castas arinto, gouveio, rabigato e viosinho. As uvas foram prensadas e a fermentação decorreu em cubas de inox.

Pela natureza montanhosa e com um rio a cortá-la, a região do Douro é generosa em variedade de características. Porém, este vinho surpreendeu-me, pois nunca diria tratar-se de um néctar daquela demarcação.

Não gosto muito de enumerar descritores sensoriais, mas justifica-se fazê-lo agora, para que conte por que não encontro o Douro neste branco. É um vinho em que predominam os perfumes de fruta tropical, especialmente de maracujá e ananás, associado a anis, uma pitada de erva-doce, tangerina e um pouco de limão. Na boca, o carácter tropical impõe-se. Vai indo e indo e com frescura.

E isto que acabo de escrever é bom ou é mau? É um vinho bem feito – bom! Em termos de gosto pessoal não me preenche. Seguidamente pergunto-me se este carácter tropical e imprevisível é dele ou foi uma vontade do enólogo e do produtor. Se é resultado apenas da natureza, calo-me já. Se é intencional, digo que vejo razão para o Douro produzir vinhos com este perfil.

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Os vinhos – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

O Dona Matilde Tinto 2011 é claramente um Douro e exemplar do ano. Trata-se dum lote de tinta amarela, touriga franca e touriga nacional – todas vinhas velhas, indica o produtor. Parte das uvas foi pisada em lagar. O vinho estagiou um ano em madeira. É guloso sem ser doce, suave, fresco e com bom tempo de boca. Tem aroma mentolado, um muito fino fumado de lenha de azinho. Belo!

O Dona Matilde Reserva Tinto 2011 é um lote, em que a touriga nacional representa metade. Somam-se touriga franca (30%) e um ramalhete de várias outras, misturadas numa vinha velha, em que predomina a tinta amarela. Parte das uvas foi pisada em lagares de granito. O vinho estagiou 18 meses em barricas novas de carvalho francês.

É o Douro bem mostrado: esteva, menta, madeira e fumo de lenha de azinho, ameixa preta, doce de amora, geleia de morango (calma e mansa), figo, um pouco de tabaco loiro e xisto – tudo bem casado. Na boca continua duriense, ocupa o espaço plenamente, suave, com taninos a rirem-se (sem trincarem a pele), fresco e seco, longo e fundo.

Antes de passar aos generosos, quero referir que estes três vinhos pedem mesa. Os tintos dão esperanças de boa evolução em garrafa.

O Quinta Dona Matilde Porto Colheita 2008 é um tawny diferente do comum, a meio caminho do rubi. É resultado de um estágio em madeira menos demorado. Três anos em tonéis de carvalho e quatro em pipas de 600 litros.

É um vinho feliz e agradável surpresa. Tem o que se espera de um tawny e lembra um rubi. Lá estão os frutos secos, o caramelo, baunilha e uma pitadinha de iodo. A par das compotas de amora, ameixa, cereja, morango… É fundo e denso, longo.

O Quinta Dona Matilde Vintage 2011 é mais uma prova de que o ano foi muito generoso para com os vitivinicultores portugueses. É um lote de tinta amarela, tinta barroca, rufete, touriga franca e touriga nacional. O vinho estagiou dois anos em tonéis de carvalho, tendo sido depois passado para garrafa. Lá estão as muitas compotas que animam os vintage, do nariz à boca – profundo e longo.

Os vintage novos são o que são, mas também serão uma outra coisa. Devem beber-se já ou guardar-se? Sei lá! Sei lá se estou vivo amanhã. Sei que, se me mantiver acordado por mais anos, estará mais acima. Quem puder que o beba e guarde.

Contactos
Quinta D. Matilde
Bagaúste
5050-445 Canelas PRG
Portugal
E-mail: info@donamatilde.pt
Website: www.donamatilde.pt

Coração d’Ouro, da televisão para a mesa

Texto João Pedro de Carvalho

A novela de nome Coração d’Ouro emitida em horário nobre na SIC passou do ecrã para a mesa, mais propriamente para o copo. São dois vinhos, branco e tinto, com Denominação de Origem Controlada (DOC) Douro que resultam de uma aposta conjunta da SIC e da Real Companhia Velha. Uma proposta que permite aproximar um pouco mais o espectador/ consumidor ao pano de fundo da novela em causa, relembro que o cenário é a Quinta das Carvalhas, pertencente à Real Companhia Velha.

São dois vinhos onde o papel principal é dado à fruta, num conjunto com aromas a surgirem bem frescos e convidativos, num conjunto onde tudo se mostra muito limpo e apetecível. O Coração d’Ouro branco 2014 é um blend das castas Viosinho, Gouveio, Moscatel, Arinto, Fernão Pires, Rabigato e Verdelho, a mostrar muita fruta com citrinos e pêra madura com ligeira calda. De perfil jovial onde comanda a frescura com aroma floral, é um branco bastante apelativo e que é fácil de se gostar. Por tudo aquilo que mostra torna-se polivalente à mesa, podendo acompanhar desde uma boa conversa com uma variedade alargada de entradas, mariscos ou saladas. Se optar por peixe que seja de carne mais delicada e sem muita gordura, de preferência grelhado com uma pincelada de molho de manteiga/salsa/limão.

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Coração d’Ouro branco 2014 – Foto de Cedida por Real Companhia Velha | Todos os Direitos Reservados

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Coração d’Ouro tinto 2014 – Foto de Cedida por Real Companhia Velha | Todos os Direitos Reservados

No que ao tinto diz respeito, surgem as castas típicas da região: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca. O vinho é um misto de frutos silvestres bem ácidos com muitas bagas, morangos bem maduros e cheirosos, portanto tudo coisinhas boas de se cheirar e gostar. No segundo plano o sempre presente toque vegetal, como que a servir de linha que cose todo o conjunto que cheira e sabe a Douro. Muito equilibrado e cheio de energia, mostrando-se capaz de acompanhar pratos de bom tempero mas será a meu ver com a grelha a funcionar que irá brilhar mais alto. Escolha-se um corte de novilho adequado à grelha, marinado previamente para que a carne ganhe aquele caramelizado que irá combinar lindamente com este vinho.

Contactos
Real Companhia Velha
Rua Azevedo Magalhães 314
4430-022 Vila Nova de Gaia
Tel: (+351) 223 775 100
Fax: (+351) 223 775 190
E-mail: rcvelha@realcompanhiavelha.pt
Website: www.realcompanhiavelha.pt

Quinta do Vallado

Texto Bruno Mendes

É uma das Quintas mais antigas e famosas do Vale do Douro. Foi propriedade de Dona Antónia Adelaide Ferreira, construída em 1716, e permanece até aos dias de hoje na família. Estamos a falar da Quinta do Vallado, próxima do Peso da Régua, nas margens do Rio Corgo.

Em 1993, numa altura em que a direcção já estava a cargo de Guilherme Álvares Ribeiro e da sua mulher Maria Antónia Ferreira, a empresa decidiu ampliar a sua área de actividade fazendo assim produção, engarrafamento e comercialização com a sua própria marca. Até então e durante 200 anos, a Quinta do Vallado tinha como principal actividade a produção de vinhos do Porto que eram depois comercializados sobe o nome Casa Ferreira, também pertencente à família.

Hoje em dia a Quinta do Vallado conta com 70 hectares de vinha plantada, 20 dos quais com vinhas com mais de 80 anos e, os restantes 50 com vinhas de idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos. As castas aqui plantadas mais predominantes são a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Barroca, Tinta Amarela e Sousão nas tintas e a Viosinho, Rabigato, Moscatel, Verdelho (Gouveio) e Arinto nas brancas.

Concluídas em 2009 as novas adega e cave contam com a mais avançada tecnologia e uma arquitectura de qualidade, tornando a Quinta num espaço fantástico e num dos lugares a visitar no vale do Douro (Baixo Corgo).

Mais recentemente, a Quinta do Vallado abriu as portas de uma outra propriedade, situada no Douro Superior (Foz Côa). A Quinta do Orgal (Casa do Rio) com magnificas instalações e vistas sobre o rio – veja aqui do que falamos.

Para uma visão mais detalhada confira o vídeo abaixo e o artigo da Sarah Ahmed sobre esta Quinta aqui.

Pôpa Fiction – três vinhos com sedução e crime, Quinta do Pôpa

Texto João Barbosa

Boa noite, bem-vindos a minha casa. Sentem-se, que já vos sirvo o vinho. Hoje jantamos na sala. Estou com groove.

– Estamos todos!

– Na sala?! O betinho emaluqueceu!

– Cala-te, Pedro. Deixa-me acabar. Estou com groove e…

– Estamos todos!

– Bem, se agora responderam em coro…  vou amuar e dançar até à cozinha para trazer uns aperitivos. Ainda bem que a boa-onda é geral.

[Regressado à sala]

– Ainda ninguém pôs música?! Querem que me zangue? Temos três vinhos para hoje…  e têm uma lógica. Vão numa sequência… Pim! Pam! Pum!

[Todos a dançar a música «You never can tell», de Chuck Berry… Pulp Fiction].

– Ena, ainda agora começou a festa e já o tapete está todo pingado de tinto… yuuuuupiiiiiii!

– O que estamos a beber?

– Hot Lips 2012. Deixa-me mudar a música… «Why don’t  you do right», pela Katherine Turner… [«Quem tramou Roger Rabbit»].

– Roger Rabbit! Mas conta mais do vinho…

– É tinto…

– Ya!

– Isso é óbvio.

– Diz!

– Douro.

– Conta lá!

– Duh!… Ainda não percebeste que temos de ser discretos… as paredes têm ouvidos. Podemos estar a ser escutados… as castas são secretas.

– Lol.

– Olha, a garrafa acabou. O que devo abrir agora?

– Essa… essa aí. Diz In The Flesh 2012.

– Cool!

– Ora põe aí a tocar «Slave to Love», do Bryan Ferry…

– Enapá! Do «Nove semanas e meia»… ui!

– Só de pensar na Kim Basinger…

– E eu no Mickey Rourke.

– Nunca percebi o que as mulheres vêem nele…

– Azaritos! Coisas de miúdas. Esquece, azaruncho!

– O que se passa com o vinho?

– O que se passa, como?!

– Está sempre a acabar…

– Agora abre essa…, já todos estão prontos? Vamos a isto!

– Uau! Está delicioso! É o quê?

– Não vais querer saber…

– Psicopata!

– Saca esse disco e põe este a tocar, se fazes o favor.

– É o quê?.. Boa escolha.

– O quê?… o quê?

– «Push it to the limit».

– Paul Engemann?!

– Ya!

– Scarface!…

– Yes!

– Acertei! Diz-me o que estamos a comer?

– Tens de descobrir. Este jantar é um policial.

A Quinta do Pôpa, além dos vinhos «formais», tem uma vertente conceptual e, até agora, com humor, designada de Pôpa Art Projects. Primeiro surgiram o Lolita e o Milf. Para este momento, o segundo episódio, a ideia brinda ao mundo da sedução, do crime e do cinema.

As garrafas desta trilogia (Pôpa Fiction) são de litro, uma pequena provocação… ou melhor, um certo agitar das ideias. Cada vinho tem um nome e rótulo próprio, cuja arte é de Mário Belém.

Hot Lips 2012 é um vinho guloso, descontraído e por isso perigoso. Recomendo para antes do primeiro jantar a dois. … É isso! Suave e sensual.

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Hot Lips 2012 – Foto Cedida por Quinta do Pôpa | Todos os Direitos Reservados

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In The Flesh 2012 – Foto Cedida por Quinta do Pôpa | Todos os Direitos Reservados

Já o segundo é o In The Flesh 2012, mais «substancial» na boca. Mais carnudo. «Um pedaço de mau caminho», dizem os irmãos Stéphene e Vanessa Ferreira, os vinhateiros. Pois… é que também escorrega, mas pede uns acepipes. Petiscos quentes, folhados, enchidos e alguns queijos.

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Stéphane and Vanessa Ferreira – Foto Cedida por Quinta do Pôpa | Todos os Direitos Reservados

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The Grape Escape 2012 – Foto Cedida por Quinta do Pôpa | Todos os Direitos Reservados

O terceiro vinho do gangue é o The Great Escape 2012. É uma espécie de Al Capone. Impõe respeito e exige comida com força e potência. Mais rústico e aconselhável com comida.

Bebe-los num só evento tem piada e lógica, porque há uma clara evolução do estilo dos vinhos, desde o mais fácil até ao que pede um desassossego na mesa.

Basta fantasiar um bocadinho e até se «escreve» – oralmente – um enredo policial, em que cada pessoa à mesa acrescenta um parágrafo. Depois de tudo e se ainda houver disposição, jogar o Cluedo – um dos jogos que melhor prazer dá quando se está ébrio.

Contactos
Quinta do Pôpa, Lda.
E.N. 222 – Adorigo
5120-011 Tabuaço
Portugal
Email: geral@quintadopopa.com
Telemóvel: (+351) 915 678 498
Site: www.quintadopopa.com

Pormenor: O Diabo está nos detalhes

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Pormenor significa detalhe. Sem dúvida que Pedro Coelho olhou aos detalhes e fez o trabalho de casa – os seus primeiros lançamentos de Pormenor 2013, Douro, já esgotaram. Nada mal para um enólogo de primeira geração que me disse “o meu avó era um produtor de carvalho, o meu pai produtor de cortiça, por isso… era preciso que houvesse alguém na família que produzisse e bebesse vinho… esse alguém sou eu!!!!”

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Pedro Coelho – Foto Cedida por Pormenor Vinhos | Todos os Direitos Reservados

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Rolhas Pormenor – Foto Cedida por Pormenor Vinhos | Todos os Direitos Reservados

Portanto, além do entusiasmo juvenil de Pedro pelo projecto, qual é a atracção? A embalagem é simples – não exagera – mas tem classe com um toque contemporâneo que chama a atenção na prateleira. E quão contemporâneo é lançar dois Douros brancos e um tinto! O seu consultor enólogo é o ex-Niepoort Luis Seabra, mais um detalhe, a cuja própria gama de vinhos Cru escrevi estas páginas anteriormente este ano.

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Pedro Coelho – Foto Cedida por Pormenor Vinhos | Todos os Direitos Reservados

Tal como Luis Seabra, o objectivo de Pedro é o mostrar o Douro “no seu estado mais natural… com o mínimo de intervenção, dando prioridade às principais carecterísticas do Vale do Douro: vinhas, uvas, solo e clima”. E tal como a gama Cru de Luis Seabra, estes brancos são vivos e muito texturais. De certa forma, não são muito diferentes dos rótulos – sem exagerar mas a insinuar – encontram a sua própria marca.

Na realidade os brancos são o ponto mais forte, achei o tinto um pouco rústico. Algo que é fascinante se considerarmos que os brancos provêm da sub-região Douro Superior, normalmente mais seca e quente , e o tinto da sub-região Cima Corgo. Cima-Corgo, bem no “coração do Douro”, é recorrentemente citada como fonte dos mais elegantes vinhos do Douro e vinhos do Porto, e os Pormenor brancos mantêm essa fasquia – o diabo está nos detalhes, especialmente na especificidade do local. É precisamente este factor que explica porque é que, contrariamente a sabedoria recebida, o Douro Superior é uma das fontes de alguns dos meus vinhos brancos Douro favoritos. Por exemplo, Conceito, Quinta de Maritávora, Ramos Pinto Duas Quintas, Muxagat (apesar de, infelizmente, Mateus Nicolau de Almeida já não estar envolvido no projecto) e Mapa.

Aqui estão as minhas notas relativamente a estes lançamentos de estreia:

Pormenor Branco 2013 (Douro DOC) – este pálido vinho amarelo provém de vinhas muito velhas sobre xisto no Douro Superior, situadas entre 400 a 500 metros de altitude em Carrezeda, Ansiães. As uvas foram apanhas no fim de Agosto a fim de preservar a acidez. Aparentemente a Rabigato e a Códega do Larinho predominam, ambas as castas têm boa fruta, mas a Rabigato é alta em acidez e a Códega do Larinho é mais usave, menor acidez. O vinho foi fermentado e envelhecido em tanques inox. É um amarelo pálido com um palato altamente individual impregenado de abacaxi grelhado com canela, damasco e marmelo mais firme – bastante frutado para o Douro. Uma complexidade de mel de acácia e um nogado cremoso remetem para um palato sedoso e redondo. Uma madura e perfeita, ininterrupta acidez permitem um longo final. Bebe-se já muito bem e sozinho, tem peso e potencial para funcionar bem com pratos condimentados de peixe branco. 12.63%

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Pormenor Reserva Branco 2013 (Douro DOC) – Foto Cedida por Pormenor Vinhos | Todos os Direitos Reservados

Pormenor Reserva Branco 2013 (Douro DOC) – Similarmente, o blend de vinhas velhas (com a Rabigato e a Códega do Larinho a predominarem) foi colhido precocemente de vinhas em Carrezeda, Ansiães. No entanto, a fruta veio de vinhas mais altas, entre 600 a 800m de altitude, portanto, o palato do Reserva (amarelo ligeiramente mais escuro), é, mais firme, mais concentrado, com mais fruta de uva e mineral, assim que ultrapassada a madeira – gostei bastante mais no segundo dia, quando a madeira não foi tão intrusiva e terminou longo, focado e mineral. O Reserva foi naturalmente fermentado e envelhecido durante nove meses em barris de carvalho francês da Borgonha sem controlo de temperatura nem batonnage. Deixa-lo-ia repousar durante mais ou menos um ano de forma a permitir a integração da madeira. 12.5%

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Pormenor Branco Colheita 2013 (Douro DOC) – Foto Cedida por Pormenor Vinhos | Todos os Direitos Reservados

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Pormenor Tinto 2013 (Douro DOC) – Foto Cedida por Pormenor Vinhos | Todos os Direitos Reservados

Pormenor Tinto 2013 (Douro DOC) – este blend de médio corpo de algumas uvas clássicas do Douro (principalmente Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela e Rufete) provém de vinhas velhas com mais de 50 anos, em Soutelo do Douro, Cima Corgo, plantadas entre 500 a 600 metros de altitude. Foi fermentado e macerado em cubas de inox com alguns cachos inteiros (engaço e uvas) durante 25 dias e envelhecido durante 14 meses em barris de carvalho francês. Como o Reserva Branco, este vinho precisava de ar. Desta vez por causa de “ruído branco” terroso no nariz que prejudicou a fruta (e que inicialmente pensei ser causado por deterioração bacteriana, brettanomyces). No entanto, a lucidez do palato (da mesma garrafa) ao terceiro dia, sugere que tenha sido um perfil “engaçado” derivado da fermentação com os cachos. Como estava o Pormenor Tinto ao terceiro dia? Apresentou-se com groselha vermelha fresca, cereja e ameixa, com um toque subtil de “floralidade”. Apesar de os taninos serem terrosos e rústicos, não se meteram no caminho dos aspectos mais agradáveis deste vinho – a fruta e a frescura (de facto permitiram aquele bonito toque floral aparecer). Enquanto que a rusticidade remete para a ideia de Pedro mostrar o Douro “da maneira mais natural”, na melhor das hipóteses, os engaços na fermentação de cacho inteiro podem produzir vinhos com especiarias e estrutra empolgantes. Pedro disse-me que este vinho foi colhido no início de Setembro de forma a “manter o alto nível de acidez” mas, embora saude a frescura do palato, pergunto-me se os engaços não teriam benificiado mais se estivessem um pouco mais maduros? Claro que 2013 foi um ano complicado – a partir de 27 de Setembro houve um período de chuvas intenso que incentivou a colheita precoce. Estou sim, interessada em provar as próximas colheitas deste vinho. 12.5%

Contactos
Tel: (+351) 919 679 393
Email: geral@pormenor-vinhos.com
Website: www.pormenor-vinhos.com

Um fim-de-semana de vindimas no Douro…

Texto José Silva

As vindimas começaram em força no Douro, um pouco por todo o lado, com o tempo a ajudar. E foi em ambiente de vindimas que passamos um fim-de-semana com a Real Companhia Velha, confortavelmente hospedados no Palácio de Cidrô.

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Palácio de Cidrô – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A usufruir toda aquela beleza arquitectónica, aqueles jardins belíssimos e o silêncio das noites frescas de céu limpo.

À chegada esperava-nos um jantar volante extremamente agradável, a fazer companhia aos primeiros vinhos desta casa com tanta tradição. Bacalhau desfiado, pataniscas, omeleta baixinha de legumes, arroz de legumes, bolo húmido da casa e fruta variada.

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Vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E provaram-se, para além do espumante de Chardonnay e Pinot Noir que está muitíssimo bom, os brancos tradicionais de CidrôSauvignon-Blanc e Semillion – e os tintos Cabernet Sauvignon com Touriga Nacional e Pinot noir. Mas ainda havia a surpresa dum Quinta do Cidrô Cabernet-Sauvignon…de 1996, ainda cheio de vida. Fechou-se com vinho do Porto, pois claro, um Colheita de 1980, e que bem que escorregou.

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Douro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No dia seguinte, depois dum pequeno almoço delicioso, foi um pulo até à Quinta das Carvalhas, com toda aquela beleza do Douro por companhia.

Ali esperava-nos uma vinha de Sousão, onde já trabalhava a roga de vindimadores, a que nos juntamos na tarefa dura de arrancar cachos de uvas.

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Vinhas de Sousão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Balde, luvas e tesoura – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

À entrada já nos tinham equipado com balde, luvas e tesoura.

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Pedro Silva Reis – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Acabadas as uvas, lá continuamos a subir, com uma paragem aqui e ali, onde o Pedro Silva Reis nos foi dando informações sobre a constante evolução da empresa.

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A beleza do Douro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A beleza do Douro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A beleza do Douro era cada vez mais arrebatadora.

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Casa Redonda – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Chegados lá acima à Casa Redonda, com aquele espectáculo fantástico do Douro a 360º, as máquinas fotográficas não conseguiam parar de disparar, era a “ditadura” da paisagem! Como diria Miguel Torga: “É um excesso de natureza!”

Esperavam-nos alguns petiscos e uma poderosa feijoada à transmontana, uma das refeições mais típicas das vindimas.

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Petiscos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta das Carvalhas Tinta Francisca – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E, claro, os vinhos das Carvalhas, com nova roupagem, brancos cheios de frescura e excelente acidez e tintos encorpados, jovens, com fruta bem madura, entre os quais um surpreendente Tinta Francisca, muito elegante, cheio, requintado. Os vinhos estão mesmo muito bons, modernos e bem apresentados. Juntou-se a nós o Álvaro, que nos deliciou com muitas histórias e informações da sua grande paixão, a viticultura. Mas era tempo de nos dirigirmos à Quinta da Granja, em Alijó, onde funciona a enorme adega, por esta altura em pleno trabalho de vindimas.

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A seleccionar as uvas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Jorge Moreira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ali escolhemos uvas no tabuleiro de escolha, ouvindo explicações do Jorge Moreira, o enólogo principal, que até nos deu algumas amostras de cuba a provar.

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Pisa da uva – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Finalmente, para os mais corajosos, pisaram-se uvas, de tinto e vinho do Porto, nos lagares de granito. Era a festa de celebração das vindimas. Ainda se petiscou uma bola de carne e uns copos de vinho antes de regressarmos a Cidrô, cansados mas satisfeitos.

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Evel XXI & Quinta de Cidrô Sauvignon-Blanc – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Refrescados e aperaltados, juntamo-nos no salão do primeiro piso do palácio para partilhar uns petiscos e alguns vinhos, entre os quais o Evel XXI, que está muito bom, cheio de vida, a dar requinte à marca, e novamente o Sauvignon-Blanc de Cidrô, absolutamente delicioso. Ao comando, mais uma vez, o bom gosto e a simpatia do Pedro Silva Reis.

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Alheira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Lombo assado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Sentados à mesa, apreciamos uma alheira tostadinha com ovo estrelado e grelos, seguindo-se um lombo assado no forno com batatinhas assadas.

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Quinta das Carvalhas 1997 Vintage Port – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Música do Álvaro, ao vivo – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Terminamos em beleza com um Vintage de 1997 que nos acariciou o espírito.

Em fundo, a alegria da música do Álvaro, ao vivo, embalava-nos e fazia-nos sorrir…

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“Até à próxima” – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

De manhã, depois do pequeno almoço – aqueles ovos mexidos com tomate estavam incríveis!! – era a despedida e o regresso a casa.

Ou melhor era o “Até à próxima”!

Contactos
Real Companhia Velha
Rua Azevedo Magalhães 314
4430-022 Vila Nova de Gaia
Tel: (+351) 22 377 51 00
Fax: (+351) 22 377 51 90
E-mail: graca@realcompanhiavelha.pt
Website: realcompanhiavelha.pt

Maritávora Grande Reserva Branco Vinhas Velhas, príncipe do Douro

Texto João Barbosa

Começo este texto exactamente como vou começar o próximo. Escrever acerca dum dos meus três vinhos portugueses favoritos é difícil pela preocupação do bom senso, prazer, memórias e qualidade intrínseca.

Gosto de certezas, incluindo a certeza da incerteza. Gosto que uma Coca-Cola seja uma Coca-Cola, sempre igual. Gosto da certeza da incerteza dos grandes vinhos. Assim acontece com esta firma da região do Douro.

Maritávora é um nome mágico se pensarmos no drama da família Távora, exterminada pelo primeiro marquês de Pombal. Nem sei como alguém conseguiu manter o apelido. O actual proprietário da Quinta de Maritávora – em Freixo de Espada-à-Cinta – não tem parentesco com essa família aristocrática.

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A família Junqueiro em Maritávora – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

A propriedade foi comprada, em 1870, pelo pai do poeta Guerra Junqueiro, tio bisavô de Manuel Gomes Mota. Conheci-o quando fazia um programa de agricultura para a RTP. Queria criar um enoturismo diferente, levando gente constante mente àquele ermo para fazer um vinho exclusivo. Porquê? Porque a vila vive das excursões para ver as amendoeiras em flor, porque ninguém sabe que quem desenhou o Mosteiros dos Jerónimos também ali esteve, porque tem uma estranha torre de sete lados.

Eu e o repórter de imagem chegámos no momento de jantar. Não há restaurantes sofisticados, come-se o que é da terra – princípio das filosofias do quilómetro zero, da slowfood e da sabedoria de Alexandre Dumas (pai).

No restaurante de província, Manuel Gomes Mota abriu uma garrafa:

– Uau!

Um vinhaço e «esquisito». O que era aquilo? Disse muita coisa e quase sempre ao lado, excluindo o evidente.

– Amanhã, quando visitares a quinta, vais perceber.

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Manuel Gomes Mota – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

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Jorge Serôdio Borges – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

Verdade! O chão xistoso (tão xistoso) e as videiras centenárias. Vinho de mineralidade grandiosa e «confusão» das castas baralhadas nas vinhas, coisa antiga.

O que é terroir? É uma «coisa» que não há vitivinicultor que não reivindique. O que é um terroir? É uma «coisa» complexa e rara. Maritávora tem! Bons chãos (não só xisto em calhau), climatologia própria, boa vinha (cultivo está em modo biológico)e enologia de Jorge Serôdio Borges, um dos enólogos que melhor conhecem o Douro.

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Vinhas – Foto Cedida por Maritavora | Todos os Direitos Reservados

A Maritávora comercializa um leque de opções, é impossível escrever acerca de todas. Tudo começou com um branco e um tinto. Aptos para receberem a designação Grande Reserva, só mais tarde foi adoptada.

Quanto a mim, os Maritávora Grande Reserva Tinto sofrem do padecimento dos filhos segundos. As tarefas de responsabilidade adjudicadas ao mais velho quando tem dez anos são negadas ao mais jovem, ainda que tenha 12 anos.

Os topos da gama tintos «ficam» na sombra. Não por demérito, mas porque os claros são especiais. O Maritávora Grande Reserva Vinhas Velhas Tinto 2011 é complexo e denso, terá uma longa vida. Feito com uvas das castas touriga nacional, touriga franca, tinta roriz e «outras». O estágio foi de 18 meses em barricas novas de carvalho francês.

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Maritávora Grande Reserva Vinhas Velhas 2011 tinto – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Vinhas Velhas 2011 branco – Foto Cedida por Maritávora | Todos os Direitos Reservados

A minha paixão são os Grande Reserva Vinhas Velhas Branco. O de 2011 tem o carisma e a personalidade cativante dos irmãos que o antecederam, com benefício do factor ano. As castas são côdega do larinho, rabigato, viosinho e «outras». Conviveu três meses em barricas novas de carvalho francês, com battonnage. Tudo igual ao de 2012… de 2010…

Iguais?! Claro! Mineralidade fulgurante e uma «coisa estranha» que é frescura com calor – tem a climatologia, as exigências das uvas, as do solo e as da madeira nobre. Longo, fundo e variado no tempo em que é bebido.

Iguais?! Não! Felizmente, não. É tão boa a incerteza dos grandes vinhos!

Contactos
Quinta de Maritávora, EN221, Km88
5180-181 Freixo de Espada-à-Cinta
Portugal
Tel: (+351) 214 709 210
Fax: (+351) 214 709 211
E-mail: mgm@maritavora.com
Website: www.maritavora.com

Foz Torto: Em busca da elegância

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Em 2000, Abílio Tavares da Silva, um empreendedor IT de Lisboa, começou a procurar por uma vinha. Certo que teria que ser no Douro, mas não foi fácil porque era meticuloso. Demorou cinco anos a encontrar o sítio certo. Nos dias que correm tem uma vista de topo sobre o Douro, em particular sobre as vinhas mais altas da Sandeman, na Quinta do Seixo, que está situada na outra margem do rio Torto, imediatamente oposta ao seu próprio pedaço de Douro, Foz Torto.

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Abilio Tavares da Silva no topo do mundo na Foz Torto – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Os 14 hectares de vinha, em patamares íngremes, da Foz Torto, descem até ao rio Douro. Não é apenas pela paisagem vertiginosa que se verifica desde o topo (320m) até ao rio (72m) que Abílio se sente no topo do mundo. Focando um pouco mais a questão, está a aperceber-se da paixão que o levou a vender o seu negócio, a realocar a sua família no Douro e a estudar enologia (tem um curso de Enologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).

Porquê este lugar? Porque, diz Abílio, “estava à procura de elegância e equilíbrio e a minha vinha no rio Torto é conhecida, há já 200 anos, pelo seu poder e elegância”. “Maioritariamente em vinho do Porto”, acrescenta. E ainda hoje 80-85% das uvas são vendidas à Taylor’s para a produção de vinho do Porto. Atribui, parcialmente, esta reputação à Rufete, que é muito comum no Torto e “mais conhecida pela elegância do que pela força”.

Dito isto, substituiu cerca de 80% das vinhas originais (ficaram a sobrar 3 hectares de vinhas velhas). Justifica, “o vinhedo estava em mau estado porque pertencia a uma família que esteve envolvida em disputas em tribunal durante 10 anos”. A nova plantação inclui Rufete e Tinta Francisca, que o entusiasta de comida descreve como “condimentos” para a Touriga Nacional e a Alicante Bouschet também ali plantadas.

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O jardim de vegetais da Foz Torto – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Abílio é tão apaixonado pelos vegetais que plantou na Foz Torto quanto é pelas suas vinhas. Enquanto me dizia, “Acredito mesmo que as vinhas devem ser desfrutadas e visitadas como um jardim, e não apenas para produzir vinho.”, mostrou-me morangos, cebolas, feijões, batatas, árvores de fruto e oliveiras. Tal é zelo messiânico que tem pela intensidade de sabor da rúcula que me deu a provar que se esqueceu que (e eu também) estávamos prestes a provar os vinhos. A rúcula mais picante (tanto como o rabanete) que já provei e que, lamentavelmente, descalibrou o meu palato. Felizmente, Abílio foi amável e enviou-me amostras frescas para provar em Londres.

Os vinhos, o primeiros lançamentos, de 2010, são feitos com Sandra Tavares da Silva (não são parentes) que aperfeiçoou as suas habilidades de vinificação de Douro no Vale do Torto na Quinta do Vale Dona Maria antes de estabelecer a Wine & Soul com o seu marido, e também enólogo, Jorge Serôdio Borges. Abílio diz que Sandra é a “instrutora” para o “estagiário” que há em si. E, evidentemente, tal como eu, é um grande fã do requintado branco do Douro da Wine & Soul, Guru, já que adquiriu uma segunda vinha de vinhos brancos perto do local de onde provêm as uvas utilizadas na produção daquele vinho, em Porrais, Murça, a 600 metros de altitude. Devo dizer que gosto mais do Foz Torto branco, com grande personalidade, do que do tinto que, apesar de muito bem feito, não é tão elegante o quanto estava à espera dada a localização e o ano da colheita. Mas ainda são os primeiros tempos e Abílio gosta de estudar (para ele “o prazer é a viagem”). Estou mesmo interessada em acompanhar a evolução desta gama. De facto, com os conselhos da sua “instrutora”, que irão contribuir para que os seus vinhos sejam “mais elegantes e distintos”, já começou a instalar lagares para uma vinificação em quantidades menores na velha adega que está a restaurar no Pinhão. Como qualquer bom informático sabe que, “temos de prestar atenção a todos os pequenos detalhes”.

Aqui estão as notas relativamente aos seus últimos lançamentos:

Foz Torto Vinhas Velhas Branco 2013 (Douro) – produzido a partir de um pequeno (menos de um hectare) field blend maioritariamente composto por Códega do Larinho e Rabigato. Abílio disse-me que a vinha cheira a pólvora e, tal como o Guru, este vinho tem um perfil de cordite com, já no segundo dia, um toque feno-grego picante. Apesar de de não ser tão encorpado, poderoso ou longo quanto o Guru, gosto da sua mineralidade e do seu toque incisivo a toranja com limão mais maduro. Notas complementares e complexas de baunilha e óleo de limão, que se mostram graças ao envelhecimento em carvalho francês durante cinco meses. Tem muito do interesse e intensidade das vinhas velhas. 12.5%

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Um trio da Foz Torto – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Foz Torto Tinto 2012 (Douro) – Um blend com 40% Touriga Nacional, 30% Touriga Franca, 10% Tinta Francisca, 5% Tinta Roriz, 5% Alicante Bouschet, 5% Sousão e 5% Tinta Barroca de vinhas com 7-8 anos; foi fermentado durante 8 dias em tanque de inox e envelhecido durante 16 meses em barris de carvalho francês de 2º e 3º ano. Tem amora e ameixa maduras com chocolate preto, tanto no nariz como no palato, com ameixa, tabaco, couro, traços de whisky berber (chá de menta) e taninos de baixa granularidade. O tabaco está mais marcado no segundo dia. Um toque quente (álcool) atravessa a prova; beneficiaria com um pouco mais de definição e frescura. 14.5%

Foz Torto Vinhas Velhas 2012 (Douro) – um field blend de vinhas velhas com mais de 30 castas; foi fermentado durante 8 dias em tanque de inox e depois envelhecido durante 18 meses em barris de carvalho francês (30% novos, 70% 2º ano). Como seria de esperar, é mais concentrado, mineral e picante do que o cuvée mais novo, com cassis rico, mais maduro, ameixa preta mais suculenta e sumarenta e framboesa mais doce. O carvalho novo confere baunilha e notas mais pronunciadas de torrada e mocha. Um pouco maduro demais e quente para o meu gosto, apesar de beneficiar de taninos esbeltos e notas úteis de eucalipto no final. 14.5%

Quinta do Cume, com Provesende a seus pés…

Texto José Silva

Jorge Tenreiro e Cláudia Cudell são os donos da Quinta do Cume, em Provesende.

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Jorge Tenreiro e Cláudia Cudell – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A casa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ele é cirurgião vascular, ela pintava quadros belíssimos. Ele continua de bisturi na mão diariamente, mas descobriu a tesoura de poda e outros instrumentos com que trata “cirurgicamente” as suas vinhas; ela quase já não pinta, pois dedicou-se de alma e coração à comercialização dos vinhos que ambos adoram fazer, com a sabedoria do enólogo e amigo Jean-Hugues Gros, um francês que já é mais duriense que muitos durienses. Foi apenas em 1998 que Jorge Tenreiro comprou os terrenos onde, sempre com a mulher ao lado, haveria de construir uma casa magnífica e começar a plantar vinha, sobretudo de uvas brancas.

Até que, em 2006, começaram a produzir vinho branco e um pouco de rosé.

Em 2009 começaram também a fazer tinto, tendo comprado vinhas velhas na parte de baixo da aldeia e  fazem tintos que hoje são já bastante apreciados.

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Vinhas Velhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Lá em cima, as vinhas de uvas brancas dominam a paisagem.

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As vinhas de uvas brancas dominam a paisagem – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E são sobretudo de Malvasia-Fina, com um pouco de Rabigato e Viosinho. Os mais de 600 metros de altitude dão-lhes a frescura e a elegância, os terrenos xistosos e pobres dão-lhes a mineralidade. Entretanto a produção foi evoluindo, e passaram a produzir um vinho branco Reserva todos os anos, um tinto Selection e um tinto Reserva, e o tinto Flor do Cume, este só para exportação. Naquele ano fabuloso que foi 2011, fizeram um tinto muito especial, o Grande Reserva, até hoje a única colheita, numa edição limitada a 1540 garrafas e 90 magnum. Actualmente a produção total da Quinta do Cume é de cerca de 40.000 garrafas.

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A Adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Entretanto construíram uma adega, pequena mas moderna, que chega para as encomendas. O que não chegava era a localização do engarrafamento, que provocava verdadeiros “engarrafamentos” na adega, e por isso estão a construir um armazém para produto acabado, engarrafamento e rotulagem. Seguidamente vai ser uma fantástica sala de provas, que vai nascer do meio duma vinha, com o bom gosto habitual deste casal. E que, uma vez mais me recebeu com simplicidade para um almoço que teve tanto de simples como de delicioso.

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Salmão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Para abrir o apetite um salmão fumado com gotinhas de limão soberbo.

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Alheira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Ovos estrelados – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois umas alheiras ali da aldeia tostadinhas e estaladiças, na companhia de ovos estrelados, batata cozida e couve salteada, estas bem regadas de azeite, tudo acompanhado de pão da aldeia, cozido em forno de lenha.

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Batatas cozidas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Pêssego – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Para sobremesa, uma deliciosa salada de pêssegos da quinta, não foi preciso mais nada.

Começamos com o Reserva branco 2014 em comparação com o 2013, e que bem lhe faz um ano de garrafa: elegante, fragrâncias de fruta branca e flores do monte, na boca tem acidez acentuada, frescura, notas de citrinos e alguma baunilha, tudo muito suave e bem casado. O 2014 está pleno de juventude, frutado, intenso, vai ser um belo vinho.

Para “atacar” as alheiras provou-se o Selection tinto 2013 e o Reserva tinto 2012. O Selection é um vinho moderno, com um leque vasto de harmonizações, suave mas persistente, muita fruta madura, fresco e apetecível, a pedir comida.

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Quinta do Cume Reserva branco 2014 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Cume Selection tinto 2013 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Cume Reserva tinto 2012 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Cume Grande Reserva 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O tinto Reserva tem aromas mais intensos, frutos vermelhos, notas de madeira, fumo e especiarias. Mas ao mesmo tempo tem frescura e muito boa acidez, é aveludado e muito elegante.

Ainda demos um salto ao Grande Reserva 2011, um tinto sério, concentrado, austero, com aromas exóticos. Na boca tem óptimo volume, notas de fruta preta, ligeiro toque de chocolate preto, bela acidez e final muito longo. Para guardar uns bons anos. Quando chegou a salada de pêssego, voltamos ao branco 2013, que se tinha mantido em gelo, e o casamento foi perfeito.

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Provesende – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Lá em baixo, continuava a pacatez da aldeia de Provesende…

Contactos
Quinta do Cume
5060-261 Provezende
Portugal
Tel: (+351) 91 445 7550
E-mail: quintadocume@netcabo.pt
Website: www.quintadocume.pt

Ramos Pinto – Duas Quintas 25 anos de História

Texto João Pedro de Carvalho

A casa Ramos Pinto foi fundada em 1880 por Adriano Ramos Pinto ao qual se juntou o seu irmão António. Numa casa onde a inovação e a mentalidade empreendedora sempre andaram de mãos dadas, destaca-se para o caso o nome de José Ramos Pinto Rosa que executou em conjunto com o seu sobrinho João Nicolau de Almeida o importante projecto da selecção das cinco castas recomendadas para o Douro, tanto para Vinho do Porto como para vinho de mesa. Inspirado no seu pai, Fernando Nicolau de Almeida, criador do Barca Velha, João Nicolau de Almeida cedo entendeu que parte do segredo seria juntar uvas de altitude (mais acidez) com uvas de maior maturação, provenientes de cotas mais baixas. Desta forma juntaram-se as uvas da Ervamoira (150m de altitude) com Bons Ares (600m de altitude), o nome pois claro seria Duas Quintas e após alguns ensaios seria lançado pela primeira vez com a colheita de 1990.

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Casa Ramos Pinto – Foto de Ramos Pinto | Todos os Direitos Reservados

O Duas Quintas foi à época uma inovação e um desafio que uniu às mais modernas técnicas de vinificação os tradicionais lagares, num projecto pensado de raiz e mais uma vez pioneiro na região e catalisador do surgimento de um “novo Douro”. Em 1991 iria surgir o Duas Quintas Reserva e em 1992 o Duas Quintas branco. Ao longo de 12 vinhos fomos tomando pulso aos 25 anos de História que a mestria de João Nicolau de Almeida nos ia traduzindo em vinhos e palavras.

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Vinhas de Ervamoira – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Num breve apanhado pelos vinhos que mais me marcaram a prova começou com um magnífico Duas Quintas branco 2000 apresentado numa bela e esguia garrafa renana, decantado e servido o vinho no imediato deixou todos literalmente boquiabertos. Uma combinação entre frescura e toques de lápis de cera, com tisana e flores onde a fruta combina alternadamente entre a frescura e os toques mais untuosos da geleia. É daqueles vinhos que apetece beber e ter em casa mais umas quantas garrafas guardadas. Ao seu lado foi apresentado o Duas Quintas branco 2014 que mostrou toda a genica da sua juventude, quiçá irreverente onde dá para antever que o seu futuro também será de grande categoria.

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Deanter Branco – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Deanter Tinto – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Demos entrada nos tintos, com o primeiro de todos, aquele que foi o início, o Duas Quintas 1990. Um vinho muito bonito, cheio de vida e onde a fruta parece rejubilar de alegria com tanto morango e framboesa fresca, muita energia com aromas terciários de muito bom-tom, cantos bem arredondados mas cheio de finesse e com uma presença de boca de fazer inveja. Um clássico em toda a linha tal como o eloquente Duas Quintas Reserva 1991 que foi o primeiro Reserva e teve a capacidade de elevar o patamar da qualidade muitos furos acima do que existia para a época na região.

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Duas Quintas 1990 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Da colheita de excepcional qualidade, 1994, surgiram em prova os dois tintos. Comparando o Duas Quintas 1994 com o 1990, mostrou-se a meu ver melhor e com mais presença da fruta, algum vegetal num todo muito equilibrado. Já o Duas Quintas Reserva 1994 num perfil clássico de um grande tinto do Douro, nobre e cheio de carácter, muito complexo a combinar a frescura da fruta com um toque de caramelo de leite, uma delícia.

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Os vinhos em prova – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O final da prova seria com os vinhos do novo milénio, tal como o branco também o Duas Quintas Reserva 2000 se mostrou um colosso a caminho do estrelato, denso, coeso e com muita frescura, tudo em grande onde só o tempo o poderá domar. O último vinho, Duas Quintas 2013 é bastante tentador, amplo de aromas com bonito perfume, tudo muito novo e cheio de energia, dentro do carácter e perfil que os vai guiando nesta fantástica viagem que começou em 1990.

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