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Olho no Pé: A coragem de ir onde nunca outro homem foi

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

No meu último artigo sobre o Douro disse “procurai e achareis”, porque nenhuma outra região portuguesa pode certamente gabar-se de ter uma tão rica diversidade de terroirs? Na realidade,  se procurarmos bem podemos até descobrir vinhos doces no Douro. É claro que não estou a falar de vinho do Porto. Estou a falar de vinhos de sobremesa influenciados por colheita tardia e por botrytis, isto é, sem ser necessária a adição de aguardente vínica.

A adição de aguardente vínica interrompe o processo de fermentação que transforma os açúcares da uva em álcool, o que explica o porquê de os vinhos fortificados, como o vinho do Porto e o  Moscatel do Douro, serem doces. Por outro lado, os vinhos doces não fortificados, confiam simplesmente em ter níveis de açúcar altíssimos. Deixem as uvas na vinha por tempo suficiente e, se o tempo estiver seco e ensolarado, o Douro irá presentear-vos com enormes quantidades de açúcar. Então porque é que não vemos mais vinhos doces, não fortificados, no Douro?

A resposta reside no facto de que, um grande énologo de vinhos de sobremesa tem de ser um equilibrista perfeito entre o açúcar e a acidez.

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Equilibrista in unbornmind.com

À medida que os açúcares da uva sobem, a acidez diminui. Se a acidez for muito baixa, o vinho vai ser demasiado doce, ou pior, flácido. Os grandes vinhos de sobremesa precisam tanto de altos níveis de açúcar como de acidez. Não é uma combinação fácil num clima quente e seco.

É por isso que o punhado de vinhos doces do Douro que encontrei advêm de vinhas a grande altitude. E podem ser realmente impressionantes. Por exemplo, o Rozès Noble Late Harvest 2009, ao qual o meu painel atribuiu a Medalha de Ouro e o Troféu de Vinho Doce no Decanter World Wine Awards 2011, ou o Quinta do Portal Late Harvest 2007, um dos meus 50 Grandes Vinhos Portugueses 2010.Quanto mais elevadas estiverem as vinhas, mais elevada será a acidez, porque, em altitude, as temperaturas caem drasticamente, especialmente durante a noite. Junte-se a este facto o nevoeiro matinal e a humidade, e estão reunidas as condições perfeitas para a botrytis se firmar. E ao contrário do que seria de se esperar, este fungo dá lugar aos mais mágicos vinhos doces, não só porque concentra a doçura e a acidez, mas também porque dá lugar a uma complexidade melada, muitas vezes floral (camomila ou açafrão). Não é de admirar que também seja apelidada de podridão nobre!

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Tiago Sampaio da Olho no Pé no Simplesmente Vinho – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

A minha última descoberta no que toca a vinhos de sobremesa, são os vinhos produzidos por Tiago Sampaio da Olho no Pé. Descrevendo-se como “a one man show”, o despertar do interesse de Sampaio pelo vinho foi desencadeado pelo seu avô que o apresentou, quando ainda jovem, às vinhas do Douro e ao mundo do vinho. Mas tenho as minhas suspeitas de que o foco na frescura que Sampaio apresenta nos seus vinhos é resultado dos 5 anos que passou no Oregon (onde tirou um doutoramento em Viticultura e Enologia). O que explica os pálidos mas prometedores Pinot Noirs que tem no seu portfólio – a delicada casta da Borgonha beneficia das noites frescas do Oregon. Sampaio fundou a Olho no Pé quando regressou ao Douro, em 2007, depois da sua estadia nos Estados Unidos. Os vinhos de sobremesa que me mostrou no Simplesmente Vinho, realizado no início deste ano (finais de Fevereiro), são ambos produto de um field blend de vinhas velhas (com mais de 70 anos) maioritarimente composto por Gouveio, em Alijó e a 600 metros acima do nível médio das águas do mar. Devido à sua altitude, tal como Favaios, o município é tradicionalmente famoso pelo seu delicado e fresco Moscatel do Douro, bem como pelos brancos secos que agora começam a ganhar destaque. Aqui estão as minhas notas relativamente aos deliciosos vinhos doces de Sampaio:

Olho no Pé Colheita Tardia

 2011 (Douro)

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Olho no Pé Colheita Tardia 2011 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Sampaio tem um toque muito delicado. Uvas escolhidas a dedo, repletas de açúcar (este vinho tem à volta de 200 g/l de açúcar residual), são colhidas em vindimas sucessivas e altamente selectivas. Foi fermentado de forma natural e muito lentamente. À medida que o sumo da uva se transformava, lentamente, em vinho, foram surgindo aromas e sabores complexos – açafrão, gengibre cristalizado, camomila e peras cozidas. Textura aveludada, muito fresco e puro, o vinho foi envelhecido em borras finas, em barricas de carvalho já usadas, o que permite que a fruta se mostre. Super-agradável com uma qualidade sedutora e não-trabalhada. 11%

Olho no Pé 2011 (Vinho, Portugal)

Se exagerar, será apenas um pouco (no que diz respeito ao Douro), mas reconheço que este cuvée que ainda não tem nome, ousa ir nenhum foi antes. É o produto das mais concentradas uvas atacadas por Botrytis, de 2011 (que é o mesmo que dizer todas as colheitas em que Sampaio já trabalhou). Apenas dois barris foram feitos, que, com o dobro da quantidade de açúcar residual (400 g/l) levaram muito, muito mais tempo para fermentar – dois anos! Com apenas 7% de teor alcoólico está abaixo do nível mínimo para a DOC Douro ou para a classificação VR Duriense. Ainda assim revela a mesma assinatura a açafrão de botrytis que o vinho Colheita Tardia – toque adorável e pureza. Um palato acetinado que revela açúcar caramelizado, algodão doce e uma maçã mais fresca, focada, brilhante e apertada junto do núcleo, conferindo-lhe um traço bem-vindo que equilibra a amargura e a acidez. Saboroso mas fresco, concentrado mas com leveza, esta doce sensação de uvas perdura muito tempo na boca e na memória. Uma experiência!

Contactos
Tiago Sampaio
Rua António Cândido, 7
5070-029 Alijó, Portugal
Mobile: (+351) 960 487 850
E-mail: info@foliasdebaco.com
Website: www.foliasdebaco.com

Blend, Tudo Sobre Vinho: Teoria do Caos & O Simpósio “New Douro”

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Uma das minhas piadas varietais favoritas diz respeito à Cabarnet Sauvignon, sobre a qual o enólogo californiano Sean Thackrey entoou memoravelmente, “Defenitivamente não quereria sentar-me ao seu lado num jantar; é demasiado educada!”. Sem dúvida que esta icónica casta de Bordéus é para as uvas o que as riscas-de-giz são para os fatos – emana postura, sofisticação, poder e controle.

Caso se esteja a perguntar o que é que isto tem a ver com o Douro, fique comigo. Aliás, recue um pouco até ao meu artigo de Fevereiro sobre a vertical de Chryseia com Bruno Prats em que descrevi como este reconhecido enólogo bordalense, nado e criado um homem de Cabarnet, controla soberbamente a sua matéria-prima. Prats confessou que na sua óptica apenas a Touriga Nacional e a Touriga Franca são “interessantes”, ao mesmo tempo que demonstrou uma clara preferência pelas plantações de bloco (monovarietais) em deterimento das tradicionais plantações multivarietais field blend do Douro. Porquê? Para “ter a certeza de as estar a colher na altura certa”.

Cristiano Van Zeller in didu.com.br

A ‘altura certa’ é um tema por si próprio (o colega escritor Andrew Jefford aborda-o aqui) mas, discursando na prova anual de Londres “New Douro”, Cristiano van Zeller da Quinta Vale D. Maria discordou sobre até que ponto é necessário manter o controlo dos recursos naturais do Douro. Ao reflectir sobre o carácter português – um carácter que, “gostou do caos durante muito, muito tempo” – afirmou “temos que fazer uso do nosso carácter – um pouco de caos. Não temos de controlar tudo. Uma pequena surpresa todos os anos, é isso temos estado a tentar fazer no Douro”. Em relação às castas sublinhou que, “as plantações são muito diferentes de qualquer outro lugar no mundo… é muito difícil para qualquer uva expressar realmente o que o Douro é e o que tem a dizer, e por isso os viticultores tentam encontrar o perfil do Douro ao juntarem umas às outras”.

Também existe um segredo local. Van Zeller revelou, “se plantarmos por bloco, claro que as uvas têm diferentes períodos de amadurecimento, mas quando estão todas aleatoriamente e razoavelmente misturadas num único talhão, verificamos que a diferença temporal entre a que amadurece primeiro e a que amadurece por último, é muito mais reduzida – apenas 3 a 4 dias.”. A cereja no topo do bolo é que as field blends envolvem necessariamente uma co-fermentação de diferentes castas, um processo que David Guimaraens da The Fladgate Partnership verificou “conferir uma maior dimensão de sabor e equilíbrio”. E é por isso que agora prefere micro-talhões monovarietais (apenas algumas linhas), que podem ser colhidas alternadamente com micro-talhões de diferentes variedades e ser co-fermentadas (pode ler o que David Guimaraens tem a dizer sobre a evolução do afastamento e retoma a uma abordagem mais multi-varietal aqui).

Esta nova abordagem pode ser descrita como um caos organizado mas, quando Van Zeller revelou que a composição varietal das field blends de vinhas velhas é adaptada para os diferentes terroirs, fez parecer que sempre houve método no meio da aparente loucura. Por exemplo, disse que o Vale do Torto tem à volta de 7-8% Rufete, enquanto que o Vale do Pinhão tem mais Sousão; a Tinta Francisca sempre foi mais importante na Quinta do Roriz.

Para David Baverstock, da Quinta das Murças, que fez a abertura do Simpósio “New Douro” e que teve lugar no mês passado, o caos organizado resume bem a vida no Douro. Explicou que os desafios da região são “o que nos move como enólogos – tentar controlar as coisas ao máximo mas sabendo que no final de contas temos de ‘ir com a corrente’. Para além das field blends e da topografia montanhosa, as condições meteorológicas também desempenham um papel importante em qualquer colheita”.

David Baverstock in blog.esporao.com

A diversidade de terroir no Douro foi o tópico do simpósio e, dos quatro oradores, Baverstock era o que estava numa posição mais priveligiada para falar do progresso que foi feito, remontando a 1990 quando deixou a região pela Esporão no Alentjo. Disse-me que “Mudou radicalmente. Era muito fácil no início dos anos 90, não exisitia grande competição na altura. O Barca Velha era reconhecido como um grande vinho mas raramente era lançado para o mercado. O Dirk e o Cristiano estavam apenas começar, a Duas Quintas também, era muito fácil avançar com projectos como a La Rosa e a Crasto. Mas agora, o nível de vinificação, a qualidade dos vinhos e o conhecimento do potencial do Douro, com os seus diferentes meso e micro climas, estão num patamar altíssimo.”.

Aprofundando o tema e passando para os tipos de solo, Baverstock falou do importante papel do xisto no Douro. Aparentemente, o Douro é uma das poucas regiões que tem o xisto alinhado verticalmente, o que permite às raízes da vinha entrarem no solo por entre as placas de rocha. O facto de as chuvas serem escassas no Douro combinado com a friabilidade do xisto permite que as vinhas se enraízem “muito fundo”. Os melhores lugares permitem mesmo que as raízes cheguem a cerca de 10 metros de profundidade, o que ajuda as vinhas a ultrapassar a difícil (quente e seca) época de crescimento. Por outro lado, o xisto (especialmente em encostas íngremes) é bem drenado, o que significa que as vinhas nunca chegam a ficar impregnadas de água. O xisto também é vantajoso porque, estando num constante estado de decomposição, proporciona às vinhas os oligoelementos que precisam para sobreviver.

As raízes das vinhas do Douro podem ser profundas mas, no que toca aos produtores, Paul Symington da Symington Family Estates confessou, “estamos apenas a começar a apalpar a superfície do que é a verdadeira história do Douro.” Contrastando-o com o terroir razoavelmente homogêneo de Bordéus, descreveu o Douro como “a região vitivinícola mais diversa das grandes regiões vitivinícolas do mundo.” As razões desta diversidade? Symington debitou uma longa lista de factores que têm impacto sobre os estilos de vinhos, incluindo a surpreendente variação de precipitação e temperatura, dependendo da localização, altitude e aspecto. Nos sítios em que as vinhas estejam viradas para pontos diferentes, e mesmo dentro da própria vinha, os Symington colhem as uvas em caixas codificadas por cores de acordo com o aspecto. O pH do solo também é muito diferente ao longo Douro, algo que tem impacto na capacidade para vinha absorver os minerais (fica comprometida se os solos forem muito ácidos).

Paul Symington in symington.com

O discurso de Van Zeller centrou-se na grande diversidade de castas do Douro e na tendência de retoma às plantações multivarietais de grande densidade, sejam os micro-talhões de Guimaraens ou a sua nova versão das plantações antigas na Quinta Vale D. Maria. “Estou a misturar tudo”, disse, pois percebeu que a qualidade e perfil não derivam da idade da vinha em si, mas sim da mistura de castas nas vinhas e da co-fermetação das uvas (isto apesar de Dirk Niepoort ter afirmado a sua crença de que as vinhas velhas “falam muito mais alto” sobre o terroir do que a casta). Trabalhar com uma ampla diversidade de castas é, também aqui, um ponto vantajoso, ao dizer “nem todas as castas são afectadas pelas mesmas doenças ao mesmo tempo ou têm a mesma produção, portanto, de uma maneira ou de outra podemos garantir uma certa capacidade de produzir excelênica a maior parte das vezes.

Dirk Niepoort da Niepoort concluiu o simpósio a enfatizar que, o “novo” em “New Douro” se refere ao facto de que até recentemente os produtores apenas pensavam em vinho do Porto – “todos nós sabemos quais são as melhores vinhas e locais para Porto, mas algo novo aconteceu, uma prioridade diferente e portanto temos de olhar para o Douro com uma prespectiva completamente diferente.”

Dirk Niepoort in adfwines.com

Na opinião firme de Niepoort, as melhores vinhas para Porto não são necessariamente as melhores para vinhos DOC Douro, isto porque, “o Porto gosta de condições extremas – vinhas viradas a sul e particularmente secas e quentes. Mas para os tintos e especialmente para os brancos precisamos de algo menos extremo – vinhas viradas a norte são muito mais interessantes e, de repente, por causa do frio da noite que influencia a acidez, a altitude já interessa”. Acredita que os melhores locais para brancos estão agora a ser identificados.

No entanto, os vinhos DOC Douro já representam um terço (em termos de valor) da produção e Niepoort acredita que a procura por mais vinho de qualidade superior vai aumentar muito em breve. Embora Symington não tenha dúvidas na capacidade dos melhores vinhos do Douro competirem com os melhores das outras regiões ou sobre a perspectiva de produzir muito mais, perguntou, “estará uma pessoa normal que vemos passar na rua na disposição de pagar £20 por uma garrafa de vinho do Douro?”. Para ele, a resposta é “Ainda não chegamos lá.”.

Quer esteja na disposição de pagar £20, ou substancialmente mais ou menos, descobri muitos vinhos excitantes no meio dos últimos lançamentos mostrados na prova “New Douro”. Os brancos 2013 representam uma das melhores colheitas que já provei, enquanto que os melhores tintos de 2012 já são abordáveis, com um charme elegante. Procurem e encontrarão!

Nome de código: Samarrinho

Texto João Pedro de Carvalho

Com os seus 258 anos de história, a Real Companhia Velha decidiu enveredar por um caminho de pesquisa, inovação  e experimentação. Desde 1996, ano em que foi criada a chamada ‘Fine Wine Division’, a Real Companhia Velha tem vindo a fazer um complexo trabalho de experimentação e inovação, levada a cabo numa missão conjunta entre as jovens equipas de vitivinicultura e de enologia. Um dos primeiros vinhos a ser consagrado foi o Chardonnay da Quinta de Cidrô com a colheita 1996.

Séries Real Companhia Velha Samarrinho 2013 foto by Real Companhia Velha

Séries Real Companhia Velha Samarrinho 2013 – Foto Cedida por Real Companhia Velha | Todos os Direitos Reservados

Em 2002, após algumas visitas a campos ampelográficos da região a equipa técnica decidiu plantar algumas castas brancas – por exemplo Alvarelhão Branco, Alvaraça, Esgana Cão, Donzelinho Branco, Samarrinho, Touriga Branca – na Quinta Casal da Granja (Alijó) e tintas – Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Preto Martinho, Cornifesto, Tinta Francisca – na Quinta das Carvalhas (Ervedosa do Douro). A escolha das castas baseou-se na análise visual de alguns parâmetros morfológicos (vigor, porte, sensibilidade à secura) e produtivos (fertilidade, tamanho dos cachos, prova de bagos), sendo da responsabilidade da equipa da Real Companhia Velha a recolha das varas para enxertia.

Daqui resultou em 2012 do lançamento da marca “Séries Real Companhia Velha”, que embora tenha sido registada como uma marca de vinho, na realidade trata-se de um conceito que pretende pôr em evidência o trabalho na área da inovação e experimentação. Quando bem-sucedidos enologicamente estes vinhos são postos à venda e, se resultarem bem comercialmente, passam na colheita seguinte a integrar o portefólio comercial da Companhia. Assim aconteceu com o monocasta de Rufete, um peculiar tinto de 2010, que na colheita de 2011 integrou o portefólio da Quinta de Cidrô. Seguiu-se o ‘Séries Real Companhia Velha Espumante Chardonnay e Pinot Noir Bruto 2011’, que na edição seguinte já se vestiu de ‘Real Companhia Velha’.

Casal da Granja  - Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

Casal da Granja – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Após um aprofundado estudo, liderado pela equipa de viticultura, descobriu-se que a casta Samarrinho era uma presença incontornável nas Vinhas Velhas do Alto Douro. Pedro Silva Reis, presidente da RCV, acredita que a Samarrinho pode mesmo tornar-se numa referência para os brancos da região, pelo que a empresa decidiu já avançar para um processo de apuramento clonal que está a ser desenvolvido com o Instituto Superior de Agronomia. O problema é, para já, o material genético existente — que se encontra em acelerado processo degenerativo — se mostrar muito sensível a doenças como o desavinho e bagoinha, o que fez com que se perdesse toda a colheita de 2014.

Um vinho único e raro, apenas foram produzidas 860 garrafas, de uma uva até hoje desconhecida e que nos vem demonstrar todo o potencial que Portugal tem para se afirmar no Mundo dos Vinhos pela diferença e identidade muito própria dos seus vinhos. Este Samarrinho mostra-se diferente, carácter vincado, nariz de grande definição que mistura fruta de polpa branca com fruta de caroço, mel, muita frescura, flores, com algumas semelhanças a exemplares da casta Riesling. Na boca é marcado pela frescura, em corpo mediano que se funde com boa untuosidade, fruta em calda, fundo mineral e seco a mostrar-se com nervo e sem esconder boa apetência para evoluir em garrafa.

Contactos
Real Companhia Velha
Rua Azevedo Magalhães 314
4430-022 Vila Nova de Gaia
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Fax: (+351) 22 377 51 90
Email: graca@realcompanhiavelha.pt
Website: realcompanhiavelha.pt

O Rufo do Vale D. Maria

Texto João Pedro de Carvalho

Quinta Vale Dona Maria é uma antiquíssima propriedade no coração da Região Demarcada do Douro. Embora o tinto tenha nascido com a colheita de 1997 o primeiro branco surgiu recentemente. Tudo começou num jantar após se debater como adequar as práticas agrícolas de modo a obter melhores condições ambientais para o crescimento da população da Alectoris rufa (nome científico da perdiz-vermelha) no Vale D.Maria. Na divagação da conversa entendeu-se que Rufo (vermelho em Latim) seria bom nome para uma marca de vinho tinto do Douro, significando também o toque do tambor, que anuncia e estabelece o ritmo da entrada de gama dos vinhos Vale D.Maria. Mais recentemente esse Rufo teria a sua versão de branco no mercado.

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Rufo do Vale D. Maria 2013 branco- Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

 

Aqui a enologia está a cargo de Cristiano van Zeller, Sandra Tavares da Silva e Joana Pinhão, diga-se que todos os vinhos merecem natural destaque, apetecendo desta vez centrar todas as atenções no único branco, até agora, produzido com a chancela da Quinta Vale D.Maria.

As uvas para este Rufo branco da colheita de 2013 vêm da zona de Sobreda e Candedo (Murça), onde as vinhas se encontram a grande altitude (600 m) para conferir aos vinhos acidez e frescura. A escolha recai num blend de 50% Códega de Larinho e 50% de Rabigato. Enquanto a primeira casta (Códega do Larinho) confere uma certa tropicalidade, a segunda casta (Rabigato) proporciona a acidez natural tão necessária, num conjunto que estagiou cerca de 9 meses em inox até ser lançado para o mercado.

Um branco que nos recebe de braços abertos com bonitos aromas frutados a lembrar citrinos, frutos de polpa branca, algum tropical mas pouco pronunciado num conjunto bastante agradável com toque de mineralidade no fundo. Na boca mostra-se elegante e fresco, com boa intensidade e um toque vegetal aliado à natural doçura da fruta que o embalam para um final de prova com alguma secura, tornando ideal para canapés, saladas, entradas variadas à base de carnes frias ou salmão fumado.

Contactos
Quinta Vale D. Maria
Sarzedinho
5130-113 S. João da Pesqueira
PORTUGAL
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Fax: (+351) 223 744 322
E-mail: francisca@vanzellersandco.com , cvanzeller@mail.telepac.pt , joanavanzeller@vanzellersandco.com
Site: www.quintavaledonamaria.com