Caves São João – Porta dos Cavaleiros, o perfil de uma região Herdade do Esporão

Quinta do Monte Xisto, vinho de poucas palavras… aliás, muitas

  • Blend-All-About-Wine-Quinta do Monte Xisto-Slider

Texto João Barbosa

Quando se escreve acerca de famílias como a Nicolau de Almeida o que se pode fazer? Redigir um texto como as do ensino básico, onde está tudo e certinho? Afirmar que «não há palavras»… e se não as há, não existe que se leia. Ou… ultrapassar a dimensão convencional? Nesta última, para comprimir, podem suprimir-se as vogais ou tirarem-se as consoantes.

Fora de brincadeira, porque o assunto é sério. A família Nicolau de Almeida é tradicional do Douro e do Porto. António Nicolau de Almeida foi o primeiro presidente do Futebol Clube do Porto (Foot-Ball Club do Porto), em 1893, quando o desporto era praticado por sportmen, como na época se dizia. Cavalheiros e operários jogavam em pé de igualdade, verdadeiro desportivismo.

O pai de João Nicolau de Almeida foi o criador do Barca Velha. É uma família ligada à firma Ramos Pinto, que cedo apostou em publicidade, recorrendo aos mais consagrados artistas gráficos do seu tempo, como René Vincent.

Mais recentemente, na década de 70, José Pinto Rosas, com o sobrinho João Nicolau de Almeida, procurou uma propriedade com características especiais e encontrou a Ervamoira. Os dois fizeram também um estudo acerca das melhores castas da região.

Feito o enquadramento, o que se pode dizer do Monte Xisto? O tempo avança e João Nicolau de Almeida reformou-se da Ramos Pinto, que é hoje pertença à Roederer. Procurou uma terra óptima para cultivar a vinha.

Em 1993 encontrou o sítio, no Douro Superior. Um monte sem nada, mas com vários donos. Foi comprando a colina e tomou-a toda. Será perfeita? Um cerro tem vantagens: diferentes altitudes, diversas exposições solares, várias climatologias, dando espaço ao plantio de castas diferentes – ajudas preciosas para a produção de vinhos complexos.

Que nome dar ao domínio? Monte Xisto – xisto a pedra do Douro, parte fundamental do carácter, e monte, porque é um monte. A solução mais simples tende a ser a melhor.

Blend-All-About-Wine-Quinta do Monte Xisto-2013

Quinta do Monte Xisto tinto 2013

Blend-All-About-Wine-Quinta do Monte Xisto-Maria Sottomayor

Maria Sottomayor – Quinta Monte Xisto

Toda a família está envolvida e na enologia há três técnicos reconhecidos: o patriarca e os filhos João e Mateus. Recentemente juntou-se a nora Maria Sottomayor, artista plástica e que trabalhou «às cegas», tendo apenas o vinho pela frente, na ilustração do material da empresa.

Veio agora o Quinta do Monte Xisto 2013, feito com uvas de touriga nacional (60%), touriga francesa (touriga franca – 35%) e sousão (5%), colhidas no início de Setembro e que juntas somam 14 graus de álcool – perigosíssimos, porque a natureza deu a acidez que os refresca.

O cultivo é em modo biológico e as leveduras são autóctones, que trabalharam durante seis dias. Fruta pisada a pé em lagares, como manda a tradição. O vinho estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês, de 600 litros.

Qual o resultado? Um vinho para poucas palavras ou para muitas. Aroma guloso, complexo, que cresce e evolui com o tempo. Taninos com raça e sem agressividade, volume de boca de aplaudir, longo, fundo… «escuro», fresco e quente. Totalmente Douro, sem margem para equívoco.

O Monte Xisto nasceu grande em 2011, ano para celebrar. Confirmou a qualidade do sítio e a competência da família. Como no poker: arrisco tudo, fico na cave. É já uma grande referência do Douro.

Partilhe:
About João Barbosa
Wine Writer Blend | All About Wine

Leave a Reply

Your email address will not be published.