J.Faria & Filhos, no reino da Tinta Negra Bacalhôa Moscatel de Setúbal Superior 2001

Pereira d’Oliveira, Madeira – Do armazenamento à venda ao balcão da adega

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Não devem existir muitos lugares no mundo onde se possa comprar ao balcão e directamente ao produtor, uma garrafa de vinho do século 19. Correcção, oito vinhos do século 19 ao balcão.

Photo Credit Sarah Ahmed Pereira d'Oliveira wine list

Lista de vinhos da Pereira d’Oliveira – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Pois bem, na adega da Pereira d’Oliveira no Funchal, podemos. E que tesouro escondido é, repleto de garrafas e barris, digno de um coleccionador. Como é que a Pereira d’Oliveira tem tal fantástica e abundante colecção?! Tão abundante que torna a escolha difícil.

Parte da explicação reside no facto de a Pereira d’Oliveira ser uma amalgamação de seis empresas da Madeira: João Pereira d’Oliveira, João Joaquim Camacho & Sons, Júlio Augusto Cunha & Sons, Vasco Luís Pereira & Sons, Adegas do Torreão e, muito recentemente, Barros e Sousa.

Photo Credit Sarah Ahmed Filipe & Luis Pereira d'Oliveira

Filipe & Luis Pereira d’Oliveira, 6ª e 5ª geração de produtores Madeira – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Mas essa não é a principal razão. Luís Pereira d’Oliveira, juntamente com o seu irmão Aníbal, representam a quinta geração da família à frente do negócio que em 1850 foi fundado por João Pereira d’Oliveira. Sendo o responsável pelas vendas, conta-me a história, uma história que me parece familiar (estou a falar da Caves São João’s million bottle cellar in Bairrada). Revela-me que a empresa apenas começou a exportar há 30 anos porque a terceira e quarta geração – o seu pai, tio e avô – não tinham qualquer interesse em fazê-lo. Os três preferiam vender os vinhos exclusivamente na Madeira e em Portugal Continental, o que explica o porquê de a Pereira d’Oliveira ter 1.600.000 litros de vinho Madeira com mais de 20-30 anos. Uau!

Photo Credit Sarah Ahmed Pereira d'Oliveira deformed Moscatel bottles

Garrafas de Moscatel deformadas da Pereira d’Oliveira – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Apesar de hoje em dia a empresa exportar vinho Madeira para 16 países, velhos hábitos demoram a morrer. Quando pergunto a Pereira d’Oliveira (Luís) sobre a compra da Barros e Sousa, diz-me que apenas aconteceu por uma razão – para ampliar a porta da adega/instalações de 600 metros quadrados (que já é uma das três instalações da Pereira d’Oliveira no Funchal). Com 1030 metros quadrados, a vizinha Barros e Sousa vai ajudar a aliviar a pressão do espaço e permitir à Pereira d’Oliveira manter uma longa tradição de engarrafamento on demand (não existem planos para pôr de parte novos vinhos para perpetuar a marca Barros e Sousa).

Esta prática (engarrafamento on demand) engloba uma concentração tipo elixir e intensiade por que é conhecida esta empresa da Madeira. Por exemplo o Bastardo 1927, engarrafado pela primeira vez em 2007, 60 anos depois dos 20 mínimos exigidos para um Madeira Frasqueira de topo.

Com o seu toque acelerado a “vinagrinho”, o super-complexo estilo da casa é também conhecido por outra tradição de longa duração. O Madeira da Pereira d’Oliveira é envelhecido em barris de madeira muito antigos (a maior parte com mais de 60 anos, alguns até com mais de 100). Um processo que, quando executado devidamente e durante um longo período de tempo, confere uma subtil interacção do vinho, da madeira, do calor e do oxigénio, que lentamente realça as inúmeras camadas.

O mundo moderno venera a rapidez mas aqui não há lugar para isso. Ou como Pereira d’Oliveira o diz, “Não gostamos de andar rápido porque isso pode originar algo desinteressante”. Apesar do contexto desta afirmação ser o de continuar um pequeno e independente negócio de família, espelha profundamente a filosofia de vinificação que aqui se pratica. Uma filosofia que permace intacta desde que o enólogo Filipe da sexta geração se juntou ao seu pai, Aníbal.

Photo Credit Sarah Ahmed Filipe Pereira d'Oliveira behind the counter

Filipe Pereira d’Oliveira ao balcão – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

A política de “manter o rumo sem mudanças bruscas” é também uma benção para os turistas, especialmente para aqueles que frequentemente saem dos cruzeiros e visitam a ilha sem terem carro à disposição. A Pereira d’Olivereira é absolutamente firme no que toca a estar no coração do Funchal e, situada no número 107, na rua dos Ferreiros, esta adega com atmosfera do século 17 (originalmente uma escola) está a um passo do porto, a norte da catedral da cidade..

Embora a selecção de Madeiras para prova impressione, torna-se quase insignificante quando comparado com o que se pode comprar do outro lado do balcão. Com 56 Madeiras single vintage (Colheita e Frasqueria) à venda, pode-se festejar quase qualquer aniversário que nos venha à cabeça. Mas tomem nota, devem contactar o Livro de Recordes do Guinness se o vosso ano de nascimento está compreendido entre 1850 e 1895.

Aqui estão as notas de prova do meu top 7 deste número 107 (preços de adega)

Photo Credit Sarah Ahmed A fine selection of Pereira d'Oliveira Frasqueira madeira

Uma excelente escolha de vinhos Frasqueira – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Pereira d’Oliveira Sercial 1971 (Madeira)
Mogno com reflexos vermelhos. Fantástico perfil da variedade com a sua acidez de toranja, notas doces de tangerina e goiaba. Muito enfumaçado, longo e agradável. Concentração com linha e longevidade. €94/garrafa

Pereira d’Oliveira Terrantez 1971 (Madeira)
Âmbar profundo, com um nariz e palato complexos. Mais rico que o Sercial, com uma acidez a laranja (não a toranja), mais madura e arredondada. No entanto mais seco, mais saboroso com um delicioso suporte de tabaco, cedro e especiarias secas. Muito persistente com um fundo mineral/iodo num final longo. €110/garrafa

Photo Credit Sarah Ahmed Pereira d'Oliveira Bastardo 1927

Pereira d’Oliveira Bastardo 1927 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Pereira d’Oliveira Bastardo 1927 (Madeira)
Esta garrafa em particular foi retirada do barril em 2014; o 1927 é o único Bastardo da Pereira d’Oliveira, e portanto, extremamente raro. A tonalidade carregada relembra-nos que a Bastardo é uma uva tinta e não branca. É mais robusto, mais doce e com mais fruta no seu palato doce-picante e tâmara amarga. A acidez sumarenta  está bem integrada, misturando-se e extendendo a fruta até um final longo com especiarias escuras, suaves sementes pretas de cardomomo e leve cigarrilha de café crème. O final é um pouco poeirento mas a fruta é generosa o suficiente para manter à distância qualquer adstringência da madeira. €300/garrafa

Pereira d’Oliveira Verdelho 1912 (Madeira)
Esta casa é conhecida pelo Verdelho. Filipe Pereira d’Oliveira diz-me que é um fã do seu estilo meio-seco (e tal como eu, um firme fã do Terrantez). Este tem um um palato avivado fora do comum para um vinho de 102 anos. Não se deixem enganar pela sua tonalidade de mogno maduro – as aparências iludem. Revela goiaba fresca, jovial e picante, chutney de tâmaras carnudas com tamarindo amargo e um toque de pele de toranja. Uma maravilha. Espero ser assim tão cheia de energia se chegar aos 102 anos!! Juntamente com o Terrantez 1880, a minha escolha da prova. €330/garrafa

Photo Credit Sarah Ahmed Pereira d'Oliveira Moscatel cask

Barril de Moscatel da Pereira d’Oliveira – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Pereira d’Oliveira Moscatel 1875 (Madeira)
Já antes tinha tido a sorte de provar um Moscatel muito velho, fino e raro – o 1928 Morris Muscat de Rutherglen e o José Maria Fonseca Apoteca Moscatel de Setubal 1902. Ambos eram intensamente viscosos. Ainda não tinha encontrado nenhum Moscatel na Madeira, mas a imagem de marca da ilha realmente transporta e distingue este Moscatel – diria que é o melhor de entre estes exemplares muito velhos que provei. Por isso, embora tenha uma cor mogno muito escuro, com uma correspondente concentração super intensa de açucar Demerara, escuro, ligeiramente amargo, com especiarias poeirentas(cardamomo preto, tamaraindo), café do campo e melado, é muito nivelado e a acidez bem integrada oferece uma certa precisão já para não falar da impressionante longevidade. Não é viscoso o que confere a este vinho uma fantástica energia e brilho. €760/garrafa

 

Photo Credit Sarah Ahmed Pereira d'Oliveira - the oldest madeiras tasted

Pereira d’Oliveira madeira – os vinhos mais velhos que provei – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Pereira d’Oliveira Terrantez 1880 (Madeira)
Relativamente pálido, naquilo que parece ser um traço dos Terrantez. Muito interessante, mas acima de tudo, uma incrível elegância, longevidade e integração para a idade que tem. Uma boa base de especiarias delicadas e tabaco conferem-lhe linha e entusiasmo. Brilhante equilíbrio e serenidade. Juntamente com o Verdelho 1912, a minha escolha da prova. €780/garrafa

Pereira d’Oliveira Sercial 1875 (Madeira)
É difícil acreditar que este Sercial tem quase mais 100 que o primeiro (também ele um Sercial) dos sete magníficos vinhos que escolhi. A semelhança com a família estão bem patentes,  em termos varietais e estilo da casa. Goiaba, pele de toranja e até umas notas de maça acabada de cortar cantam por entre o véu de fumo e minerais. O seu distinto aroma vulcânico, iodo e algas servem de lebrete palpável do muito peculiar terroir montanhoso, oceânico e vulcânico da ilha. Incrível longevidade, persistência e delicadeza. Acho até que pode ser outro dos meus favoritos… €760/garrafa

Contactos
Rua Ferreiros 107
9000-082 FUNCHAL
( )
Tel: (+351) 291 220 784
Fax: (+351) 291 229 081
Site: perolivinhos.pai.pt

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