Posts By : João Pedro Carvalho

Caiado(s) de fresco

Situada em Campo Maior, fica a Adega Mayor de onde nos chegam estas três referências da marca Caiado, que funcionam como entrada de gama do referido produtor. Apresentaram-se na última colheita (2015) com uma nova roupagem, pelo que se pode dizer que estão caiados de fresco. Disponíveis em tinto, rosé e branco, são vinhos onde a fruta é dona e senhora de todas as atenções. Destaca-se essencialmente a cuidada imagem, mas acima de tudo a qualidade que nos apresentam no copo é digno de realce. Todos eles são frescos, alegres e de perfil bem gastronómico, a pedirem mesa e companhia à sua volta.

Caiado logo

Logo – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

O Caiado branco 2015 feito a partir do lote das castas Antão Vaz, Arinto e Roupeiro, apenas com passagem por inox o que é algo que em termos de vinificação os mete todos no mesmo patamar. Depois são os aromas frescos e maduros, limpos, de uma fruta muito sumarenta e perfumada. A acidez dá a frescura suficiente para lidar com os mais triviais petiscos que nos surjam à mesa e porque não as Sopas de Cação ou uma Caldeta do Rio, tem estofo para tal e o problema é em conseguir ter garrafas suficientes para todos aqueles que se juntem à nossa mesa.

No interlúdio entre peças, diga-se pratos, abrimos o Caiado Rosé 2015 que é filho das castas Aragonês, Castelão e Touriga Nacional. Mudam os aromas e muda o tom, mudamos pois para os morangos, amoras e ameixa, tudo maduro e com um toque guloso de rebuçado. Picamos uma rodela de chouriço frito, depois mais outra, agora um bocadinho de farinheira sem problemas que o vinho aguenta pois tem frescura suficiente para tal. Damos conta e temos à frente umas Sopas de Tomate com Capelas, este Rosé como bom Alentejano porta-se à altura e quando damos conta no final nem Sopas nem vinho.

Caiado vinhos

Vinhos– Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Aguardamos então, com o Caiado tinto 2015 no copo, pelo próximo prato. Este tinto criado a partir do lote Aragonês, Trincadeira e Alfrocheiro mostra o lado mais morno da planície, sem por isso ter a sua dose de frescura e candura. Afinal de contas as Burras de Porco Preto tinham sido lentamente estufadas, ou direi caiadas, por este tinto. Uma combinação perfeita com o vinho a mostrar ter estrutura e frescura suficientes para a empreitada.

Texto João Pedro de Carvalho

Meruge, o charme da Lavradores de Feitoria.

As mais recentes colheitas do vinho Meruge, branco e tinto, foram recentemente apresentadas na Taberna da Rua das Flores. Esta marca criado pela Lavradores de Feitoria (Douro), teve direito a uma vertical de cinco tintos e cinco brancos, com a respectiva palestra dada pelo enólogo responsável, Paulo Ruão. ‘Meruge’ é um peculiar e “sonante” nome na história da Lavradores de Feitoria, começou por ser o nome de uma das 19 quintas que compõem o portefólio da empresa – Quinta da Meruge, situada no concelho de São João da Pesqueira e que assim se chama porque ali habitam, entre vinhas, muitas ervas silvestres com esta designação (aka morugem) –, mas rapidamente passou da vinha ao vinho! Em 2001 a Lavradores de Feitoria lançava os seus primeiros “vinhos de quinta” e, um deles, era precisamente o ‘Quinta da Meruge’, um tinto de 1999, que se repetiu nas colheitas de 2000 e 2001. Estávamos em 2005 quando a Lavradores de Feitoria lançou o seu primeiro “vinho de terroir”, um tinto da colheita 2003 a envergar precisamente o nome ‘Meruge’. Mais tarde, na vindima de 2009 nascia o ‘Meruge branco’.

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Vinhos Brancos – Foto de Ricardo Bernardo| Todos os Direitos Reservados

Sendo o ‘Meruge branco’ um Douro feito com Viosinho em estreme pode, a certo ponto, assumir-se que a sua história – ou gestação – remonta à vindima de 2007. Neste ano, a equipa técnica da Lavradores de Feitoria identificava um Viosinho de excelência, nascido de vinhedo com mais de 45 anos e que permitia a sua vinificação a solo. Considerada uma das melhores castas autóctones do Douro e Trás-os-Montes deu origem ao ‘Três Bagos Viosinho’, nas colheitas de 2007 e 2008. Um néctar que em 2009 evoluiu – e assim se manteve – para um caminho diferente: ao estagiar em madeira “deu salto” para a gama ‘Meruge’. Um chamado “branco de Inverno” que tem a particularidade de fermentar e estagiar seis meses em barricas de carvalho português, de Palaçoulo, novas e em cru – sem “queima/tosta” –, o que lhe imprime um carácter muito próprio. O desfile começou nos brancos e com cinco referências, desde 2010 ao novíssimo 2015 que será colocado no mercado no início do ano que se aproxima. Notável a frescura e limpeza de aromas que todos mostraram, num fio condutor comum a todos eles, permitindo entender como aromas e sabores iam evoluindo na passada do tempo.

Meruge branco 2015: Desde o mais novo ao mais velho, a barrica onde estagiaram nunca lhes chega a marcar a alma e o corpo, nota-se ligeiramente mas sem os tradicionais fumados, mesmo no exemplar mais recente. É comum a todos eles uma bonita e perfumada complexidade, enorme elegância com muitos aromas de cariz citrino, floral acompanhado de folha verde, ligeiro toque de madeira quase que acetinado no fundo. Na boca faz-se notar uma muito boa frescura que sempre presente, alarga para sabores de fruta bem fresca e ácida, boa estrutura com suporte na acidez e num fundo de sensação mineral. A guardar algumas se entretanto conseguir resistir aos seus encantos.

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Vinhos Tintos – Foto de Ricardo Bernardo| Todos os Direitos Reservados

No que aos tintos diz respeito, a Quinta da Meruge apresenta características muito especiais, principalmente na casta Tinta Roriz, plantada uma vinha de encosta virada a Norte. Um desafio para a equipa de enologia da Lavradores de Feitoria, que na vindima de 2003 encetou uma forma de vinificar distinta, a fim de dar origem a um tinto – de seu nome ‘Meruge’ – com características do Douro, embora mais suave e elegante. O lote – de Tinta Roriz (80%) e Vinhas Velhas (20%), com predominância de Touriga Franca e Touriga Nacional – estagia em barricas novas de carvalho francês.

Meruge tinto 2014 é aquilo a que se pode chamar, vinho de charme, com a Tinta Roriz a brilhar bem alto dando origem neste caso a um vinho de perfil mais Borgonhês. Um belíssimo vinho que como ficou provado, desenvolve uma fina complexidade na passada larga do tempo, não seja de estranhar a maneira como se mostra na fase mais jovem com ligeiro aroma terroso, mato rasteiro, cogumelos e especiaria, dando lugar a uma fruta bem ácida e marcante com chocolate e especiaria. Com muito boa presença na boca deixado pela fruta (cereja ácida) suportada por uma estrutura firme, com frescura, passagem saborosa e marcante. Uma belíssima aposta que irá ganhar com alguns anos de cave.

Texto João Pedro de Carvalho

Os Muros de Anselmo Mendes

Anselmo Mendes é nome maior da enologia Portuguesa, nasceu e cresceu em Monção e foi aí que desde criança se familiarizou com a cultura da vinha e a produção do vinho. Um verdadeiro mestre da enologia que trata a casta Alvarinho com uma precisão e rigor, como poucos o sabem fazer no mundo. Fruto do seu trabalho a partir de três castas e em três das zonas da Região Demarcada dos Vinhos Verdes: Alvarinho no Vale do Minho, Loureiro no Vale do Lima e Avesso no Vale do Douro, nascem os seus vinhos. Um artigo dividido em duas partes, numa primeira parte dedicada aos cinco exemplares designados como Muros, desde o Escolha, passando pelos varietais até ao topo Muros de Melgaço. São cinco os Muros, todos distintos mas com identidade muito própria, a transmitirem aquilo que de melhor as castas e os locais de origem têm para nos dar.

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Vinha – – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Muros Antigos Escolha 2015: Nasce da selecção das castas Alvarinho, Loureiro e Avesso. Aroma muito coeso e limpo, de fino recorte cheio de fruta (tropical, citrinos, pomar) com bela frescura. Na boca mostra-se cheio de sabor, leveza com acidez vincada a prolongar um final com ligeira secura.

Muros Antigos Avesso 2015: Proveniente de uvas criadas no Vale do Douro, em Baião, com vinhas em altitude acima dos 500m. Muito preciso de aroma, fresco e mineral com a fruta (citrinos maduros) presente sem grande exaltação. Boca a mostrar um conjunto com muita energia, fruta bem presente com final onde se sente um ligeiro travo mineral.

Muros Antigos Loureiro 2015: Uvas da casta Loureiro criadas no Vale do Rio Lima. Muito bem no aroma a invocar a casta, perfumado (floral) com toque de folha verde de louro, citrinos, todo ele muito preciso, fresco e elegante. Replica no palato, apoiado numa bela acidez, acutilante e expressivo num misto de energia e finesse.

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Muros Antigos – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Muros Antigos Alvarinho 2015: A casta Alvarinho de vinhas junto ao rio, em solos com elevado teor de pedra rolada. Muito limpo de aromas, mostra-se bem fresco com notas de fruta bem madura (tropical ligeiro, tangerina), flor de laranjeira, com um ligeiro toque a noz que lhe confere a sensação de ter alguma untuosidade. Na boca mostra-se com bom corpo, bem estruturado e a mostrar-se bem comunicativo, comandado pela fruta cheia de frescura e sabor.

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Muros Antigos, Alvarinho – Foto de Anselmo Mendes| Todos os Direitos Reservados

Muros de Melgaço 2014: Uvas da casta Alvarinho, exclusivamente produzidas em Melgaço. Fermenta e estagia em barricas de carvalho francês durante 6 meses. Um clássico e aquele que durante anos foi o topo de gama do produtor. Um vinho onde predomina a elegância de conjunto com uma fruta (citrinos com ligeiro toque tropical) lado a lado com uma mineralidade muito fina e delicada.

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Muros de Melgaço – Foto de Anselmo Mendes| Todos os Direitos Reservados

Notas de pederneira num vinho que mostra ter uma bonita complexidade, que irá aumentar com o passar dos anos em garrafa, mas que dá uma excelente prova desde já. Boca com grande finesse e equilíbrio, frescura acompanhada pela fruta e um final de travo seco e mineral. Um grande vinho.

Texto João Pedro de Carvalho

Adega de Sabrosa, o Douro Cooperativo.

Adega de Sabrosa
Numa pesquisa recente que efectuei pelas Adegas Cooperativas que tenho como referência, faltava-me conhecer uma na região do Douro. Faz falta existir em cada região, pelo menos, uma Adega Cooperativa forte e bem implementada que sirva de referência para os consumidores de vinho nacional. Os exemplos noutras regiões são mais que conhecidos do consumidor, a imagem que algumas destas Adegas conseguiram conquistar deve-se à qualidade dos vinhos que colocam no mercado. Será por isso de fácil entendimento, que uma Cooperativa forte e com boa dinâmica de mercado será sempre benéfico para a região.

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Adega de Sabrosa – Foto da Adega de Sabrosa| Todos os Direitos Reservados

Dito isto, resolvi dar um pequeno passeio pelas várias regiões de Portugal, chegando à conclusão que me faltava uma referência na região do Douro no que a Adega Cooperativa diz respeito. Foi então que me foi apresentada a Adega de Sabrosa, fundada em 1958 por um pequeno grupo de viticultores. Fica localizada no concelho de Sabrosa, na sub-região de Cima Corgo e conta nos dias de hoje com 522 sócios. Reformularam recentemente a sua gama que passou a apresentar-se com a marca Fernão de Magalhães, que presta homenagem a Fernão de Magalhães, navegador português natural do Município de Sabrosa, que se notabilizou por ter organizado a primeira viagem de circum-navegação da Terra. A Adega de Sabrosa comercializa também um Moscatel do Douro e Vinho do Porto no qual sobressai o seu Porto 10 Anos.

A prova focou-se na marca Fernão de Magalhães Branco, Rosé, Tinto e o Reserva da Adega de Sabrosa, a enologia está a cargo da enóloga Celeste Marques. Vinhos que lá por fora têm sido bastante apreciados e ganho várias medalhas. O Fernão de Magalhães Branco da colheita de 2015 é um lote das castas Gouveio, Viosinho, Rabigato e Fernão Pires, com passagem por inox. Bem fresco com a fruta (citrinos, frutos de pomar) a saltar no aroma, muito limpo, directo, envolto em perfume floral. Na boca é comandado por uma boa frescura que embala a fruta de médio porte, num bom final. Sem falhas e mais que pronto a ir à mesa a acompanhar por exemplo um arroz de bacalhau.

O Rosé da colheita de 2015 nasce de um lote de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, passagem por inox. Um rosé bem composto, muita fruta vermelha (morango, framboesa) madura e rechonchuda, boa frescura de conjunto que combina com nota de algum rebuçado em segundo plano. Todo ele muito franco e directo, boca com boa frescura onde a fruta se mostra redonda e roliça, com uma ainda que muito ligeira doçura no final, bom companheiro para uns carapaus fritos com arroz de tomate.

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Os vinhos – Foto da Adega de Sabrosa| Todos os Direitos Reservados

Entrando nos tintos da Adega de Sabrosa, o Fernão de Magalhães 2014 resulta do lote das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. Por aqui dá-se lugar à expressão da fruta, pura e limpa, sem grandes entraves pelo meio ou aromas mais disto ou mais daquilo. Cheira e sabe a vinho do Douro, com aquela nota de esteva presente, leve fumado ao mesmo tempo que a fruta vermelha se mostra bem limpa e suculenta. Na boca é a fruta com boa acidez, mostra-se saborosa e acompanhada pelo travo vegetal também aqui a mostrar-se presente, com uma boa secura final. De perfil muito gastronómico, como é apanágio dos vinhos da região, liga bem com carnes na grelha.

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O Reserva – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

O Fernão de Magalhães Reserva 2012 é o topo de gama da Adega de Sabrosa, um lote de Touriga Nacional e Tinta Roriz com passagem por madeira. Um pouco mais concentrado que o anterior, complexidade mediana onde a fruta surge mais fresca e com mais presença, a Touriga Nacional em evidência com bom recorte floral (violetas), especiaria e algum arredondamento com ligeiro cacau morno dado pela passagem por barrica. Boca de médio porte, fresco e com a fruta em bom plano, inicialmente mais macio e convidativo, embala num travo vegetal seco. Uma boa surpresa que fará boa companhia a um cabrito assado no forno.

Texto João Pedro de Carvalho

As frescuras da Quinta do Pôpa

São três as propostas mais refrescantes que nos chegam da Quinta do Pôpa. Localizada perto de Tabuaço, são ao todo 14 hectares de vinha que alimentam, desde 2007, este sonho de um pai que se tornou realidade pela mão do seu filho. Hoje em dia são os netos Stéphane e Vanessa Ferreira que lideram o projeto com a enologia de Francisco Montenegro e João Menezes. São vinhos de homenagem com a marca Contos da Terra, a prestar homenagem ao Douro e às suas gentes enquanto os Quinta do Pôpa homenageiam a família proprietária.

Neste caso o destaque vai para aquele que é o primeiro Quinta do Pôpa Rosé, e a juntar-se a ele, as novas edições em branco do Quinta do Pôpa e do Contos da Terra. Comum a todos eles a baixa graduação que oscila entre os 12 e 12.5% Vol., tal como a frescura e a boa afinação de conjunto que mostram ter.

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Contos da Terra Branco 2015 – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Contos da Terra Branco 2015: tem como base as castas Viosinho, Rabigato, Cerceal, Folgazão, com passagem apenas pelo inox. Como já aqui foi dito um vinho que homenageia o Douro e as suas gentes, mostra-se com mediana intensidade onde a fruta (citrinos e tropical) surge gorda e suculenta, leve floral, conjunto cheiroso e feliz, um vinho muito polivalente que facilmente agrada à mesa.

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Quinta do Pôpa branco 2015 – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Quinta do Pôpa branco 2015: novamente com um lote de castas durienses a apresentar-se num perfil mais contido que o anterior, mesmo com estágio parcial em madeira, mostra-se ligeiramente mais envolvente com notas de fruta (tropical, citrinos) madura envoltas em capa de resina, leve baunilha a dar sensação de untuosidade, frescura de conjunto com boa intensidade.

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Quinta do Pôpa Rosé 2015 – Foto de João Pedro Carvalho| Todos os Direitos Reservados

Quinta do Pôpa Rosé 2015: resulta do lote de Tinta Roriz e Touriga Nacional, a mostrar-se muito fresco, delicado nos aromas com a fruta (morango, framboesa) em plano de destaque, sumarenta e cheia de sabor. Na boca é um misto de sensações, entrada mais arredondada com a fruta em destaque para terminar com uma boa dose de secura num final de boa persistência.

Texto João Pedro de Carvalho

O Sossego da Herdade do Peso

Texto João Pedro de Carvalho

Situada no Baixo Alentejo, em plena Vidigueira, a Herdade do Peso acaba de colocar no mercado as últimas novidades, de nome Sossego, que se apresentam no formato branco, rosado e tinto. Surgem assim, na Herdade do Peso, os novos vinhos que se situam no patamar imediato ao Vinha do Monte, como vinhos indicados para um consumo mais casual e diário, com uma qualidade interessante para o objectivo pretendido. E é neste sossego por mim tão desejado e que me tem mantido nestes últimos dias bem afastado do reboliço da cidade, que me vou deixando deliciar pelos aromas e sabores dos vinhos que me vão passando pelo copo.

Neste caso é a franqueza de aromas que os domina por inteiro, a frescura em conjunto sempre bem afinado, mostra-se ao lado da fruta (madura e fresca) de intensidade mediana tal como se mostram a nível de corpo. E mesmo neste sossego deseja-se e procura-se alguma irreverência ou mesmo aquele algo mais que faça despontar o interesse naquilo que temos pela frente. Apetecia pois um pouco mais, mas talvez isso fosse pedir o que não se pode dar, ou o que não faz parte da estratégia delineada. Resta-nos, pois, em sossego apreciar estas novas referências:

Sossego branco 2015: num lote tipicamente alentejano com 75% Antão Vaz, 20% Arinto e 5% Roupeiro, fruta fresca e madura de bom nível com exuberância de bom tom, ligeiro floral a fechar o conjunto, algo discreto com boa secura no fundo, mas pronto para a mesa.

Sossego Rosé 2015: feito exclusivamente de Touriga Nacional, bonito na cor e na candura dos aromas, frescos, ligeiros e apelativos, sendo direto na forma como se faz mostrar. Presença mediana no palato sendo a fruta novamente protagonista, calmo, sereno, ligeira secura de fundo num perfil que agrada.

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Vinhos – Foto de Herdade do Peso | Todos os Direitos Reservados

Sossego tinto 2014: criado a partir de um lote de 75% Aragonez, 15% Syrah, 10% Touriga Nacional, com direito a estágio de 6 meses em barrica usada. Muita fruta madura em tom silvestre (amora, framboesa) com o aconchego da barrica, elegância num todo harmonioso. Boca num misto de fruta e frescura, corpo mediano com boa presença.

Biodynamic Wine by Monty Waldin

Texto João Pedro de Carvalho

É a mais recente pérola a ser adicionada ao já vasto leque de livros dedicados ao mundo do vinho com a chancela da editora Infinite Ideias. Cada título da The Infinite Ideias Classic Wine Library cobre uma região, país ou tipo de vinho e se tivermos em linha de conta os outros livros que já aqui foram abordados então podemos dizer que a qualidade está uma vez mais colocada num patamar muito alto.

O livro cujo título é Biodynamic Wine, versa sobre um tema que será controverso e originário de grandes discussões tendo por um lado os seus admiradores e seguidores/praticantes, sendo que também podemos contar com uma grande quantidade de cépticos e não crentes. O autor é Monty Waldin, uma autoridade no que toca a vinho orgânico e biodinâmico, também crítico, consultor e viticultor. O livro é uma janela aberta para o vinho biodinâmico, uma verdadeira fonte de conhecimento onde o autor com uma escrita fluida e cativante nos explica passo a passo processos e filosofias desta maneira de estar no mundo dos vinhos.

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Biodynamic Wine by Monty Waldin

Ao longo de 222 páginas vamos sendo guiados pelo mundo do vinho Biodinâmico, não espere encontrar avaliação de vinhos ou de produtores porque simplesmente não vai encontrar. Feita a introdução necessária somos levados a conhecer as origens da Biodinâmica onde a figura de Rudolf Steiner ganha o esperado protagonismo. Nos capítulos que se seguem são abordados todos os preparados, onde ficamos a conhecer entre muitas outras coisas o porquê dos cornos de vaca serem cheios de estrume e enterrados a determinada altura do ano, isto e muito mais sempre guiados pelas mais variadas técnicas e tratamentos alterativos que vão sendo enumerados e explicados um a um. Qual a importância do vortex na altura de dinamizar os preparados? Ou qual a ligação dos organismos ao cosmos e como daí se trabalha seguindo o ritmo celestial? Por último um capítulo dedicado à certificação Demeter, o rigor é o mesmo de sempre tal como a vontade de continuar a ler e a entender este modo de estar que cada vez mais ganha adeptos entre os produtores de vinho por todo o mundo.

Um livro de referência e obrigatório para todos aqueles que de alguma maneira tenham ligação com o fantástico mundo do vinho, sejam profissionais do ramo ou wine lovers.

Aromas de Cidrô, as novidades da Real Companhia Velha

Texto João Pedro de Carvalho

O portefólio de vinhos da Real Companhia Velha produzidos na Quinta de Cidrô, assenta numa surpreendente colecção de castas nacionais e estrangeiras. Localizada perto de São João da Pesqueira com os mais de 150 hectares de vinha, as suas primeiras plantações datam dos finais do séc. XIX, altura que coincide com a construção do seu bonito e imponente Palácio. A Quinta de Cidrô viria a ser comprada pela Real Companhia Velha em 1972 e seria alvo de uma necessária reestruturação, tanto a nível das vinhas como do seu palácio, compra de novas parcelas e plantação de novas vinhas, tudo num sistema de vinha ao alto, como é possível observar na fotografia.

Num conceito que poderemos dizer de irreverência e inovação, castas brancas como Chardonnay, Boal, Alvarinho, Sauvignon Blanc ou Gewurztraminer ou tintas como a Pinot Noir, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Rufete, têm preenchido os nossos copos de aromas e sabores oriundos da Quinta de Cidrô. Em conversa ficamos a saber que falta no ramalhete das brancas a casta Riesling, que com toda a certeza por ali irá ser colocada. Certamente que a frescura das terras da Quinta de Cidrô vai acolher da melhor forma a nova inquilina, tal como tem feito com todas as restantes que tão bons resultados têm conseguido.

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Os vinhos em prova – Foto de Gonçalo VillaVerde | Todos os Direitos Reservados

Basta ter em memória o Quinta do Sidrô 1996 e comparar com o mais recente Quinta de Cidrô Chardonnay 2015, para entender o caminho de sucesso que tem vindo a ser percorrido nesta casa nos últimos anos. A prova teve uma mão cheia de brancos e um rosé, no total foram 6 vinhos e todos eles a mostrarem aromas espevitados e bem definidos, de perfil cada vez mais refinado e elegante mas com o Douro a marcar-lhes a alma. Uma evolução que se tem feito ao longo das colheitas onde cada vez mais os vinhos mostram os muitos encantos do local onde nasceram.

Quinta de Cidrô Alvarinho 2015: A mostrar frescura num conjunto bastante focado e coeso, estruturado e marcado pelo terroir do Douro com notas de fruto de pomar, citrinos e uma ligeira austeridade mineral em fundo. Passagem de boca com boa presença, saboroso e a fruta a marcar os sabores num final fresco e seco.

Quinta de Cidrô Sauvignon Blanc 2015: Ainda muito novo, expressivo num misto de fruta austera de caracter mais tropical e um toque de rebuçado de limão, vegetal fresco (espargo), conjunto coeso com o palato a médio tom no que a presença diz respeito. A fruta está menos presente que no nariz, terminando fresco e com boa persistência.

Quinta de Cidrô Boal 2014: A casta Semillon é conhecida no Douro como Boal, pelo que o vinho muda de nome, mas felizmente não mudou mais nada e por isso mantém todos os seus encantos. É claramente dos meus favoritos da prova, um vinho cheio e envolvente, que nos marca pela frescura e pelo tom mais morno que a madeira lhe confere. Cheio e opulento nos sabores e aromas, a acidez que tem domina-lhe por completo o espírito. Um daqueles para se ter, beber e se conseguir, guardar.

Quinta de Cidrô Chardonnay 2015: É já um clássico e dos mais bem conseguidos exemplares de Chardonnay feitos em Portugal vai para largos anos. O vinho surge mais elegante e refinado, nota-se a mão do enólogo, numa ligeira sensação de pão torrado, aconchego da madeira muito subtil com frescura e elegância da fruta de pomar, ananás mais dissimulado, coeso e ao mesmo tempo delicado, limpo e cativante.

Quinta de Cidrô Gewurztraminer 2015: Aroma cheio de líchias e pétalas de rosas, cheio de frescura num aroma muito directo que chega a saturar o nariz e mesmo o palato que quase sempre é um misto de frescura com água de rosas. O problema é meu certamente pois são casos raros os vinhos desta casta que me conquistaram, este não foge à regra e foi o que menos gostei da prova.

Quinta de Cidrô Rosé 2015: Um Rosé feito a partir de Touriga Nacional e Touriga Franca, mostra-se seco com toque fumado, misto de frutos vermelhos e flores (rosas de Santa Teresinha). Replica no palato o já descrito, marcado pela fruta bem saborosa e por uma boa secura no final.

Contactos
Quinta de Cidrô
5130-307 S. João da Pesqueira
Tel: (+351) 254 738 050
Fax: (+351) 254 730 851
E-mail: turismorealcompanhiavelha@gmail.com
Website: www.realcompanhiavelha.pt

Quinta de Pancas, o renascimento de um clássico

Texto João Pedro de Carvalho

Continuo no meu pequeno tour pelas belas Quintas que rodeia a cidade de Lisboa, desta vez fui visitar a prestigiada Quinta de Pancas que tanto e tão bom vinho tem colocado na mesa dos consumidores nas últimas décadas. A Quinta de Pancas, fundada em 1495, está localizada a 45 km a noroeste da cidade de Lisboa, na freguesia de Santo Estevão e Triana, no chamado “Alto Concelho de Alenquer” junto ao lugar de Pancas. Entre a Serra de Montejunto e a lezíria da margem direita do rio Tejo, por entre montanhas, montes, vales e planícies a Quinta de Pancas mostra-se altaneira com os seus 50 hectares de vinha. Por ali os solos predominantes são calcários, variando a sua origem conforme a altitude das respectivas parcelas e ao declive das mesmas. Dominam nas variedades tintas a Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Syrah, Merlot, Castelão, Alicante Bouschet, Tinta Roriz, Touriga Franca, Petit Verdot e Malbec. Nas variedades brancas temos a Arinto, Chardonnay e Vital.

Durante anos os seus vinhos conquistaram os gostos dos consumidores mais exigentes, foram famosos e alvos de cobiça na década de 90 os Special Selection onde brilhava entre outros o Touriga Nacional e o Cabernet Sauvignon, o piscar de olhos a um perfil inspirado nos vinhos de Bordéus nunca foi escondido nesta casa. No final dessa mesma década foi colocado no mercado aquele que seria o topo de gama, um vinho que ainda hoje me trás muito boas recordações, um vinho de excelência que dava pelo nome de Quinta de Pancas Premium. Depois o tempo deu passadas bem largas e assistimos a uma renovação do que por ali era feito, perdeu-se algum encanto mas não se perdeu o “savoir faire” e exemplo disso foi o lançamento do Grande Escolha.

Nos dias de hoje assistimos ao renascimento da Quinta de Pancas alicerçada numa nova estratégia que inclui juntamente com a Quinta do Cardo a separação da Companhia das Quintas, apresentando-se agora com imagem renovada, assinada por Rita Rivotti. Os vinhos, rótulos incluídos, também foram alvo dessa mesma renovação e foram apresentados recentemente. Como gama de entrada estão os Pancas na versão tinto e branco, ambos da colheita de 2015, num perfil simples e bastante directo, centrados na fruta madura bem fresca e convidativa, são a meu ver belíssimas compras para um consumo diário.

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Os novos vinhos – Foto Cedida por Quinta de Pancas | Todos os Direitos Reservados

Na gama Quinta de Pancas também em modo branco 2015 e tinto 2014, aqui melhor o branco na forma como se mostra, o tinto mais coeso e pouco falador ficando melhor na fotografia o Pancas 2015 pela jovialidade e forma desempoeirada como se mostrou. Já o branco mostra toda a candura da fruta madura, fresca e airosa, com ligeiro arredondamento. É um claro salto em frente na qualidade e no prazer que proporciona, para se terminar com os dois Reserva, também em formato branco com um 100% Arinto de 2014 e o tinto Reserva de 2013. O Reserva branco teve passagem por madeira durante 8 meses, o suficiente para lhe acalmar o espírito e conferir maior complexidade ao conjunto, dominado pela fruta madura com citrinos a fazer lembrar uma tarte de limão, ligeira baunilha e biscoito. Palato a condizer, bastante frescura suportada por uma bela estrutura. Também o Reserva tinto 2013 tem muito para mostrar, num perfil mais arredondado com nota de fruta vermelha bem rechonchuda, pleno de harmonia e sabor, madeira pouco presente e que dá lugar à fruta para que se destaque. Com vigor no palato, saboroso e com muito boa frescura a embalar a prova que pede comida por perto. Na passagem breve pelos vinhos ainda em estágio, direi que o futuro é uma vez mais prometedor para os lados da Quinta de Pancas.

Contactos
Quinta de Pancas
Porto da Luz, 2580-383 Alenquer
Tel: (+351) 263733219
Email: info@companhiadasquintas.pt
Website: www.companhiadasquintas.com

Soalheiro – Alma Mater

Texto João Pedro de Carvalho

Uma história que começou nos anos 70 quando João António Cerdeira, com o apoio de seu pai, António Esteves Ferreira, plantou a primeira vinha de Alvarinho. Nascia em 1982 na Quinta de Soalheiro primeira marca de Alvarinho de Melgaço, gerida na actualidade por Maria Palmira Cerdeira e seus filhos. Um perdurar que se faz através das gerações da família Cerdeira, naquele que foi o meu primeiro contacto com a casta Alvarinho, curiosamente com o Soalheiro Alvarinho 1994, na altura um jovem. É caso para dizer que na passada do tempo, depois da afirmação, da consagração e finalmente a consolidação do projecto, chega portanto aquela altura de desbravar novos caminhos e desafios com o lançamento de novos vinhos.

São novas maneiras de entender e mostrar a casta Alvarinho, a primeira abordagem neste sentido foi um tal de Quinta de Soalheiro lá para o ano de 1999, mais recentes o Primeiras Vinhas seguido do Reserva. Mais recentes são estes dois lançamentos, do qual um é estreia absoluta e o outro é a segunda colheita. Em estreia absoluta o Soalheiro Alvarinho Granit 2015, fruto de uma selecção específica de vinhas plantadas acima dos 150 metros em solos de origem granítica. A fermentação ocorre a uma temperatura acima do normal em vinhos brancos em inox com battonage sobre as borras finas. O objectivo é mostrar a expressão da casta, bem como a expressão dos solos num lado mais seco, austero e mineral. Destaca-se boa exuberância com foco na fruta associada à Alvarinho, perfil muito limpo com grande elegância. Palato forrado a fruta, solidez com fundo mineral envolto em secura. Todo ele muito preciso e focado, mais uma bela criação deste produtor.

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Soalheiro Alvarinho Granit 2015 & Soalheiro TerraMatter 2015 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Já na segunda edição apresenta-se o Soalheiro TerraMatter 2015, elaborado com uvas em regime de produção biológica, não sujeito a filtração, fruto de vindima precoce e maloláctica parcial em barricas de castanho. Diferente e arrebatador pela maneira como conquista no imediato, tanto pela diferença mas pela qualidade que uma vez mais é apanágio desta casa. Fantástica prestação de finesse, energia e definição aromática. Não há lugar a qualquer espécie de “massacre” olfactivo num vinho focado e preciso, belíssima presença com muito ainda para dar, o tempo que dura no copo apenas o demonstra. Denso, bom volume de boca com muita elegância e frescura, sensação de ligeira untuosidade. Travo mineral vincado em fundo numa passagem plena de sabor e frescura da fruta. Está a meu ver melhor que o 2014 e tal como seria de esperar, ainda muito novo pelo que será bastante interessante acompanhar a sua evolução, haja garrafas que o permitam.

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