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Papa Figos Branco 2015 e Papa Figos Tinto 2014

Texto João Barbosa

A repetição de palavras ou de rimas em latim faz-me sempre pensar tratar-se de magia. Não sei que livros andei a ler ou que filmes andei a ver. Bem, cá vai:

– Oriolus oriolus.

É o nome latino de papa-figos, um passarinho bonito comum na Europa e que pode ser visto até a uma parte da Ásia, voa até ao Cazaquistão e à Mongólia.

É um passarinho com ar simpático que os meus olhos de urbanita não conseguem identificar sem ajuda de quem sabe. Além de simpático é bonito. Não sou ornitólogo e fico por aqui, pois o tema não é acerca de aves.

Os Papa Figos fazem um par de vinhos do Douro. A Casa Ferreirinha (Sogrape) apresentou há poucos dias as novas edições. O branco é de 2015 e o tinto é de 2014. Se os papa-figos são uma alegria para os olhos, os Papa Figos dão bom prazer gastronómico.

Quando escrevo gastronómico não me refiro apenas à mesa, mas à globalidade do significado gastro. Palavra grega que significa estômago. Hoje pareço um sábio. Já escrevi latim e agora foi grego.

Ou seja, tanto o tinto quanto branco (sobretudo este) são apetecíveis no Verão. Mas tenho de fazer um aviso. O rubro apresenta uma graduação alcoólica de 13,5%. Nesta fase do ano em que se pedem comidas mais leves e que a praia pede mergulhos recomenda-se prudência.

É um tinto que tem frescura natural, o que já se sabe que nos pode enganar. Acresce que no calor, quando é fácil os vinhos se tornarem sopa, devem ser refrescados. Costumo deixá-los mais frios do que os normalmente recomendáveis 16 graus. Isto porque rapidamente aquecem. Ainda que a noite possa ser o momento do dia mais indicado, o Verão é muitas vezes injusto para os enófilos.

Voltando ao motivo por que disse que é globalmente gastronómico. É porque se bebe facilmente numa noite de conversa, daquelas sem tempo para acabarem. Nas férias, sempre que posso descontraio-me com amigos com quem nem sempre consigo privar, devido às horas curtas nas semanas de ofício.

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Papa Figos tinto – Foto Cedida por Sogrape | Todos os Direitos Reservados

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Papa Figos branco – Foto Cedida por Sogrape | Todos os Direitos Reservados

O branco é mais comedido em relação ao álcool. Tem saudáveis 12,5%. E pensar que nem há muitos anos os produtos deixavam derrapar as vindimas dos brancos. Não quero com isto afirmar que devam ter sempre baixo volume alcoólico, pois há néctares que estão bem.

Há mais uma razão por que este vinho me caiu no goto: a touriga franca, omnipresente, ou quase, nos tintos do Douro. Aqui representa 30% do lote. As tinta barroca representa a mesma percentagem e a tinta roriz está em 15%. A touriga nacional, que prefiro a do Douro à tão festejada do Dão, dá uma gulodice que aprecio, sem que se torne enjoativa. Está sóbria, representando 15%.

As uvas vieram do Douro Superior, cultivadas principalmente em encostas voltadas a Norte e mais acima na montanha. A maceração pelicular fez-se em depósitos de inox, assim como a fermentação alcoólica. Um quarto do lote estagiou oito meses em barricas de carvalho francês. O engarrafamento ocorreu um ano depois das vindimas.

O branco fez-se com uvas das castas rabigato (50%), viosinho (20%), arinto (18%) e moscatel galego (5%). A fruta veio igualmente do Douro Superior, de zonas altas. Um quinto do lote estagiou três meses em barricas usadas de carvalho francês. A parte restante foi mantida em depósitos de inox.

E é isto! Boas férias para quem vai e continuação de bom trabalho para quem fica.

Vinhos Pouca Roupa 2015

Texto João Barbosa

O Sol já aquece e a minha vontade de me atirar para dentro do mar é tal… bem! Como escrever isto sem parecer que apanhei demasiado calor na cabeça?… Os três vinhos chamam-se Pouca Roupa… a marca mais pop dos vinhos portugueses!

Mal os recebi para prova não consegui controlar o cérebro, que se pôs a cantar «Pop muzik», o sucesso de 1979 de M, a banda britânica de disco sound e pop new wave. Não foi por acaso! Por esse ano passava um anúncio na televisão, animado pelo tema, em que uma moça ia abrindo sucessivamente calças que tinha vestidas, pareciam não acabar… Pouca Roupa!

Para esta associação ser entendida não é preciso chamar Sigmund Freud. Porém, o espírito frenético de liberdade e fruição da disco sound toma conta facilmente do ânimo. Dei por mim como disc jockey mental e a passar para Patrick Hernandez, com o «Born to be alive».

Não vou continuar a enumerar os sucessos que cantei enquanto escrevi este texto. Posso dizer é que é impossível parar um Verão decidido! Exijo noites de dança na praia!

Nem sempre a marca se adequa ao produto, seja por incompetência ou artimanha. Mas não é o caso. Os vinhos Pouca Roupa querem o Verão – já o dissera há cerca de um ano e repito. São três, cada qual com uma cor.

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Pouca Roupa branco 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

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Pouca Roupa rosé 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

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Pouca Roupa tinto 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

O Pouca Roupa Branco 2015 está fresquinho como um pinguim… e vai guloso e amigável, com 12,5 graus de álcool. Fez-se com uvas sauvignon blanc, verdelho e viosinho. É um tiro directo à diversão e vai bem com comida, conversa ou dança.

O Pouca Roupa Rosé 2015 é malandro. O lote de aragonês, cabernet sauvignon e touriga nacional engana a índole. Não fosse ser comedido no álcool, 12,5%, e seria um caso grave. É guloso e boa companhia para a conversa e para a festa.

O Pouca Roupa Tinto 2015 obriga a maior cuidado, pois a graduação alcoólica sobe para os 14 graus. É um lote de alfrocheiro, alicante bouschet e touriga nacional. Este precisa de comida no prato.

Três alentejanos irrequietos. Pop! Pop! Pop muzik! Pop! Pop! Pop muzik!

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Esporão – Monte Velho Tinto 2015 e Quinta dos Murças Reserva 2011

Texto João Barbosa

As regiões do Alentejo e do Douro são duas das mais reconhecidas regiões vitivinícolas portuguesas. Mais do que olhar para os números das vendas, que podem esconder argumentos acerca das preferências, a viva voz diz muito acerca das razões das escolhas.

São duas regiões onde se produzem vinhos fáceis de agradar, não motivando isso qualquer motivo de censura… sim, como em quase tudo, há defensores de que só as coisas difíceis, angulosas, complicadas ou excêntricas é que são boas. Portanto, para mim, a facilidade de agrado não é sinónimo de falta de qualidade nem incompatível do prazer.

Porque as empresas existem para dar lucro, naturalmente várias firmas produzem nestas duas regiões ou, pelo menos, comercializam com marca própria vinho que adquirem numa delas. O Esporão é das companhias que avançou das planícies para as montanhas.

O Esporão é um projecto de antecipação, em que Joaquim Bandeira percebeu o potencial da região, à época, muito centrada na produção cerealífera e corticeira. José Roquette compreendeu a visão e alinhou.

A fundação aconteceu em 1972 e o empreendimento acabaria adiado devido à Reforma Agrária, de inspiração marxista, que decorreu após a Revolução do 25 de Abril de 1974. Passado o período revolucionário e a entrada na então Comunidade Económica Europeia (1986), veio a acalmação que permite à economia decorrer sem sobressaltos.

A Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, foi restituída em 1979. A adega só ficou pronta em 1985, ano em que foi lançado o primeiro vinho, cujo rótulo apresenta uma pintura de João Hogan.

Desde esse primeiro vinho que a firma ilustra cada colheita com obras artísticas. O princípio tem sido seguido desde a primeira edição da Quinta dos Murtas, situada no Douro, em que a fotografia é a arte escolhida.

A arte não é a única excentricidade do Esporão. A firma adoptou uma política de agricultura sustentável, com recuperação de cursos de água, solos, flora e fauna – o que tem permitido também poupar em fitofármacos.

Outra loucura foi a nova adega, construída no sistema tradicional de taipa, que permite a climatização do edifício sem ter de recorrer a exigentes e dispendiosos aparelhos de refrigeração.

Outra bizarria é o respeito pelo património histórico, com a preservação duma torre medieval, um arco e uma ermida renascentistas, e a escavação de uma vasta área arqueológica, com vestígios de até há 3.000 anos Antes de Cristo.

Estas maluquices – sinónimos que quis sem aspas para que vincassem mais – chamam-se respeito e inteligência. Respeito pela natureza e pela sabedoria ancestral e inteligência porque se traduzem em economia de custos.

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Monte Velho Tinto 2015 – Foto Cedida por Esporão | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Murças Reserva 2011 – Foto Cedida por Esporão | Todos os Direitos Reservados

Apresentada que está a empresa do Esporão, avanço para os dois vinhos que justificam este texto. O Monte Velho Tinto 2015 (Regional Alentejano) e o Quinta dos Murças Reserva 2011 (Douro).

O Monte Velho Tinto 2015 assinala o 25º aniversário da marca e o rótulo está ilustrado com um padrão das mantas tradicionais alentejanas. Este vinho fez-se com uvas de aragonês, trincadeira, touriga nacional e syrah.

É um vinho para ser bebido descontraidamente. Não é um grande vinho, um néctar para ocasiões especiais. Pode classificar-se como aposta segura, pois vindima após vindima mantém-se num patamar de qualidade regular.

O Quinta dos Murças Reserva 2011 é mais exigente. Trata-se de um lote de tinta roriz, tinta amarela, tinta barroca, touriga nacional, touriga franca, sousão e mais algumas, que o produtor não refere especificamente. Uvas de vinhas com mais de 40 anos. A fruta foi esmagada a pé em lagares de granito e numa prensa vertical. Estagiou um ano em barricas de carvalhos francês e americano.

É um néctar que mostra o Douro e quer comida de se comer vagarosamente. É filho de 2011, ano de excelência no país e naquela região. Que se beba antes que venham as noites tremendas de calor de Verão ou que se espere por tempos mais frescos.

Contactos
Herdade do Esporão
Apartado 31,
7200-999
Reguengos de Monsaraz, Évora – Alentejo
Tel: (+351) 266 509 280
Fax: 351 266 519 753
Email: reservas@esporao.com
Website: www.esporao.com

Monte da Ravasqueira apresenta colecção de Verão e também…

Texto João Barbosa

Regressar à Ravasqueira é um prazer. A propriedade é bonita, é imponente e está bem arranjada. Volvi nesta Primavera e vi, pela primeira vez, a colecção de carros de atrelagem, todos em estado impecável, sendo o mais antigo do século XVIII.

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A colecção de carros de atrelagem – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

O vinho foi novamente a razão desta visitação. A oferta é já grande. Desta vez conheci novidades e fui apresentado a novas edições dalgumas referências, como o Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs. Uma vez que o Verão está à porta, vem agora o pretexto de contar das sugestões desta firma de Arraiolos.

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Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Syrah + Viognier 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Viognier 2013 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

A casta syrah e o Alentejo têm uma relação de amor longa e feliz. O mesmo acontece com a vignier. O Monte da Ravasqueira Syrah + Vignier 2015 fez-se com as uvas misturadas na fermentação, à moda das Côtes du Rhône. O Monte da Ravasqueira Viognier 2013 está na forma de pecado. Confirmada a paixão mútua entre a terra e estas uvas.

Quanto ao estio, esta casa apresenta dois brancos e um rosado, todos referentes ao ano de 2015. Todos estão a exigir areia e água salgada, sombra e piscina, convívio e grelhados.

O Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2015 é fresco e o carácter cítrico tempera a tropicalidade da casta. Está-se bem e é óptimo para as conversas das tardes sem fim.

O Monte da Ravasqueira Branco 2015 é mais complexo e mais interessante. O enólogo Pedro Pereira Gonçalves criou um baile de alvarinho, arinto, semillon e viognier. As castas completam-se, não se atropelam. Bebe-se bem a solo, mas o ideal é dar-lhe comida.

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Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira branco 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Rosé 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

Mas o que me encantou mais foi o Monte da Ravasqueira Rosé 2015, filho de uvas aragonês e syrah. Este quer festa! Conversa, comida e saltos para a piscina.

Disse descobertas? Sim, disse. São elas touriga franca e sangiovese.

Touriga franca no Alentejo? Sangiovese no Alentejo? É verdade. A adaptabilidade da primeira fora do Douro é uma raridade. Pelo menos, um resultado francamente positivo. A segunda é uma raridade em Portugal. Porém…

Porém, no Monte da Ravasqueira, em Arraiolos, as duas variedades estão cultivadas e já deram uvas para vinho, ambos datados de 2012. À mesa do almoço, Pedro de Mello e Filipe de Mello perguntaram por desejos. Feitos os pedidos, vieram as garrafas.

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Monte da Ravasqueira SG 2012 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira TF 2012 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

O Monte da Ravasqueira SG 2012 está belíssimo. Belo está também o Monte da Ravasqueira TF 2012. Palavra-puxa-palavra, aproveitámos a ausência do enólogo para brincarmos a aprendizes de feiticeiro. A olho se fez um lote com 70% de sangiovese e 30% de touriga franca. Penso que somar 5% à italiana e retirar à portuguesa ficará melhor.

Contudo, o meu negócio não é a enologia… Deixo um apelo pungente: Pedro Pereira Gonçalves pensa nisto! Faz 1.000 garrafas e compro-as todas! Já que referi… nunca é demais ouvir «O Aprendiz de Feiticeiro», poema sinfónico de Paul Dukas inspirado numa obra de Johann von Goethe. E já agora, ver ou rever também «Fantasia», o filme de animação que a Disney fez, em 1940, baseado na obra deste compositor francês do século XIX, em que o Rato Mickey desempenha o papel do jovem desobediente.

Contactos
Monte da Ravasqueira
7040-121 Arraiolos
Tel: (+351) 266 490 200
Fax: (+351) 266 490 219
E-mail: ravasqueira@ravasqueira.com
Website: www.ravasqueira.com

Quinta do Gradil

Texto João Barbosa

As crianças escrevem, em Dezembro, ao Pai Natal a contar como se portaram bem durante o ano e pedem presentes. Já não tenho idade para isso! Hoje escrevo ao Verão para que possa ter uns dias tranquilos com Sol, durante o período da sua governação.

Em vez de brinquedos, peço para ter vinhos que me contentem enquanto me convenço que o Verão será eterno e que ainda consigo atravessar a nado a Baía de Sesimbra. Conto aqui alguns vinhos da Quinta do Gradil que levo na sacola.

Quinta do Gradil situa-se no Cadaval, na região vitivinícola de Lisboa. A propriedade é muito antiga e teve vários proprietários ilustres, como o primeiro Marquês de Pombal. No total são 123 hectares de vinha e hoje é o berço de vários vinhos.

A enologia está a cargo de António Ventura e Vera Moreira. Já várias vezes me manifestei admirador deste enólogo, que talvez seja quem mais litros de vinho faz em Portugal. Aqui impressiona-me a forma como as castas se diferenciam e mantém a identidade… quantas e quantas vezes não encontramos vinhos iguais de castas diferentes? Por isso, aqui acrescem vantagens didácticas, características que ajudam a compreender as variedades das uvas.

António Ventura cumpriu 32 anos de trabalho na Quinta do Gradil. Conta que 2015 foi um bom ano para tintos nesta propriedade.

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Mula Velha Rosé 2015 and Mula Velha Reserva Branco 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

O Mula Velha Rosé 2015 é perigoso! No bom sentido. Fez-se com uvas castelão e tinta roriz e tem uma acidez que o recomenda para pratos leves de Verão. Quanto a mim, penso que resulta melhor a acompanhar as conversas despreocupadas das férias…

O Mula Velha Reserva Branco 2015 fez-se com uvas arinto e fernão pires, com um pouco de chardonnay. Este é bom amigo das comidas estivais.

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Quinta do Gradil Viosinho 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Gradil Sauvignon Blanc e Arinto 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

O Quinta do Gradil Viosinho 2015 é Verão engarrafado. Muito fresco, junta características minerais e tropicais. Tem a «graça» de ser feito com uma casta improvável. Não há histórico desta cultivar duriense descer tanto no país. É um vinho para conversar e mariscar.

O Quinta do Gradil Sauvignon Blanc e Arinto 2015 é já quase um clássico. Sabe-se que estas duas castas funcionam bem juntas e esta casa produtora cedo acertou na fórmula. Tal como o anterior, é um vinho para conversar e mariscar.

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Quinta do Gradil Chardonnay 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Gradil Rosé Syrah e Touriga Nacional 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

O Quinta do Gradil Chardonnay 2015… epá! Soube-me mesmo bem. É untuoso e complexo, com estrutura, nada pesado ou enjoativo. Teimo em gostar dos vinhos desta propriedade para ficar à conversa. Este gosta de estar à mesa e irá bem com carne de aves.

O Quinta do Gradil Rosé Syrah e Touriga Nacional 2015 é para… mesa e converseta. Belo.

Contacts
Estrada Nacional 115 Vilar
2550 – 073 Vilar | Cadaval
Portugal
Tel: (+351) 262 770 000
Fax: (+351) 262 777 007
Mobile: +351 917 791 974
E-mail: info@quintadogradil.pt
Website: www.quintadogradil.wine

Quinta de Foz de Arouce e Buçaco – Duas batalhas e dois vinhos

Texto João Barbosa

Há bastante tempo que tenho esta crónica prometida a mim mesmo. Por lhe faltar uma data que lhe dê emergência, foi ficando e chegou o momento em que se tornou urgente. O assunto respeita a dois vinhos icónicos, provenientes de locais «improvável» e «impossível».

Um fez-se com uva de um local absolutamente mágico, que não fica em lado nenhum. Foz de Arouce não tem o direito ao uso de qualquer denominação de origem controlada. Coisas parvas dos portugueses, que são capazes de aceitar a unificação de locais numa só região, apesar de nada os aparentarem e de nem ficarem contíguos…

Se fosse em França, referência incontornável no reconhecimento de qualidade e diferenciação, Foz de Arouce teria o estatuto das microrregiões da Borgonha. Seria provavelmente um «monopólio». Porém, o Rio Arouce situa-se em Portugal, tal como o Ceira, que o recebe.

Já o outro vinho remete para um local concreto, mas que não é sítio de vinho. O Bussaco (com dois «S») é lindo e tem um dos hotéis mais bonitos e históricos de Portugal. Contudo, as uvas que fazem os seus vinhos são provenientes da Bairrada e do Dão. Ora, isto faz com que um mais um seja igual a zero – sem direito ao uso de denominação de origem controlada.

Apesar de se fazer com uvas baga, provenientes da Bairrada, e touriga nacional, oriundas do Dão, os Buçaco (com «Ç» para que não conflitue com os ditames burocráticos) são vinhos a que se pode dizer que espelham o seu território, porque as vinhas têm sido as mesmas ao longo dos anos. É como se viessem duma só quinta, dividida por duas regiões demarcadas. Autenticidade e carisma não faltam.

Permitindo-me empurrar o conceito para fora do estabelecido, digo que Bussaco é um terroir de adega e garrafa. Vou assumir como verdadeira a localização geográfica do hotel. Tratam-se pois de dois lugares vínicos que estão numa dimensão de plasma – nem sólida nem líquida.

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Bussaco in wikimedia.org

Olhando para o mapa, Bussaco e Foz de Arouce não ficam longe, a apenas a 36 quilómetros. O caminho é bonito e a estrada exige atenção. O computador estabelece que a viagem entre os dois pontos dura 50 minutos. Contudo, demorei mais de uma hora quando visitei os dois lugares, em 2011.

Referi que os vinhos tintos do Buçaco são feitos com baga e touriga nacional. Pois, essa é a nova formação da vinha de Foz de Arouce. O enólogo e empresário vitivinícola João Portugal Ramos é genro dos Condes de Foz de Arouce e há poucos anos acrescentou a touriga nacional ao encepamento que era só de baga. O Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria mantém-se igual, enquanto o Quinta de Foz de Arouce é já resultado da junção das duas castas.

Já tenho aqui elogiado os vinhos de Foz de Arouce. O que hoje apresento é uma edição especial e comemorativa. Trata-se dum vinho de 2007 produzido para celebrar os 200 anos da Batalha de Foz de Arouce, em que se destacou um familiar do actual Conde.

A Batalha de Foz de Arouce não foi um momento de importância transcendente, no âmbito da Guerra Peninsular (III Invasão Francesa). Há mesmo quem a designe apenas por Combate de Foz de Arouce. Aconteceu a 15 de Março de 1811, quando o exército napoleónico se retirava, pressionado pelas forças anglo-portuguesas. À frente dos aliados estava Arthur Wellesley (futuro Duque de Wellington) e dos invasores encontrava-se Michel Ney.

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Arthur Wellesley by George Dawe

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Andrè Massèna by Edme-Adolphe Fontaine

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Monument à 3ª Invasão Francesa in panoramio.com

Bussaco deu também o nome a um confronto da Guerra Peninsular, com maior importância. Aconteceu em 27 de Setembro de 1810 e à frente do lado anglo-luso esteve Arthur Wellesley e do francês o próprio comandante da III Invasão Francesa, Andrè Massèna.

Os aliados saíram vencedores em ambos os confrontos. Quanto aos vinhos, quem tiver oportunidade de os ter que não hesite. Enfrente-os e deixe-se conquistar. Vão vencer e os enófilos vão merece-los.

Noto que estou a evocar um vinho concreto e de um ano concreto e outro que nem referi o ano. Acrescento «todos» os Foz de Arouce e «todos» os Buçaco. E porquê? Porque são vinhos que merecem ser todos conhecidos, que mantém (obviamente que não bebi todas as colheitas, mas conheci muitas) as características identitárias físicas e a diferenciação dos anos. Néctares capazes de evoluir com o tempo e de viver longamente. A generalização é consciente e voluntária.

Sou avesso à enumeração de descritores que, quanto a mim, resumem o vinho a «coisa», porque se torna redutor. Os «pequenos vinhos» não surpreendem nas definições e os «grandes vinhos» ultrapassam essa contagem de características.

O Quinta de Foz de Arouce – Batalha de Foz de Arouce 200 anos (2007) tem o que se reconhece nos irmãos Quinta de Foz de Arouce e Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria. É mais do que as uvas, é «aquele lugar». Felizmente não é igual, pois não valeria a pena ter outro nome, seria apenas a diferença de rótulo. Bebi-o e continuaria por mais tempo se a garrafa não tivesse apenas 0,75 litro. Tem muitos anos pela frente.

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Quinta de Foz de Arouce Batalha de Foz de Arouce 200 years

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Buçaco L2004 Reservado

O Buçaco L2004 Reservado tem a grandeza que se espera. Grande em todos os aspectos, vivo e elegante e com muitos anos por diante. A garrafa tinha o mesmo problema que a anterior: apenas 0,75 litro.

Já agora explico a referência «L2004 Reservado»: por se tratar de vinho de mesa, a categoria supostamente mais baixa da escala, o Buçaco não podia trazer a indicação do ano. Porém, a designação do lote podia ser a que o produtor entendesse. Assim, os lotes destes néctares têm a mesma numeração do ano da vindima a que correspondem. A burocracia não é uma ciência exacta, muitas vezes é apenas estúpida. A inteligência vence. Porque é vinho de mesa não pode ser «reserva». Mas mais uma vez o burocrata foi fintado, a designação «reservado» não está contemplada nas objecções.

E assim se contou um pouquinho da História de Portugal.

Snob do vinho

Texto João Barbosa

Quem é chato é chato! Quem quer ser chato consegue ser chato. Provavelmente, ser-se chato é das poucas coisas em que não é necessário ter-se um estudo adequado, educação familiar ou genes. O talento em se ser chato não implica ter talento.

Já ser-se snob é diferente! Se o chato é um especialista, o snob é um chato com doutoramento. Um snob pode levar horas a perorar acerca dos matizes dos fígados dos pescados, da evolução da estética das jantes dos Maserati ou da importância do verde na cultura islâmica. Para um snob, as Variações de Goldberg por Glenn Gould são corriqueiras.

Acima de tudo… ou abaixo de tudo… um snob é um arrogante. Nenhum cavalheiro amesquinha ou se vangloria. Por isso, é alguém sem nobreza – sine nobilitate, expressão latina donde surgiu o vocábulo inglês.

Isto porque no vinho há chatos e snobes… os chatos são divertidos nas tabernas e os snobes insuportáveis nos salões. Sem escândalo mudamos de lugar na taberna ou fugimos, já a etiqueta impede tais movimentos em ambientes mais formais.

Parece simples, mas vou complicar. Penso que ninguém tem o direito de impor os seus gostos e conceitos. Porém, as diferenças entre as pessoas podem ser grandes e a ruptura torna-se inevitável. Nem outros têm de achar que a touriga franca é a melhor do mundo, como não sou obrigado a gostar de antão vaz.

Há uns dias provei vinhos com pessoas de diferentes nacionalidades e percebemos que, além das banalidades que estabelecem os padrões de qualidade, nada fazia convergir narizes e bocas. O problema não estava no reconhecimento da qualidade ou da sua falta, mas da divergência nos atributos que distanciam um vinho bem feito doutro bom ou de um excelente.

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A provar Rosé in fm.cnbc.com

Um rosado deve ser doce? Um rosado deve ser doce e sem acidez? Um rosado deve ter sobretudo acidez? Podem parecer questões tolas, mas o assunto colocou-se. Nem sou dono da razão nem os oponentes são tolos ou desconhecedores. Eram pessoas habituadas a provar e justificavam as afirmações.´

Temos, os portugueses, a mania de elogiar os nossos vinhos, porque acompanham bem a comida, porque têm acidez. Isso é uma vantagem? Dizemos que sim… e se quisermos ficar só na conversa e sem um amanhã para os mandar para a cama, vamos insistir na obrigatoriedade da acidez? Porém, um xarope é feliz na amenização dum diálogo?

Temos, os portugueses, a mania de elogiar muito o carácter frutado dos nossos vinhos… mas… é uma vantagem? Sinceramente, frequentemente a fruta cansa-me e se é para saber a fruta, então que bebo sumo – dá-me vontade de gritar.

O meu citado debate não se ficou pelos rosés. Esse episódio tornou-se apenas na melhor ilustração do que o berço, latitude, longitude e cultura (sentido étnico) se podem traduzir. Mas posso acrescentar com informação vinda doutra conversa.

Quando valorizamos ou penalizamos um vinho pela cor estamos a ser justos ou correctos? Vou contornar tintos e brancos… um rosado é melhor ou pior se for cor-de-rosa, salmão ou alaranjado? É importante a cor ou não? Ou o vinho dá prazer através dos sentidos do olfacto e do paladar e apenas gostamos de acrescentar aspectos que não estão ligados?

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Cores do Rosé in characterspub.com

Até ouvi dizer, mais do que uma vez, que o vinho é fantástico, porque agrada a todos os sentidos. Olfacto? Certo! Paladar? Certo! Tacto? Sim, na boca mostra rugosidade e macieza… Visão? Tem cor, vê-se se tem bom aspecto. Audição?… Ouve-se o saltar da rolha.

Juro! Ouvi essa proeza mais do que uma vez. Tenho a declarar que nem caibo em mim de feliz e contente quando oiço o som duma rolha a sair da garrafa… sou eu com a rolha e o cão de Pavlov com a sineta! Francamente! E a cor? Sinceramente, só me interessa enquanto servir para indicar a saúde do vinho. Debater tons de cor é tão útil como saber de cor as referências Pantone.

Ah! A cor dos pinot noir… de quais? Da Borgonha ou do Tejo? O vinho é para o nariz e para a boca! Penso que debater a cor do vinho – excluo a avaliação visual que permite saber da sanidade – é como discutir tons de pele.

Não tenho conhecimento nem pachorra para debater as diferenças ou variações das castas conforme a sua localização. Nem para certezas acerca da imutabilidade das características dos vinhos de cada região. O chato sabe tudo, incluindo aquilo que não sabe. O snob sabe e pensa que sabe tudo ou, pelo menos, mais do que os outros.

No final só me basta um resultado: prazer. Ou tive ou não. Felizmente, as conversas citadas não foram com chatos nem snobes. O que poderia ter sido um pesadelo foi aprendizagem. A verdade não muda, mas porque os pontos de vista variam o conhecimento é diverso.

Continuo sem gostar de rosados doces sem acidez. Porém, agora sei que se comparado com um refrigerante açucarado esse vinho pode ser fantástico.

PS: Snob era eu antigamente, agora sou apenas chato!

Vinho Português – Moda ou Justiça?

Texto João Barbosa

Não parece haver dia em que não surja uma notícia positiva para a gastronomia portuguesa, seja referente a comida ou a vinho – sobretudo à bebida. Perante tal, como me devo sentir como português? Não sei e a razão é porque desconheço se tal acontece por moda ou justiça.

Quem lê dirá:

– Como não sabe? Tem obrigação de saber. Se escreve sobre vinho, tem de saber, obrigatoriamente.

É verdade! Mas há sempre um erro de paralaxe, resultado dos afectos e da memória. A subjectividade que dita que a comida da mãe seja a melhor do mundo ou que a selecção portuguesa mereça, logo desde o primeiro jogo, ganhar o campeonato de futebol.

Não sou um fanático, mas tenho em Portugal as raízes. É claro que penso que o destaque que o país está a ter na gastronomia tem mais de justiça do que de moda. Há certamente erro de avaliação, embora espero que reduzido.

Estar na moda é bom! Ajuda ao ânimo, puxa auto-estima para cima, dá notoriedade. Contudo, é passageira. Se alguma coisa está sempre na moda é porque não se trata de moda, mas de qualidade em abundância.

A moda é conjuntural e a qualidade estrutural. Por isso, quem está bafejado pelo reconhecimento só tem de insistir na procura da qualidade e na diferenciação. Desse modo irá ganhar valor.

É por isso que não gosto da sentença de que algo tem uma boa relação entre o preço e a qualidade. Não vejo que tal seja elogioso, embora a generalidade das pessoas considere que significa boa oportunidade ou justiça.

Pagar um hectolitro com dez cêntimos é uma boa relação entre a qualidade e o preço? É! É porque, independentemente da qualidade, quem conseguir aproveitar vai ganhar dinheiro. Mas isso não significa que o vinho tenha qualidade… claro que não, mas o postulado não é esse, mas o de um suposto equilíbrio entre uma coisa e outra.

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Wine in tasteportugal-london.com

Quero que o vinho português ganhe a reputação do francês ou do italiano – só para citar dois casos. Produzir bem está ao alcance de quem se empenhe e barato de quem consegue trabalhadores aflitos.

Obviamente que caro não significa qualidade. Acresce que ninguém gosta de se sentir estúpido, pelo que pagar 50 euros por 0,75 litro de zurrapa será episódio único. A justiça está no ponto em que um produto é vendido a preço idêntico ao de outro com qualidade comparável.

Ter uma «boa relação entre a qualidade e o preço» pode ajudar no início e aliviar a pressão sobre a tesouraria. A médio prazo torna-se injusta. Se ainda não convenci o leitor, penso ter o argumento derradeiro:

Portugal factura mais com hortofrutícolas do que com vinho. Isto significa que o valor-acrescentado não é pago com justiça. Generalizando e partindo do princípio que o custo da terra é comparável e que os factores de produção estão equiparáveis, mais vale fazer couves do que vinho. Não há encargos com enologia nem com armazenamento mais longo e empate de capital é muito menor.

Voltando ao início, o vinho português tem sido reconhecido e de modo variado. De todas as notícias, valorizo aquelas que não versam o factor preço. Reporto-me às avaliações da crítica, com pontuação qualitativa apenas, ou a vitórias em concursos de prestígio.

Dir-se-á que os grandes vinhos, aqueles que custam quase o mesmo que um pequeno automóvel citadino, não vão a concurso, pelo que as vitórias são relativas. Claro, quem tem a perder não vai a jogo. Compete a quem chega mostrar merecimento. Os jovens cavaleiros desafiam os grandes senhores.

Diz-se que «quem canta, seus males espanta», mas a música tem sido madrasta para os portugueses. Em 48 edições do Eurofestival da Canção, em que Portugal falhou apenas quatro edições, nunca músicos portugueses conseguiram ir além do sexto lugar – Lúcia Moniz, em 1996, com «O meu coração não tem cor».

A culpa foi da ditadura, mas a jovem democracia não foi premiada. Porque Portugal compra poucos programas de televisão, mas outros pequenos países compram o mesmo e venceram. Porque a língua portuguesa é difícil, mas o Brasil é uma superpotência musical… quase qualquer coisa serve para justificar os desaires.

Enquanto a música portuguesa não ganha o Eurofestival da Canção e a literatura lusófona não alcança o mais do que justo segundo Prémio Nobel, o vinho vai dando alento, consolando mágoas.

Que venha o reconhecimento duradoiro. E estou quase certo que, quando os vitivinicultores portugueses conseguirem solidificar a reputação, a gastronomia de comer (já vão surgindo sinais) vai tornar-se «obrigatória», o que levará os críticos do livro vermelho – não o do Maoísmo, mas o dos pneus – a afixar estrelas em casas que as merecem há muitos anos.

Escondido 2012 – um cavalheiro lisboeta

Texto João Barbosa

Há pessoas que precisam de várias vidas. Uma delas é Aníbal Coutinho, que não se satisfaz com uma só tarefa. Canta no Coro Gulbenkian, é vitivinicultor, enólogo, consultor na área dos vinhos do Continente, crítico e autor de roteiros enogastronómicos, além de ter trabalhado como escanção, no restaurante Jacinto, em Lisboa. Todas estas actividades permitem-lhe uma visão ampla sobre o vinho.

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Aníbal Coutinho – Foto Cedida por Aníbal Coutinho | Todos os Direitos Reservados

Agora importa o seu vinho mais pessoal. Mais pessoal, porque as videiras que dão a fruta estão na propriedade familiar onde passa as férias. O primeiro Escondido a ser revelado foi o da colheita de 2006. Este é o quarto a mostrar-se ao mundo.

A razão de em dez anos só terem sido mostradas quatro edições prende-se com o facto deste vinho ser um projecto que, não sendo uma brincadeira, vive em torno da família e do tempo possível para os trabalhos agrícolas.

Não é uma brincadeira! Aníbal Coutinho leva-o muito a sério, em investimento pessoal, profissional e obviamente financeiro. Por outro lado, trata-se de um vinho de grande qualidade. Se a agricultura, a meteorologia e o dia-a-dia laboral não cooperarem, o Escondido fica em casa.

Além da família, há dois outros contribuidores importantes: Vera Moreira e António Ventura, enólogos do Grupo Parras. Aqui tenho de pôr um sinal! António Ventura é dos enólogos portugueses por quem tenho maior respeito. É um Senhor que lida com muitos milhões de litros. A enologia de ourives impressiona sempre, mas o trabalho de grande volume exige um rigor e concentração que nem todos saberão fazer.

A vinha, com 15 anos, situa-se no campo da bola usado nas brincadeiras familiares… um campo de futebol que não tem as dimensões máximas, que rondam um hectare. Tem as mínimas, 0,4 hectares. Mas Aníbal Coutinho garante que nem chega para futebol de salão.

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As vinhas – Foto Cedida por Aníbal Coutinho | Todos os Direitos Reservados

Não cabem 22 jogadores e quatro árbitros, mas encaixam-se as castas cabernet sauvignon, merlot, syrah e touriga nacional. A escolha das castas relaciona-se com as características atlânticas do clima da propriedade. Aníbal Coutinho inspirou-se em Bordéus e na sua viticultura, conta. A penúltima casta citada, oriunda das Côtes du Rhône, está plantada no interior da vinha, de modo a conseguir abrigo.

O terreno, com solo argilo-calcário, situa-se em Olelas, entre Sabugo e Almargem do Bispo, no Concelho de Sintra, na região de Lisboa. Em linha recta, o mar fica entre dez e 15 quilómetros, diz Aníbal Coutinho. Esta proximidade oceânica tem causado dissabores… uma desatenção e fica sem uvas. Acresce que não são feitos tratamentos, o que a torna ainda mais vulnerável. Eis a razão de em dez anos só terem vindo a público quatro colheitas.

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As vinhas – Foto Cedida por Aníbal Coutinho | Todos os Direitos Reservados

O Escondido 2012 estagiou 24 meses em madeira, divididos numa barrica usada de carvalho francês, uma barrica usada de carvalho americano, durante 15 meses, e uma barrica nova de carvalho americano, nos nove meses restantes do segundo ano.

Por razões históricas e, certamente também, por influência religiosa, os portugueses têm medo da palavra luxo. Mas as coisas são o que são. O Escondido é um vinho de luxo! Recebe todos os cuidados para que o seja, tem grande qualidade obrigatória e a quantidade é diminuta. Se o ano agrícola se perdeu ou se a qualidade não atinge o patamar que o produtor deseja, o vinho fica para ser bebido apenas pela família e amigos. O Escondido 2012 teve uma produção de 500 garrafas de 0,75 litros e 100 garrafas magnum.

A frescura do local sente-se no copo. É um vinho que quer que nos sentemos com ele à mesa, à volta de um prato substancial. É para ser bebido muito lentamente. O Escondido 2012 foi-me apresentando, no restaurante Jacinto, acompanhado por um cozido à portuguesa. Uma combinação muito feliz, pois trata-se duma refeição vasta em diversidade de carnes e de vegetais, que se não deixa comer em cinco minutos.

Um aspecto de notar é que, embora se bata na perfeição com um prato pesado, o Escondido 2012 não é um vinho de Inverno. Não o beberia com uma salada, mas não obriga a que tenha de ser servido quando a comida gorda reina nas mesas. É um vinho fresco e complexo, com grande elegância e com um final longo. Evolui muito bem com o passar do tempo em que decorre a refeição.

Tem tempo para viver, tem tudo o que é necessário para uma longa vida em garrafa. Não arrisco prazos, mas quanto a longevidade, Aníbal Coutinho pensa que poderá crescer até aos 20 anos.

A apresentação de um antigo produtor – Quinta Dona Matilde

Texto João Barbosa

A cada curva do Douro parece haver uma quinta ou um recanto particular. É um rio com carisma, um vale em que a natureza e o homem se juntaram na criação. Nas curvas e contracurvas, alturas e margens, modo de encarar o Sol e ampla variedade de castas escreve-se um livro grande. Nem tudo merece ser personagem ou capítulo, mas é um calhamaço.

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Quinta Dona Matilde – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

A Quinta Dona Matilde tem direito a entrar na estória. Se vou buscar a imagem de livro é porque existe enredo acerca desta propriedade. Este domínio pertenceu, durante quatro gerações, à família Barros, que a comprou em 1927.

Em Maio de 2006, Manuel Ângelo Barros vendeu o Grupo Barros ao Grupo Sogevinus. A Quinta Dona Matilde foi agregada com os restantes activos. Contudo, o vinho é um diabrete e cedo começou a importunar o empresário que vendera a propriedade.

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Quinta Dona Matilde – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

Assim, Manuel Ângelo Barros e família decidiram que tinham de regressar ao vinho. Tantas voltas deram que acabaram por recomprar a Quinta Dona Matilde, no final de 2006 – os restantes activos permaneceram na Sogevinus.

A quinta situa-se em Canelas, entre Peso da Régua e o Pinhão, dentro do espaço demarcação inicial do Douro, estabelecida em 1756. Todo o domínio vinícola, 28 hectares, está classificado como Letra A – a mais alta da tabela de pontuação a cargo do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. Além das uveiras, a Quinta Dona Matilde tem olival tradicional, pomar, onde se destacam limoeiros e laranjeiras, jardins e terra deixada à natureza. Tudo isto soma 93 hectares.

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Quinta Dona Matilde – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

O Vinho do Porto foi sempre o destino das uvas desta quinta. Uma pequena parte ficava por fortificar, mas apenas para consumo da família. Na década de 60, a firma produziu um rosé e, na de 90, branco – mas sempre marginais. Na reencarnação familiar, a produção de vinho do Douro está a par da de Vinho do Porto. Actualmente vende uvas ao grupo The Fladgate Partnership.

Manuel Ângelo Barros afirma que não tem pressa em pôr os vinhos à venda, decisão raríssima em Portugal. Agora apresentaram a vindima de 2011, referente a tintos. Já o branco anunciado é o de 2015. A tradição da casa era a de fazer tawnies e assim será, embora a fabricação de néctares com indicação de idade esteja, para já, afastada. Decidido está a aposta na família dos rubis, nomeadamente vintages. A viticultura é competência de José Carlos Oliveira e a enologia é da responsabilidade de João Pissarra.

O Dona Matilde Branco 2015 é um lote feito com as castas arinto, gouveio, rabigato e viosinho. As uvas foram prensadas e a fermentação decorreu em cubas de inox.

Pela natureza montanhosa e com um rio a cortá-la, a região do Douro é generosa em variedade de características. Porém, este vinho surpreendeu-me, pois nunca diria tratar-se de um néctar daquela demarcação.

Não gosto muito de enumerar descritores sensoriais, mas justifica-se fazê-lo agora, para que conte por que não encontro o Douro neste branco. É um vinho em que predominam os perfumes de fruta tropical, especialmente de maracujá e ananás, associado a anis, uma pitada de erva-doce, tangerina e um pouco de limão. Na boca, o carácter tropical impõe-se. Vai indo e indo e com frescura.

E isto que acabo de escrever é bom ou é mau? É um vinho bem feito – bom! Em termos de gosto pessoal não me preenche. Seguidamente pergunto-me se este carácter tropical e imprevisível é dele ou foi uma vontade do enólogo e do produtor. Se é resultado apenas da natureza, calo-me já. Se é intencional, digo que vejo razão para o Douro produzir vinhos com este perfil.

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Os vinhos – Foto Cedida por Quinta Dona Matilde | Todos os Direitos Reservados

O Dona Matilde Tinto 2011 é claramente um Douro e exemplar do ano. Trata-se dum lote de tinta amarela, touriga franca e touriga nacional – todas vinhas velhas, indica o produtor. Parte das uvas foi pisada em lagar. O vinho estagiou um ano em madeira. É guloso sem ser doce, suave, fresco e com bom tempo de boca. Tem aroma mentolado, um muito fino fumado de lenha de azinho. Belo!

O Dona Matilde Reserva Tinto 2011 é um lote, em que a touriga nacional representa metade. Somam-se touriga franca (30%) e um ramalhete de várias outras, misturadas numa vinha velha, em que predomina a tinta amarela. Parte das uvas foi pisada em lagares de granito. O vinho estagiou 18 meses em barricas novas de carvalho francês.

É o Douro bem mostrado: esteva, menta, madeira e fumo de lenha de azinho, ameixa preta, doce de amora, geleia de morango (calma e mansa), figo, um pouco de tabaco loiro e xisto – tudo bem casado. Na boca continua duriense, ocupa o espaço plenamente, suave, com taninos a rirem-se (sem trincarem a pele), fresco e seco, longo e fundo.

Antes de passar aos generosos, quero referir que estes três vinhos pedem mesa. Os tintos dão esperanças de boa evolução em garrafa.

O Quinta Dona Matilde Porto Colheita 2008 é um tawny diferente do comum, a meio caminho do rubi. É resultado de um estágio em madeira menos demorado. Três anos em tonéis de carvalho e quatro em pipas de 600 litros.

É um vinho feliz e agradável surpresa. Tem o que se espera de um tawny e lembra um rubi. Lá estão os frutos secos, o caramelo, baunilha e uma pitadinha de iodo. A par das compotas de amora, ameixa, cereja, morango… É fundo e denso, longo.

O Quinta Dona Matilde Vintage 2011 é mais uma prova de que o ano foi muito generoso para com os vitivinicultores portugueses. É um lote de tinta amarela, tinta barroca, rufete, touriga franca e touriga nacional. O vinho estagiou dois anos em tonéis de carvalho, tendo sido depois passado para garrafa. Lá estão as muitas compotas que animam os vintage, do nariz à boca – profundo e longo.

Os vintage novos são o que são, mas também serão uma outra coisa. Devem beber-se já ou guardar-se? Sei lá! Sei lá se estou vivo amanhã. Sei que, se me mantiver acordado por mais anos, estará mais acima. Quem puder que o beba e guarde.

Contactos
Quinta D. Matilde
Bagaúste
5050-445 Canelas PRG
Portugal
E-mail: info@donamatilde.pt
Website: www.donamatilde.pt