Posts By : Ilkka Sirén

Vamos Festejar Com Vinho Madeira

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

Agapornis (Pássaro do Amor). Os pássaros domésticos mais encantadores de todos. Praticamente desde sempre, o Vinho Espumante é a bebida de eleição para os momentos apaixonados. As bolhas são quase um sinónimo de festejo e, se o amor fosse uma bebida, quase de certeza que seria Champanhe. Mas e se não fosse?

A minha cunhada ficou recentemente noiva e, como é habitual, havia que festejar. Antes de mais, deixem-me dizer que, na Finlândia, as festas de noivado não são um grande acontecimento. Normalmente, e depois de já termos dito a toda a gente que estamos noivos, o máximo que poderá haver é bolo e café com os nossos pais. Não é comum haver uma grande festa, mas não deixa de ser uma excelente notícia e, como tal, merece ser festejada. Então a minha cunhada e o seu noivo organizaram uma pequena reunião.

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O Bolo – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Houve bolo. Feito pela minha cunhada, claro. Tinha mais camadas do que uma cebola e sabia a arco-íris. Havia Champanhe, e muito. Foram feitos discursos e presentes foram oferecidos. E depois, mais Champanhe. Gosto muito de bolhas, mas também acho que um vinho bem feito, seja Vinho Espumante, Branco, Tinto ou Fortificado, é um bom vinho para festejar. Sendo eu um fã do vinho Madeira, pensei que seria simpático dar aos convidados um pouco a provar.

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Bandeja do Vinho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Enquanto vinho, o Madeira não podia ser mais festivo. Um líquido complexo para saborear lentamente, com um poder de sedução quase inigualável. Tinha um par de vinhos da Blandy’s para provar: o Bual Colheita 2002 e o Verdelho 1973. Coloquei os vinhos em alguns copos e, numa bandeja, dei-os a provar “às cegas”. Foi interessante ouvir as opiniões dos convidados, sem fazerem a menor ideia do que estavam a provar. Parecia estarem a gostar muito do jovem Bual, o que foi um pouco surpreendente. Os Madeiras mais jovens tendem a ser um pouco mais fortes, mas penso que o seu perfil ligeiramente mais doce facilitou a abordagem. Para mim o Bual 2002 estava muito fechado. Parecia estar a passar por uma fase e quase de certeza que se irá abrir muito mais, com o tempo.

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Bual Colheita 2002 e o Verdelho 1973 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Por outro lado, o Verdelho 1973 colheu opiniões muito divididas. Ok, nenhum deles era um provador profissional mas, enquanto consumidores estava curioso para ouvir as suas opiniões relativamente aos vinhos. Muito mais aromático do que o Bual. Opulentes aromas nogados e a frutos secos. O 1973 parece estar numa idade perfeita neste momento. A atingir lentamente a maturidade, mas ainda com muito tempo de vida pela frente. Para alguns, a acidez deste vinho foi um choque completo, algo que compreendo perfeitamente. É um gosto adquirido. Mas para mim, este Verdelho estava sensacional. Mais um exemplo clássico da singularidade e do puro poder dos vinhos Madeira.

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O Casal Feliz – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Enquanto bebida celebrativa, o final longo e persistente do Madeira torna-o uma bebida adequada para todo o tipo de ocasiões, e convenhamos, o Madeira é muito mais versátil do que as pessoas pensam. Pode ser utilizado desde aperitivo até digestivo. Não é tão amplamente consumido como o vinho Espumante, o que confere um simpático toque pessoal ao seu serão, seja num aniversário ou numa festa de noivado. Não consigo pensar em melhor maneira de felicitar o feliz casal do que, lhes desejar boa sorte na sua aventura conjunta a brindar com um vinho que pode durar uma vida inteira.

Contactos
Blandy’s
Tel: (+351) 291 740 110
Email: pubrel@madeirawinecompany.com
Website: www.blandys.com

Se Está Destinado, Está Destinado

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

Era o Verão de 2009. Estava a trabalhar em Bierzo, Espanha, no transporte da uva das vinhas para a adega. Para mim era o realizar de um sonho. Quer dizer, só o facto de poder trabalhar ao ar livre, nas vinhas, algo que na Finlândia é impossível, foi uma experiência fantástica. Sempre que tinha fins-de-semana de folga costumava pedir emprestado o carro aos meus amigos e descia até ao Vale do Douro. Já conhecia o local de lá ter trabalhado em vindimas anteriores, em 2008. A viagem de ida e volta entre Bierzo e o Douro, duas das minhas regiões vitivinícolas preferidas, continua a ser uma das memórias que guardo com mais carinho. Vinho, comida, viajar, sem mulher e sem filhos. Só eu e o meu saca-rolhas. Noites longas e memórias tremidas de pessoas a decantar uma garrafa de vinho do Porto Taylor’s 1966 Vintage através de um espremedor de limões. Uma espécie de casa de fraternidade, recheada de jovens aspirantes a enólogos. Bons tempos. Não é que me esteja a queixar da minha vida actualmente, mas sabem como é… Nessa altura já estava completamente apaixonado pelo Douro e planeava mudar-me para lá um dia.

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Taylor’s 1966 Porto Vintage – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

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Decantar vinho do Porto Através de Um Espremedor de Limões – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Mas estar longe de casa durante longos períodos de tempo não é fácil. Terminei tudo com a minha namorada de longa data antes de fazer a mala e viajar para Bierzo, como errante do vinho que sou. A Finlândia estava no meu retrovisor e pensei, já está, é isto. Como estava errado! É como dizem; a ausência faz o coração gostar mais. E não demorou muito até me aperceber o quão idiota fui por ter deixado a minha namorada para trás. O clássico idiota. Por sorte, antes de terminarmos, ela tinha comprado um bilhete para Espanha e não queria perder a oportunidade de fazer uma boa viagem, e então decidimos que seria bom ela vir visitar-me a Bierzo. Vi a minha segunda oportunidade, a oportunidade de corrigir as coisas. Sabia que não queria viver a minha vida sem ela e comecei a planear o pedido de casamento.

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Bierzo em 2009 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Uma semana antes da minha então ex-namorada vir a Bierzo, fui dar uma volta ao Douro à procura de locais onde pudesse fazer o pedido. Queria que fosse especial, e mais especial que o Douro não existe. Conduzi durante um dia inteiro, a visitar vinhedos à procura do sítio perfeito. Nessa noite dormi no carro, no Pinhão, junto ao rio, porque não tinha onde ficar e precisava do dinheiro para poder ter gasolina para a nova viagem ao Douro na semana seguinte. Mas a missão de reconhecimento foi um sucesso porque encontrei um vinhedo fantástico, com uma vista magnífica para o rio. Na semana seguinte fazia esse mesmo percurso, Bierzo-Galiza-Douro, ao lado da minha futura mulher. Ela só ainda não o sabia.

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Vale do Douro – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Para encurtar um pouco esta longa história, levei-a àquele lugar especial, fiz o pedido e ela disse que sim. Escusado será dizer que a nossa relação pessoal e a nossa relação com o Vale do Douro ficaram profundamente interligadas. Nessa noite ficamos no acolhedor hotel rural da Quinta do Pégo. Como não tinha um anel para lhe dar, fomos ao Porto no dia seguinte. Depois de procurar um bocado, comprei basicamente o anel de “prata” mais barato que consegui encontrar em Vila Nova de Gaia. Já sei, sempre a manter a classe… Mas toda a viagem foi única, divertida e foi também uma maneira fantástica de começar a nossa vida a dois. Devemos muito disso a Portugal.

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Ponte de D. Luís – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Há algumas semanas, por uma qualquer bizarra coincidência, o meu sogro deu-me a provar um vinho às cegas, coisa que raramente faz. Provo-o. Definitivamente um vinho do Porto, provavelmente um LBV. Mas quando vi que o vinho era, na realidade, um Quinta do Pégo LBV 2009… a mesma quinta em que ficamos quando pedi a minha mulher em casamento e a colheita desse ano. Não faço ideia onde o meu sogro arranjou aquele vinho, além de que ele não sabia qual era a quinta, portanto, foi pura coincidência… Ou será que não? De qualquer forma, trouxe à tona todas aquelas memórias, qual potenciador vínico de memória! O vinho? Denso, frutado e tânico. O típico LBV jovem. Precisa de alguns anos para se abrir. Mas mais do que isso, este vinho foi bom para relembrar que um vinho não precisa de ser sempre o mais caro ou o melhor para nos tocar. Apesar de ser um LBV normalíssimo, é um dos melhores LBVs que já provei. Fez-me realmente feliz.

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Quinta do Pégo 2009 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Contacts
Hotel Rural Qta. do Pégo
Valença do Douro
5120-493 Tabuaço
Tel. + 351 254 73 00 70
Fax + 351 254 73 00 79
E-mail: info@quintadopego.com
Website: www.quintadopego.com

Bruxas da Páscoa e Vinho do Porto

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

Chegou a Páscoa. Nós, finlandeses, somos exímios em pegar num feriado religioso, retirar-lhe tudo o que seja religioso e transformá-lo numa grande festa para comer e beber. Claro que há aqueles que seguem a tradição, mas para a maior parte das pessoas é apenas um longo fim-de-semana com amigos e família à volta de uma mesa a passar um bom bocado. Claro que temos uma boa parte de tradições de Páscoa. Os coelhinhos da Páscoa, os ovos de galinha e de chocolate são abundantes. O ovo de chocolate mais famoso é o Mignon e tem estado presente desde os finais do século XIX. Consiste na casca de um ovo verdadeiro recheada com nougat de amêndoa-avelã. Os tradicionais ovos de chocolate ocos não são nada quando comparados a este. Todas as Páscoas há cerca de 2 milhões de ovos Mignon à espera de serem consumidos, um número considerável tendo em conta que são todos feitos à mão.

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Eu e o meu irmão mais velho vestidos de bruxas – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Falando de tradições estranhas da Páscoa, durante este período, os finlandeses também cultivam erva em casa. Calma, não é a ilegal mas sim a normal azevém verde, que é colocada numa pequena taça em cima da mesa para simbolizar o renascimento da vida depois do Inverno e a chegada da Primavera. Além disso há também a tradição de vestir as crianças de bruxas. Sim, é mesmo isso. Acredita-se que antigamente havia, durante a Páscoa, bruxas montadas nas suas vassouras que faziam todo o tipo de travessuras. Agora os miúdos vão de porta em porta vestidos de bruxas, abanando galhos de salgueiro aos estranhos para lhes desejar felicidades, e em troca podem receber alguns doces. Uma estranha mistura de tradições Ortodoxas e Pagãs. Antigamente eram feitas grandes fogueiras para espantar as bruxas, tradição essa que ainda hoje se mantém. Como pode ver na fotografia acima, em criança, costumava passar todas as Páscoas a parecer a avó do Harry Potter.

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Graham’s LBV 2008 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Felizmente a minha carreira como Dumbledore não estava destinada. Em vez disso, posso beber este LBV mágico de 2008 da Graham’s e relaxar com a minha família. Na Finlândia o consumo de vinho sobe um pouco durante a Páscoa. Especialmente o vinho tinto que nas lojas de monopólio atinge mais 64% de vendas do que numa semana normal. O consumo de vinhos de sobremesa também sobe um bocado, o que me traz a este vinho do Porto. Um LBV aveludado é uma bebida excelente para Páscoa. Eu costumo servir Moscato d’Asti com sobremesas mais leves, como panna cotta. Mas com sobremesas de chocolate mais pesadas e com mämmi (uma estranha sobremesa finlandesa) prefiro um LBV firme. 2008 foi o ano da minha primeira visita a Portugal e trabalhei na vindima do Vale do Douro. Lembro-me de que o Verão não foi particularmente quente, para o que Portugal está habituado. Mas para mim, um pálido menino finlandês, parecia que estava a assar no forno e que estava a ficar maduro muito mais rápido do que as uvas. Quando a colheita começou houve algumas previsões meteorológicas sombrias e, mesmo com algumas chuvas, provavelmente muito necessárias, a qualidade do vintage saiu muito boa. Especialmente nalguns Single Quintas e, o nível do LBV é, na verdade, mais do que bom.

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Vinho do Porto e Gouda Velho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Com este firme mas delicado LBV Graham’s 2008 optei por algo super clássico no que toca à harmonização. Vinho do Porto e um queijo Gouda velho a desfazer-se é, provavelmente, a minha harmonização favorita de sempre. Quando o queijo se desfaz em pequenos cristais salgados na boca e o ingerimos juntamente com este vinho do Porto rico, frutado e com muita profundidade…o resultado final é, provavelmente, a coisa mais próxima da perfeição. O Porto tem já alguns anos e, sendo um LBV, começa já a ganhar aquela suavidade atraente em torno das bordas, continuado a ser vibrante e delicioso. Vou saborear este vinho com um grande sorriso no meu rosto e manter o copo debaixo de olho para que as sedentas bruxas da Páscoa não o venham roubar.

Contactos
Graham’s Porto
Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel: (+351) 223 776 484 / 485
Email: Lodge: grahams@grahamsportlodge.com
             Geral: grahams@grahams-port.com
Website: www.grahams-port.com

A Santa Aliança dos Cheesburgers e Vinho do Porto

Texto Ilkka Síren | Tradução Bruno Ferreira

Antes que começem já com “Não, ele não pode ter feito isso”, pensem nisto por um bocadinho. Não é suposto a harmonização de vinho e comida ser uma coisa impossível. E, se pensarmos demasiado na questão corremos o risco de ficarmos entediados pela nossa própria curiosidade. O que vos quero dizer é: fiquem-se pelo simples. Descobrir uma boa harmonização de comida e vinho é, para mim, algo excitante e as regras são, não há regras! Sim, por vezes é preciso arriscar e experimentar algo que normalmente não associamos a certos vinhos. Neste caso foi um cheeseburger com vinho do Porto.

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Cheeseburger e rolha da garrafa acabadinha de abrir – Foto de Ilkka Síren | Todos os Direitos Reservados

Quero desde já deixar uma coisa perfeitamente clara. Eu amo vinho do Porto. Estou sempre a provar todo o tipo de vinhos, cervejas, cidras e bebidas espirituosas e tudo o que tenha o seu quê de <oomph>. Mas nada chega aos calcanhares de um bom vinho do Porto. É simplesmente um incrível e delicioso líquido. Existem muitas comidas boas para acompanhar com vinho do Porto. E, apesar de ser maioritariamente associado a sobremesas, acho que é muito mais gastronomicamente versátil do que isso. Confesso que esta harmonização Hamburger-Porto começou por ser apenas uma semi-intencional tentativa de provocação. Já ouvi pessoas a falar de harmonizações como por exemplo, vinho do Porto e bife suculento com pimentos. Então pensei, porque não fazê-lo com algo ainda mais comum, tipo um hambúrguer. Uma voz dentro da minha cabeça dizia-me que não iria funcionar, mas já aprendi a suprimir esse instinto.

Não quis estar a elaborar muito, sabia que para isto funcionar teria que ser com um cheeseburger, ou melhor, um DOUBLE-cheeseburger. Acompanhar queijo com vinho do Porto é bastante comum e algo de que eu gosto muito. Sempre gostei mais da combinação de sabores doces com salgados do que de doce com doce. Fazer hamburgers não é, normalmente, tarefa complicada, mas a escolha dos ingredientes é a chave para que esta harmonização funcione. Um bom bife com uma pitada de pimenta preta, queijo cheddar – nada dessas porcarias pré-cortadas – e ainda fiz a minha própria maionese de chipotle para conferir um bom sabor picante ao conjunto. Cebola vermelha em conserva para a acidez conferir algo especial e essencial ao hamburger. Nunca esquecendo a verdadeira definição de um bom hamburger: tem de ser possível comê-lo com as mãos.

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Ferreira LBV 2009 – Foto de Ilkka Síren | Todos os Direitos Reservados

Quanto ao Porto, escolhi um LBV Ferreira 2009. Queria algo acessível mas com uma boa estrutura. Este vinho é incrivelmente saboroso. Adoro a sensação na boca, a textura e a fruta inicial com um final picante. Para que esta harmonização funcione, o vinho não pode ser um vinho tímido, tem que ter presença. Este vinho não só tem isso como tem uma excelente relação qualidade/preço e é um exemplo de um bom Porto.

Agora querem saber, certo? Se estava bom? Sim, estava. Pode não ser a combinação mais elegante mas garanto que foi uma das melhores que tive o prazer de saborear nos últimos tempos. Se gostar de cheeseburgers (quem não gosta, certo?) e de vinho do Porto (duh!) então vai gostar desta combinação. Esqueçam por um bocado o snobismo vínico e desfrutem de uma coisa simples mas com comida muito saborosa. A ideia é baixar a fasquia no que toca à experimentação com comidas diferentes. Dito isto, a fasquia da qualidade deve ser sempre elevada. Experimente, e se não gostar experimente uma coisa diferente. Afinal o importante é divertirmo-nos.

Bolhas Tintas a Testar os Limites

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

O vinho espumante tem um lugar particular na nossa sociedade. É tratado, falado e consumido de maneira bastante diferente de qualquer outra bebida. A campanha de marketing do champanhe ao longo dos séculos deixou um permanente estigma festivo que afecta a maneira de bebermos vinho espumante. É tudo sobre festejo. Felizmente hoje em dia parece haver uma tendência para uma abordagem mais casual às bolhas. Pessoas a abrirem garrafas a meio da semana sem nenhuma razão importante para festejar. Está a tornar-se cada vez mais num vinho do dia-a-dia em vez de uma indicação para enfatizar o facto de que “estamos a ter uma festa”.

Apesar da contínua evolução do mundo do vinho, o vinho espumante continua praticamente inalterado. Parece que ninguém se atreve a desfazer o casamento do vinho com as bolhas, e, talvez, criar algo diferente. Fazer isso é considerado quase um sacrilégio. Mas de vez em quando deparamo-nos com vinhos espumantes que nos fazem despertar deste estranho estado de dormência vínica.

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Red Bubbles – Photo by Ilkka Sirén | All Rights Reserved

Um desses vinhos foi o Aphros Vinhão Super-Reserva Bruto. Fui a uma prova de vinhos aqui em Helsínquia e deparei-me com uma garrafa dessas bolhas tintas. Algo que não acontece com muita frequência. Primeiro pensei “ah, Lambrusco”, mas para minha surpresa veio de Portugal, e, de todos os lugares, da Região dos Vinhos Verdes. Apesar da Região dos Vinhos Verdes ser bem conhecida pelos seus vinhos brancos frescos, também há alguns fantásticos tintos que lá são produzidos. Um dos clássicos é um tinto de cor carregada da casta Vinhão. Dá lugar a vinhos tão intensamente vermelhos que depois de um copo mais parecemos uma personagem saída do Twilight. Além disso, os vinhos são normalmente acídicos e muito tânicos o que os torna não muito indicados para os iniciantes. Para o ser ainda mais bizarro, é tradicionalmente apreciado em malgas e com produtos do mar como peixe grelhado ou lampreia, com a aparência sinistra. O resultado final, delicioso.

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Aphros Vinhão Super-Reserva Bruto – Photo by Ilkka Sirén | All Rights Reserved

O vinho em si era opaco com tonalidades vermelhas e roxas. No nariz mostrou-se cheio de frutos vermelhos e especiarias. Uma explosão de aromas, tanto familiares como exóticos. A sensação na boa foi qualquer coisa. Nada o pode preparar para essa sensação se ainda não provou este tipo de vinhos antes. A “mousse” era rica e mais texturada do que o vinho espumante normal. Bastante intenso mas surpreendentemente fresco ao mesmo tempo. Muitos sabores temperados e terrosos com uns agradáveis taninos firmes no fim. O final teve um amargo toque refrescante similar ao de uma cerveja lupulada IPA (Indian Pale Ale). Um pouco herbáceo e vegetal mas não no sentido de não estar maduro.

Apesar de não ser exactamente um vinho mainstream, estou a vê-lo a ser a apreciado por muitas pessoas. Poderá requerer um certo estado de espírito ao bebê-lo e talvez uma boa comida para acompanhar, mas acho que muitas pessoas iriam apreciar a singularidade deste vinho. Na minha vida apenas provei um punhado de vinhos que se aproximam daquilo que este vinho tem para oferecer. Desfiante? Sim. Viável? Quem sabe. Saboroso? Sem dúvida nenhuma.

Contactos
Quinta Casal do Paço
Padreiro (S. Salvador)
Arcos de Valdevez 4970-500 Portugal
Tel: (+351) 914 206 772
Email: info@afros-wine.com
Site: www.aphros-wine.com

O Pequeno Mundo das Uvas

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

A diversidade varietal é sem dúvida um dos pontos fortes de Portugal. É como uma grande arca de tesouros com infindáveis possibilidades. Embora algumas sejam quase impossíveis de pronunciar, são o que torna o cenário vínico português tão único.

E, mesmo com todas estas excelentes castas, também há possibilidades ilimitadas para plantação de castas internacionais. Eu sei que este é um assunto discutido por muitas pessoas do mundo do vinho; devemos plantar castas internacionais ou cingir-nos às nativas? As nativas parecem estar na moda neste momento, e também acho que isso é algo que todos os enólogos devem apreciar. “Quem é que precisa de outra Cabernet?”. Bem, eu preciso. Se for boa. Por certo que existem muitos factores que levam alguns enólogos a utilizar certas e determinadas castas, mas, feitas as contas, o que interessa é fazer bom vinho. Se não obtivermos sucesso com a primeira casta tentamos outra. Já sei, é mais fácil falar do que fazer.

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Desarrolhado – Foto de Ilkka Síren | Todos os Direitos Reservados

Porém, não há volta a dar. O mundo em que vivemos é muito mais pequeno do que era dantes. A informação é difundida rápidamente, mas tudo o resto também. Ainda no outro dia encomendei um presunto ibérico inteiro, de Barcelona, e, num par de dias estava à porta de minha casa, aqui em Helsínquia. Quer dizer, dantes precisava de dois dias só para me ligar à internet, com aqueles modems antigos que faziam aquele barulho terrível de discagem. Lembram-se? Bem, aparentemente as castas também gostam de viajar, porque hoje em dia podemos encontrar coisas bem curiosas em sítios inesperados. Coisa que eu acho muito porreira.

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Quinta de Sant’Ana Riesling 2013 – Foto de Ilkka Síren | Todos os Direitos Reservados

É o caso deste vinho, Quinta de Sant’Ana Riesling. Riesling de Lisboa… Ahhh?? Devo dizer que sou um pouco louco por riesling. Nada que se compare a esses jihadistas rieslingistas que às vezes se encontra, mas definitivamente um fã. Este vinho vem de Mafra, mesmo a norte de Lisboa. Um lugar invulgar para encontrar a riesling, mas no entanto, eu tinha uma garrafa de Vinho Regional Lisboa Riesling na mão. Neste momento, qualquer fundamentalista do rieslingismo teria atirado a garrafa para longe com horror, lavado as mãos e sacrificado uma cabra aos Deuses Riesling. Eu não. Eu estava ansioso por o provar.

No nariz apresentou-se um pouco floral e tinha mais notas de fruta madura do que o típico riesling. Mas ainda assim agradavelmente aromático com pêssego e notas de ervas. No palato estava surpreendentemente fresco e fino, não tão maduro quanto o nariz sugeria. Algo invulgar mas, no geral, uma saborosa interpretação da Riesling. Lisboa nunca será Mosel, e isso é uma coisa boa. Potencia possibilidades de criar algo único.

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Quinta de Sant’Ana Sauvignon Blanc 2013 – Foto de Ilkka Síren | Todos os Direitos Reservados

O branco que se seguiu também era de uma casta estrangeira, Sauvignon Blanc. Uma casta com a qual normalmente me debato. Quando no seu melhor pode ser saborosa e gastronomicamente harmoniosa como mais nenhuma. Mas a maior parte dos Sauvignon Blanc são razoáveizinhos e normalmente desinteressantes. Cheirar este vinho foi como ficar preso dentro de uma máquina de lavar roupa. Voltas e mais voltas. Por um lado tinha este elemento relvado de clima fresco de Sauvignon Blanc. Mas por outro lado,  tinha muito néctar e pêra madura, o que mais me fazia lembrar Chenin Blanc. Deu-me vontade de comer caranguejo grelhado. Não é um vinho arrebatador mas, se a sua onda é Sauvignon Blanc então provavelmente irá encontar uma nova face desta contundente casta.

Contactos
Quinta de Sant’Ana
2665-113 Gradil
Rua Direita 3, Mafra, Portugal.
Tel: (+351) 261 963 550
E-mail: geral@quintadesantana.com
Site: www.quintadesantana.com

MAPA a nadar ribanceira acima como um Burbot

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

As estações potenciam oportunidades para beber diferentes tipos de vinho. Aqui na Finlândia podemos dizer que altura do ano é pelo que as pessoas estão a beber nesse momento. Durante a Páscoa bebe-se principalmente vinho tinto e, países como a Espanha e a Itália são bastante populares, especialmente os vinhos da Veneto, como o Valpolicella por exemplo. Se vir pessoas a consumir quantidades excessivas de espumantes baratos pelas ruas e parques de estacionamento, então provavelmente é dia 1 de Maio. No início do Verão os vinhos rosés começam a emergir como se fossem ursos que terminaram o seu período de hibernação.

Quando as pessoas começam a levar para as suas casas os vinhos bag-in-box, significa que o pleno Verão está a chegar. No final do Verão os rosés desaparecem tão rápido como apareceram e, quando os dias começam a encurtar as pessoas mudam a preferência para os tintos encorpados, provavelmente do Chile ou Argentina. Posso estar a exagerar um pouco, mas os finlandeses são bastante previsíveis no que toca a hábitos de beber. Em boa verdade acho que acontece o mesmo por todo o mundo.

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Ovas de Burbot – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Tal como as quatro diferentes estações do ano mudam, também a comida e bebidas que consumimos mudam. Uma das iguarias desta altura do ano na Finlândia é o burbot. Provavelmente nunca ouviu falar dele, mas é um peixe. Não é de todo um dos peixes mais bonitos, parece um cruzamento de bacalhau com enguia, mas é sem dúvida um dos mais saborosos. A época do burbot é geralmente entre Janeiro e Fevereiro. Existem algumas maneiras de o cozinhar, mas a mais famosa é a sopa clássica de burbot. Certifique-se que retira as ovas antes de o deitar na panela. Normalmente comem-se em tostas ou blinis com cebola e natas. As ovas do burbot são de grão fino e extremamente saborosas. Normalmente a bebida de eleição para acompanhar seria uma cerveja e schnapps, mas eu optei por um vinho branco do Douro.

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MAPA Douro Branco 2013 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O Douro ainda é largamente visto como a terra do vinho do Porto. Se há 20 anos alguém dissesse que o Douro era capaz de produzir vinhos frescos não fortificados, a maior parte das pessoas apelidá-lo-ia de louco. Eu tenho a minha cota parte de altos e baixos na relação amorosa que tenho com o vale do Douro e os seus vinhos. Mas de vez em quando dou de caras com vinhos que me relembram a razão pela qual me apaixonei por ele. Foi esse o caso do MAPA Douro Branco 2013 que escolhi beber com as ovas do burbot. O MAPA vem de Muxagata, um local do Douro Superior. O vinho em si tinha menos aromas de frutos tropicais maduros do que eu estava à espera. Mais virado para citrinos frescos, brotos de abeto e um toque de pêra. O que realmente me impressionou foi a estrutura compacta do vinho que ainda assim ostentava uma certa ligeireza que conferia ao vinho um final longo e de deixar água na boca. Foi uma óptima harmonização com a comida e pareceu criar um burburinho positivo à mesa, o que é sempre bom.

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MAPA Vinha dos Pais 2013 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Com o prato principal, a sopa, bebemos o MAPA Vinha dos Pais 2013. É praticamente um lote típico do Douro com os suspeitos do costume, como a Rabigato, a Viosinho, a Arinto e a Gouveio. Fermentado e envelhecido em barris de carvalho de 500 litros durante 12 meses. Ambos os vinhos eram de 2013, mas ao contrário do MAPA Branco este vinho pareceu-me demasiado jovem. Com a comida comportou-se bastante bem mas sem ela o vinho era um pouco estranho. O carvalho não estava realmente integrado, mas tinha uma mineralidade subjacente fantástica. Reconheço ainda que, após apenas mais um ano em garrafa poderá estar muito mais equilibrado. É uma daquelas coisas que é preciso esperar para ver. Após a pureza magnífica do primeiro vinho fiquei ligeiramente desapontado. Principalmente porque o carvalho parecia não encaixar e em vez de ter um perfil de sabor linear parecia algo desconectado. Posso apenas tê-lo encontrado numa fase estranha e irei definitivamente prová-lo de novo para ver a sua evolução.

No geral, o MAPA é realmente uma boa adição à fantástica categoria de vinhos do Douro Superior. Estou ansioso por beber mais dos seus vinhos e quem sabe, talvez, um dia visitá-los em Portugal, com ou sem o burbot.

Contactos
MAPA
Muxagata – Vila Nova de Foz Côa – Douro Superior
Urbanização Vila Campos, lote 40
5000-063 Vila Real
Tel: (+351) 259 374 155
Mobile: (+351) 938 537 914
E-mail: geral@mapavinhos.pt
Site: www.mapavinhos.pt

Contra todas as expectativas

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

Na Finlândia não é fácil encontrar uma boa garrafa de vinho português. Quando comecei a bradar por aqui sobre os vinhos de Portugal, a escolha era escassa. Hoje em dia a possibilidade de escolha é maior mas continua pequena. Nas “escolhas básicas” das lojas monopólio, há aproximadamente 22 tintos portugueses diferentes, 9 brancos, 2 espumantes e um rosé. Há mais alguns na selecção especial mas a maior parte das pessoas nunca a utiliza ou tão pouco conhece a sua existência. Não há muito por onde escolher. Fico contente por as pessoas se mostrarem interessadas e por alguns vinhos esgotarem mesmo, devido às boas críticas que receberam.

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Cabeça de Toiro – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Fui à loja monopólio mais próxima e peguei no primeiro vinho português que não que ainda não conhecesse. Foi o Caves Velhas Cabeça de Toiro Reserva 2010 do Tejo. A Caves Velhas pertence à Enoport United Wines que é um grupo de antigas adegas portuguesas tais como a Adega Camilo Alves, Caves Dom Teodósio, Caves Moura Basto e mais algumas. O vinho era um lote 50/50 de Touriga Nacional e Castelão. A garrafa veio numa caixa de cartão que estava coberta de fotografias de medalhas e outros feitos, que este vinho em particular recebeu. Não augurava ser algo bom.

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Rolha – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Ao provar o vinho achei que a Touriga Nacional combinava muito bem com a Castelão. A Castelão a suavizar o aroma floral da Touriga, sem no entanto perder um bocadinho que seja da sua intensidade. Tal como o rótulo sugere é um vinho robusto. Encorpado, com fruta madura e aromas de carvalho terroso. Estava à espera de algo mais pesado mas felizmente não era. Não deixa de ser um vinho com alguns “tomates” mas, talvez com comida se revelasse exactamente aquilo que o médico havia receitado.

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Tagliata picante e guacamole robusto à Ilkka – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Então, tive que fazer um grande bife para acompanhar. Normalmente consigo cozinhar um bom bife, mal passado é claro, mas desta vez deixei-o passar o ponto. Distraído pelo copo de vinho na minha mão, esqueci-me do bife e o resultado foi um bife bem passado. Raios! Ainda estava com fome portanto tinha de pensar em algo. Então surgiu-me a ideia de uma picante tagliata-esque de bife fatiado. Também fiz um puré de guacamole e voilá, o almoço estava pronto. E estava muito bom, sou eu que o digo. Mas a coisa mais surpreendente foi quão bem o vinho acompanhou este tipo de comida picante. É óbvio que acompanha bem um bife, mas um bife com pimenta, limão e coentros, quem diria… Ainda que eu tenha feito asneira a cozinhar, o vinho conseguiu salvar o dia.

O melhor de 2014

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

Foi um ano e tanto. Era suposto ter sido razoavelmente relaxado mas provou ser um dos mais agitados. Fui a Portugal sete vezes durante este último ano. Pode não parecer muito, mas viajar de Helsínquia até Portugal é praticamente a viagem mais longa que se pode fazer dentro da Europa Continental. Ainda assim tenho sempre prazer em lá ir e o meu entusiasmo em relação a Portugal e aos seus vinhos cresce a cada visita.

Aqui estão alguns dos meus momentos favoritos passados em Portugal neste último ano:

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Vinho Verde – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Lindo, Vinho Verde. A Primavera na região vitivinícola do Vinho Verde  is spectacular. Like the name suggests it’s really really green. People are burning leaves and branches on their yards creating this unique scent that fills the air. Belly full of delicious alheira sausage and a glass full of Alvarinho. Doesn’t get much better than that.

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Essência do Vinho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Grandes Madeiras. A degustação de vinhos Madeira realizada por Rui Falcão no evento Essência do Vinho no Porto, foi nada menos que fantástica. O alinhamento contou com Barbeito Sercial 1898, Blandy’s Verdelho 1887, d’Oliveira Verdelho 1850, Justino’s Boal 1934 e Henriques & Henriques Malvasia Solera 1900. Simplesmente, wow! É disto que os sonhos são feitos.

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João Nicolau de Almeida – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Grande J.! Conhecer João Nicolau de Almeida da Ramos Pinto foi como aquilo que sempre imaginei que as pessoas sentem ao conhecem o Jay-Z. Não gritei nem lhe pedi para assinar o meu decote, mas não andei muito longe disso. É um enólogo visionário e um pioneiro no vale do Douro. Beber com ele foi definitivamente um momento vínico a recordar.

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Camaleão – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Camaleão. Na passagem pela degustação da Young Winemakers of Portugal, em Lisboa, deparei-me com o Camaleão. O rótulo do Camaleão é impresso com uma espécie de tinta térmica que reage à temperatura. Verde – demasiado quente, azul – pronto a servir. Uma ideia brilhante e que me faz perguntar porque nunca vi isto noutro lugar antes. O vinho também era bom.

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Tomates – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Tomates arrebatadores. “Corações de boi”, estas relíquias que comi na adega da Vale da Capucha…meu Deus. Provavelmente os melhores tomates do mundo. Pareciam bifes, só que saudáveis. Regue-os com um pouco de azeite, uma pitada de sal e prepare-se para experiência incrível.

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Liguem os vossos motores – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

batmobile vínico. Estava de visita às vinhas da região vitivinícola de Colares, perto de Lisboa, quando vi este homem. Era tempo de vindima e este encantador senhor estava a transportar caixas carregadas de uvas para a adega. Este senhor conduzia um veículo da velha guarda e quando ligou o motor quase parecia uma cena saída de uma banda desenhada do Donald Duck. Deixou-me até conduzir por um bocado.

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Jantar – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Vamos comer. O jantar na Cervejaria Ramiro em Lisboa, com Eduarda e Luís da Vadio e com o redactor Jamie Goode foi fantástico. Algumas das coisas que tento comer sempre que estou em Portugal são camarões, perceves, e claro, muita cerveja. Para terminar, o tradicional prego e estamos arrumados. Delicioso.

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O Barão – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O Barão. Outra grande pessoa que conheci neste ano que passou foi Bodo von Bruemmer. Este jovem de 103 anos começou a produzir vinho quando já tinha mais de 95 anos. O quê?! Se isso não é suficiente para te fazer acreditar que nunca é tarde demais, nada fará.

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Noval – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Quinta do Noval. Juntamente com as suas vinhas Nacional, a Quinta do Noval é uma das propriedades mais icónicas não só em Portugal mas no mundo. Conhecer esta quinta há muito que está na minha lista de coisas-a-fazer e finalmente consegui. Agora desejo lá voltar para apreciar alguns Portos épicos.

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Madeira – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Pérola do Atlântico. Estive de visita à ilha da Madeira algumas vezes este ano e não me sai da cabeça quão bonita é. É pura e simplesmente majestosa. Adorei o tempo que lá passei e estou ansioso por lá voltar. Digno de peregrinação vínica e, quando lá estiverem, aproveitem também para beber uns copos de Poncha.

Votos de um delicioso 2015 a todos os leitores!

Feiticeiros da Madeira

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

A indústria do vinho é bem conhecida pela sua hospitalidade. No geral as pessoas são afáveis e acolhedoras. Quando as pessoas partilham o mesmo tipo de entusiasmo por alguma coisa, neste caso vinho, estão mais interligadas e quase que parece conhecermos as pessoas mesmo quando não conhecemos. Claro que há sempre algumas maças podres, mas mesmo assim considero a indústria do vinho uma agradável área de negócio.

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Barril de Malvasia – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Tomem o exemplo da Barbeito. A primeira vez que os visitei na Madeira estava de férias, a viajar com a minha mulher e a sua família. Estão a ver o típico turista, a apreciar as vistas, piscina, Coral (cerveja), “bolo do caco” (pão de alho), espetada, vinho, esquivando-se dos “velhinhos alegres e divertidos”, dormir, tomar um duche e repetir tudo outra vez? Tentei no entanto organizar algumas actividades extracurriculares e fomos visitar a Vinhos Barbeito. Encontrar a adega revelou-se uma tarefa quase impossível para o taxista, mas depois de muitas paragens lá conseguiu encontrar o sítio. Durante a visita provamos vinhos datados de 1875! Foi uma visita muito casual, com os meus sogros e mesmo assim eles tiveram a amabilidade de nos mostrar estes grandes vinhos. Foi realmente fantástico e um bom exemplo da generosidade que existe no negócio dos vinhos.

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Corrimão\cano de transporte de vinho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Vinhos Barbeito está situada numa zona industrial no cimo de um morro ventoso. Enquanto algumas das adegas da Madeira são rústicas, a adega da Barbeito tem um toque moderno. Nada de extravagante, apenas prática. Consegue-se perceber que quem desenhou o layout das instalações foi alguém com uma mente ligada aos vinhos. Até o corrimão do parque de estacionamento é na realidade um cano para transportar o vinho desde a área de vinificação até outro edifício onde estão os barris e se faz o engarrafamento. Espectacular, não é?!

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Laboratório de vinho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Vinhos Barbeito foi fundada em 1946 o que, em anos-de-vinho-Madeira, significa um projecto relativamente recente. Desde aí que a propriedade se estabeleceu como uma das adegas mais emocionantes em Portugal. O enólogo Ricardo Diogo é como que um feiticeiro quando se fala de lotear de vinhos. Alguns chamam-no “o Gandalf da Madeira”. Bem, na verdade não sei se chamam ou não mas deviam. Não digo que os vinhos da Barbeito sejam perfeitos, nada é, mas estão rapidamente a tornar-se num sinónimo de vinhos de notável qualidade.

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Máquina de rotulação – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Na minha recente visita à adega, a missão era muito simples: provar tantos vinhos quanto humanamente possível. Missão cumprida! Provamos inúmeras amostras num alinhamento nada menos que épico. Começando por algumas Tinta Negras e Bastardo, de 5 e 10 anos, até anos como 1834. Deixem-me repetir, podem não ter percebido bem, MIL OITOCENTOS E TRINTA E QUATRO! Isso sim, é um vinho velho. Remonta ao ano em que foi abolida a inquisição espanhola. Alguns vinhos são impossíveis de descrever ao pormenor, por isso nem vou tentar. Vou apenas dizer que o vinho é para lá de fenomenal.

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Velha Guarda – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Aqui estão as minhas escolhas de entre os vinhos provados:

Barbeito ‘Ribeiro Real’ Verdelho 20 anos
Um vinho feito de Verdelho e um toque de vinhos Tinta Negra 100 anos das lendárias vinhas Ribeiro Real. Perfumados aromas de especiarias e uma delicada intensidade que nos faz perder o nariz no copo durante muito tempo. No momento em que o vinho toca na língua somos transportados para outro lugar. A palavra “persistente” não chega sequer para começar a descrever a longevidade de sabores deste vinho. Continuam e continuam… Fantástico!

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Barbeito ‘Ribeiro Real’ Verdelho 20 anos – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Barbeito ‘Mãe Manuela’ Malvasia 40 anos
Um lote antigo de Malvasia. Um toque floral, vegetal, licor e notas de chocolate preto. Uma rica e deliciosa sensação na boca que é imediatamente realçada por uma acidez vibrante tornando toda a experiência extremamente agradável. Um vinho complexo que o vai fazer suspirar por mais um copo, mesmo semanas após a degustação. Definitivamente um dos vinhos mais fabulosos que provei este ano. Fenomenal.

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Barbeito ‘Mãe Manuela’ Malvasia 40 anos – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Contactos
Estrada da Ribeira Garcia
Parque Empresarial de Câmara de Lobos – Lote 8
9300-324 Câmara de Lobos – Portugal
Tel: (+351) 291 761 829
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